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segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Matando o democrático

Algumas palavras deveriam morrer imediatamente; serem assassinadas e ponto. A palavra "democrática" é uma dessas. A democracia não deve, espero que não morra; ou, para os pessimistas, espero que continuemos brigando para ter mais e mais democracia, apesar de não haver um exemplo perfeito desse ideal...

Enfim, apesar do valor da democracia, chega desse termo. Ele virou bandeira, o que significa que desponta por todos os lados, nos discursos mais cotidianos e babacas, bem como tornando discursos importantes em coisas cotidianos e babacas também. Quando as pessoas querem que até uma fila de almoço seja organizada democraticamente (?!?!?) - "quem chegou primeiro" de repente é um critério muito autoritário - é porque a palavra chegou num ponto em que até se um político exigir que se ataque alguma infração à democracia, o discurso dele parece mais idiota simplesmente por ter usado a palavra, tão desgastada em pequenas besteiras e muita mentira.

Claro que o mais cansativo é que a palavra costuma ser usada de duas formas idiotas: para dizer outra coisa, que não necessariamente é democrática por excelência, ou para fundar a democracia dentro da democracia.

As duas coisas podem ser exemplificadas facilmente em qualquer escola.

Quando, por exemplo, um grupo de professores está insatisfeito com qualquer coisa, por menor que seja, ataca a direção ou o que for de autoritária, fechada, nazista ou qualquer outro desses termos que atualmente já perderam quase todo o sentido também. Quer-se uma decisão democrática a respeito do tema! Detalhe: direção, por exemplo, é um cargo decidido democraticamente (no Rio Grande do Sul e na maioria do Brasil), por comunidade e pessoal da escola. Trata-se de uma escolha democrática, mas o sistema da escola é justamente ter alguém eleito nesse cargo para que ele cumpra seu dever enquanto os outros profissionais cuidam do resto. Chama-se "representação", e é exatamente o que acontece no nosso sistema político democrático! Quando a presidente faz uma decisão: ela não precisa perguntar cada coisinha para o povo, ela foi eleita para tomar essas decisões. Os eleitores podem intervir, reclamar, mas nada disso indica que ela tomar decisões executivas seja um insulto à democracia.

Há uma coisa que as pessoas esquecem: a democracia pode ser, e costuma ser, representativa. Viver numa democracia não é puxar voto sempre que se quer pintar ou não um meio-fio! Quando se acha que se deve realmente discutir isso, e todos os cargos envolvidos devem parar para contar votos da população inteira em vez de tomar suas decisões (obviamente com transparência), os termos "escolhas democráticas" estão sendo usados para o segundo caso que referi: fundar o "democrático" dentro da democracia, porque se está confundindo "pessoa eleita democraticamente cumprir seu papel" com ditadura!

Já o primeiro caso, de se usar "democrático" para dizer outra coisa que não é democracia, acontece em quase todo discurso sobre escolas. Quer-se uma escola democrática! Pois bem, (1) o que isso quer dizer, e (2) isso é realmente o que se quer?

Uma "escola democrática" nunca é o que se quer dizer com a expressão, porque ela seria redundante por um lado, ou inadequada por outro. Como disse, os cargos são eleitos, em algumas escolas todos eles são eleitos. Estou obviamente considerando escolas públicas, únicas que precisam responder a essas agendas.

Mas, digamos que as pessoas quisessem o exagero disso, que realmente não só os cargos de função gratificada, mas até os professores fossem eleitos. Por quem? Pelo poder público? Já o foram, através de concurso. Pela comunidade? De que forma? Por que critérios? Comunidades geralmente analfabetas ou sem letramento são mesmo quem queremos que escolha professores com o dever de formar seus filhos exatamente nisso?

Não estou dizendo que eles não podem tomar decisões importantíssimas a respeito de si, nem que, se o analfabetismo fosse mesmo como diz o governo, as escolhas seriam melhores. Mas (1) o analfabetismo não pode ser ignorado nisso, e (2) segue o problema de que governo algum pode tomar decisões de base, como Educação, conforme o gosto de cada comunidade, distante de qualquer projeto ou planejamento dele.

Agora, saindo um pouco do absurdo completo, quando se fala em democracia na escola se quer participação, especialmente dos alunos. Pois bem, aceitando essa proposta, em si bem complicada, a democracia é mesmo o melhor modelo para isso? Queremos que todos os alunos tenham o mesmo peso de voto que funcionários, professores, diretores etc, do papel higiênico ao livro didático? Eles estão preparados para esse julgamento e essa responsabilidade? Eles podem decidir tudo sobre uma escola, em pé de igualdade com os adultos, sem quase conhecer nada fora de suas comunidades, além de umas páginas redundantes de facebook e as bandas da moda, e tendo apenas alguma noção de leitura e interpretação?

As escolas que conseguem manter máxima participação dos alunos são escolas pequenas, com MUITO pessoal, geralmente particulares, geralmente muito caras. Algumas públicas tentam imitar esses modelos, não sei com que sucesso, mas sei que se tratam de aproximações...

O que se quer com a escola democrática, de fato, é uma escola em que a comunidade participe e os alunos tomem responsabilidade a respeito de algumas coisas, especialmente para terem cuidado com a escola. Pois bem, é possível participar de algo sem mandar na estrutura, até sem voto direto para nada.

Quer-se mesmo é que os alunos tenham algum poder sobre o que acontece e reajam construtivamente a abusos. Ora, uma comunidade em que o poder só pode ser exercido se justificado a quem está sob tal poder é uma comunidade anarquista (da teoria anarquista, não do oba-oba). Isso significa que "democrático" é um termo tão errado para o que se exige da escola nesses casos que até "escola anarquista" seria termo mais correto. Espero que isso indique, mais que nada, as voltas esse pobre termo já deu!

Quando uma palavra é uma bandeira, e só uma bandeira, é simplesmente triste lê-la e ouvi-la para todos os lados. Ela já não comunica nada, a não ser mentira e distorção. Mas não é por serem falsas que as palavras morrem...

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

O poder das múmias de chupeta na boca

Não poderei fazer o post sobre autoritarismo e as coisas que foram ditas nessa discussão sobre salário mínimo, que considerei, pra variar, discutida da forma errada e direcionada a pontos que tangenciavam apenas o que me pareceu mais bizarro. Mas preciso pelo menos descrever hoje um tipo de autoritarismo.

O tipo de autoritarismo de gente que acha que comandar e moralizar é a mesma coisa. Tecnicamente, que acha que impor regras (efetivamente impor, como se faz com cachorros) e exigir sua obediência é um processo automaticamente legitimado porque as regras impostas, teoricamente, seriam positivas (como alertava já Schopenhauer, se a teoria não funciona na prática, é porque a teoria está errada, mas deixa pra lá). Essas regras seriam válidas e boas por si, de modo que o fato de encaixarem de forma totalmente kafquiiana com o resto do mundo (ou seja, com tudo o mais que acontece na vida dos, digamos, cachorros) não quer dizer que elas possam ser desobedecidas ou mesmo forçadas. Não implica que possam ser negociadas. Não. Elas são boas numa expressão do tamanho de uma frase. Como considerar o contexto pode fazer com que elas sejam erradas?!

Isso chega, em geral, para essas pessoas taradas por controle, ao extremo de que as leis serão boas mesmo que impliquem a contradição de leis básicas da física, como a relação tempo-deslocamento, ou ignorem conhecimentos sociais que já temos, como tradição, costumes, heranças... 

Para gente que manda assim, cada desobediência justifica ainda mais a imposição de regras. Cada discórdia é entendida como preguiça ou mau-caratismo. Cada perda de poder é lida como motivo para apertar mais a corrente do que lhes resta sob controle aparente. É assim que o poder se esvai. Essa é de fato uma das formas mais sofridas pela qual o poder se esvai, porque ele morre lentamente, e se torna mais cruel e burro quanto mais perde sua legitimidade simbólica. E é o próprio exercício desse poder que retira desse(s) ser(es) poderoso(s) a mesma legitimidade. 

O mais triste do quadro, no fim, é que esse poder todo tem de morrer, definhar e fazer sofrer até estar plenamente murcho, até que algo, quem sabe, possa ser construído a partir do zero, maldito zero que não precisava nem ter voltado a aparecer. Às vezes conseguimos corromper um sistema levado adiante por alguém tão tarado, mas é raro, muito raro. 

Mas e daí que é raro? A tenteada é livre.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

STF e a gafe de verdade

A propósito de minha dúvida sobre as "gafes" de Gisele Bündchen, aqui um exemplo de gafe de verdade. Tweet do STF (já apagado, claro):

"Ouvi por aí: 'agora que o Ronaldo se aposentou, quando será que o Sarney vai resolver pendurar as chuteiras?"

E viva a insatisfação generalizada.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Vícios da Era da Administração

Uma formação profissional é chamada "Socialização dos Funcionários..." e é organizada em forma de duas... palestras!

domingo, 12 de setembro de 2010

Obama vs. States, um questão de geografia

Os recentes acontecimentos, com manifestações e mortes, resultantes da proclamação feita por um pastor americano de que ele queimaria uma cópia no Corão para expressar o luto pelo World Trade Center, bem como as tentativas de Obama de argumentar que ele e qualquer outro americano se abstivesse de manifestações semelhantes, me fazem pensar que o problema entre os americanos e seu novo presidente nasce de Barack entender que os EUA existem num mundo e tanto do povo aparentemente ignorar o que diabos existe no mapa para além das fronteiras nacionais. É muito diferente discutir preceitos e conceitos quando se acrescenta a eles um contexto. E Obama, como um bom presidente (raros de  fato captam tal ideia), parece saber pelo menos essa diferença.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Liberais e submissos

A profissão de professor é puramente um produto cultural responsável pela produção e reprodução de cultura. Como todos as profissões e objetos que se encaixam nessa descrição, seu funcionamento não é adequado à lógica capitalista, ou vice-versa. Como, diz-se, vivemos num sistema capitalista, adaptações precisam ser feitas, como a meritocracia, geralmente instituída apenas por políticos e, nessa maioria dos casos, com critérios que políticos consigam compreender, logo de fácil manipulação política, o que gera a alegria de uns professores e a ojeriza de outros.

Uma adaptação que herdamos de quando o tal capitalismo se espalhava pelo Ocidente é uma ética pedagógica que já malhei bastante aqui, mas que afeta também todas as profissões e objetos culturais nos dois sentidos que indiquei: a ética da abnegação, ou do desvalor do lucro monetário. Uma obra de "verdadeiro valor literário" não é produzida conforme as leis do mercado, de modo que seu autor amarga as dificuldades econômicas que lhe advêm da produção desse livro a duras penas e com grande orgulho, confesso ou implícito, mesmo que periodicamente ironizado por ele próprio. Da mesma forma, a profissão de professor envolve uma submissão (para muitos profissionais, tão aceita que passa despercebida) a uma série de abusos e desvios, incluindo um descompasso patente entre trabalho e salário. Algumas dessas imposições são largamente estabelecidas, de forma que são aceitas em silêncio, outras geram reclamações habituais, enquadradas por todos como a insatisfação que qualquer profissão está apta a gerar em quem trabalha, e outras imposições ainda geram atos de repúdio, revoltas, crises nervosas ou greves. Como muitos dos abusos, no entanto, entram nos dois primeiros campos, particularmente no primeiro, sendo culturalmente não só aceitos como defendidos com orgulho por professores e políticos (um professor é tão digno de sua profissão quanto mais atura quieto sofrer qualquer tipo de violência moral ou física), pode-se reconhecer alguém que trabalha na área quando se encontra uma pessoa realizando o Espacato Fundamental: um pé na merda do fundo do poço, o outro nas nuvens.


Quando profissionais liberais são chamados a se tornar professores, não em cursos específicos ou programas rápidos, mas quando são efetivamente misturados com gente que dá aula para sobreviver, quando são confundidos com estes, apresentam-se a eles dois caminhos. Ou sua mente enquandra o que está fazendo nos mesmos preconceitos que já trazia a respeito da profissão, e a pessoa aceita ser tratada "como professores são tratados", ou o sujeito mantém sua identidade o suficiente para achar que deve manter também sua dignidade, opção que leva geralmente à demissão ou a uma neutralização acompanhada da chaga eterna de "pessoa insuportável, irresponsável e anti-ética". Ocorre, porém, às vezes, que o profissional liberal passa do primeiro estado mental para o segundo devido a uma crise ocorrida durante sua prática docente. Não importa: a ameaça da demissão está sempre pronta, logo ali, para quem acha que seu empregador deveria concordar quando diz que dar aula em situação plenamente precária e vizinha de tiroteios não se enquadra na descrição de um profissional "educador". Às vezes, a demissão não chega a ser posta em prática por algum motivo contextual. Mas o nome está lá na lista negra, que não existe só como força de expressão.

domingo, 23 de maio de 2010

Platonismo e restrições, chaves da propaganda de inclusão social

A grande vantagem de palavras como verdade, ética, respeito, direitos e deveres é que elas servem para defender absolutamente qualquer coisa, do Anarquismo ao Fascismo, do silêncio às passeatas, do pacifismo à guerra. E, como somos seres que mais sonhamos em ser racionais do que realmente somos, tais termos servem a uma guerra retórica infinita, geralmente redundante e, por isso mesmo, paralisante.

Tenho a impressão de que a semana que findou ontem foi particularmente ilustrativa para meus alunos a esse respeito. Alguns professores que trabalham comigo me acompanharam numa reunião com uma série de pessoas hierarquicamente superiores para defendermos, entre outras coisas, que mostrar um documento oficial para alunos adultos nada tem de anti-ético. Aparentemente envergonhados de terem escrito esse documento de forma distorcida, em partes de forma bem violenta, foi a nossa ação de respeito pelo que entendíamos serem direitos dos alunos que resultou na ação taxada de "anti-ética".

Trouxemos aos alunos o resultado da discussão. Parte do resultado foi conseguirmos finalmente afastar um dos funcionários que trabalhava conosco. Nesse caso, ele faltar com muitos de seus deveres e abusar ao longo de meses de direitos ambíguos fez com que a responsabilidade por determinados acidentes caíssem sobre os alunos, sobre o que também discutimos nessa reunião, buscando contestar a "verdade" apresentada no documento citado acima.

Junto de tudo isso, trouxemos a notícia de que perderiam alguns professores (por outros motivos, não por tudo que fora discutido sobre o documento difamatório). Em relação à perda de professores, os alunos estariam praticamente impotentes. Ao contrário do que acreditam os que idealizaram o programa de educação do qual fazem parte, porém, esses alunos não precisam "aprender" a exigir seus direitos. Não ficaram nem um pouco dispostos a aceitar essa "impotência" que lhes foi apresentada como única opção. Estavam decididos a reclamar e pressionar de todo modo para conseguir o que queriam numa grande reunião de todas as escolas que aconteceria na sexta-feira. A forma escolhida foi o abaixo assinado, apesar de que o plano ia para bem além, conforme cada medida não trouxesse o resultado esperado.

A reunião de sexta, clímax da semana, exige certas explicações preliminares. Para fazer o máximo de uma verba mais curta, para fazer um "H" sabe-se lá com quem, para reunir os professores todos num mesmo lugar na noite em que obrigatoriamente nos anunciariam uma série de decisões fundamentais já para o funcionamento das aulas na semana seguinte e para atingir outros objetivos que com certeza me escapam, fomos colocados todos num prédio público em que palestrariam duas estrangeiras, uma de nome que todos entenderam como "Tique Vicioso" (falou sobre crack) e uma descendente do Zapata (que fez Zapata arrancar o bigode no túmulo com as ideias que defendeu).

Basicamente, elas falaram sobre juventude, direitos e deveres. A primeira falou em espanhol claro, o que possibilitou que dispensássemos a péssima tradutora convidada. Suas afirmações sobre as consequências políticas do tráfico até que foram pertinentes. A segunda, em espanhol bem menos acessível, cometeu o clássico erro de supor a total apatia de seu público apenas porque vinham de famílias pobres e sem ensino fundamental completo. Pregou a livre-iniciativa (com outros nomes) e que não se esperasse a ajuda do Estado, isso para pessoas que vivem tão distantes do Estado que reconhecem antes o paralelo que o oficial! Qual deles teria sobrevivido para além dos 18 anos só esperando o governo?

Seja como for, nossos alunos estavam descontentes, mas outros, de outras escolas, tinham ainda mais motivos para se irritar com uma reunião semi-midiática dessas. Alunos que passaram por maus bocados ainda piores aproveitaram o momento de manifestação (perguntas e comentários) e se levantaram com cartazes, narizes de palhaço e críticas ferozes, certeiras, sem nem mesmo apelarem a palavras de ordem. Foi pior que uma manifestação arruaceira, foi um ataque sincero na jugular dos administradores presentes.

A representação do programa se defendeu bem: retórica eficiente e tentativas boas de controle da situação. Como as convidadas reagiram, as convidadas que vieram falar a esses jovens como eles deveriam viver, quais eram os problemas da vida deles, que eles deveriam exercer seus direitos e tomar as rédeas de seus destinos com as próprias mãos? Disseram que aquele não era o momento para se manifestarem. Vieram com o papo (que já quase virou lei em Porto Alegre, há um ano atrás) de que há momentos para as pessoas exigirem aquilo que lhes falta, ainda que todos os meios civilizados e legais tenham sido esgotados. Enquanto aqueles alunos entendiam que tinham cumprido seus deveres e que os responsáveis pelo programa não tinham cumprido os deles, que sofriam com um descaso contra o qual tinham o direito de reclamar (e não há forma de reclamar sem causar incomodação, pelo contrário, a incomodação é a chave do poder da reclamação), as estrangeiras se insultavam com uma manifestação que se baseava nos mesmos princípios que elas evocaram poucos minutos antes. Os mesmos princípios, mas lidos de outra forma (nem tão distante assim), ou seja, conforme a interpretação dos próprios alunos, essas pessoas que são colocadas em programas que priorizam o desenvolvimento de cidadania, criticidade e autonomia interpretativa, mas que institucionalmente lhes negam tudo isso a cada passo, a menos que mediada docemente por alguém "de cima", nem que sejam os professores.

Verdade, ética, respeito, direitos e deveres, tudo isso é muito maleável. O maior problema, na prática, é que quem não costuma ter o microfone para falar também tem a sua interpretação para cada um desses idolatrados termos.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Das reuniões

Eu participei de duas reuniões administrativo-pedagógicas hoje e, obviamente, ouvi uma leva incrível de pérolas. No entanto, no fim da primeira, não quis fazer um post sobre isso e não anotei nada. Porém tantas frases daquela reunião geraram brincadeiras e deboches ao longo do dia que, ao ouvir algumas outras na segunda reunião, resolvi registrar pelo menos as quatro melhores:

"Porque há pessoas e pessoas." E uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa, claro.

"Espera eu terminar de comer" [no MEIO do horário de trabalho, em cima do computador de serviço, para depois me passar um documento que deveria ter sido entregue na minha casa há duas semanas].

"Os professores não têm a capacidade de estar em dois lugares ao mesmo tempo." Que incompetência, não? Mas os elétrons já foram forçados a tal. Logo conseguem com a gente também.

"Mas eu entendi o que está acontecendo. Eu já saquei! Sabe o que é? A Fulana tá tentando derrubar ela. Usaram ela de fachada, porque ela tem um jeitinho doce, e agora que estão por cima não precisam mais da fachada queridinha." É, chefe, tu "sacou" porque eu te contei isso literalmente na sexta-feira!

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Muito, muito séria!

- X e Y estão te convocando para uma reunião hoje, à tal hora.

- ...

- É uma convocação.

- Hm... Pode ser mais tarde?

- ... Pode.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Ilegal, não, mas alegal?

O colocador de pronomes, personagem de Monteiro Lobato, morreu tentando corrigir os erros de português de toda placa ou mensagem pública que via pela frente. Tecnicamente, ele morreu de tentar, freneticamente, que todos seguissem a gramática. Policarpo Quaresma, Dom Quixote e quantos mais quiseram são exemplos de personagens ridicularizados por tentar seguir literalmente um código de conduta teórico. Lei e prática nunca engrenam de forma perfeita, e pululam na arte e na tradição heróis como Robin Hood, que são adorados exatamente quando quebram a lei (é óbvio, a forma como a quebram é fundamental).

Por outro lado, tudo tem seus códigos, e muita gente vive em paz, bem ou até muito feliz seguindo esse código. Essas pessoas vão tentar defender o código que as satisfaz sempre que possível. Existe muito interesse em se defender a lei. Regras são reconhecidas mesmo como bases de qualquer civilização, qualquer sociedade. Até mesmo a gramática normativa sobrevive, odiada, até hoje. Mesmo que seja possível escrever bem sem saber (toda a) gramática, é preciso entendê-la bem para se passar em concursos que prometem salários medianos, que fará no Rio Branco. Pior do que isso, não se conhecer uma lei não isenta ninguém de ser cobrado por tê-la quebrado, e certas omissões frente a infrações podem ser duramente cobradas pela polícia.

Não defenderia o rigorismo ridículo nem as faltas que sejam, na verdade, meras desculpas para incompetência, porém o problema é: até onde se deve seguir a lei, afinal?

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Profissionalismo

"Eu fui uma vítima... da minha própria inexperiência."

A frase é de Agostinho, de A Grande Família, no episódio de hoje. Imediatamente me lembrou certos profissionais; alguns leitores desse blog devem lembrar deles imediatamente.

Infelizmente este é um post melhor compreendido por quem tem convivido muito comigo ultimamente, mas posso tentar universalizá-lo com o seguinte comentário: pior é ser vítima da inexperiência dos outros, não?

terça-feira, 30 de março de 2010

Professor incompetente, sim - mas respeitável, nunca!

Encontrei hoje uma amiga que foi demitida ontem. Ela estava, é óbvio, feliz e aliviada. A obviedade nasce do fato de ela ser uma professora e das loucas idiossincrasias que caracterizam a profissão.

Falo apenas conforme a minha experiência, mas parece que um professor raramente é demitido. Crimes contra os direitos humanos ou ineficácia pedagógica quase nunca afetam a carreira. Professores, até onde sei, no máximo ouvem uma advertência caso tenham cometido algum dos dois ad nauseam. Conheço apenas dois pecados que podem levar à demissão.

No caso do ensino público, o professor não pode querer ser respeitado. Não muito! Querer que todos os seus direitos sejam respeitados conforme a lei, então... demissão ou escanteio na certa. Conhecia um professor, por exemplo, que perdeu todas as turmas que tinha porque insistia em exigir profissionalismo da diretora. A fulana, em resposta, arranjou os horários sem a matéria dele! Apenas a ameaça de colocar a diretora na justiça fez com que ela arrumasse os horários para que ele pudesse dar suas aulas. Discordâncias políticas, de eleição da direção a preferências de partido, também podem causar certos problemas. O perigo, nesse caso, não vem dos educandos, mas dos chefes, sejam a diretoria, a Secretaria ou o Ministério da Educação, ou ainda o serviço de orientação pedagógica (refiro-me apenas ao perigo de demissão, pois os alunos, obviamente, seguem ameaçando fisicamente os professores tanto no ensino particular quanto - muito mais - no público).

O ensino particular acresce a essa ameaça o perigo representado por determinados alunos, que devem ser agradados de imediato (ou em curto tempo, se ficarem na dúvida no início da relação). Apelem à verdade ou à difamação, deem razões cabíveis ou não, os pais desses alunos podem fazer com que a instituição, seja creche, escola ou universidade, demita o professor. Parece-me que as instituições particulares tentam reforçar a camaradagem e o apoio mútuo entre os profissionais para poder ter um corpo docente formado ao longo da maioria do ano, uma postura que realmente desestimula os alunos a apelarem a reações drásticas, mas também é um apoio frágil, uma medida que tenta demover pedidos de demissão, mas que não impede que, no aperto, o professor seja pintado como grande vilão isolado, para o que a escola dá um jeito de o aproveitar como bode expiatório de um ou dois pecadinhos menores (afinal, ele já não está levando um pecadão?!).

Tanto no ensino particular quanto no público, portanto, o professor é demitido quando quer fazer seu trabalho direito. Melhor dizendo, há uma negociação (não-verbal) de início, e o professor deve fazer bem seu dever, mas nunca bem demais. Professor exigente, que quer que os alunos aprendam de verdade, tem chances demais de deixar um aluno desconfortável e cavar uma demissão (ou uma ameaça de morte). E ai de quem pedir, numa instituição particular, que o aluno re-escreva trabalho copiado da internet! Da mesma forma, professor que quer ser respeitado até o último parágrafo do último artigo da CLT, agindo de acordo com cada palavra da LDB. O desgaste é ainda maior se particular e público se cruzam, nos estranhos contratos da educação atual.

No caso de a crise vir do topo hierárquico, o desgaste se arrasta por bastante tempo, enquanto quem manda tenta convencer seu subordinado a calar a boca e aceitar o que lhe for jogado em cima. Quando isso não resolve, e o caso extremo da demissão sai, assim como no caso da incomodação com alunos, o professor acaba se sentindo aliviado. Geralmente tudo isso ocorre não com qualquer desrespeito, mas com um extremo, o que faz com que ser demitido dê até orgulho: é o índice de que aquele professor não aceita que se rebaixe o seu trabalho e o de todos os professores ao famigerado "sacerdócio da educação" que tanto já xinguei aqui no blog. E é por isso que minha amiga hoje estava aliviada e alegre, algumas demissões são de se colocar, com orgulho, no currículo.

quarta-feira, 17 de março de 2010

Consentimento informado

Acho engraçada essa expressão já em sua aplicação médica, pois ela finge implicar uma escolha do paciente, mas em geral significa apenas que o médico não apresentou alternativas ou representou o tratamento escolhido como a melhor opção, destruindo a imagem dos outros tratamentos possíveis. Ou seja, o paciente segue passivo, sofre aquilo que sofreria. Ele sabe mais ou menos o que está acontecendo, mas não tem propriamente liberdade (enfim, eu sou alguém que considera que, quando alguém me diz "me obedece ou te mando pro inferno", não estou experimentando verdadeiro livre-arbítrio).

Mas o consentimento informado tem outra aplicação (menos como termo técnico, mas por empréstimo) muito interessante. Digamos que alguém tenha autoridade, mas não decida que caminho tomar na hora do aperto. Bem, uma opção é quem está diretamente abaixo tomar a medida independente da indecisão de quem está no comando. Pessoas em postos de autoridade, no entanto, são obviamente sensíveis a esse tipo de tática, mesmo que estejam perdidos a respeito do que fazer. Por isso, acho melhor contar que medidas estou tomando, mas contar o que vou fazer, ou seja, apresentar uma oportunidade ao chefe para que consinta informadamente: não é que se vá dar opção ao superior hirárquico, mas que se lhe apresente a oportunidade de um enganoso livre-arbítrio.

domingo, 7 de março de 2010

Blog e docência no divã

Até onde entendo, na nomenclatura freudiana, eu seria um neurótico. Ou seja, uma pessoa como a média da população socialmente funcional, alguém que passou por Édipo de forma suficiente (aparentemente não há como ganhar A com estrelinhas nessa prova), com a quantidade devida de recalques e perversões (nomenclatura não tão grave quanto aparenta), enfim, com a formação de um superego forte (bem forte, no meu caso, dizem) - estou, é claro, sendo retórico, sim, aqui; se psicólogos se reviraram lendo, por favor, me digam o porquê, mas também peguem a ideia e sigam adiante com boa vontade.

Este blog, de um neurótico, não poderia deixar de ser neurótico também, ou seja, de sofrer os efeitos de um superego, conhecido nas mídias como "autocensura". O que no início foi crucial para sua formação (assim como foi na minha personalidade), exigência mesmo de forçar a mão no "retórico" para chegar ao efeito que queria sem necessariamente usar as palavras mais simples ou diretas, é agora um entrave. Pelo jeito, meu blog precisa de terapia.

Sempre ouvi muitas frases sem sentido ou raciocínios idiotas e engraçados por todos os lados, e foi, em parte, minha mania de debochar deles que fez com que algumas amigas insistissem que eu fizesse um blog, mas agora a maioria das idiotices que ouço são tão contextualmente imbricadas e tão ligadas a meus chefes ou contratantes diretos que tem ficado difícil transformá-las em posts sem desrespeitar minha autocensura.

Por algum motivo obscuro, eu, que dou muito menos valor a palavras que a ações (numa desproporção gigante se comparada a meus colegas de Letras em geral), sou menos constrangido em enfrentamentos práticos que em acusações verbais ao léu, de modo que os riscos que tomo na prática não aliviam o superego do blog. Provavelmente porque sei o quanto as pessoas gostam de se iludir com o poder das palavras, confundindo seu caráter "performativo" com as velhas palavras mágicas ("Cuidado, dizer aluno implica violentar a cultura do educando, e dizer o nome do Canhoto atrai!"). Se eu escrevesse algo grave aqui, as palavras poderiam ser evocadas em sentido desproporcional, eufemisticamente puxando a luta para frases soltas num blog, desviando a atenção de onde a crise realmente está. E isso é justamente uma das coisas que mais odeio nas discussões médias da humanidade, o que só consigo chamar de argumentação eufemística, fundamentalmente hipócrita: o que está em jogo fica esquecido para que se use todas as armas numa disputa verbal que seria vazia não fosse ela representar refratariamente a luta real. Como pessoas evocando a história de uma palavra para discuti-la num contexto em que o sentido dela é atual, outro, mascarando a verdadeira disputa e tentando usar dicionários filológicos como se fossem enxadas (pior, acreditando que ambos são a mesma coisa).

Em discussões, eu sou objetivo demais para isso. No blog, sou objetivo de menos. E relações de emprego envolvem demais justamente esse nível de disputa, com o abuso de poder, no meu emprego atual (mesmo que eu não seja ainda um dos mais prejudicados), aplicado particularmente para forçar que sigamos eufemísticos, com um leve relaxamento da hipocrisia para ameaças de demissão a cada reunião. Essa demonstração de poder francamente não me impressiona, e fico feliz de ver como também não impressiona grande número de meus colegas, de forma que a parca força retórica disso tudo me deixa ainda mais intrigado com o fato de que quem "manda" com tanto gosto, nesse caso, está realmente tão iludido quanto eu imaginava.

O caso ainda piora por um detalhe que já indiquei, mas que talvez tenha sido lido como redundância ou ênfase: mencionei "meus chefes ou contratantes" querendo dizer que o abuso vem de uns ou de outros, conforme o momento, ou seja, meus chefes e meus contratantes não são os mesmos, não na prática. Essa estrutura esquizofrênica obviamente não casa bem com minha estrutura neurótica, pois afinal a vantagem de estruturar a personalidade assim é justamente não sofrer fracionamentos. Alguns colegas meus, experientes professores do estado, conseguem apelar para a estrutura perversa: lidar com as regras mais ou menos como House (com ainda mais descaso). Outros abandonam o barco. Demitem-se cansados, irritados e ressentidos. Outros ainda procuram meios-termos, categoria em que me encaixo, ao que parece, mas da qual não sou ótimo representante, porque estou tentando forçar que os esquizofrênicos sejam neuróticos, ou seja, tentando unificar o discurso de chefes e contratantes, entre os quais, se eu fracassar, devo ter de escolher radicalmente um lado contra o outro ou me tornar um gênio da matemática hollywoodiano.

Mas como passar as besteiras que ouço para o blog respeitando sua forma, sem apelar para a repetição de críticas às asneiras sobre o sacerdócio do professor, discurso de que os próprios contratantes desistiram, e que mesmo assim um colega materializou com o uso direto da palavra, em nossa última reunião, evocando o exemplo de Madre Teresa de Calcutá (a psicologicamente violenta fundamentalista católica)? Felizmente, o papo empresarial de que nós (contratantes, contratados e chefes) somos uma família acabou.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Coerência metafísica de mercado

Os metafísicos em geral, e particularmente aqueles que acreditam em dívida histórica ou preconceito por etimologia, vão me apoiar nessa...

"Despótes" era um termo grego que designava o chefe de família, e daquela patriarcal sincera, não a modalidade burguesa. Portanto, quando uma empresa vem com aquele papo que assola a administração (pelo menos a brasileira) dos anos 1990 pra cá sobre "pertencemos todos à Família Empresa Tal" e, depois, age despoticamente com seus empregados, estão, bem mais do que o suspeitam, sendo coerentes. Não hipócritas.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Leis Humanas

Existem padrões nas áreas humanas, leis às vezes bem menos "relativas" que as da física. Por exemplo, a tendência de uma pessoa a dizer bobagens vazias ou largar pérolas costuma ser diretamente proporcional ao seu nível de escolaridade ou à sua altura hierárquica.

domingo, 29 de novembro de 2009

Tirai o vosso da reta

Depois de uma semana e pouco de negociações, no dia em que deveriam cumprir o aceite de meu convite:

Representante de Associação - Oi! A gente pode aparecer hoje, mas, como respondemos à Secretaria X, preciso de um documento dizendo quem está convidando.
Prof s/ Poder Administrativo - Documento?
R.A. - É, um registro que eu possa apresentar, caso peçam, entende? Não é uma exigência minha, é que podem querer que apresente, porque, afinal, respondemos a eles...
P. s/ p.A. - Hm. Eu não acho que eu possa emitir isso. Melhor dizendo: eu posso, mas acho que depois podem complicar comigo. Espera um pouco.

(Ligação para a chefia)

P. s/ p.A. - Oi. Eu sou Fulano de Tal, com Tal função, e convidei o Ciclano para ir lá falar com a gente sobre isso e isso. Mas eles respondem à Secretaria X e, por isso, querem saber se podemos emitir um documento assim e assado, um registro do convite para que façam a visita.
Secretária do Secretário da Secretaria Y - Como assim?
P. s/ p.A. - Assim (repito)
S.S.S.Y. - Ah! Sim, podemos. Pra quem é? O que ele é? De onde ele é?
P. s/ p.A. - (Respostas respectivas)

P. s/ p.A. - Oi, Ciclano! É o Fulano, de Tal Coisa!
R.A. - Oi, Fulano, tudo bem?
P. s/ p.A. - Tudo. Seguinte: posso te conseguir aquele documento.
R.A. - Ah, ok. Vai me mandar por e-mail?
P. s/ p.A. - Não, eu vou passar lá hoje, aí pego e te entrego hoje mesmo, em mãos.
R.A. - Ah, ok. Certo. Tudo bem, então. Até.
P. s/ p.A. - Até de noite!

(Final de tarde - quartel general do chefe)
S.S.S.Y. - Escuta, aquela visita, é de graça?
P. s/ p.A. - Claro! É um convite pra ele falar, só.
S.S.S.Y. - Ah, bom! E é um agradecimento?
P. s/ p.A. - Não, um convite.
S.S. - A gente só pode te dar um agradecimento, tá? Pra quem é mesmo? De onde? Como? Por quê?
(Respondidas as perguntas, o agradecimento foi impresso.)

O ciclano começa a apresentação e não tem nada a dizer. Muito, muito, muito pouco, isso depois de uma semana ou mais sabendo que ia falar lá pra pessoas que não sabiam NADA do que ele sabia. Mas, desajeitado e incomodado com o silêncio e com a atenção que o colocavam naquela posição de "como eu não tenho nada pra falar aqui?", voltou-se para mim:

Representante de Associação - Bom, pessoal, desculpem, é que eu fui pego de surpresa pelo prof. Fulano. Mas se a gente conversar direitinho depois, podemos voltar e falar bem sobre o que vcs querem saber...

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Passando por papo trágico

Andando no ônibus, pego o seguinte trecho de uma conversa:

Amiga 1 - Sim, aí eu vou passar uns vídeos motivacionais.
Amiga 2 - Isso...


Não, não! Por favor, tudo menos isso!

sábado, 7 de novembro de 2009

Nobel à la Obama

Fui eleito coordenador de um grupo antes mesmo de ele existir.

...

Alguém na plateia falou "prematuro"?

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Todos pela China, compañeros!

Chega a pegar mal alguém dizer que antigamente as coisas eram diferentes, que nosso mundo hoje é uma vergonha, que no passado não acontecia isso ou aquilo. São bem espalhadas as causas sociais e psicológicas para todo mundo achar que o passado era melhor que o presente. Raras vezes isso é verdade.

Mas, boa notícia para o positivismo e o realismo gaúchos, o Rio Grande do Sul pode dizer tudo isso com firmeza e certeza, sem escorregar num romantismo barato. Sim, documentadamente a economia do RS vai de mal a pior há algumas décadas. E isso em relação à nossa história ou em comparação com os outros Estados (também diacronicamente). Não somos mais primeiros nisso ou naquilo e não somos mais como antigamente. Não chega a ser boa notícia para o resto do Brasil, no entanto, já que nós estamos piores: não é que os outros tenham necessariamente melhorado. Aliás, a boa imagem (interna) do RS, para variar, serviu em geral para tapar o sol com a peneira, assim como o discurso de todos os políticos (do mundo) que afirmam tudo que fazem e fizeram, como seu governo trouxe melhorias, como estamos caminhando para a frente! E o belo papel de parede gaúcho de "alfabetização" e "consciência política" vai servindo para tapar as rachaduras até que a parede caia toda de uma vez só.

Nossa última peripécia econômica foi perder o domínio do mercado de calçados da Argentina para a China. Digo que nós perdemos (não que a China conquistou) para nos enfatizar como actantes. Seu novo acordo com a Argentina não foi uma grande tirada: eles aproveitaram uma brecha que nasceu graças ao... Mercosul!!! Essa dita aliança (aquela relação em que as partes se dão apoio, lembram?) impõe um teto na nossa exportação de calçados. O teto está abaixo do que a Argentina precisa importar e MUITO abaixo do que podemos exportar. Logo: mercado aberto! Portanto um acordo econômico que deveria fortalecer nossos mercados entrega de mão beijada os consumidores argentinos para a China!

Não sei se o problema do teto saiu de nossas negociações diretas com a Argentina ou se foi algo entre o governo central e eles, mas a incompetência redunda aqui. Ou nossos "representantes" não sabem negociar com argentinos, ou com brasilienses. Como já indica o nome, parece que a tradição dos Farrapos não compreende muito a lógica da Economia.