domingo, 16 de setembro de 2012

Valorizando o mínimo

Tenho pensado em alguns paralelos sobre incompetência. Há um tempo criei um objetivo para algumas séries, mas ele sempre ressurge motivado por algumas turmas específicas. Ele poderia ser resumido como "Fez!" Ou seja, o fato de o aluno ter feito ou não o trabalho é avaliado como parte dos objetivos do trimestre. Isso não quer dizer que turmas inteiras não façam os trabalhos nunca, nem que uma série inteira seja assim - como disse, é sempre uma turma que motiva tal objetivo a ressurgir.

O que acontece é que certas turmas tendem a se formar reunindo grande parte dos alunos que têm as maiores dificuldades (sociais, psicológicas, biológicas e o que mais conseguirem listar). Eles não chegam em tais turmas sem antes perderem todo e qualquer interesse em escola, educação, respeito e coisas tais, é claro. Seu nível acadêmico, digamos, deixaria a desejar aos mais pessimistas. Assim, na busca de uma forma de separar certos sucessos de muitos abandonos, bem como de valorizar as tentativas, mesmo que sem sucesso inicial, vou lá eu dar uma nota por ter feito ou não (às vezes por ter feito inteiro ou não).

Não vamos nos enganar que um aluno desses abandonaria a importância da nota mesmo trabalhando um ano com um professor super-hiper-ultra progressista. Portanto isso é, sim, uma forma de pelo menos colocar um A no boletim de um aluno que teve todas as dificuldades, mas tentou pra valer, o que pelo menos indica para o sujeito que algum reconhecimento burocrático ele está tendo e que, caso continue, poderá ter outros.

Pois bem, acontece que minha avaliação de serviços, sejam públicos ou privados, também andam por aí. Se uma empresa só FEZ o que eu paguei para ela fazer, já tem A+ comigo. Mando parabéns na avaliação e recado comemorativo para os pais de quem presida a empresa, se possível.

Há algum tempo, na verdade, eu não ia tão longe. Se uma empresa quase fizesse o que eu pedi, tentava me dar por satisfeito. Mas, até conheci umas pessoas competentes recentemente, que cumpriram o contrato ou o combinado, pelo preço acertado, e fiquei maravilhado com tanta eficiência. Houve até duas exceções, em que o trabalho superou minhas expectativas! Mas algumas incompetências alheias me reafirmaram como aqueles casos eram exceções.

Algumas pessoas podem pensar que há um paralelo simples entre alunos que, na melhor das hipóteses, só fazem seus trabalhos e empresas que, na melhor das hipóteses, só fazem o mínimo do que lhes é pedido. Não sei, acho muito simplório. Quer dizer, nem sei há quanto tempo professores podem ter feito isso que ando fazendo agora (sei que muitos contemporâneos meus têm mecanismos parecidos). 

De qualquer forma, aí seria preciso considerar que tem aumentado a massa de alunos que não apenas quer nota por ter feito o trabalho, mesmo que mal, mas sim que exige nota máxima só por tentar fazer (e esses não são ex-alunos meus - ou seja, isso não é resultado do sistema de tentar valorizar quem cumpre o combinado, afinal, num sistema como o meu, a nota pela matéria avaliada no trabalho continua bem clara e honesta, logo ao lado no boletim). Ou seja, por esse paralelo, teríamos mais e mais trabalhadores que iam querer ser pagos na íntegra por tentar instalar a eletricidade da nossa casa, por tentar fornecer um sinal de celular, por tentar aplicar as regras de trânsito, por tentar julgar imparcialmente, por tentar fornecer uma comida saudável? Bom, nós já estamos lá, não?

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