domingo, 4 de agosto de 2013

Mitologia cotidiana

Eu ainda me surpreendo quando reconheço alguma força ou atividade no dia-a-dia que demonstra como determinadas mitologias tinham razão a respeito do nosso comportamento. Como é estranho quando vemos algo que encaixa perfeitamente com a descrição de Eros (Cupido), por exemplo, ou com a relação entre Perséfone e Hades. 

Por outro lado, por que isso deveria ser surpreendente, né? Os mitos, incluindo a parte comportamental do que chamamos de religiões hoje, são o resultado de um acúmulo e de uma decantação de séculos de observação, resumidos a um centro condensado do que se falou ou se pensou a respeito. Isso é mais verdadeiro inclusive para as que levaram mais tempo para serem escritas, sobrevivendo com o esquecimento necessário de uma cultura oral. 

Essas histórias justamente sobreviveram porque resumiram, melhor que suas concorrentes, devemos supor, o comportamento humano observado por séculos e séculos. É claro que muita coisa ali está culturalmente restrita, mas algum tronco precisava estar certo. E a gente, em menos de uma vida, fica comparando nossa visão de mundo com esse acúmulo impressionante e nos chocando quando comprovamos verdades que ali estejam. É no mínimo curioso.

Parece-me que isso de ficar julgando se os gregos, noruegueses, judeus, ovimbundus ou guaranis estavam certos é uma grande prepotência, no final das contas. Mas uma prepotência absolutamente saudável! O que não é muito classicista da minha parte, aliás... A única forma de aprendermos com essas histórias é justamente questioná-las e pô-las em cheque, como é verdade com qualquer outra coisa. Se as confrontarmos por nossa individualidade e tivermos simplesmente de capitular no final, bom, teremos comprovado a relevância da trajetória das tragédias... clássicas.

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