quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Ser professor é padecer na autoafirmação

Em geral, concorda-se que os professores devam sempre procurar estudar e se aprimorar. Também se concorda que a raça é difícil, que um número significativo deles só vai realmente fazer isso se for obrigado. Ora, faz sentido que uma instituição, seja uma escola só ou o Estado, disponibilize ou, no caso, force seus empregados a se aprimorarem sempre, a renovar as ideias e conhecer o que se puder oferecer de bom para o seu desenvolvimento. Além disso, também faz sentido que criar e realizar tais formações sejam coisas boas para o currículo do sujeito, é bom que haja incentivo para que as pessoas montem tais cursos, palestras e "dinâmicas" para oferecer ou trocar informações e experiências. Só que, como de boas intenções o inferno está cheio e tudo que é bom pode ser corrompido, esses dois princípios do universo combinam-se de forma particularmente malévola para distorcer as verdades acima e formar as chamadas "formações continuadas".

Como existem muito mais formações e pessoas a serem formadas do que novas e boas ideias sobre educação, a primeira conclusão óbvia é a de que grandes revoluções e soluções não tenderão a surgir nesses minicursos. Somando-se a isso a máxima de que "cada realidade é uma realidade", mantra da pedagogia que, infelizmente, tem base real, a probabilidade de uma contribuição realmente significativa nas formações decai ainda mais. Mesmo uma formação boa, por isso, não tem muito para onde ir, mal consegue somar, nos melhores casos, uma hora de informação ou troca relevante (se o professor estiver com boa vontade). O que acontece no resto do tempo?

Bom, ser professor é algo que envolve muito da presença e da ética pessoal, no sentido de que a personalidade e a prática inteira do professor estão investidas em cada aula que planeja, dá e recorda ou revisa. O sujeito está lá, servindo de referência, exemplo (bom ou ruim, válido ou ridículo) e tudo o mais, exposto às demandas mais imprevisíveis de sua moral, de seu conhecimento, de sua malandragem, de sua sensibilidade, de sua retórica e às vezes de seus instintos de sobrevivência. Assim, a ética é assunto constante, com o problema de que não há muito o que se dizer sobre isso.

Devemos ser éticos. E é mais ou menos isso. Ponto final. O que é ser ético pode ser debatido, mas não leva muito longe, pelo menos não aonde um grupo enorme de profissionais forçados possam ir em debate construtivo. Preferem sempre concordar nas generalidades do assunto. O que importa para o empregador, e para a honra do profissional, é que é importante ser ético. E as formações se tornam, mais cedo ou mais tarde, o exercício de se dizer como é importante ser responsável, sério, idôneo, "humano" (adoro quando falam isso)... Não adianta o palestrante, colega ou "animador" falar: todo mundo é convidado a "participar", ou seja, repetir, e repetir, e repetir. Como se isso fosse fazer com que alguém fosse mais ético. Como se a afirmação tivesse literalmente força de ato. Só que a ética não funciona assim. É produtivo declarar constantemente seus valores se se é político, vendedor ou celebridade, mas não adianta falar para se ser ético ou bom professor. E é possível, na maioria das vezes, ser ético sem se abrir a boca, sem se elogiar a ética ou vangloriar a própria postura.

Infelizmente, a prática ética de cada um não pode ser medida ou avaliada pelas palavras. Não se leva o ato ético para as formações nem se sabe como se garante, por elas, que as pessoas o pratiquem. Então a gente repete, e repete, e repete.

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