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sábado, 11 de agosto de 2012

Lugar para viver bem

O ponto de interrogação foi a melhor ideia!

Faz 2 anos que convivo mais diretamente com a análise de apartamentos, por milhares de motivos. (De um jeito ou de outro, todo o mundo quer se mudar?) A dificuldade de encontrar um espaço não só decente para se viver, mas bem distribuído, entra em choque com apartamentos ficcionais, especialmente com aqueles a que nos apegamos. Neles, mesmo que descontemos os planejamentos para o movimento da câmera, ainda encaramos um lugar agradável, pensado para pessoas, não apenas para respeitar ou distorcer a metragem. 

Em geral, a ficção não serve de parâmetro para o que acontece ou para o que é exigido de um profissional real. Professores, bombeiros, policias, jornalistas, políticos, arquitetos, piratas... poucos poderiam ser exemplos para ou da vida real.

Isso não quer dizer que alguns deles não possam se tornar ideais para os profissionais de fato, como de fato acontece. Até Indiana Jones foi e é herói de muitos historiadores. E quanto aos arquitetos implícitos? Será que os espaços de seriados e filmes não podiam servir de exemplo, pelo menos um pouco?!

quarta-feira, 23 de maio de 2012

House, over and out!

Como tantas vezes disseram Wilson e Cuddy, "Goodbye, House"
 
*Não há nenhum spoiler do último episódio neste post.

House foi a primeira série adulta que vi. Digo exatamente assim, que vi, não que "assisti", porque nunca tinha visto um seriado em que bobagem não precisava de piada e drama não precisava de choro. 

Na verdade, a única série de que tinha realmente gostado desde ter desenvolvido suficientemente a razão fora Friends. Family Ties, Full House, Punky, Alf e algumas outras fizeram parte da minha infância, mas daquela forma intermitente que séries passavam na TV aberta na época. Note-se que só falei de sitcoms, com a exceção de Punky que passeava entre isso e o "drama", obviamente na abordagem mais infantil.

Friends foi uma revolução. Tanto para mim quanto para os seriados, de comédia ou não, para a indústria de DVD de séries, para a equipe envolvida, enfim, para tudo que pudesse ter alguma conexão com o fenômeno, inclusive para meus amigos e, como a série começou em 1994, devo dizer para a maioria das pessoas que viriam a se tornar meus amigos enquanto a série esteve no ar.

As séries que já tinha assistido até então ficaram ofuscadas na minha memória e eu passei a considerar Friends a única produção seriada americana que eu já tinha curtido. Tanto que não assistia a nada paralelamente nem depois que a série acabou.

Um contexto bem específico fez com que eu me encontrasse com House, aos poucos, lá pelo fim da 2a temporada, dois anos depois do fim de Friends, que assistia religiosamente. Logo, o diferencial (racional) que mencionei começou a me chamar a atenção, e resolvi conferir a 1a temporada para ter certeza (odeio explorar uma série pelo meio e só depois assistir o começo). Como todo mundo, também me impressionei com a atuação de Hugh Laurie, claro.

Eis, então, um seriado em que a inteligência tem um papel crucial, o método convive com a bagunça, um bando de coisas incomodativas (das pessoas e da burocracia) é escrachado catarticamente (ao menos para mim) e a maioria das coisas que eu não tenho com quem discutir é debatida pelo menos com alguma argumentação. No começo, o alívio maior foi mesmo a quebra com o politicamente correto. Quando eu comecei a assistir, essa nova forma "cheia de dedos" de dizer absolutamente qualquer coisa reinava suprema, ao menos nos meios em que eu estava envolvido (e, com certeza, na TV - graças aos deuses não havia Facebook na época, ou seria plenamente insuportável).

Não falo, fique claro, da negação absoluta e estúpida do politicamente correto. Ou seja, não falo de Pânico na TV. O que havia ali era um confronto, um questionamento dos limites, das capacidades e dos motivos, muitas vezes imorais ou logicamente bem questionáveis, por que as pessoas costumam aderir ao discurso politicamente correto. (Atualmente, além de House, conheço só UMA série em que questões complicadas são realmente discutidas pelos personagens, sem que uma série de clichês do certinho, da fodona e do simplório venha atrapalhar o andamento da cena.)

Enfim, portanto, uma série que me instigava na primeira temporada, me divertia na segunda, me provocava na terceira (ainda considero o 12o episódio da terceira temporada - One Day, One Room - uma das melhores coisas que já assisti, de qualquer gênero ou tipo de produção). A quarta temporada trouxe o prenúncio do fim (apesar de a série ter resistido mais outras quatro temporadas depois). As tentativas de mudar a série, de renovar uma situação que era perfeitinha demais no começo para andar para qualquer lado, ficavam mais e mais desesperadas, arriscadas. A série nunca mais foi a mesma, e a audiência foi variando, assim como o interesse de telespectadores que se mantiveram fiéis, como eu.

Para minha grande surpresa, essas mudanças radicais trouxeram algumas novidades fantásticas, como a incomparável Thirteen, o aprofundamento da relação de Wilson e House, a loucura deste e os episódios dele internado (Broken), que adorei, bem como os episódios da morte de Amber, impressionantes.

Nem tudo, portanto, foi para pior, mas a série não recuperou os trilhos, de alguma forma, e a saída de Cuddy para esta temporada foi de doer. Tudo indica que seja o momento certo para acabar. Talvez devessem mesmo ter terminado a série na temporada anterior. Mas ainda é triste que, de todas as inúmeras cópias que House provocou (de The Mentalist a The Finder - mais imitação mesmo, a meu ver, de Cowboy Bebop), nenhuma série parece ter conseguido captar esse aspecto racional e, de alguma forma, adulto da série. O nível tinha caído, muitas vezes, mas não o suficiente para ser confundido com os outros seriados que se produzem atualmente. 

É uma pena, enfim, que uma combinação tão rara de roteiro, atores e falta de mimimis tenha de sumir, até mesmo quando é a hora.

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

"Humano"

Um ser humano é carinhoso, compreensivo, ético, um pouco relativista, usa o bom senso (seja lá o que isso for), gosta de crianças, especialmente dos próprios filhos, respeita as instituições legítimas e resolve os problemas das "ilegítimas", entre tantas outras qualidades. Ao menos, é o que uso do adjetivo "humano" parece indicar. Juro que esse uso tem me perseguido de uma formação profissional em janeiro aos últimos comentários em dezembro sobre o ano que vem aí. Aliás, isso é significativo: que "humano" possa querer dizer qualidades que um ano possa ter. Muita gente desejou aos quatro ventos um 2012 mais humano. Ora, o que isso quer dizer afinal?

Para muito além da incomodação universal com o termo jurídico "pessoa humana", esse adjetivo está fora do lugar em absolutamente todo contexto em que é usado! Um professor deve ser muito humano... ora, seria ele canino, equino, carvalhal? E ser humano não inclui defeitos? Um professor desrespeitoso, impaciente, arrogante, orgulhoso, vaidoso, autoritário... não é humano? Parece-me que a espécie humana indicaria, por média, antes o contrário.

E a ética? Esta eu adoro: uma ética humana! Conhecem a ética dos mosquitos? Mais ainda, a associação implítica entre "humanidade" e ética. Só humanos podem ser éticos, mas não há nada garantido que um ser humano seja ético como nós entedemos a palavra, como nós queremos que o outro se porte.

Não entendo mesmo como se pode achar ainda que o uso do bom senso ou um certo relativismo sejam características humanas, no sentido extremamente elogioso. Pessoas firmes em seus ideias, fanáticas até, não nos caracterizam muito bem? 

E o que é o bom senso? Tecnicamente, é a capacidade de bem julgar de acordo com uma norma compartilhada socialmente, mas não explícita, que obedece uma lógica capaz de adequar a regra universal ao caso particular, calibrando o uso de qualquer lei. No entanto, numa comunidade bastante individualista (não estou xingando), multicultural (como tanto se quer) e aberta a comunidades de diferentes cantos do mundo, não vejo esse norma com que "pessoas com bom senso" concordem. Não vejo como bater ou não bater, punir ou não punir, aliviar uma lei ou aplicá-la sejam casos de bom senso, de julgamento pessoal de acordo com uma norma implícita e pré-estabelecida que permita que um sujeito "humanamente" julgue o que é adequado de acordo com os outros "humanos" que não estão ali presentes.

O uso da palavra "humano" assim positiva, libertária e universal me parece tanto uma falta de vocabulário e de definição ética (de modo que as pessoas não sabem nem o que querem dos outros, mas têm a sensação de lembrar de uma certa norma que todos pareciam ou deveriam obedecer há muito tempo e que de alguma forma vem sendo esquecida, ainda que pareça, em seu íntimo, que deveria ser algo essencial a todo ser humano); ou obstinação a não se ver que justamente essa essência humana carrega também todo o oposto do que se quer ver nela. Um 2012 mais humano pode muito bem ser um ano com mais bolsas quebrando, mais guerras, mais fome, mais manipulação política, mais corrupção, mais exploração, mais maldade, mais crueldade, enfim, mais destruição em todos os sentidos que se possa imaginar. 

Tanto a vítima quanto o executor do atentado são humanos. Não estamos fugindo de nada alheio a nós. Ser humano pode ser um elogio, mas é simultaneamente um insulto, e não há nada pacífico em se supor qual lado pesa mais. Por isso mesmo, é quase sempre um adjetivo inútil, costumando vir acompanhado pela qualificação daquilo que a pessoa acha que é "humano" e pelo silêncio de todas as nossas características que, em desserviço geral, querem tanto esquecer debaixo do tapete.

sábado, 11 de junho de 2011

SAVE FERRIS



Muito mais importante que Dia dos Namorados ou aniversário de celebridades, hoje "Curtindo a Vida Adoidado", mais conhecido como Ferris Bueller's Day Off, está fazendo 25 anos! Para marcar a grande data, um pouco de "Twist and Shout" direto do clip mais famoso da música!!!

terça-feira, 22 de março de 2011

A perigosa inocência infantil

Eu realmente gostaria que todas as discussões tivessem FAQs e itens informativos a serem obrigatoriamente lidos antes de a pessoa se meter na conversa, como se oferece na maioria dos (bons) fóruns internéticos.

Pensem neste exemplo rápido: pessoas que discutem educação, mas falam sobre as escolas pelo que lembram de quando estudaram lá. Ora, será que ninguém indicou a esses sujeitos que entendemos o mundo de forma diversa quando somos crianças em relação a quando somos adultos? Quando passei no Vestibular, fui na minha primeira escola, de onde tinha saído com 9 anos, e descobri (mais ou menos conforme imaginava) que um lugar em que costumava sentar para jogar bafo era na verdade um degrau muito pequeno, no qual eu não podia, com 16 anos, sentar de forma confortável. Será que tão poucas pessoas passaram por experiências parecidas, ou são capazes de extrapolar, dessa experiência simples, que há importantes diferenças de ponto de vista entre uma criança e um adulto, e que isso não pára no ângulo de visão que nossa altura nos permite?

Ou essas pessoas realmente ainda pensam como quando eram crianças, e aplicam sua imaturidade decantada para julgar tanto educação quanto trânsito ou política? Bom, pensando bem, esta opção parece a mais provável.

terça-feira, 1 de março de 2011

Twitter Id

Mal entrei hoje no bar da faculdade e um garçom, que há séculos não me encontrava (porque há muito eu não ia no campus), levantou a mão fazendo um V com dois dedos e me cumprimentou com "E aí, Tigrão?" Não se trata de termo genérico, "Tigrão" era meu apelido na faculdade. Não era pelo funk Bonde do Tigrão, um ano mais jovem que meu apelido, mas por uma referência pontual de uma colega ao Tigrão do Ursinho Puff.

O garçom em questão é um patrimônio cultural para todo mundo que frequenta aquele bar. Além disso, é uma das poucas pessoas da faculdade que ainda posso encontrar ao vivo e a cores, de modo que é um dos raros seres humanos ainda responsável pela sobrevivência de meu apelido. Pareceu-me, por isso, que eu deveria ceder a algo que pensei logo que fiz a conta no Twitter e referir lá também o querido apelido. Tinha deixado Retórico Sincero porque o fiz vindo do blog, mas me parece que meu apelido merecia tratamento mais carinhoso.

Usarei lá, como aqui, o diminutivo de Tigrão: Tigre - obviamente, como tigrezinho ou tigrinho são os diminutivos quando Tigre é a forma neutra... No Twitter, no entato, surgiria a questão de, querendo colocar um segundo nome, ter de escolher entre Sincero ou Retórico. Quero dizer, seria ou Tigre Retórico, ou Tigre Sincero. A segunda opção me parece meio convencida e também inútil. Em certo sentido, não se esperaria de um tigre que não fosse sincero. Além disso, enfatizar a sinceridade traria a questão de quem não é sincero, ou de que eu seria sincero como uma postura moral "neste mundo sem sinceridade"... Enfim, levantaria pressupostos desnecessários.

Já Tigre Retórico dá um atributo menos esperado de tigres, encaixa bem com a foto que escolhi lá e destaca o que interessa para mim no blog. Aqui, como lá, sou sincero quando quero, mas a forma de escrever algo sempre me chama a atenção. É este o nick apropriado, portanto, e, se a conexão permitir, assim que terminar de digitar este texto irei lá e mudarei de nick. À bientôt!

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Compras e o bom posicionamento corporal

Fui no super quando estava lotado, coisa que nunca mais me acontece, e pude perceber que a falta de prática com tanta gente brigando por velocidade e espaço me custou um pouco. Não estava automaticamente respondendo da melhor forma às situações. Mas o clímax foi quando cheguei no caixa e passei muito para o lado da máquina de passar o cartão. 

O velho que vinha logo atrás de mim chegou tão perto que se apoiou na base para que se preencha cheques. Ele estava praticamente em cima de mim, e se adonar da base motivou que viesse ainda mais. Observando que ele estava posicionado muito bem para olhar minha senha, eu pedi licença, com calma, tanta que ele não me escutou. Falei mais alto, mas não foi suficiente. Repeti uma terceira vez e ele bruscamente me respondeu "Tô fazendo alguma coisa pra ti?" A voz irritada. Quando disse isso, colocou os olhos perfeitamente na máquina. Eu pedi então que virasse o olhar, me deixando digitar a senha. Sua resposta: "Vai à puta que te pariu!" (não tenho certeza se ele o disse com crase...).

Sendo um cara de pelo menos 70 anos e, pela roupa, sem uma conta como a de Michel Temer, era óbvio que o ranzinza não tinha nenhuma Marcela para aplacar os sofrimentos da idade, portanto não me dignei a grandes grosserias nem a bate-bocas. Menos ainda: quem sabe não haja mulher alguma entre ele e sua cama? Triste. 

De qualquer forma, o que me marcou foi meu próprio erro: uma simples colocação melhor, uma questão de marcar território com o corpo mais espalhado, e a situação seria evitada. Que erro de amador... Mas, "há malas que vêm de trem": a situação me lembrou uma época mais simples de minha vida em que SBT reprisava todo ano "A pipa do vovô não sobe mais...", e o velho me valeu algum post neste dia bastante vazio de situações estranhas ou frases bizarras.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

E uma mulher engrossa as fileiras

Há um hábito bastante irritante se espalhando em Porto Alegre há um tempo, é o de pessoas escutarem músicas nos ônibus sem usar fones de ouvido. Tenho certeza de que não é um problema unicamente daqui, mas nunca tinha ouvido falar a respeito antes de testemunhá-lo. A música é geralmente ruim, mas qualquer música fica ruim saindo de um celular qualquer, sabe-se lá com que qualidade de arquivo (para começar). 

Na verdade, por algum motivo, esse é um costume exclusivo de quem ouve funk aqui. Comprovando isso muitas e muitas vezes, supus diretamente que fosse uma questão cultural de quem escuta esse tipo de música mesmo. Não digo apenas quem a dança (não que ache uma música dançável), mas aquelas pessoas que conseguem colocar funk como o fundo musical de uma conversa, ou algo para se distrair parado dentro de um carro. Funk parece ser fortemente acompanhado por uma cultura de auto-afirmação, pelo quase grito constante de "Eu escuto funk sim, e daí, burguesinho?!" Fazia sentido que considerassem natural, necessário ou dogmático forçar outras pessoas a ouvir sua música predileta também.

Mas não era apenas isso, todas as pessoas fone-deficientes que eu via eram também homens. Nunca via uma mulher incomodando o resto do ônibus. Cético e pessimista, supus que fosse questão de tempo, e estava certo... Mas, entre conhecer o comportamento irritante e encontrar uma mulher que o absorvesse, passaram-se alguns anos. Mesmo prevendo isso, porém, fiquei na hora um pouco incomodado.

Se só vejo homens fazendo alguma coisa, em geral suponho que haja um motivo para isso, mesmo que eu não consiga supor qual. Minha observação tende a ser suficiente para que eu suponha que seja algo característico desse gênero, ainda que momentaneamente. E eu acho sempre triste quando um gênero imita o que o outro tem de pior... Não importa que seja uma exceção, que a pessoa curta, que a pessoa queira usufruir de seu "direito de ser babaca" (também conhecido nos EUA como "Argumento Republicano de Primeira Ordem"). Devo acrescentar que ela não ouvia funk, mas o que provavelmente se chama algo como "Melô do Abracinho".

Por quê? Por que aproveitar a oportunidade de fazer uma bobagem? Ainda que as barreiras de gênero sejam relativamente flexíveis no Brasil, ou no RS, ou talvez em POA, isso significa que uma mulher não pode se questionar sobre um comportamento só reprisado por homens na sua volta e pensar que, talvez, nenhuma mulher os esteja imitando porque é uma babaquice? Pior do que isso, uma mulher, nesse caso, fazendo algo que só homens fazem é uma anuência poderosíssima. Em primeiro lugar, indica que o comportamento vai sobreviver por ainda mais tempo, pois mesmo uma pessoa do sexo oposto não o considera mais imbecil. Em segundo, indica o quanto uma mulher curte esse comportamento, de modo que os homens vão sentir que sua vida sexual estará pouco ameaçada se continuarem assim, ou até estimulada. "Vai saber, aquela não deve ser a única."

Pode ser preconceituoso da minha parte, mas eu tendo a torcer contra indiferenciações de papeis sociais que só possam se dar por uma queda de qualidade, comportamental ou intelectual. Torço para que as mulheres acordem para a estupidez do Serviço Militar, torço para que os metrossexuais contemplem a astronômica economia anual dos "retrossexuais", torço para os homens voltarem a ter a exclusividade da fone-deficiência, até que mulheres falem tanto que nunca dão para caras desse tipo que a estigma finalmente mate o comportamento e voltemos a escutar nossos pensamentos, nossas leituras, os motores, os fones ou vozes no ônibus.

terça-feira, 13 de julho de 2010

Sintomas e idealismos

Raramente o Juremir é tão feliz, para mim. Não sonho com a mesma religião pedagógica que ele, mas achei que o texto valia a pena.

Mãos ao alto, professora

JUREMIR MACHADO DA SILVA


As palavras mudam de sentido. Muda uma letra, ou duas, e muda tudo. Craque virou crack. Vida de professor transformou-se em atividade de alto risco. Uma professora foi assaltada, em Porto Alegre, dentro da sala de aula, por um adolescente armado com um revólver enferrujado, calibre 32. O guri era ex-aluno da escola. Houve um tempo, perdido nas brumas do passado, em que professores e salas de aula eram sagrados. Levava-se maçã para a professora. Muitas vezes, a professorinha era o primeiro amor, idealizado, impossível, platônico, de um menino. A sala de aula era o lugar da autonomia do mestre, um templo, um palco, a esfera maior do conhecimento. Acabou.

As balas de hoje destinadas aos professores são de revólver. A situação é tão melancólica, para bem e para mal, que o assaltante não tinha munição. Roubou R$ 10,00 da professora. Essa quantia diz muito, diz tudo, grita como o sintoma de uma doença grave, um mal que está aí, bem aí, mas vai sendo empurrado com a barriga. Talvez a professora assaltada seja uma pessoa sensata, aos 58 anos de idade, e não vá para a escola com muito dinheiro na bolsa. Ou quem sabe, escolada, como todos nós, carregue apenas o dinheiro do transporte e o dinheiro do ladrão. Mais provável é que uma professora, na metade do mês, não tenha mais do que R$ 10,00 para carregar no bolso. Esse é o estado das coisas, o estado ao qual chegamos, o caos.

E os governos, que ainda não fizeram a parte deles, não garantiram sequer a integridade dos professores, desandam a falar em meritocracia, transferindo para os professores, que ganham pouco e são agora assaltados dentro das salas de aula, a responsabilidade pela falência do sistema. Ao defender a tal meritocracia, os tecnocratas e os políticos, falsamente racionalistas, estão dizendo que se algo vai mal é por culpa da preguiça ou da incompetência dos professores. Essa é uma das maiores infâmias destes dias melancólicos em que, paradoxalmente, fala-se em sociedade da informação, mas se faz do saber uma categoria de quinta classe. Escolinha como objeto de desejo de pais e alunos, só de futebol. Nelas, talvez o mestre ainda seja respeitado e receba doces. Nem que seja por medo de se perder lugar no time.

Eu ainda sonho com um Brasil voltado para a escola como espaço sagrado. Isso só acontecerá a partir do momento em que se considerar o ensino como primordial e os salários forem melhorados a ponto de alterar a vida cotidiana e cultural dos mestres. Um professor precisa ganhar o suficiente para comprar livros todo mês, ir ao cinema, ao teatro, a shows, a bons restaurantes, viajar e sempre ampliar horizontes. Quem não valoriza, não pode cobrar desempenho. Mesmo assim, como se diz popularmente, os professores desempenham, "na moral". Sonho com o dia em que será impossível um ex-aluno ou um aluno apontar uma arma para uma professora. Por respeito, por veneração, por amor. Ou, cinicamente, sonho com o dia em que, ao menos, a professora terá R$ 50,00 na sua bolsa.

JUREMIR MACHADO DA SILVA é professor e jornalista
 
* Artigo publicado no Jornal Correio do Povo, edição do dia 17 de junho de 2010.

terça-feira, 22 de junho de 2010

Desaniversário

Como eu respeito meus apetites, quando quero deitar a ouvir música (o que não é comum), deito a ouvir música. Então entrei madrugada, que era pra aproveitar recuperando o sono e curando uma gripe, ligado em tudo que é música que me aparecia na cabeça. E eis que descubro um vídeo inusitado que tem a minha idade (quer dizer, exatos 11 meses mais novo que eu). Como não vou lembrar de guardar até o aníver, melhor postar agora, nem que seja pelo total estranhamento que provoca:


quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Despertando com a TV em pleno 31 de dezembro de 2009

"But I would walk 500 miles
And I would walk 500 more
Just to be the man who walked 1000 miles
To fall down at your doooooooooor"

domingo, 20 de dezembro de 2009

Pelas falas de fim de luta

Mesmo que ele siga sua Busca ainda no Playstation 3 e, suponho, vá continuá-la no Play 4, pergunto-me se tudo de que Ryu precisava esses anos todos não era apenas um bom dicionário...

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Todos pela China, compañeros!

Chega a pegar mal alguém dizer que antigamente as coisas eram diferentes, que nosso mundo hoje é uma vergonha, que no passado não acontecia isso ou aquilo. São bem espalhadas as causas sociais e psicológicas para todo mundo achar que o passado era melhor que o presente. Raras vezes isso é verdade.

Mas, boa notícia para o positivismo e o realismo gaúchos, o Rio Grande do Sul pode dizer tudo isso com firmeza e certeza, sem escorregar num romantismo barato. Sim, documentadamente a economia do RS vai de mal a pior há algumas décadas. E isso em relação à nossa história ou em comparação com os outros Estados (também diacronicamente). Não somos mais primeiros nisso ou naquilo e não somos mais como antigamente. Não chega a ser boa notícia para o resto do Brasil, no entanto, já que nós estamos piores: não é que os outros tenham necessariamente melhorado. Aliás, a boa imagem (interna) do RS, para variar, serviu em geral para tapar o sol com a peneira, assim como o discurso de todos os políticos (do mundo) que afirmam tudo que fazem e fizeram, como seu governo trouxe melhorias, como estamos caminhando para a frente! E o belo papel de parede gaúcho de "alfabetização" e "consciência política" vai servindo para tapar as rachaduras até que a parede caia toda de uma vez só.

Nossa última peripécia econômica foi perder o domínio do mercado de calçados da Argentina para a China. Digo que nós perdemos (não que a China conquistou) para nos enfatizar como actantes. Seu novo acordo com a Argentina não foi uma grande tirada: eles aproveitaram uma brecha que nasceu graças ao... Mercosul!!! Essa dita aliança (aquela relação em que as partes se dão apoio, lembram?) impõe um teto na nossa exportação de calçados. O teto está abaixo do que a Argentina precisa importar e MUITO abaixo do que podemos exportar. Logo: mercado aberto! Portanto um acordo econômico que deveria fortalecer nossos mercados entrega de mão beijada os consumidores argentinos para a China!

Não sei se o problema do teto saiu de nossas negociações diretas com a Argentina ou se foi algo entre o governo central e eles, mas a incompetência redunda aqui. Ou nossos "representantes" não sabem negociar com argentinos, ou com brasilienses. Como já indica o nome, parece que a tradição dos Farrapos não compreende muito a lógica da Economia.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Recordar é viver

Olhando para um monstro:

"Essa coisa é maior que a conta bancária do meu pai!"

Eric - Caverna do Dragão