Bom, na verdade, "o gato foi afugentado nesta madrugada", mas a intertextualidade é um must!
Conversava eu com uma guria (que vem, passiva e ativamente, me tirando o sono) a respeito das coincidências que nos impedem de dormir até tarde justamente naqueles dias que reservamos para nos recuperar de sequências de noites maldormidas. Obviamente, depois dessa conversa, falando que isso não ocorria havia muito comigo (ocorrera com ela na manhã anterior), minha sorte acabou. Este post era sobre essa coincidência, mas, respeitando nosso ponto de vista de como as informações devem ser passadas (por uma longa história e não por afirmações informativas breves), aqui vão os fatos.
A moça mencionada cortou nosso telefonema ontem para que fôssemos dormir mais cedo, e até deu certo. Mas às 4 e muito da madrugada acordei com minha cadela latindo sem parar. Insisti um pouco, mas era óbvio que não era coisa de humor. Como todo mundo que já teve cachorro sabe, muito pode se ler num latido, e estava claro para mim que ela tentava atacar algum animal que estava muito, muito próximo dela. A hipótese natural era que fosse um gato (minha vizinha tem muitos, volta e meia eles vêm passear pelo nosso pátio e nenhum ser gosta tanto de encher o saco provocando seu predador urbano como os gatos).
Decidi levantar, já que grito para ela calar a boca apenas quando ela não tem razão e, se minha teoria estava certa, ela tinha razão: todo reforço para que ela lata quando algum ser não convidado entra no pátio é pouco. O bichano, como lhes é típico, estava numa posição quase segura, metido no meio da folhagem de nossa parreira, bem acima do poste mais interno ao pátio. Ele não podia sair dali? Podia. Por uma viga de cimento que sustenta a parreira ali mesmo chegaria ao muro e sairia correndo. Ele se mexia? Não. Por quê? Porque gatos adoram encher o saco, como dito. Tendo convivido com esse bicho desde pequeno, achei, mesmo na pouca luz que chegava nele (eu ligara a lâmpada do pátio) que estivesse ferido e, portanto, nervoso. Ou seja, em parte (além de ser naturalmente um provoador) ele não queria se arriscar a sair dali, mesmo que fosse para tentar fugir. Aposto que tinha feito uma das suas, que tinha dado errado, tomado uma pancada de nossa cadela e, tendo então chegado àquele poste e se salvaguardado, não arriscaria confiar no próprio julgamento de rotas de fuga por um tempo.
Enquanto nossa cadela destruía todas as plantas de minha mãe tentando escalar o poste sobre o qual o agora medroso gato se encastelava, meu citador compulsivo disse-me, sabendo que eu tinha pensado o mesmo: "we're fashioning a very long poking device". Resignadamente retribui o olhar de mim para mim mesmo pensando "Justamente" e me dirigi à cozinha, cuja janela é o ponto mais próximo entre o interior da casa e o dito poste. Antes de sair de meu primeiro posto de observação, porém, vi que do lado de fora da janela da cozinha havia um prendedor esquecido. Pensei que não ia dar certo, mas resolvi tentar afugentar o gato com um tiro certeiro primeiro. Fui até lá, peguei o prendedor e realmente acertei bem no corpo do gato. Infelizmente ele resistiu daquela forma que gatos só reagem quando estão decididos a não largar seu posto, ou seja, quando estão assustados, o que geralmente implica algum ferimento, mesmo que leve.
Já eram 5 horas quando peguei o cabo de uma antiga vassoura, tirei o cabo de uma atual, peguei fita adesiva e comecei a construir meu aparato. Aos latidos constantes de minha cadela eu reprisava o episódio de Friends da citação feita e ria tranquilamente, pensando então sobre a cor que citações dão à vida de alguém que precisa dormir, precisa acordar cedo, mas também precisa lidar com a vida selvagem do Leopoldina. A nota um tanto otimista (ou positiva, sei lá) talvez soe estranha à guria citada no início do post, mas tenho meus momentos, particularmente graças ao Friends.
Empurrei o gato com certa leveza, achando que o susto o tiraria dali (foi nesse momento que a música que dá título ao post me veio à mente). Resistência. Saco! O poking device, graças à incomodação e à citação da música-título, tornou-se uma lança que ia afugentar o gato com todo o implícito "sai agora ou a próxima vai doer muito!" Funcionou. O gato foi em direção ao muro, ficando distante daquela janela. Minha cadela começou uma investigação silenciosa, o que me disse que o gato tinha, talvez, sumido dali. Cada vez mais otimista, voltei em direção ao interior da casa (nossa cozinha é um braço projetado para fora da estrutura original), não mais um sonolento leopoldinense que caiu da cama e foi direto usar dois cabos de vassoura contra um gato, mas um vitorioso guerreiro semi-nu e sua lança (ok, eu só estava ainda cantando a música).
Animado pelo otimismo do silêncio noturno conquistado, fui rapidamente ao banheiro antes de voltar para a cama. Mas foi o tempo de minha cadela retomar o espírito de caça e recomeçar a latir. Não era que ela tivesse localizado o gato, mas era óbvio que seu alvo não estava morto, e ela agora reclamava que a imbecil criatura revelasse seu paradeiro para ela poder terminar o que havia começado. Latidos dessa natureza, para minha sorte, são mais esparços, o que me dava talvez possibilidade de recuperar o sono antes de novas investidas dela. Além disso, logo meu pai acordaria para tomar o café da manhã. Assim que recebesse seu pão matinal, nossa cadela esqueceria do gato (pelo menos a ponto de ficar incomodando com latidos), então não era nada para se estressar. Além disso, eu realmente estava com muito sono. Já estava bem mais pra lá que pra cá quando meu pai abriu a porta do quarto dele para começar seu dia (certamente acordado desde as 4 horas e muito).
2 comentários:
hahaha fiquei imaginando a atuação da Preta!
hehehehe Pois é. Uma loucura de eficiência.
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