Fiquei tão por fora da internet nos últimos dias que nem tinha visto o vídeo da guria de minissaia na UNIBAN.
E, não bastasse esse mínimo atraso, o caso é mesmo difícil de comentar. Além de ser uma daquelas clássicas situações em que a reação dos "críticos" tira qualquer razão que, por alguma lógica bizarra, pudessem ter - e de comprovar que nenhuma quantidade de nudez na TV e nas ruas vai conseguir anestesiar nossos instintos sexuais -, a única coisa que posso dizer das imagens que mostram aquele zoológico de seres humanos alvoroçados por um par de pernas é deixar aqui o mote de meu pai, com que preciso concordar plenamente:
"O ser humano é um animal metido a besta."
Falando sobre tudo de linguagem que chamar a minha atenção: placas, conversas, citações... Deem uma chance lendo aí embaixo e vão sacar o foco.
sábado, 31 de outubro de 2009
sexta-feira, 30 de outubro de 2009
Get Back to Where You Once Belonged
Cá estou, bronzeado e treinado, querem crer meus novos contratantes.
O regime de imersão exigido para tal treinamento denota que ele foi organizado por uma empresa, com todos os clichês originais daquela criatividade repetitiva de programas do terceiro setor. Vídeos motivacionais, micos friamente planejados e montagens assustadoras de cenas d'O Senhor dos Anéis, tudo preparando os educadores ("professor" é palavra feia e antiquada) para lidar com uma realidade da qual não nos passaram nenhuma informação efetiva, mas sobre a qual devemos evitar todo preconceito. Simples, não?
A semana foi pródiga em pérolas e argumentações furadas no início e ilógicas no final, mas vou considerar depois mais friamente se as comento aqui. Algumas talvez valham uns posts, por não serem muito ligadas a essa questão de treinamento de empresa, ou seja, por não serem previsíveis demais.
Dito isso, devo comentar duas coisitas:
Primeiro, é dever de quem retorna de viagem arrumar a bagunça que surge por geração espontânea, em nossa ausência. Lendo os comentários sobre meu post anterior, por exemplo, ocorreu-me que, mesmo que o Clark tenha sentido a ironia, pode ocorrer de um leitor com menor conhecimento deste blog passar por aqui e ler o tal trecho "Salvador, capital do Cosmos" como literal. Pois bem, deixem-me já chegar estragando festa, eu estava sendo, sim, irônico, quiçá sarcástico.
Fora isso, devo comentar que minha viagem foi de sol e água fresca, muita comida, atividades de lazer atípicas para este acadêmico, apesar dos desencontros de horário entre nossas atividades e a programação local. Agora, o passeio valeu especialmente por certas amizades novas. Apesar dos pesares, o grupo era rico em gente boa. Vou manter a política de não mencionar nominalmente ninguém (ou quase ninguém), mas é interessante como uma semana pode gerar tanta intimidade numa amizade completamente nova.
Enfim, termino então com essa nota positiva. E sigamos com Beatles, já que lá (no treinamento) ouvi uma música de que gosto bastante e que tem um verso tão adequado para título deste post:
O regime de imersão exigido para tal treinamento denota que ele foi organizado por uma empresa, com todos os clichês originais daquela criatividade repetitiva de programas do terceiro setor. Vídeos motivacionais, micos friamente planejados e montagens assustadoras de cenas d'O Senhor dos Anéis, tudo preparando os educadores ("professor" é palavra feia e antiquada) para lidar com uma realidade da qual não nos passaram nenhuma informação efetiva, mas sobre a qual devemos evitar todo preconceito. Simples, não?
A semana foi pródiga em pérolas e argumentações furadas no início e ilógicas no final, mas vou considerar depois mais friamente se as comento aqui. Algumas talvez valham uns posts, por não serem muito ligadas a essa questão de treinamento de empresa, ou seja, por não serem previsíveis demais.
Dito isso, devo comentar duas coisitas:
Primeiro, é dever de quem retorna de viagem arrumar a bagunça que surge por geração espontânea, em nossa ausência. Lendo os comentários sobre meu post anterior, por exemplo, ocorreu-me que, mesmo que o Clark tenha sentido a ironia, pode ocorrer de um leitor com menor conhecimento deste blog passar por aqui e ler o tal trecho "Salvador, capital do Cosmos" como literal. Pois bem, deixem-me já chegar estragando festa, eu estava sendo, sim, irônico, quiçá sarcástico.
Fora isso, devo comentar que minha viagem foi de sol e água fresca, muita comida, atividades de lazer atípicas para este acadêmico, apesar dos desencontros de horário entre nossas atividades e a programação local. Agora, o passeio valeu especialmente por certas amizades novas. Apesar dos pesares, o grupo era rico em gente boa. Vou manter a política de não mencionar nominalmente ninguém (ou quase ninguém), mas é interessante como uma semana pode gerar tanta intimidade numa amizade completamente nova.
Enfim, termino então com essa nota positiva. E sigamos com Beatles, já que lá (no treinamento) ouvi uma música de que gosto bastante e que tem um verso tão adequado para título deste post:
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sábado, 24 de outubro de 2009
Férias forçadas
Para citar o grande Perna Longa, interpretando George Washington, "Fui convocado!"
Pois é, devo sair em missão diplomática (oficialmente, "treinamento") para as terras brasílicas. Lá é uma nação estranha, já por ter tantas capitais: Brasília é a dos jatinhos particulares, Rio é a capital oficial, seus morros formam a capital nacional efetiva, Buenos Aires é a capital internacional e, como se não bastasse, o Brasil ainda é o país da cidade de Salvador, capital do Cosmos... Em um lugar com tantos centros, é difícil imaginar se há alguma organização e, portanto, se há possibilidades de se encontrar computadores e internet. Assim, aviso que este blog pode ficar sem nenhum post por alguns dias. Não que eu não vá ter material: viajarei com alguns pedagogos. Mas, enfim, pode ser complicado registrá-los logo.
Um abraço aos leitores, fiéis ou de passagem, e uma boa semana a todos!
Pois é, devo sair em missão diplomática (oficialmente, "treinamento") para as terras brasílicas. Lá é uma nação estranha, já por ter tantas capitais: Brasília é a dos jatinhos particulares, Rio é a capital oficial, seus morros formam a capital nacional efetiva, Buenos Aires é a capital internacional e, como se não bastasse, o Brasil ainda é o país da cidade de Salvador, capital do Cosmos... Em um lugar com tantos centros, é difícil imaginar se há alguma organização e, portanto, se há possibilidades de se encontrar computadores e internet. Assim, aviso que este blog pode ficar sem nenhum post por alguns dias. Não que eu não vá ter material: viajarei com alguns pedagogos. Mas, enfim, pode ser complicado registrá-los logo.
Um abraço aos leitores, fiéis ou de passagem, e uma boa semana a todos!
Caligrafia
Há uma obra, na Bienal de Porto Alegre, que é um convite mais do que uma expressão artística individualista. Ela chama o visitante a pichar como quiser, onde quiser (na área definida pelo poder institucional do artista... diriam os mais radicais).
Eu, particularmente, gostei muito da iniciativa. Já era hora de termos onde praticar. As pichações de nossa cidade andavam com uma letra horrível! Uma coisa é sujar Porto Alegre, outra é fazê-lo sem cuidado estético com a sagrada palavra escrita. À caligrafia, conterrâneos! À Bienal!
Eu, particularmente, gostei muito da iniciativa. Já era hora de termos onde praticar. As pichações de nossa cidade andavam com uma letra horrível! Uma coisa é sujar Porto Alegre, outra é fazê-lo sem cuidado estético com a sagrada palavra escrita. À caligrafia, conterrâneos! À Bienal!
sexta-feira, 23 de outubro de 2009
Adolescentes Incompreendidos
Turma de oitava série. Camiseta de gincana/turma/semana de esportes. Na frente, "No mundo há 7 maravilhas..." Nas costas, "... nós somos a oitava!".
Ok, trocadalho do carilho acima da média de domínio de linguagem das nossas oitavas mais típicas. Mas... imagem escolhida para ficar na frente da camiseta, abaixo do texto?
Numa de suas poses mais famosas, da época de prata de sua carreira, Michael Jackson!
E a conexão das ideias???
Ok, trocadalho do carilho acima da média de domínio de linguagem das nossas oitavas mais típicas. Mas... imagem escolhida para ficar na frente da camiseta, abaixo do texto?
Numa de suas poses mais famosas, da época de prata de sua carreira, Michael Jackson!
E a conexão das ideias???
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Policiais e Mudas - onde estavam os desocupados?
Mais policiais plantando árvores no interior do Rio Grande do Sul. Por quê? É claro que árvores são importantes, bonitas e muito acrescentam à nossa identidade regional. E particularmente plantavam "flora nativa", há muito sendo destruída pelas decisões tomadas por nossa Intelligentia - ainda que isso aponte para que se repensassem nossas políticas, todas, não para empregar policiais no plantio em determinadas regiões de uma árvore que vai ter de lutar para nos aguentar.
Ok: "mas e até lá?" Plantar novas árvores lida com uma situação mais imediata, mas aí volta-se ao primeiro elemento, verdadeiro problema da questão: por que os policiais estão plantando árvores? Não estamos (o planeta Terra) com uma falta gigantesca de força policial (exceções feitas talvez, talvez, a Chavez e Kim Il-Sung)? A criminalidade no interior do Rio Grande do Sul não lembra todo dia filmes de Hollywood, em geral variando de Bruce Willis a 11 (ou mais) Homens e um (ou alguns) Segredo(s)? Não vão dizer que não acharam mão-de-obra dada para a tarefa! Aposto que não têm coragem de negar que havia um monte de secretários e vereadores sem fazer nada por lá...
Ok: "mas e até lá?" Plantar novas árvores lida com uma situação mais imediata, mas aí volta-se ao primeiro elemento, verdadeiro problema da questão: por que os policiais estão plantando árvores? Não estamos (o planeta Terra) com uma falta gigantesca de força policial (exceções feitas talvez, talvez, a Chavez e Kim Il-Sung)? A criminalidade no interior do Rio Grande do Sul não lembra todo dia filmes de Hollywood, em geral variando de Bruce Willis a 11 (ou mais) Homens e um (ou alguns) Segredo(s)? Não vão dizer que não acharam mão-de-obra dada para a tarefa! Aposto que não têm coragem de negar que havia um monte de secretários e vereadores sem fazer nada por lá...
quinta-feira, 22 de outubro de 2009
Capacitação profissional
A guria fala, lépida e faceira: "I'm an expert in what I know."
Contratada.
Contratada.
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Paralelismo
Bom, o que indiquei no post logo aí debaixo, de um colega falando sobre um personagem de uma peça, foi exatamente a estrutura aplicada a mim. Quem me apresentou a uns alunos hoje disse que eu tinha ido "fazer uma palestra, ou uma fala, ou uma conversa com a gente".
Nenhuma crítica ao autor da frase, mas foi muita coincidência o paralelismo.
Ó, vida indecisa!
Nenhuma crítica ao autor da frase, mas foi muita coincidência o paralelismo.
Ó, vida indecisa!
quarta-feira, 21 de outubro de 2009
Ahnnnnnn
Durante uma discussão sobre uma peça de teatro:
"Nessa cena, o demônio convence, ou pelo menos argumenta, ou pelo menos afirma..."
Tava difícil! Ô demoniozinho pouco convincente, hein?
"Nessa cena, o demônio convence, ou pelo menos argumenta, ou pelo menos afirma..."
Tava difícil! Ô demoniozinho pouco convincente, hein?
Como pede o figurino
Dizem que os donos da Cutrale estão sob processo por formação de cartel e por posse ilegal de armas. Bom, considerando-se que apoiaram o nosso governo em Brasília (e não precisa ser um do PT), não é de praxe ter ficha suja?
terça-feira, 20 de outubro de 2009
Juventude alienada
Onde estão as correntes de e-mail reclamando que a Thirteen apareça em todo episódio de House?!
Sherlocks brasileiros
As provas do Enade, que não deveriam estar na van, estavam, e suas caixas não foram lacradas. Mas um pessoal do MEC, sabe-se lá de que estado, provavelmente por telefone, disseram que não: estavam lacradas, oras! O pessoal da van disse que não viu, o pessoal do governo disse que nada vazou. Então tá! Prova na data marcada, problema resolvido.
Há males que vêm pra bem...
... mas por onde eles andam? Tudo que é Novo não presta ultimamente. Agora, depois do Novo Acordo Ortográfico, o Novo Padrão de Tomadas no Brasil!
Mas, assim ó, o pessoal tá trabalhando para melhorar o país, tá?
Mas, assim ó, o pessoal tá trabalhando para melhorar o país, tá?
Todos pela China, compañeros!
Chega a pegar mal alguém dizer que antigamente as coisas eram diferentes, que nosso mundo hoje é uma vergonha, que no passado não acontecia isso ou aquilo. São bem espalhadas as causas sociais e psicológicas para todo mundo achar que o passado era melhor que o presente. Raras vezes isso é verdade.
Mas, boa notícia para o positivismo e o realismo gaúchos, o Rio Grande do Sul pode dizer tudo isso com firmeza e certeza, sem escorregar num romantismo barato. Sim, documentadamente a economia do RS vai de mal a pior há algumas décadas. E isso em relação à nossa história ou em comparação com os outros Estados (também diacronicamente). Não somos mais primeiros nisso ou naquilo e não somos mais como antigamente. Não chega a ser boa notícia para o resto do Brasil, no entanto, já que nós estamos piores: não é que os outros tenham necessariamente melhorado. Aliás, a boa imagem (interna) do RS, para variar, serviu em geral para tapar o sol com a peneira, assim como o discurso de todos os políticos (do mundo) que afirmam tudo que fazem e fizeram, como seu governo trouxe melhorias, como estamos caminhando para a frente! E o belo papel de parede gaúcho de "alfabetização" e "consciência política" vai servindo para tapar as rachaduras até que a parede caia toda de uma vez só.
Nossa última peripécia econômica foi perder o domínio do mercado de calçados da Argentina para a China. Digo que nós perdemos (não que a China conquistou) para nos enfatizar como actantes. Seu novo acordo com a Argentina não foi uma grande tirada: eles aproveitaram uma brecha que nasceu graças ao... Mercosul!!! Essa dita aliança (aquela relação em que as partes se dão apoio, lembram?) impõe um teto na nossa exportação de calçados. O teto está abaixo do que a Argentina precisa importar e MUITO abaixo do que podemos exportar. Logo: mercado aberto! Portanto um acordo econômico que deveria fortalecer nossos mercados entrega de mão beijada os consumidores argentinos para a China!
Não sei se o problema do teto saiu de nossas negociações diretas com a Argentina ou se foi algo entre o governo central e eles, mas a incompetência redunda aqui. Ou nossos "representantes" não sabem negociar com argentinos, ou com brasilienses. Como já indica o nome, parece que a tradição dos Farrapos não compreende muito a lógica da Economia.
Mas, boa notícia para o positivismo e o realismo gaúchos, o Rio Grande do Sul pode dizer tudo isso com firmeza e certeza, sem escorregar num romantismo barato. Sim, documentadamente a economia do RS vai de mal a pior há algumas décadas. E isso em relação à nossa história ou em comparação com os outros Estados (também diacronicamente). Não somos mais primeiros nisso ou naquilo e não somos mais como antigamente. Não chega a ser boa notícia para o resto do Brasil, no entanto, já que nós estamos piores: não é que os outros tenham necessariamente melhorado. Aliás, a boa imagem (interna) do RS, para variar, serviu em geral para tapar o sol com a peneira, assim como o discurso de todos os políticos (do mundo) que afirmam tudo que fazem e fizeram, como seu governo trouxe melhorias, como estamos caminhando para a frente! E o belo papel de parede gaúcho de "alfabetização" e "consciência política" vai servindo para tapar as rachaduras até que a parede caia toda de uma vez só.
Nossa última peripécia econômica foi perder o domínio do mercado de calçados da Argentina para a China. Digo que nós perdemos (não que a China conquistou) para nos enfatizar como actantes. Seu novo acordo com a Argentina não foi uma grande tirada: eles aproveitaram uma brecha que nasceu graças ao... Mercosul!!! Essa dita aliança (aquela relação em que as partes se dão apoio, lembram?) impõe um teto na nossa exportação de calçados. O teto está abaixo do que a Argentina precisa importar e MUITO abaixo do que podemos exportar. Logo: mercado aberto! Portanto um acordo econômico que deveria fortalecer nossos mercados entrega de mão beijada os consumidores argentinos para a China!
Não sei se o problema do teto saiu de nossas negociações diretas com a Argentina ou se foi algo entre o governo central e eles, mas a incompetência redunda aqui. Ou nossos "representantes" não sabem negociar com argentinos, ou com brasilienses. Como já indica o nome, parece que a tradição dos Farrapos não compreende muito a lógica da Economia.
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segunda-feira, 19 de outubro de 2009
domingo, 18 de outubro de 2009
Quando o youtube também assusta
Estou ouvindo uma música de que gosto e vejo este comentário:
We are living in the last days spoken of in Revelation and Daniel. There is no other time I would rather live in.
Putz, alguém que gosta de mesma música que eu não só acredita no Antigo Testamento como acha bom estar vivendo o fim do mundo?! Sacanagem
We are living in the last days spoken of in Revelation and Daniel. There is no other time I would rather live in.
Putz, alguém que gosta de mesma música que eu não só acredita no Antigo Testamento como acha bom estar vivendo o fim do mundo?! Sacanagem
Vícios de linguagem
Já não era hora de movimentos sociais pararem de defender "direitos universalmente assegurados"? Ora, se estão assegurados, quem precisa lutar por eles? E, se estão pensando no outro sentido, de que são "universalmente afirmados", já era hora de terem aprendido que isso não existe. Há no máximo "direitos afirmados como universais", o que, em bom português brasileiro, significa "alguém os definiu na França".
Não cabia no comentário, Clark
Este post é um comentário a "Pagando Direito a um Professor".
Em primeiro lugar, eu não ia fazer deste comentário um post e, como achava minhas ideais um pouco longas para um comentário efetivo, ia tudo morrer no esquecimento. Mas a recente derrubada do helicóptero da polícia no Rio e um concurso que prestei hoje me fizeram mudar de ideia. O que não mudou foi minha consciência a respeito do amadorismo de minhas ideias econômicas e políticas, de modo que achei relevante comentar isso mesmo este sendo apenas um post de blog pessoal.
Bom, a questão central do post do Clark era opor, num exagero didático (pelo que entendo), duas posturas sobre educação: responsabilidade governamental ou área de iniciativa privada. Isso partindo do problema do salário dos professores, pois maiores salários implicam maior custo para quem os emprega, seja este o Estado (povo) ou os pais que pagam o dono do colégio (povo). Para não perder o fio parafraseando, cito o centro do problema: "para pagar mais aos professores, ou a gente paga mensalidades mais altas ou impostos maiores."
Quando comentei sobre não publicar um comentário a seu post, por achar que o problema era mais complicado, o Clark mesmo acrescentou que há ainda a opção clara de não aumentar impostos nem mensalidades, mas aplicar o dinheiro mais na educação ou no salário dos professores, tirando de outros lugares.
Pois é, essa era talvez a parte central do que eu queria comentar, só que eu acho que esse "tirando de outros lugares" dá pano demais pra manga.
Um dos primeiros problemas para mim é que nenhum governo poderia colocar essa questão como se fizesse algo para os professores. A educação serve ao Estado; tão claramente, aliás, que todo governo (como o do Lula, obviamente), quando resolve aplicar dinheiro na educação, seja de negros, índios, jovens, sem-teto, sem-terra ou povo em geral, todo governo reforça o discurso nacionalista na educação ao oferecê-la. Sei que não era o ponto de vista do post do Clark, mas acho importante indicar que governo algum favorece ou desfavorece os professores, como punição ou prêmio. Ele se desfavorece por meio dos professores, de forma tão direta quanto na área da saúde ou da segurança. É claro que isso só acontece porque os dirigentes de um governo não são um Estado, portanto foder com o Estado não é necessariamente foder consigo próprio. Já, já se está nas Bahamas, basta abandonar o mandato antes que a CPI termine.
Se o governo precisa de professores, ele precisa fornecer determinados meios para que esses professores façam o seu trabalho direito. Pagar mal, fazendo um professor sair por estresse, não dar a mínima para os 80 alunos desta escola porque não vai poder dar a mínima para os 80 da outra em que trabalha, ou simplesmente não garantir que ele não vá morrer no caminho da escola (ou lá dentro) é jogar dinheiro no lixo. Por um lado se gasta milhões com todos os inumeráveis professores do país e, por outro, esse dinheiro não dá em nada (grosseiramente falando). Porque semianalfabeto é um termo que faz tanto sentido quanto meiográvida.
Além disso, o professor precisa ser respeitado. E não há planeta capitalista em que uma profissão estressante e sem remuneração seja respeitada. Para piorar, a gente ainda tem a herança cristã do missionato. Pelo que penso, sofrer não é bonito, não é legal, e ninguém curte mesmo que ache que sim (ok, existem masoquistas, mas não me parece que estejam sendo empregados pelo Estado atualmente nem que sejam uma minoria incluída - que falha dos politicamente corretos...). Portanto, a "vocação de professor" é balela. Assim como o Clark disse - não indo nesse sentido, mas aproveito -, tem muita gente que aceita ganhar menos, do jeito que as coisas vão, e... vira professor. Sendo que essa profissão está entre as inumeráveis que apenas raramente geram alguma mobilidade social. Pode existir uma forma pela qual um metalúrgico deu um jeito de perder os dedos, mas ganhar anéis. Só que isso é exceção.
E, fosse só para ascensão social (se desse), fosse para ganhar uns pila enquanto outro emprego melhor não aparece, ambas as opções consideram a profissão de professor como um meio, o que é uma receita para a desconsideração por aluno, conteúdo e didática. A profissão de professor só funciona, como qualquer outra, quando a prática dela, propriamente a sala de aula, é vista como um fim em si, no sentido estrito de que dar aula não é o mesmo que um degrau na carreira, como promover cabeleireiros nas ruas do centro, é ensinar. E ou o professor ensina algo que preste, ou ensina que ser professor é uma carreira que nenhum dos alunos deve seguir ou respeitar. E dessas opções, a meu ver, não se escapa em sala de aula.
Além disso, o pouco que sei de economia diz que o valor de troca de tudo (sendo seu valor de uso simbólico ou prático) vem do custo social do trabalho, quer dizer, de quanto esforço uma determinada sociedade reconhece na produção de seja lá o que for; no que, que eu saiba, até Adam Smith e Marx concordam. Não é equivalência essencial entre produtos, nem o valor de uso (necessidade), nem oferta e procura o que definem o preço de qualquer coisa. Ora, isso deixa os baixos salários dos professores numa situação cultural muito curiosa. E, mais, estabelece que eles poderiam ganhar mais, sem que o custo que isso pudesse dar a outras áreas fosse posta em questão, particularmente dessa forma paralisante com que geralmente tal questão é apresentada.
Tudo isso escrito aí em cima me leva a pensar que, se só é capaz de ensinar um professor que tenha respeito dos alunos e saúde mental e física, o salário bom, bem bom, é condição sine qua non da educação. O Estado paga BEM ou caga no próprio dinheiro, ou seja, como disse o Clark, no dinheiro do povo. Não bastasse isso, quem paga escola privada não deixa de pagar impostos. Esse sujeito considera-se obrigado a fornecer o papel com que o governo limpa a bunda e precisa se entender com a iniciativa privada.
E a iniciativa privada é aquela maravilha. Basicamente, ela tem a liberdade de fazer, sem ser questionada pelos pais, coisas que seriam consideradas anti-éticas se vindas do governo. Além disso, ela trata o professor e o aluno como mediadores entre o bolso do pai e o bolso do dono da escola ou faculdade (deixando o professor numa prisão que não pode provocar, em geral, a valorização do ensino em si). É claro que o Estado tem interesse na educação, mas não é nem de longe comparável à relação comercial da iniciativa privada, apesar de um resultado prático atual que os liga: nenhum aluno de escola particular precisa aprender, mais ou menos como nenhum de escola pública também, já que o primeiro só precisa continuar pagando, e o segundo só precisa contar na estatística dos presentes na chamada (para os números de campanha e, inúmeras vezes, como álibi em recente assassinato naquelas proximidades - existem escolas públicas que não passam por isso, mas não vamos fazer de conta que é caso raro).
Não bastasse tudo isso, o atual estado da educação gera um ensino terceirizado entre todas as instâncias oficiais. Cursinhos, especializações, cursos profissionalizantes e quaisquer outros complementos que se queira enumerar são o principal resultado desse quadro. Para contar na hora das eleições, vai-se à escola. Para se aprender a ler e calcular, vai-se ao EJA. O Vestibular é alimentado pelos cursinhos; cursos ensinam o que a formação superior não fornece. Aprende-se a dar aula na prática e numa troca típica de tradição oral, não nas licenciaturas, que servem para imprimir o certificado que o Estado exige. A educação efetiva se dá basicamente fora da carreira obrigatória de um aluno. E tudo isso é, numa maioria esmagadora, indústria de educação privada. Portanto aproveitar os impostos investidos em educação praticamente não isenta ninguém de pagar ainda uma vez mais pela própria formação.
De qualquer forma, a iniciativa privada jamais poderia fornecer escolaridade nem à metade da população brasileira já que, como bem se sabe, muito menos da metade de nós pode gastar dinheiro com isso. Não porque ache necessário ou não. Mesmo que a pessoa se baseie numa tradição familiar antiga e esqueça a realidade de escolas e professores que vê na frente, ela simplesmente não tem dinheiro suficiente para sobreviver decentemente. A opção de que o governo abaixe os impostos para fomentar a iniciativa privada e arque com os que realmente não podem pagar por ela não me parece viável, porque essa gente ainda seria numerosa demais, no caso do Brasil. Do meu ponto de vista, os impostos podem ser abaixados ou não (claro que prefiro que o sejam), e o Estado ainda precisaria lidar com a solução de redistribuir seus gastos.
Essa redistribuição não é problema só do governo, com certeza. Uma universidade privada faliu recentemente em Porto Alegre porque gastou a mensalidade dos alunos tanto em exageros, como um laptop para cada aluno, quanto com custos excessivos fora de sua instituição de ensino (já que era um desses conglomerados, que atualmente tanto se insiste em produzir, e que desconsiderou que, de todos os serviços por eles desenvolvidos, o que injetava grana para valer era a faculdade). Mas, como disse, com apoio privado ou não, o vamovê é com o governo. E pode-se globalizar ou falar de fim de fronteiras o quanto se quiser. Na hora de pagar a conta, existe nação: quem paga é o Estado.
Para mim, então, não fica a questão de decidir se o governo deveria pagar bem professores ou incentivar o ensino privado. Seja qual for sua relação com o liberalismo, o Estado PRECISA pagar bem para quem trabalha com a educação de sua população. Mas a solução "redistribuir os gastos" não pode deixar de lado que aplicar impostos não é matemática pura. Aumentar o custo de importação é fomentar a produção e o comércio internos, mas não gastar em segurança é impedir que as lojas se estabeleçam, de modo que ninguém vai querer investir aqui, seja autóctone ou estrangeiro. Ou seja, especialmente quando falamos de mínimo, gastar em segurança é fomentar a economia. Assim como os gastos em educação reduzem o custo da saúde pública. Portanto não gastar na educação por causa da saúde é pôr dinheiro fora - não, obviamente, que uma sociedade educada prescinda de gastos na saúde, por favor! Gastar 1% a menos ali para aplicar aqui não é melhorar isto em 1% piorando aquilo. Nem sempre. E é isso que uma boa administração política deve ser capaz de fazer. Não é ignorar que o povo tem um dinheiro limitado para lhe fornecer pelos impostos, mas é lidar com o dinheiro que tem e tirar suco de pedra. O que não é nada impossível, trilhões de políticos ao longo de toda a história fizeram exatamente isso, até mesmo no Brasil.
Mas a redistribuição, é claro, evoca outro drama, o de que o Brasil só pode ter dinheiro. A única explicação para o Brasil é que ele tenha dinheiro. Não me parece que diga novidade nem que faça demagogia ou esquerdismo barato ao dizer (aludindo apenas a notícias recentes) que nossa capital é movida a conchavo, nepotismo, criação arbitrária de cargos, advogados de porta de cadeia (digo, de ministério), prostituição de luxo, paraísos fiscais e salários astronômicos. Literalmente astronômicos. Não me surpreenderia se o salário deles se comprovasse suficiente para se construir estações na lua. O problema complementar é que toda grande capital é um pouco isso também, mesmo que em escala bem menor. Se se juntar o dinheiro que passa das ONGs para a Europa em comércios que ignoram a alfândega (e portanto os impostos), o jogo, o lucro do tráfico que não fica trancado nas favelas, a lavagem de dinheiro e as inumeráveis obras a serem completadas no dia da aterrissagem da Jerusalém Celeste, eu simplesmente não consigo ouvir do governo que não há dinheiro para isso ou para aquilo.
E, sabem de uma coisa, volta e meia há dinheiro! De vez em quando o governo lança algo que custa horrores e que, por melhor que seja, levanta o problema: de onde veio tanta grana? Desculpem-me os entusiastas, mas as Olimpíadas são um caso destes para mim. É um investimento, vai trazer vantagens e melhorias (dizem) para o Brasil, ok, mas não deixa de ser como dar o Nobel para o Obama: um gasto financeiro e simbólico em nome de uma promessa de que, agora, tudo vai ser diferente. Desta vez os EUA não vão ser como sempre foram, assim como o Brasil vai receber um lucro desgraçado e passar, de repente, a gastar com o povo. É óbvio que parte da grana vem de forma mais direta, por exemplo no comércio. Mas isso já tem um efeito bem mais fraco se esse dinheiro for gasto em impostos mal empregados e arrecadado conforme o mesmo sistema em que estamos organizados (não estou aludindo a uma revolução para solucionar o mundo). O resultado dessas Olimpíadas tem pelo menos grandes chances de ter o efeito bem brasileiro de apenas aumentar o abismo entre classes monetárias (ou como quiserem chamar a diferença entre mim e o Collor). E se o Rio vai ser seguro à bala e negociata com os traficantes ("só por uns dias, tá?"), como no caso do Pan, também não ajuda. Mas, mesmo com lucro e melhorias gerados, ficará a pergunta: de onde veio a grana? Por que veio para isso, e não para outras coisas?
Enfim, eu não acho que o Estado possa não pagar os professores bem e contar com a bondade empresarial (por mais fomentada que ela seja por impostos ou o que for) e acredito que, em todos os pontos que indiquei acima, tem muito espaço de manobra para se ser de direita ou de esquerda mesmo se sendo, nos dois casos, a favor do governo pagar decentemente quem lhe presta um dos principais serviços para que tente ficar em pé. A única forma por que a dicotomia "impostos altos x mensalidades altas" definiria esquerda ou direita, para mim, seria a opinião extrema de uma ditadura comunista (fantasiada de igualdade, claro) ou uma confiança extrema no terceiro setor. Acreditar numa comunidade perfeita totalmente arcada pelo Estado é, a meu ver, ignorar o papel da inércia na cultura (talvez adicionando problemas com a figura paterna), e acreditar plenamente na livre-iniciativa em funções essenciais ao Estado é fechar os olhos à natureza humana justamente quando ela se vê livre dos processos de fiscalização de que o terceiro setor independe (sob um governo fraco).
Viu, Clark, não cabia num comentário. E cansei.
Em primeiro lugar, eu não ia fazer deste comentário um post e, como achava minhas ideais um pouco longas para um comentário efetivo, ia tudo morrer no esquecimento. Mas a recente derrubada do helicóptero da polícia no Rio e um concurso que prestei hoje me fizeram mudar de ideia. O que não mudou foi minha consciência a respeito do amadorismo de minhas ideias econômicas e políticas, de modo que achei relevante comentar isso mesmo este sendo apenas um post de blog pessoal.
Bom, a questão central do post do Clark era opor, num exagero didático (pelo que entendo), duas posturas sobre educação: responsabilidade governamental ou área de iniciativa privada. Isso partindo do problema do salário dos professores, pois maiores salários implicam maior custo para quem os emprega, seja este o Estado (povo) ou os pais que pagam o dono do colégio (povo). Para não perder o fio parafraseando, cito o centro do problema: "para pagar mais aos professores, ou a gente paga mensalidades mais altas ou impostos maiores."
Quando comentei sobre não publicar um comentário a seu post, por achar que o problema era mais complicado, o Clark mesmo acrescentou que há ainda a opção clara de não aumentar impostos nem mensalidades, mas aplicar o dinheiro mais na educação ou no salário dos professores, tirando de outros lugares.
Pois é, essa era talvez a parte central do que eu queria comentar, só que eu acho que esse "tirando de outros lugares" dá pano demais pra manga.
Um dos primeiros problemas para mim é que nenhum governo poderia colocar essa questão como se fizesse algo para os professores. A educação serve ao Estado; tão claramente, aliás, que todo governo (como o do Lula, obviamente), quando resolve aplicar dinheiro na educação, seja de negros, índios, jovens, sem-teto, sem-terra ou povo em geral, todo governo reforça o discurso nacionalista na educação ao oferecê-la. Sei que não era o ponto de vista do post do Clark, mas acho importante indicar que governo algum favorece ou desfavorece os professores, como punição ou prêmio. Ele se desfavorece por meio dos professores, de forma tão direta quanto na área da saúde ou da segurança. É claro que isso só acontece porque os dirigentes de um governo não são um Estado, portanto foder com o Estado não é necessariamente foder consigo próprio. Já, já se está nas Bahamas, basta abandonar o mandato antes que a CPI termine.
Se o governo precisa de professores, ele precisa fornecer determinados meios para que esses professores façam o seu trabalho direito. Pagar mal, fazendo um professor sair por estresse, não dar a mínima para os 80 alunos desta escola porque não vai poder dar a mínima para os 80 da outra em que trabalha, ou simplesmente não garantir que ele não vá morrer no caminho da escola (ou lá dentro) é jogar dinheiro no lixo. Por um lado se gasta milhões com todos os inumeráveis professores do país e, por outro, esse dinheiro não dá em nada (grosseiramente falando). Porque semianalfabeto é um termo que faz tanto sentido quanto meiográvida.
Além disso, o professor precisa ser respeitado. E não há planeta capitalista em que uma profissão estressante e sem remuneração seja respeitada. Para piorar, a gente ainda tem a herança cristã do missionato. Pelo que penso, sofrer não é bonito, não é legal, e ninguém curte mesmo que ache que sim (ok, existem masoquistas, mas não me parece que estejam sendo empregados pelo Estado atualmente nem que sejam uma minoria incluída - que falha dos politicamente corretos...). Portanto, a "vocação de professor" é balela. Assim como o Clark disse - não indo nesse sentido, mas aproveito -, tem muita gente que aceita ganhar menos, do jeito que as coisas vão, e... vira professor. Sendo que essa profissão está entre as inumeráveis que apenas raramente geram alguma mobilidade social. Pode existir uma forma pela qual um metalúrgico deu um jeito de perder os dedos, mas ganhar anéis. Só que isso é exceção.
E, fosse só para ascensão social (se desse), fosse para ganhar uns pila enquanto outro emprego melhor não aparece, ambas as opções consideram a profissão de professor como um meio, o que é uma receita para a desconsideração por aluno, conteúdo e didática. A profissão de professor só funciona, como qualquer outra, quando a prática dela, propriamente a sala de aula, é vista como um fim em si, no sentido estrito de que dar aula não é o mesmo que um degrau na carreira, como promover cabeleireiros nas ruas do centro, é ensinar. E ou o professor ensina algo que preste, ou ensina que ser professor é uma carreira que nenhum dos alunos deve seguir ou respeitar. E dessas opções, a meu ver, não se escapa em sala de aula.
Além disso, o pouco que sei de economia diz que o valor de troca de tudo (sendo seu valor de uso simbólico ou prático) vem do custo social do trabalho, quer dizer, de quanto esforço uma determinada sociedade reconhece na produção de seja lá o que for; no que, que eu saiba, até Adam Smith e Marx concordam. Não é equivalência essencial entre produtos, nem o valor de uso (necessidade), nem oferta e procura o que definem o preço de qualquer coisa. Ora, isso deixa os baixos salários dos professores numa situação cultural muito curiosa. E, mais, estabelece que eles poderiam ganhar mais, sem que o custo que isso pudesse dar a outras áreas fosse posta em questão, particularmente dessa forma paralisante com que geralmente tal questão é apresentada.
Tudo isso escrito aí em cima me leva a pensar que, se só é capaz de ensinar um professor que tenha respeito dos alunos e saúde mental e física, o salário bom, bem bom, é condição sine qua non da educação. O Estado paga BEM ou caga no próprio dinheiro, ou seja, como disse o Clark, no dinheiro do povo. Não bastasse isso, quem paga escola privada não deixa de pagar impostos. Esse sujeito considera-se obrigado a fornecer o papel com que o governo limpa a bunda e precisa se entender com a iniciativa privada.
E a iniciativa privada é aquela maravilha. Basicamente, ela tem a liberdade de fazer, sem ser questionada pelos pais, coisas que seriam consideradas anti-éticas se vindas do governo. Além disso, ela trata o professor e o aluno como mediadores entre o bolso do pai e o bolso do dono da escola ou faculdade (deixando o professor numa prisão que não pode provocar, em geral, a valorização do ensino em si). É claro que o Estado tem interesse na educação, mas não é nem de longe comparável à relação comercial da iniciativa privada, apesar de um resultado prático atual que os liga: nenhum aluno de escola particular precisa aprender, mais ou menos como nenhum de escola pública também, já que o primeiro só precisa continuar pagando, e o segundo só precisa contar na estatística dos presentes na chamada (para os números de campanha e, inúmeras vezes, como álibi em recente assassinato naquelas proximidades - existem escolas públicas que não passam por isso, mas não vamos fazer de conta que é caso raro).
Não bastasse tudo isso, o atual estado da educação gera um ensino terceirizado entre todas as instâncias oficiais. Cursinhos, especializações, cursos profissionalizantes e quaisquer outros complementos que se queira enumerar são o principal resultado desse quadro. Para contar na hora das eleições, vai-se à escola. Para se aprender a ler e calcular, vai-se ao EJA. O Vestibular é alimentado pelos cursinhos; cursos ensinam o que a formação superior não fornece. Aprende-se a dar aula na prática e numa troca típica de tradição oral, não nas licenciaturas, que servem para imprimir o certificado que o Estado exige. A educação efetiva se dá basicamente fora da carreira obrigatória de um aluno. E tudo isso é, numa maioria esmagadora, indústria de educação privada. Portanto aproveitar os impostos investidos em educação praticamente não isenta ninguém de pagar ainda uma vez mais pela própria formação.
De qualquer forma, a iniciativa privada jamais poderia fornecer escolaridade nem à metade da população brasileira já que, como bem se sabe, muito menos da metade de nós pode gastar dinheiro com isso. Não porque ache necessário ou não. Mesmo que a pessoa se baseie numa tradição familiar antiga e esqueça a realidade de escolas e professores que vê na frente, ela simplesmente não tem dinheiro suficiente para sobreviver decentemente. A opção de que o governo abaixe os impostos para fomentar a iniciativa privada e arque com os que realmente não podem pagar por ela não me parece viável, porque essa gente ainda seria numerosa demais, no caso do Brasil. Do meu ponto de vista, os impostos podem ser abaixados ou não (claro que prefiro que o sejam), e o Estado ainda precisaria lidar com a solução de redistribuir seus gastos.
Essa redistribuição não é problema só do governo, com certeza. Uma universidade privada faliu recentemente em Porto Alegre porque gastou a mensalidade dos alunos tanto em exageros, como um laptop para cada aluno, quanto com custos excessivos fora de sua instituição de ensino (já que era um desses conglomerados, que atualmente tanto se insiste em produzir, e que desconsiderou que, de todos os serviços por eles desenvolvidos, o que injetava grana para valer era a faculdade). Mas, como disse, com apoio privado ou não, o vamovê é com o governo. E pode-se globalizar ou falar de fim de fronteiras o quanto se quiser. Na hora de pagar a conta, existe nação: quem paga é o Estado.
Para mim, então, não fica a questão de decidir se o governo deveria pagar bem professores ou incentivar o ensino privado. Seja qual for sua relação com o liberalismo, o Estado PRECISA pagar bem para quem trabalha com a educação de sua população. Mas a solução "redistribuir os gastos" não pode deixar de lado que aplicar impostos não é matemática pura. Aumentar o custo de importação é fomentar a produção e o comércio internos, mas não gastar em segurança é impedir que as lojas se estabeleçam, de modo que ninguém vai querer investir aqui, seja autóctone ou estrangeiro. Ou seja, especialmente quando falamos de mínimo, gastar em segurança é fomentar a economia. Assim como os gastos em educação reduzem o custo da saúde pública. Portanto não gastar na educação por causa da saúde é pôr dinheiro fora - não, obviamente, que uma sociedade educada prescinda de gastos na saúde, por favor! Gastar 1% a menos ali para aplicar aqui não é melhorar isto em 1% piorando aquilo. Nem sempre. E é isso que uma boa administração política deve ser capaz de fazer. Não é ignorar que o povo tem um dinheiro limitado para lhe fornecer pelos impostos, mas é lidar com o dinheiro que tem e tirar suco de pedra. O que não é nada impossível, trilhões de políticos ao longo de toda a história fizeram exatamente isso, até mesmo no Brasil.
Mas a redistribuição, é claro, evoca outro drama, o de que o Brasil só pode ter dinheiro. A única explicação para o Brasil é que ele tenha dinheiro. Não me parece que diga novidade nem que faça demagogia ou esquerdismo barato ao dizer (aludindo apenas a notícias recentes) que nossa capital é movida a conchavo, nepotismo, criação arbitrária de cargos, advogados de porta de cadeia (digo, de ministério), prostituição de luxo, paraísos fiscais e salários astronômicos. Literalmente astronômicos. Não me surpreenderia se o salário deles se comprovasse suficiente para se construir estações na lua. O problema complementar é que toda grande capital é um pouco isso também, mesmo que em escala bem menor. Se se juntar o dinheiro que passa das ONGs para a Europa em comércios que ignoram a alfândega (e portanto os impostos), o jogo, o lucro do tráfico que não fica trancado nas favelas, a lavagem de dinheiro e as inumeráveis obras a serem completadas no dia da aterrissagem da Jerusalém Celeste, eu simplesmente não consigo ouvir do governo que não há dinheiro para isso ou para aquilo.
E, sabem de uma coisa, volta e meia há dinheiro! De vez em quando o governo lança algo que custa horrores e que, por melhor que seja, levanta o problema: de onde veio tanta grana? Desculpem-me os entusiastas, mas as Olimpíadas são um caso destes para mim. É um investimento, vai trazer vantagens e melhorias (dizem) para o Brasil, ok, mas não deixa de ser como dar o Nobel para o Obama: um gasto financeiro e simbólico em nome de uma promessa de que, agora, tudo vai ser diferente. Desta vez os EUA não vão ser como sempre foram, assim como o Brasil vai receber um lucro desgraçado e passar, de repente, a gastar com o povo. É óbvio que parte da grana vem de forma mais direta, por exemplo no comércio. Mas isso já tem um efeito bem mais fraco se esse dinheiro for gasto em impostos mal empregados e arrecadado conforme o mesmo sistema em que estamos organizados (não estou aludindo a uma revolução para solucionar o mundo). O resultado dessas Olimpíadas tem pelo menos grandes chances de ter o efeito bem brasileiro de apenas aumentar o abismo entre classes monetárias (ou como quiserem chamar a diferença entre mim e o Collor). E se o Rio vai ser seguro à bala e negociata com os traficantes ("só por uns dias, tá?"), como no caso do Pan, também não ajuda. Mas, mesmo com lucro e melhorias gerados, ficará a pergunta: de onde veio a grana? Por que veio para isso, e não para outras coisas?
Enfim, eu não acho que o Estado possa não pagar os professores bem e contar com a bondade empresarial (por mais fomentada que ela seja por impostos ou o que for) e acredito que, em todos os pontos que indiquei acima, tem muito espaço de manobra para se ser de direita ou de esquerda mesmo se sendo, nos dois casos, a favor do governo pagar decentemente quem lhe presta um dos principais serviços para que tente ficar em pé. A única forma por que a dicotomia "impostos altos x mensalidades altas" definiria esquerda ou direita, para mim, seria a opinião extrema de uma ditadura comunista (fantasiada de igualdade, claro) ou uma confiança extrema no terceiro setor. Acreditar numa comunidade perfeita totalmente arcada pelo Estado é, a meu ver, ignorar o papel da inércia na cultura (talvez adicionando problemas com a figura paterna), e acreditar plenamente na livre-iniciativa em funções essenciais ao Estado é fechar os olhos à natureza humana justamente quando ela se vê livre dos processos de fiscalização de que o terceiro setor independe (sob um governo fraco).
Viu, Clark, não cabia num comentário. E cansei.
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sábado, 17 de outubro de 2009
Pra quem não aprende nunca
Compre "Os 7 Hábitos das Pessoas Altamente Eficazes".
Não funcionou? Está se sentindo roubado? Ser eficaz não é o bastante?
Seus problemas acabaram. Compre, do mesmo autor, "O Oitavo Hábito: da Eficácia à Grandeza".
:S
Não funcionou? Está se sentindo roubado? Ser eficaz não é o bastante?
Seus problemas acabaram. Compre, do mesmo autor, "O Oitavo Hábito: da Eficácia à Grandeza".
:S
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O governo ensina tudo, tudo
Ao terminar de cursar o Pró-jovem (ou, como o governo escreve, "ProJovem"), o sujeito deve ser capaz, entre mil outras coisas, de "continuar aprendendo ao longo da vida, tanto pela inserção no sistema de ensino formal quanto pela identificação e o aproveitamento de outras oportunidades educativas".
Ok, se educação significa "educação formal", o que já é uma concepção bem restrita considerando-se os campos de atuação e "formação cidadã" que o projeto almeja afetar. Nesse sentido, estaria certo, já que muita gente tem a noção de que certas coisas estão além de seu alcance - problema que de forma alguma se restringe ao público-alvo do Pró-jovem, na verdade. Por outro lado, considerando-se que o programa do projeto concebe ensino de forma tão ampla, entendo que alguém tenha de "aprender que continua aprendendo", no sentido de uma conscientização e valorização do desenvolvimento pessoal que todo mundo naturalmente faz. Mas precisar aprender a "continuar aprendendo ao longo da vida", como diz o programa, parece-me no mínimo estranhíssimo.
Ok, se educação significa "educação formal", o que já é uma concepção bem restrita considerando-se os campos de atuação e "formação cidadã" que o projeto almeja afetar. Nesse sentido, estaria certo, já que muita gente tem a noção de que certas coisas estão além de seu alcance - problema que de forma alguma se restringe ao público-alvo do Pró-jovem, na verdade. Por outro lado, considerando-se que o programa do projeto concebe ensino de forma tão ampla, entendo que alguém tenha de "aprender que continua aprendendo", no sentido de uma conscientização e valorização do desenvolvimento pessoal que todo mundo naturalmente faz. Mas precisar aprender a "continuar aprendendo ao longo da vida", como diz o programa, parece-me no mínimo estranhíssimo.
quinta-feira, 15 de outubro de 2009
"Pombos amadores" ou "Faltou test-drive"
Como cantava o Romário (versão Casseta & Planeta), "treiná pra quê, se eu já sei o que fazê?"
Pois é, esta pelo jeito foi a filosofia de outro pombo apreendido, dessa vez carregando um celular inteiro. Acontece que a tal ave foi solta perto do presídio central e não conseguiu transpor o muro! Ou esse muro tá muito alto (e eu não recomendaria que nenhum avião se arriscasse perto de Porto Alegre), ou faltou feijão, hein? Claro que estou me sentindo um pouco mais seguro: se não ocorreu a ninguém testar o animal, o negócio em Porto Alegre está amador o suficiente para a gente ter uma mínima folguinha, por enquanto.
E a notícia tem outro lado positivo, conforme os repórteres: esse pombo não estava ferido. Mas, por que é bom que um pombo traficante (de celulares) esteja saudável? E faltam-lhe dois dedos... e ele tem uma cicatriz... Ah! Querem dizer que ninguém tentou matar a tiros esse aí?
Pois é, esta pelo jeito foi a filosofia de outro pombo apreendido, dessa vez carregando um celular inteiro. Acontece que a tal ave foi solta perto do presídio central e não conseguiu transpor o muro! Ou esse muro tá muito alto (e eu não recomendaria que nenhum avião se arriscasse perto de Porto Alegre), ou faltou feijão, hein? Claro que estou me sentindo um pouco mais seguro: se não ocorreu a ninguém testar o animal, o negócio em Porto Alegre está amador o suficiente para a gente ter uma mínima folguinha, por enquanto.
E a notícia tem outro lado positivo, conforme os repórteres: esse pombo não estava ferido. Mas, por que é bom que um pombo traficante (de celulares) esteja saudável? E faltam-lhe dois dedos... e ele tem uma cicatriz... Ah! Querem dizer que ninguém tentou matar a tiros esse aí?
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O Shampoo e a Redundância
Esqueci que meu shampoo havia acabado, por isso tive de me aventurar entre todas aquelas garrafas e embalagens presentes no box em busca de algo que não fosse nem condicionador nem "para cabelos tingidos". Havia um, e a caixa ainda dizia "para homens". Pareceu-me adequado. Mais embaixo "shampoo" - apenas checando novamente. Ok. Mais embaixo ainda dizia "Prevenção". Curioso. A explicação ao lado: "Resultados comprovados - cabelos tonificados". Sabem como é, fui fisgado pelo mágico ato da leitura e esqueci de todas as campanhas sobre aquecimento global que falam tão mal de desperdiçar água: comecei a ler a embalagem.
"Complemento Proteção Queda" - hm, alguém esqueceu das preposições. "Reforça a resistência dos cabelos"; "Cabelos frágeis - Primeiros sinais de queda"; "Inovação tecnológica: Complemento Prevenção Queda"; "para cabelos mais fortes e mais resistentes!"; "para os cabelos fragilizados e em situação de queda, os Laboratórios (Tais) inovam com o shampoo suave (Tal) Homem Prevenção"; "Resultados: Os cabelos ficam mais fortes e cheios de vida. Eles ganham mais matéria e quebram menos"; e assim por diante! O pessoal que escreve texto de embalagem ganha por palavra? E não havia NADA mais para ser dito além que ele trata queda de cabelos (em casos iniciais)? Tirando, é claro, o "ganhar matéria": genial.
Bom, quando chegar meu dia, já sei qual não comprar. Essa embalagem desestimula. Se já tá me chamando de careca, não precisa chamar de burro.
"Complemento Proteção Queda" - hm, alguém esqueceu das preposições. "Reforça a resistência dos cabelos"; "Cabelos frágeis - Primeiros sinais de queda"; "Inovação tecnológica: Complemento Prevenção Queda"; "para cabelos mais fortes e mais resistentes!"; "para os cabelos fragilizados e em situação de queda, os Laboratórios (Tais) inovam com o shampoo suave (Tal) Homem Prevenção"; "Resultados: Os cabelos ficam mais fortes e cheios de vida. Eles ganham mais matéria e quebram menos"; e assim por diante! O pessoal que escreve texto de embalagem ganha por palavra? E não havia NADA mais para ser dito além que ele trata queda de cabelos (em casos iniciais)? Tirando, é claro, o "ganhar matéria": genial.
Bom, quando chegar meu dia, já sei qual não comprar. Essa embalagem desestimula. Se já tá me chamando de careca, não precisa chamar de burro.
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Padrão fotográfico
Eu sabia que as fotos da governadora tinham padrão! Todas as fotos de jornal dela não parecem as de um dinossauro? Algum da família dos velociraptors, mas no mau sentido.
quarta-feira, 14 de outubro de 2009
Evolução retórica
Comprovei hoje um traço de personalidade curioso de um colega. O sujeito sempre imagina que quem conversa com ele está concordando com suas opiniões. Não chega à esquizofrenia de pensar que uma pessoa contra quem ELE abriu uma discussão esteja diretamente de acordo com tudo o que diz, mas é preciso negar sua opinião 3 vezes para que perceba que estamos, na verdade, discordando, 5 vezes para que acredite que não temos opinião contrária apenas na superfície e 7 vezes para que se consiga pôr sua opinião total em questão, no sentido de que realmente duvidamos daquilo que ele disse já há 15 minutos. Ele é inteligente, apenas muito apaixonado em determinados assuntos, o que significa que em geral está com um pé atrás, questionando e interessado na opinião alheia, mas quando sua opinião finalmente vem à superfície, sai da frente.
O que me ocorreu no meio da conversa hoje, por algum motivo, foi que isso é uma característica evolutiva curiosa. Quero dizer, pessoas que se acreditam confirmadas em suas crenças por qualquer pessoa que abra a boca nitidamente conseguiram sobreviver e reproduzir. E obviamente duas pessoas desse tipo se dariam muito bem juntas, terminariam na cama em pouco tempo concordando em tudo, mesmo que discordassem sobre absolutamente qualquer coisa. A chave é, obviamente, a autoestima dessa gente, porque ser confirmado em sua autodepreciação dificilmente teria resultado em herdeiros. Pity-sex depende da aceitação de que a outra pessoa discorda que mereçamos a miséria que acreditamos viver... ouvi dizer.
Na verdade, essa tática evolutiva criou seguidores ao longo dos séculos. Parece que muita gente simplesmente se porta assim, imitando a natureza desses eternos confirmados, simplesmente para viver bem. Pelo menos nesse aspecto, pessoas assim até independem de diplomatas. Não seria essa a grande lição civilizatória? Obviamente concordamos com o horário de verão, com a censura por idade, com a urna eletrônica, com o voto de analfabetos, com a depredação de terras, com os salários, com as medidas sobre o pré-sal, com as cotas, com a exploração/venda/empréstimo/tráfico na Amazônia, com drogas lícitas e ilícitas, com tudo, enfim.
Bem, se não concordamos, discordamos do quê? Ora, não importa, conforme o governo federal, quem discorda dele são os "empresários". Mas quem são estes? Apenas aqueles que ele assim nomeia quando ELE puxa a discussão. Pelo que afirma nosso governo, todo o povo brasileiro (quem é povo mesmo, brasileiro mesmo) concorda, enfim, com o governo federal. E isso foi, pelo que dizem, uma evolução.
O que me ocorreu no meio da conversa hoje, por algum motivo, foi que isso é uma característica evolutiva curiosa. Quero dizer, pessoas que se acreditam confirmadas em suas crenças por qualquer pessoa que abra a boca nitidamente conseguiram sobreviver e reproduzir. E obviamente duas pessoas desse tipo se dariam muito bem juntas, terminariam na cama em pouco tempo concordando em tudo, mesmo que discordassem sobre absolutamente qualquer coisa. A chave é, obviamente, a autoestima dessa gente, porque ser confirmado em sua autodepreciação dificilmente teria resultado em herdeiros. Pity-sex depende da aceitação de que a outra pessoa discorda que mereçamos a miséria que acreditamos viver... ouvi dizer.
Na verdade, essa tática evolutiva criou seguidores ao longo dos séculos. Parece que muita gente simplesmente se porta assim, imitando a natureza desses eternos confirmados, simplesmente para viver bem. Pelo menos nesse aspecto, pessoas assim até independem de diplomatas. Não seria essa a grande lição civilizatória? Obviamente concordamos com o horário de verão, com a censura por idade, com a urna eletrônica, com o voto de analfabetos, com a depredação de terras, com os salários, com as medidas sobre o pré-sal, com as cotas, com a exploração/venda/empréstimo/tráfico na Amazônia, com drogas lícitas e ilícitas, com tudo, enfim.
Bem, se não concordamos, discordamos do quê? Ora, não importa, conforme o governo federal, quem discorda dele são os "empresários". Mas quem são estes? Apenas aqueles que ele assim nomeia quando ELE puxa a discussão. Pelo que afirma nosso governo, todo o povo brasileiro (quem é povo mesmo, brasileiro mesmo) concorda, enfim, com o governo federal. E isso foi, pelo que dizem, uma evolução.
terça-feira, 13 de outubro de 2009
Leopoldina e criatividade autóctone
Assim como não se é mais corrupto sem se fazer alguma menção ou homenagem a Brasília, não se é mais criminoso sem se acenar honrosamente a Rio ou São Paulo. Lembrando as ondas de metralhadas contra as delegacias e outros notórios desafios aos policiais do Centrão, o novo maníaco do Leopoldina, mesmo com as verbas restritas da província, resolveu que deveria deixar o recado, o alô aos criminosos que percorreram em rede nacional a estrada que ele agora trilha. Eis que o iniciante estuprador arrastou suas recentes duas vítimas... para trás da delegacia.
Como assim? Isso mesmo. Como? Jeitinho brasileiro, sem dúvida. Enquanto importarmos métodos de tortura e exportarmos maracutaia, o Brasil com certeza não cai em crise econômica nenhuma. Agora, uma pergunta, que pode parecer deboche pelo ridículo, mas juro que não é, pergunto puramente como crítica séria: uma vítima de estupro atacada atrás de uma delegacia (mesmo que não seja na exata parede dos fundos) presta queixa onde?
Como assim? Isso mesmo. Como? Jeitinho brasileiro, sem dúvida. Enquanto importarmos métodos de tortura e exportarmos maracutaia, o Brasil com certeza não cai em crise econômica nenhuma. Agora, uma pergunta, que pode parecer deboche pelo ridículo, mas juro que não é, pergunto puramente como crítica séria: uma vítima de estupro atacada atrás de uma delegacia (mesmo que não seja na exata parede dos fundos) presta queixa onde?
A Época da propaganda
Eis que a biblioteca furtável chega ao Brasil. Com o ambíguo nome de Kindle, a "nova" tecnologia está na capa de Época, segurada por ninguém menos que o mago brasileiro do marketing, Paulo Coelho! A machete-propaganda da vez é "O último livro que você vai comprar". Bom, com certeza apenas o primeiro virtual, porque updates e assaltos formam o motor do consumismo. Enfim roubar biblioteca virou negócio rentável!
Mas, como é pouco suíço da minha parte falar mal do meu país e de sua violenta realidade, vou apenas mencionar a tática de colocar o kindle nas mãos de Paulo Coelho. Não é boa a escolha? Tanto o cara já liberou seu material para ser controlado pelas editoras no meio virtual quanto é o sujeito mais lido por quem quase não lê. Quem lê muito vai acabar comprando esse troço. E quem não lê vai acabar só ouvindo falar dele no Fantástico. O público do meio não teria muito por que comprá-lo, mas tanto é um grupo significativo quanto consome bastante Paulo Coelho (permitam-me a generalização pouco politicamente correta - sim, também entre acadêmicos das humanas existem leitores de Paulo Coelho... felizmente não preciso me explicar a respeito da falta de leitores dele entre os analfabetos).
O feiticeiro das vendas é, portanto, o garoto propaganda ideal para acertar no público brasileiro que tanto pode quanto não precisava comprar um kindle. Fora os elementos Big Brother da tecnologia e todas as paranoias (nem sempre fantásticas) que isso ainda vai provocar nos intelectuais a respeito desses "compradores médios". Combo perfeito.
Mas, como é pouco suíço da minha parte falar mal do meu país e de sua violenta realidade, vou apenas mencionar a tática de colocar o kindle nas mãos de Paulo Coelho. Não é boa a escolha? Tanto o cara já liberou seu material para ser controlado pelas editoras no meio virtual quanto é o sujeito mais lido por quem quase não lê. Quem lê muito vai acabar comprando esse troço. E quem não lê vai acabar só ouvindo falar dele no Fantástico. O público do meio não teria muito por que comprá-lo, mas tanto é um grupo significativo quanto consome bastante Paulo Coelho (permitam-me a generalização pouco politicamente correta - sim, também entre acadêmicos das humanas existem leitores de Paulo Coelho... felizmente não preciso me explicar a respeito da falta de leitores dele entre os analfabetos).
O feiticeiro das vendas é, portanto, o garoto propaganda ideal para acertar no público brasileiro que tanto pode quanto não precisava comprar um kindle. Fora os elementos Big Brother da tecnologia e todas as paranoias (nem sempre fantásticas) que isso ainda vai provocar nos intelectuais a respeito desses "compradores médios". Combo perfeito.
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segunda-feira, 12 de outubro de 2009
Se a culpa não é dos professores, é de quem mesmo?
Se dia sim, dia não, há um ferimento grave o suficiente em escolas de Porto Alegre para ser computado por hospitais ou polícia, se tantos professores abandonam as escolas ou apelam a remédios de tarja preta, se o tráfico é ativo a ponto de se perceber claramente a ação de gangues juvenis que curtem denotar sua influência carioca ao se chamarem de "bondes", se uma vez por mês se flagra uma arma em escola, se uma vez por semana um aluno ou professor escuta abuso verbal forte o suficiente para prestar queixa, se a polícia é tantas vezes chamada para impor a autoridade que a escola perdeu - ao mesmo tempo resolvendo um caso e reforçando que, não fosse o policial presente, os professores e demais profissionais diretamente envolvidos não têm autoridade mesmo -, se todos veem claramente que o ponto nevrálgico para se dar alguma resposta a todas essas crises é uma autoridade perdida, que não é suficientemente suprida por uma abordagem legal-moderna-amiga, então o discursinho contra o professor, a formação do professor, a vontade do professor e a missão de professor é sofisma. E o professor pode ser ruim, mal-formado, sem vontade e sem vocação que o discursinho ainda vai estar errado, porque o problema central ainda não é ele. Mas o discursinho contra o professor é eterno, porque não culpá-lo é o mesmo que procurar um responsável efetivo, e isso não se faz por estas bandas brasileiras. E o discursinho segue, mesmo que notícias que desenvolvam todos esses problemas citem ainda uma professora indicando justamente o quanto o discursinho é como todo papinho tão sério quanto desinformado: pra baixo todos eles ajudam.
"Se a escola ia mal no Enem, a culpa era do professor, se um aluno rodava, a culpa era do professor. Surtei." - a professora em questão desfez o casamento em stress e não foi mais capaz de produzir leite para amamentar o filho devido ao desequilíbrio emocional.
"Se a escola ia mal no Enem, a culpa era do professor, se um aluno rodava, a culpa era do professor. Surtei." - a professora em questão desfez o casamento em stress e não foi mais capaz de produzir leite para amamentar o filho devido ao desequilíbrio emocional.
Polícia informatizada, mano!
"Estamos saindo da idade da pedra ao criar uma ferramenta online que permitirá ao comandante de cada unidade traçar estratégias baseadas em análise de dados e não em suposições" - frase bonita do subcomandante-geral da Brigada Militar, nosso coronel Jones Calixtrato, falando à Zero Hora.
Sim, palmas a Porto Alegre, que instala sistema tão moderno. Finalmente a polícia daqui sai do achismo. Por exemplo, o projeto digital acaba de comprovar que "70% dos assassinatos ocorreram próximos a bocas de fumo, revelando a intimidade entre os crimes". Uau. É impressionante! Ah, mas não é feitiçaria, é tecnologia!
Sim, palmas a Porto Alegre, que instala sistema tão moderno. Finalmente a polícia daqui sai do achismo. Por exemplo, o projeto digital acaba de comprovar que "70% dos assassinatos ocorreram próximos a bocas de fumo, revelando a intimidade entre os crimes". Uau. É impressionante! Ah, mas não é feitiçaria, é tecnologia!
Campeões do óbvio
Slogan: "Casas Bahia - 24h na Internet"
Filosofia de passagem
Foucault falando de mudança de episteme, como lhe é de costume. No entanto, o trecho tem algo de poético, não?
"Como pode o homem ser essa vida cuja rede, cujas pulsações, cuja força encoberta transbordam indefinidamente a experiência que dela lhe é imediatamente dada? Como pode ele ser esse trabalho, cujas exigências e cujas leis se lhe impõem como um rigor estranho? Como pode ele ser o sujeito de uma linguagem que, desde milênios, se formou sem ele, cujo sistema lhe escapa, cujo sentido dorme um sono quase invencível nas palavras que, por um instante, ele faz cintilar por seu discurso, e no interior da qual ele é, desde o início, obrigado a alojar sua fala e seu pensamento, como se estes nada mais fizessem senão animar por algum tempo um segmento nessa trama de possibilidades inumeráveis?"
- As Palavras e as Coisas - 1966
"Como pode o homem ser essa vida cuja rede, cujas pulsações, cuja força encoberta transbordam indefinidamente a experiência que dela lhe é imediatamente dada? Como pode ele ser esse trabalho, cujas exigências e cujas leis se lhe impõem como um rigor estranho? Como pode ele ser o sujeito de uma linguagem que, desde milênios, se formou sem ele, cujo sistema lhe escapa, cujo sentido dorme um sono quase invencível nas palavras que, por um instante, ele faz cintilar por seu discurso, e no interior da qual ele é, desde o início, obrigado a alojar sua fala e seu pensamento, como se estes nada mais fizessem senão animar por algum tempo um segmento nessa trama de possibilidades inumeráveis?"
- As Palavras e as Coisas - 1966
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domingo, 11 de outubro de 2009
Futebol eloquente [7]
Narração do Galvão = Sobrecarga de Eloquência.
sábado, 10 de outubro de 2009
Brasil
Terminei a preparação de uma aula escrevendo a palavra "Brasil". E não é que fiquei com a música na cabeça? Não encontrei uma versão decente para postar, então vai só a letra mesma, pelos velhos tempos (no sentido da velha novela que firmou essa música de vez no acervo mental mesmo de quem não curtia Cazuza - até porque não era na versão dele).
BRASIL
Não me convidaram
Pra esta festa pobre
Que os homens armaram
Pra me convencer
A pagar sem ver
Toda essa droga
Que já vem malhada
Antes de eu nascer...
Não me ofereceram
Nem um cigarro
Fiquei na porta
Estacionando os carros
Não me elegeram
Chefe de nada
O meu cartão de crédito
É uma navalha...
Brasil!
Mostra tua cara
Quero ver quem paga
Pra gente ficar assim
Brasil!
Qual é o teu negócio?
O nome do teu sócio?
Confia em mim...
Não me convidaram
Pra esta festa pobre
Que os homens armaram
Pra me convencer
A pagar sem ver
Toda essa droga
Que já vem malhada
Antes de eu nascer...
Não me sortearam
A garota do Fantástico
Não me subornaram
Será que é o meu fim?
Ver TV a cores
Na taba de um índio
Programada
Pra só dizer "sim, sim"
Brasil!
Mostra a tua cara
Quero ver quem paga
Pra gente ficar assim
Brasil!
Qual é o teu negócio?
O nome do teu sócio?
Confia em mim...
Grande pátria
Desimportante
Em nenhum instante
Eu vou te trair
Não, não vou te trair...
Brasil!
Mostra a tua cara
Quero ver quem paga
Pra gente ficar assim
Brasil!
Qual é o teu negócio?
O nome do teu sócio?
Confia em mim...
Brasil!
Mostra a tua cara
Quero ver quem paga
Pra gente ficar assim
Brasil!
Qual é o teu negócio?
O nome do teu sócio?
Confia em mim...
Confia em mim
Brasil!!
Composição: Cazuza / Nilo Roméro / George Israel
BRASIL
Não me convidaram
Pra esta festa pobre
Que os homens armaram
Pra me convencer
A pagar sem ver
Toda essa droga
Que já vem malhada
Antes de eu nascer...
Não me ofereceram
Nem um cigarro
Fiquei na porta
Estacionando os carros
Não me elegeram
Chefe de nada
O meu cartão de crédito
É uma navalha...
Brasil!
Mostra tua cara
Quero ver quem paga
Pra gente ficar assim
Brasil!
Qual é o teu negócio?
O nome do teu sócio?
Confia em mim...
Não me convidaram
Pra esta festa pobre
Que os homens armaram
Pra me convencer
A pagar sem ver
Toda essa droga
Que já vem malhada
Antes de eu nascer...
Não me sortearam
A garota do Fantástico
Não me subornaram
Será que é o meu fim?
Ver TV a cores
Na taba de um índio
Programada
Pra só dizer "sim, sim"
Brasil!
Mostra a tua cara
Quero ver quem paga
Pra gente ficar assim
Brasil!
Qual é o teu negócio?
O nome do teu sócio?
Confia em mim...
Grande pátria
Desimportante
Em nenhum instante
Eu vou te trair
Não, não vou te trair...
Brasil!
Mostra a tua cara
Quero ver quem paga
Pra gente ficar assim
Brasil!
Qual é o teu negócio?
O nome do teu sócio?
Confia em mim...
Brasil!
Mostra a tua cara
Quero ver quem paga
Pra gente ficar assim
Brasil!
Qual é o teu negócio?
O nome do teu sócio?
Confia em mim...
Confia em mim
Brasil!!
Composição: Cazuza / Nilo Roméro / George Israel
Catchigurias de danças
Cartaz de propaganda:
"- Curso de Dança do Ventre
- Curso de Dança Indiana (Estilo Bollywood Caminho das Índias)"
"- Curso de Dança do Ventre
- Curso de Dança Indiana (Estilo Bollywood Caminho das Índias)"
sexta-feira, 9 de outubro de 2009
Anarquistas universitários e sua difícil relação com a coerência
Cartaz na entrada no campus do Vale:
"OS ANARQUISTAS DA UFRGS SAÚDAM OS NOVOS COLEGAS"
Por que colocaram esse cartaz já no meio do semestre não é nenhum mistério: são anarquistas! No entanto, vi-me tomado por uma dúvida atroz: o coleguismo não é uma relação institucional e, portanto, de natureza contrária ao conceito anarquista de liberdade?
"OS ANARQUISTAS DA UFRGS SAÚDAM OS NOVOS COLEGAS"
Por que colocaram esse cartaz já no meio do semestre não é nenhum mistério: são anarquistas! No entanto, vi-me tomado por uma dúvida atroz: o coleguismo não é uma relação institucional e, portanto, de natureza contrária ao conceito anarquista de liberdade?
Zorra Total
Quando o processo contra a Yeda começou, eu comentei que os julgamentos públicos sempre seguem um caminho tortuoso que basicamente inocenta o alvo ao mesmo tempo em que diz para toda a população não-advogada que o mesmo era culpado. Além disso, tenho comentado às vezes que Yeda não tem feito nenhum passo difícil de reconhecer como inspirado em recentes brigas legais na política brasileira (e latinoamericana).
Pois bem: a comissão que julgava Yeda era de maioria aliada, chefiada porPedro Westphalen (PP), também apoiador da governadora. Este decidiu que Carlos Gomes, atualmente no PRB, tinha direito a voto, contra uma polêmica que surgiu justamente pela recente mudança de partidos do mesmo Carlos. A decisão do presidente da comissão não fechou o quebra-pau por pouco, mas foi suficiente para desligar toda a oposição da votação, o que entregou o arquivamento do processo nas mãos da base aliada. Ou seja, porque um deputado pôde votar, Yeda não foi inocentada, mas a discussão simplesmente ficou "para outro dia". Todo mundo é supostamente inocente no Brasil até que se prove o contrário, mas tendo grande parte do RS decidido há muito que Yeda é culpada (e não sendo apresentados a uma verdadeira discussão e julgamento, já que o processo foi arquivado), fica implícito que a culpada não será julgada devido a um problema legalista.
Portanto tudo está nos eixos, e o mundo não acabou ainda...
Pois bem: a comissão que julgava Yeda era de maioria aliada, chefiada porPedro Westphalen (PP), também apoiador da governadora. Este decidiu que Carlos Gomes, atualmente no PRB, tinha direito a voto, contra uma polêmica que surgiu justamente pela recente mudança de partidos do mesmo Carlos. A decisão do presidente da comissão não fechou o quebra-pau por pouco, mas foi suficiente para desligar toda a oposição da votação, o que entregou o arquivamento do processo nas mãos da base aliada. Ou seja, porque um deputado pôde votar, Yeda não foi inocentada, mas a discussão simplesmente ficou "para outro dia". Todo mundo é supostamente inocente no Brasil até que se prove o contrário, mas tendo grande parte do RS decidido há muito que Yeda é culpada (e não sendo apresentados a uma verdadeira discussão e julgamento, já que o processo foi arquivado), fica implícito que a culpada não será julgada devido a um problema legalista.
Portanto tudo está nos eixos, e o mundo não acabou ainda...
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quinta-feira, 8 de outubro de 2009
Primeira Lei do Direito Brasileiro
Jornais por todos os lados noticiaram hoje, na capa, que o Enem mudou a data dos vestibulares. Ora, espero que apenas pela funcionalidade da informação. Porque em termos de raciocínio não merece manchete, é a notícia mais velha do Brasil: entre a incompetência do governo e a organização das instituições de ensino, a primeira sempre teve primazia.
Life among the gorillas
"O único problema é que eu acho que ele às vezes é um pouco chato."
Foi falando isso para uma das chefes pedagogas, na minha frente, que meu futuro chefe me comunicou tais sentimentos a meu respeito. Uma forma cost-efficient, bastante característica das teorias atuais de management, de apontar um problema logo antes que cause danos (prejuízos). A frase foi usada, mais particularmente, para apontar que eu não parecia muito entusiasmado quando lhe dava "oi" - apesar de ele realmente não ter expressado diretamente tal ponto. Ele imaginava se eu não me portaria com os alunos de forma analogamente distante.
Enfim, é questão de se acostumar com a linguagem, já que desde a primeira visita senti que estava numa empresa de ensino. Eu sabia que não assistir a "O Aprendiz" voltaria para me assombrar...
Foi falando isso para uma das chefes pedagogas, na minha frente, que meu futuro chefe me comunicou tais sentimentos a meu respeito. Uma forma cost-efficient, bastante característica das teorias atuais de management, de apontar um problema logo antes que cause danos (prejuízos). A frase foi usada, mais particularmente, para apontar que eu não parecia muito entusiasmado quando lhe dava "oi" - apesar de ele realmente não ter expressado diretamente tal ponto. Ele imaginava se eu não me portaria com os alunos de forma analogamente distante.
Enfim, é questão de se acostumar com a linguagem, já que desde a primeira visita senti que estava numa empresa de ensino. Eu sabia que não assistir a "O Aprendiz" voltaria para me assombrar...
Uma Verdade Universal para todas as línguas
"When you date someone it's like you're taking one long course in who that person is, and then when you break up all that stuff becomes useless... It's the emotional equivalent of an English degree." - Ted Mosby, in How I Met Your Mother.
quarta-feira, 7 de outubro de 2009
Jornalismo e Marketing... get a room!
O livre-comércio é geralmente entedido por estas bandas como o direito divino de se meter os pés pelas mãos em quaisquer áreas do setor terceário. Não é preciso que se ofereça serviço de qualidade numa área para que se expanda seus serviços a outra. Mantendo, portanto, nossa cor local do liberalismo, a Oi não apenas entrou na área de TV por assinatura como expandiu seu próprio mercado nessa categoria.
Agora a OiTV chega ao RS. E chega em grande estilo, por exemplo pela matéria do Correio do Povo de hoje, que começa da seguinte forma: "O conceito de liberdade de escolha é o condutor da campanha de lançamento da OiTV no RS (...). Soma-se a esse critério uma promoção especial..."
Nota-se que os valores vêm antes do lucro para tão bem intencionada empresa. Na verdade, ela é tão ligada à Ideia que não oferecerá seus serviços (telefonia, Internet...) em conjunto; não, a Oi vai "estabelecer o conceito de convergência". Bonito hein?
Agora, a notícia é dada de forma tão destacada (matérias do mesmo tamanho nessa edição do jornal: notícia sobre a greve dos bancos, mais informações sobre as relações do Lula na Suíça), e o discursinho da notícia é tão infame que cheguei a me questionar se eles não foram além de simplesmente pagar pela notícia-marketing. Será que a Oi não tem alguma ligação mais profunda com a Record, espalhafatosa dona do Correio do Povo? Será que a Oi, que nem sabe o que fazer ainda com os clientes da Telecom (a qual compraram há tão pouco), também comprou a Record? Ou esta comprou aquela? O mundo das grandes empresas é tão agitado e incerto... A única segurança, é claro, é que quem perde é o consumidor.
Agora a OiTV chega ao RS. E chega em grande estilo, por exemplo pela matéria do Correio do Povo de hoje, que começa da seguinte forma: "O conceito de liberdade de escolha é o condutor da campanha de lançamento da OiTV no RS (...). Soma-se a esse critério uma promoção especial..."
Nota-se que os valores vêm antes do lucro para tão bem intencionada empresa. Na verdade, ela é tão ligada à Ideia que não oferecerá seus serviços (telefonia, Internet...) em conjunto; não, a Oi vai "estabelecer o conceito de convergência". Bonito hein?
Agora, a notícia é dada de forma tão destacada (matérias do mesmo tamanho nessa edição do jornal: notícia sobre a greve dos bancos, mais informações sobre as relações do Lula na Suíça), e o discursinho da notícia é tão infame que cheguei a me questionar se eles não foram além de simplesmente pagar pela notícia-marketing. Será que a Oi não tem alguma ligação mais profunda com a Record, espalhafatosa dona do Correio do Povo? Será que a Oi, que nem sabe o que fazer ainda com os clientes da Telecom (a qual compraram há tão pouco), também comprou a Record? Ou esta comprou aquela? O mundo das grandes empresas é tão agitado e incerto... A única segurança, é claro, é que quem perde é o consumidor.
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Marketing irônico
"FLORESTAL - Tratamento de madeira"
terça-feira, 6 de outubro de 2009
Tá tudo dominado!
A FAEPESUL é a Fundação de Apoio à Educação, Pesquisa e Extensão da UNISUL. É ela que organiza o atual concurso do Pró-Jovem. E, para se ser admitido em seu quadro, é necessário ter uma conta no Santader. NO SANTANDER!!!!!!!!
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'Não sei quem fui' - do início dos tempos ao Enem.
01/04/4079 a.C.
"Deus perguntou: 'E quem te disse que estavas nu? Então comeste da árvore, de cujo fruto te proibi comer?' O homem respondeu: 'A mulher que me deste por companheira, foi ela que me fez provar do fruto da árvore, e eu comi.' Então o Senhor Deus perguntou à mulher: 'Por que fizeste isso?' E a mulher respondeu: 'A serpente me enganou e eu comi.'" - Genesis 3; 11-13
06/10/2009 d.C.
"Felipe Pradella (...) disse que foi uma pessoa, que trabalhava para o consórcio como conferente de impressão, quem roubou as provas e lhe repassou. A pessoa, cujo nome não foi divulgado pela PF, foi localizada, mas disse aos policiais que o furto foi feito por uma terceira pessoa. Esta teria confirmado que pegou as cópias das provas, mas garantiu que mais gente teve acesso às provas impressas." - Correio do Povo
"Deus perguntou: 'E quem te disse que estavas nu? Então comeste da árvore, de cujo fruto te proibi comer?' O homem respondeu: 'A mulher que me deste por companheira, foi ela que me fez provar do fruto da árvore, e eu comi.' Então o Senhor Deus perguntou à mulher: 'Por que fizeste isso?' E a mulher respondeu: 'A serpente me enganou e eu comi.'" - Genesis 3; 11-13
06/10/2009 d.C.
"Felipe Pradella (...) disse que foi uma pessoa, que trabalhava para o consórcio como conferente de impressão, quem roubou as provas e lhe repassou. A pessoa, cujo nome não foi divulgado pela PF, foi localizada, mas disse aos policiais que o furto foi feito por uma terceira pessoa. Esta teria confirmado que pegou as cópias das provas, mas garantiu que mais gente teve acesso às provas impressas." - Correio do Povo
Livre-associação, bricolagem, descaso, coincidência?
Assim como acusava seus opositores de perseguição, argumentando de forma perigosamente parecida com a paranoica/hipócrita "perseguição nazista" de Sarney, Yeda passou também pela linguagem lulista, collorista e agora chega à de Zelaya. Uma de suas argumentações imbecis de ontem foi trazer à tona que seu governo é "reconhecido nacional e internacionalmente". Isso, num malabarismo sobre o Nada, deveria valer como ponto de apoio para dizer, enfim, que a população do RS quer a investigação de seu governo, mas não o Impeachment, o que distorce o fato distorcido, é claro, de que a investigação sobre a fraude no Detran existe apenas para realizar legalmente o tão longamente sonhado Impeachment da governadora. E o tal Impeachment é justamente uma ferramenta para se derrubar governos reconhecidos, até então, "nacional e internacionalmente", portanto seria estranho se se estivesse mobilizando a parafernália burocrática contra um governo de outra natureza. Talvez a Yeda gostasse de acrescentar a que outros tipos de administração pública está acostumada para ter de atestar o óbvio ululante pela milionésima vez.
É claro que ela nunca abandona a sarneyística mania de apresentar como grande argumento sua própria afirmação de que o povo gaúcho a queira no governo. Se a governadora diz, deve ser verdade, mesmo que ela não possa reunir absolutamente nenhum fato para comprovar sua palavra. De qualquer forma, esse uso constante do discurso de quem está nas manchetes, seja PTista ou PMDBista, brasileiro ou hondurenho, faz pensar quão pouco o atual governo do Estado gasta neurônios com o que vá dizer. Mais ainda, a total sinceridade com que indicam essa saudável tranquilidade antiestressante. Afinal, basta olhar a primeira página do dia para se descobrir qual será a retórica da próxima defesa da governadora. Não abandono, é claro, a possibilidade de que simplesmente muito pouca retórica cabe em nossa estreita mentalidade política, de modo que os argumentos só podem se repetir ad nauseam, coincidindo entre políticos mais cedo ou mais tarde... e de novo.
É claro que ela nunca abandona a sarneyística mania de apresentar como grande argumento sua própria afirmação de que o povo gaúcho a queira no governo. Se a governadora diz, deve ser verdade, mesmo que ela não possa reunir absolutamente nenhum fato para comprovar sua palavra. De qualquer forma, esse uso constante do discurso de quem está nas manchetes, seja PTista ou PMDBista, brasileiro ou hondurenho, faz pensar quão pouco o atual governo do Estado gasta neurônios com o que vá dizer. Mais ainda, a total sinceridade com que indicam essa saudável tranquilidade antiestressante. Afinal, basta olhar a primeira página do dia para se descobrir qual será a retórica da próxima defesa da governadora. Não abandono, é claro, a possibilidade de que simplesmente muito pouca retórica cabe em nossa estreita mentalidade política, de modo que os argumentos só podem se repetir ad nauseam, coincidindo entre políticos mais cedo ou mais tarde... e de novo.
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segunda-feira, 5 de outubro de 2009
"Sorte" do orkut
Por que você não envia um recado hoje para alguém com quem não conversa há anos?
Resposta: Porque perdi o contato dessa pessoa (há anos)...
Resposta: Porque perdi o contato dessa pessoa (há anos)...
A moda para o verão
"Os minivestidos vêm aí, e também os longos, os justos, os esvoaçantes..."
Enfim, entre os vestidos, só não vêm as calças, por fazerem parte de outro subgrupo.
"Mas" - gritaria o estilista que lesse este blog - "calça também pode! O importante é se sentir bem."
Bien sûr!
Enfim, entre os vestidos, só não vêm as calças, por fazerem parte de outro subgrupo.
"Mas" - gritaria o estilista que lesse este blog - "calça também pode! O importante é se sentir bem."
Bien sûr!
Formulações da Esperança
"A gente tem uma descrença nesse país muito grande" - Astrid, no meio de uma conversa.
Não diz respeito a "crença" o que se baseia em experiência, estudos e provas documentadas.
Não diz respeito a "crença" o que se baseia em experiência, estudos e provas documentadas.
domingo, 4 de outubro de 2009
Duplo recorde do Enem
O primeiro e maior exame nacional a ser cancelado 2 dias antes da aplicação!
Contraditórios na precisão
ÉPOCA:
"Em busca de candidatura em 2010, empresários se filiam até a partidos socialistas no nome."
Ora, não tivesse aquele "no nome" no fim da frase, a manchete nitidamente não se referiria ao Brasil, já que quase todos os partidos têm algum tipo de verniz socialista, mas ninguém se lembra o que esse termo queria dizer politicamente. Por outro lado, já que é "no nome", pra que aquele "até" logo antes de "partidos"?
n.b. Referem-se ao PSB na matéria, ou seja, trata-se de um socialismo que está mais para um verniz sobre o embrulho.
"Em busca de candidatura em 2010, empresários se filiam até a partidos socialistas no nome."
Ora, não tivesse aquele "no nome" no fim da frase, a manchete nitidamente não se referiria ao Brasil, já que quase todos os partidos têm algum tipo de verniz socialista, mas ninguém se lembra o que esse termo queria dizer politicamente. Por outro lado, já que é "no nome", pra que aquele "até" logo antes de "partidos"?
n.b. Referem-se ao PSB na matéria, ou seja, trata-se de um socialismo que está mais para um verniz sobre o embrulho.
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Abaixo de Yeda
Mesmo sob processo de Impeachment (e um particularmente enervante, que arrisca demorar mais que o próprio mandato que deveria exterminar), Yeda ainda receberia mais votos hoje do que Vieira da Cunha (PDT), Paulo Feijó (DEM) e Pedro Ruas (PSOL), nessa ordem. Vão ser nulos assim na... bom, em casa, de preferência, mas bem longe da política institucional.
sábado, 3 de outubro de 2009
Leopoldina / Rubem Berta
Vem um cara pela rua e grita: "Ô, puto!"
Aparece um outro correndo pra sacada, sem camisa, com uma garrafa na mão: "Não vai trazer, ô..."
"Eu trouxe! Taqui ó" - ele abre o bolso da calça e mostra um bagulho, suficiente para que o outro veja da sacada.
Ah, essa nossa cultura extrovertida!
Aparece um outro correndo pra sacada, sem camisa, com uma garrafa na mão: "Não vai trazer, ô..."
"Eu trouxe! Taqui ó" - ele abre o bolso da calça e mostra um bagulho, suficiente para que o outro veja da sacada.
Ah, essa nossa cultura extrovertida!
Ciência Humana
"As ideias do cara são muito boas. O único problema é que ele baseia toda a teoria dele numa sociedade ideal que ele monta nas primeiras 10 páginas."
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Nepotismo e metonímia
Falando no celular:
"Oi! Tô aqui na tia Eunice." - diz o sujeito no topo da escadaria de entrada da prefeitura de Porto Alegre.
"Oi! Tô aqui na tia Eunice." - diz o sujeito no topo da escadaria de entrada da prefeitura de Porto Alegre.
sexta-feira, 2 de outubro de 2009
Ditado oitocentista
"O homem põe, a espécie dispõe"
in: A Desejada das Gentes - Machado de Assis.
in: A Desejada das Gentes - Machado de Assis.
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