Meu blog não tem grande alcance, mas resolvi fazer uns serviços de utilidade pública aqui. No caso, esclarecimentos antes de contar umas coisinhas que ocorreram nesta manhã.
Na quinta passada (19/05), os municipários de POA decidiram que começariam uma greve na segunda (23/05). Em resposta a isso, Cézar Busatto, secretário do cargo de nome mais irônico do governo (presente no texto citado abaixo), voltou à imprensa. Vejam o Correio do Povo:
"Por avaliar que os servidores radicalizaram ao deflagrar a paralisação, o secretário municipal de Coordenação Política e Governança Local, Cézar Busatto, afirmou que os grevistas terão os dias não trabalhados descontados dos salários.
"Segundo Busatto, a Prefeitura optou por não pagar a reposição das perdas inflacionárias, totalizando 6,51%, até que a mobilização seja suspensa. 'Vamos agir no rigor da lei', disse. Na avaliação do secretário, a greve vai causar prejuízos à sociedade. 'Vamos fazer o que for possível para garantir a manutenção dos serviços essenciais', salientou."
(Numa nota paralela, permitam-me apenas comentar como políticos tendem a usar a expressão "rigor da lei" quando estão sendo autoritários e, geralmente, eles próprios transcendendo limites legais de sua atividade. Uma espécie de cacoete misturado com ato falho.)
Em primeiro lugar, cortar pagamento de grevistas é contra a lei, por motivos óbvios (coerção). Em segundo, ele não vai fazer bosta nenhuma para os serviços essenciais não serem cortados. NINGUÉM que está organizando ou participando das negociações, das assembleias ou da greve deixou de frisar, desde o começo, que os serviços essenciais seriam mantidos. São OS GREVISTAS que farão todo o "possível para garantir a manutenção dos serviços essenciais". A proposição de que isso fosse mantido pela prefeitura só pode ser considerada uma piada: servidores ou políticos são os primeiros a se preocupar com a população atendida? Políticos?! HAHAHAHAHA!
Abundaram em suas manifestações públicas outras bobagens, como citar o IPE como garantia da prefeitura que aumentou seus gastos, como se previdência fosse prêmio e como se não houvesse uma luta há anos para que os municipários tivessem também acesso ao IPE. Relação necessária com a greve? Não, mas ele misturou assuntos com toda a tranquilidade, e nenhum jornalista foi capaz de pensar a respeito do que noticiava, pelo jeito.
Agora, por que ele considera que a greve tenha sido uma radicalização desnecessária? Porque "as negociações estavam avançando". Ele esqueceu de mencionar que as negociações só começaram a "avançar" depois que os municipários paralisaram, na segunda passada. Antes disso, em UM MÊS de "negociação" (após mais de 2 anos de progressiva falta de reajuste), nenhum responsável na prefeitura tinha LIDO as exigências dos municipários. Sim, esperava-se uma contraproposta da prefeitura e eles não tinham nem lido a proposta. Paralisam-se os trabalhadores, faz-se uma manifestação, o Busatto apresenta uma proposta ridícula que não atende a maioria das exigências, promete parcelamento do pouco que é oferecido em resposta, e greve passa a ser chamada de "radicalização desnecessária".
Uma questão seria pensar se a greve não deveria ser chamada de "radicalização atrasada". Entre as exigências estão reajuste salarial de 18% e que todos os servidores recebam pelo menos um salário mínimo. Ou seja, a prefeitura devendo salário para todos e mínimo para alguns. A prefeitura... devendo... mínimo... Greve?
Pior do que isso, dizer que uma greve é feita de forma desnecessária é sempre um insulto direto a todos. Isso implica, no mínimo, afirmar que a prefeitura contrata apenas pessoas antiéticas e arruaceiras. Se sim, a prefeitura é extremamente incompetente em seu processo de seleção. Se não, as pessoas que decidem parar com um serviço de que veem a importância todos os dias são publicamente ofendidas e, como de praxe, não podem todas apelar a um direito de resposta com o mesmo destaque. Dizer que os grevistas são antiéticos, mais ainda nessas circunstâncias, constitui calúnia.
Pois bem, nesse quadro, alguns líderes sindicais foram a uma formação continuada da prefeitura, hoje de manhã, para reafirmar a decisão de greve e relembrar a inconstitucionalidade do ataque de Busatto nos jornais (descontar dos trabalhadores em greve). A secretária da Educação de Porto Alegre, Cleci Jurach, lá estava e resolveu falar. A olhos vistos, os professores presentes resistiram a vaiar logo de início, por um resquício de paciência. Agora, quando ela começou a defender o Busatto, a usar as mesmas distorções que ele e xingar o sindicato e a greve (de "pelego"), a vaia foi geral.
O que mais me chamou a atenção, porém, é que havia algo estético naquela situação, a secretária de Educação sendo vaiada por professores furiosos. Quer dizer, ela é a pessoa que deveria ser responsável pelo trabalho de todos ali, em certo sentido. Ela é o equivalente de um "coordenador público" do serviço dos presentes. E estes a vaiarem denota perfeitamente a merda atingindo o ventilador. Denota também que ela, Busatto e o prefeito José Fortunati (que já foi secretário estadual da Educação), deixaram a situação chegar nesse ponto (e continuam nem aí).