Isso torna muito difícil que os escritores aceitem como naturais algumas das suposições comuns entre eles e seus públicos, ou assumam que as referências e as alusões vão ser compreendidas imediatamente. Mas, escrever nesse espaço expandido tem estranhamente outra consequência inusitadamente arriscada, que é a facilidade de ser encorajado a dizer coisas que são ou completamente opacas, ou completamente transparentes, e, se temos algum senso da vocação intelectual e política (...), deve ser, é claro, adotar a última opção em vez da primeira. Mas então a prosa transparente, simples e clara apresenta os seus próprios desafios, porque o perigo sempre presente é o de poder cair na neutralidade desorientadoramente simples de um idioma inglês em sua versão mundial e jornalística, indistinguível da prosa da CNN ou do USA Today. (...) O importante a lembrar, não paro de dizer a mim mesmo, é que não há outra linguagem à mão, que a linguagem que eu uso deve ser a mesma usada pelo Departamento de Estado ou pelo presidente quando eles dizem que são a favor dos direitos humanos e a favor de travar uma guerra para "libertar" o Iraque, e eu devo usar essa mesma linguagem para recapturar o tema, reformá-lo e tornar a conectá-lo às realidades tremendamente complicadas que esses meus antagonistas imensamente privilegiados simplificaram, traíram e diminuíram ou dissolveram. A essa altura, deve ser óbvio que para um intelectual que não existe simplesmente com o intuito de promover o interesse de outra pessoa, deve haver oponentes que são considerados responsáveis pelo presente estado das coisas, antagonistas com quem se deve travar o combate direto.
Humanismo e Crítica Democrática. 2007. Trad. Rosaura Eichenberg
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