Falando sobre tudo de linguagem que chamar a minha atenção: placas, conversas, citações... Deem uma chance lendo aí embaixo e vão sacar o foco.
quarta-feira, 30 de setembro de 2009
Prevendo citações para o blog
O Fórum Social Mundial voltará a ser realizado em Porto Alegre. Seu tema principal será o problema ambiental gerado pelo atual sistema de desenvolvimento econômico. Em pleno momento de retórica progressista nacional baseada na exploração do petróleo, teremos nosso caro presidente descendo ao Sul para discursar num Fórum com esse tema! Supimpa.
terça-feira, 29 de setembro de 2009
Sempre os mesmos (ou "Ancestral de nossos e-mails")
A rainha está no limite do tédio, presa por conveniências, ordens e solidão, quando chega uma carta do rei, que saíra para caçar. Feliz da vida, ela acha que pelo menos ele lembrou de a mandar um carinho, um mimo num dia dos mais enervantes. Cheias de cerimônia, as serviçais (que a atazanavam com etiqueta até há pouco) entram com a carta. Como é de praxe, a duquesa lê à rainha a mensagem (ditada) do rei:
"Madame, venta muito, e matei seis lobos. Assinado: Carlos."
(situação da peça Ruy Blas, de Victor Hugo - esse cara sabia de comportamento masculino...)
"Madame, venta muito, e matei seis lobos. Assinado: Carlos."
(situação da peça Ruy Blas, de Victor Hugo - esse cara sabia de comportamento masculino...)
Romantismo universal
Don César: Vous venger?
Don Salluste: Oui.
Don César: De qui?
Don Salluste: D'une femme.
- Ruy Blas - Victor Hugo
Don Salluste: Oui.
Don César: De qui?
Don Salluste: D'une femme.
- Ruy Blas - Victor Hugo
Recordar é viver
Olhando para um monstro:
"Essa coisa é maior que a conta bancária do meu pai!"
Eric - Caverna do Dragão
"Essa coisa é maior que a conta bancária do meu pai!"
Eric - Caverna do Dragão
segunda-feira, 28 de setembro de 2009
Direitos a todos
Pararam as obras (prejuízo de um milhão de reais) por causa de uma rã que está gerando descendentes.
E está certo. O caso não só não é controverso como tem conhecidos antecedentes. É como no Planalto, em que se trabalha muito, salvo no que o próprio trabalho possa fazer mal a todos os animais, vermes e demais pestes que lá vivem e se reproduzem.
E está certo. O caso não só não é controverso como tem conhecidos antecedentes. É como no Planalto, em que se trabalha muito, salvo no que o próprio trabalho possa fazer mal a todos os animais, vermes e demais pestes que lá vivem e se reproduzem.
Sucinto
Notícias e previsão do tempo em uma palavra:
Recorde.
PS menos sucinto: "sucinto" deveria ser com sc - ainda vou reformar a grafia de nosso léxico.
Recorde.
PS menos sucinto: "sucinto" deveria ser com sc - ainda vou reformar a grafia de nosso léxico.
Horizonte
Noticiam que uma menina de 6 anos é a nova sensação do funk. Desculpem-me, mas depois do sucesso de ado ado ado, essa Mc Iasmim e seu Elefantinho Azul estão longe de impressionar.
domingo, 27 de setembro de 2009
Respectivamente
Se eu tivesse visto primeiro essa frase...
Citar por citar
"Os limites de minha linguagem são os limites do meu mundo"
Ludwig Wittgenstein
(os meus não, mas gostei da frase... rs)
Ludwig Wittgenstein
(os meus não, mas gostei da frase... rs)
Realismo televisivo
Manoel Carlos, explicando o problema da mímese na arte (não mencionando o termo grego, é claro), conseguiu partir da exigência de verossimilhança interna e fazê-la equivaler, muitas vezes, a uma necessidade de se criar uma realidade "frugal" ou "vulgar" na narrativa.
Ô cara que nasceu pra escrever novela!
Ô cara que nasceu pra escrever novela!
Marcadores:
incompetência,
infantilização,
mídia,
retórica
Pletora
"... el exceso engendra la devaluación, el sincretismo equivale a la pérdida de lo religioso, el desierto crece a partir de la sobreabundancia."
Frédéric Moneyron (no espanhol de Emilio Bernini)
Frédéric Moneyron (no espanhol de Emilio Bernini)
sábado, 26 de setembro de 2009
Idiota ou ambígua?
"MSN 8.1: Melhor MSN depois do 6.0, 7.0 e 8.0"
Num sentido a frase é imbecil; noutro, uma antipropaganda. Em outras palavras: "procura-se profissional de marketing".
(Agradecimentos a Cecília, que me indicou essa frase tão adequada a este blog)
Num sentido a frase é imbecil; noutro, uma antipropaganda. Em outras palavras: "procura-se profissional de marketing".
(Agradecimentos a Cecília, que me indicou essa frase tão adequada a este blog)
Marcadores:
Citações,
lógica,
publicidade,
retórica,
vergonha alheia
sexta-feira, 25 de setembro de 2009
Cuidado formal não tem hora
Banheiro masculino da Letras, mensagem em posição que indica escritor sentado na privada: "JESUS (CORAÇÃO) VOCÊ" (eu que não sei colocar símbolos aqui, não é o cara que não sabe desenhar um coração).
Não há escrita de banheiro que ignore o contexto em que se encontra. Pelo contrário, toda pichação de banheiro se quer entendida exatamente como algo "escrito no banheiro", o que nos leva à irresistível conclusão de que o pichador queria muito dizer ao mundo: "Jesus te ama no banheiro". É claro que, pela posição da mensagem, ele poderia querer dizer ainda "Jesus te ama na privada", ou coisa pior. No entanto, essas frases têm claro sentido ambíguo, portanto pichá-las na beata capital gaúcha poderia causar mal-entendidos que não contribuiriam para o espírito cristão. Mesmo assim, essa alma iluminada não quis deixar Jesus mal, sob suspeita de não estar em todos os lugares; mais ainda, não quis deixar nenhum espírito abandonado na depressão de sentar numa privada UFRGSiana. Samaritano, o pichador resolveu a crise com uma só tacada. Colocar a frase em contexto acabaria com a necessidade do ambíguo "no banheiro"; sentar-se na privada, escrever de lá, da posição do Outro (derradeira prática cristã), iluminaria o momento potencialmente mais triste da semana daquele que ali sentasse.
Ora, quem chega a tanto percebe a linguagem, está atento ao caráter formal do texto, pensa a materialidade do que escreve. Para transcender a mera frase de adesivo, presentificar o milagre de Cristo e indicar simbolicamente ao leitor os poderes divinos, o mensageiro escreveu com giz branco no azuleijo branco. A mensagem ficava visível mesmo para mim, que a contemplei de pé, graças ao uso demorado de bastante giz para cada parte da mensagem e ao contraste com a sujeira generalizada e entranhada na parede. Assim o branco no branco se tornou visível, assim temos simbolizado que a mensagem de Cristo supera qualquer barreira para chegar ao espírito aberto (perdão pelo trocadilho inevitável) e que ela aflora lá mesmo onde O críamos ausente. Para terror de um pichador tão cuidadoso, ainda não se trata do melhor contexto, pois este leva seu verdadeiro poema de fé a construir mais uma nova conclusão problemática: Ele está no meio de nós.
Aguardamos novas táticas para se espalhar a Boa Nova. Obrigado.
Não há escrita de banheiro que ignore o contexto em que se encontra. Pelo contrário, toda pichação de banheiro se quer entendida exatamente como algo "escrito no banheiro", o que nos leva à irresistível conclusão de que o pichador queria muito dizer ao mundo: "Jesus te ama no banheiro". É claro que, pela posição da mensagem, ele poderia querer dizer ainda "Jesus te ama na privada", ou coisa pior. No entanto, essas frases têm claro sentido ambíguo, portanto pichá-las na beata capital gaúcha poderia causar mal-entendidos que não contribuiriam para o espírito cristão. Mesmo assim, essa alma iluminada não quis deixar Jesus mal, sob suspeita de não estar em todos os lugares; mais ainda, não quis deixar nenhum espírito abandonado na depressão de sentar numa privada UFRGSiana. Samaritano, o pichador resolveu a crise com uma só tacada. Colocar a frase em contexto acabaria com a necessidade do ambíguo "no banheiro"; sentar-se na privada, escrever de lá, da posição do Outro (derradeira prática cristã), iluminaria o momento potencialmente mais triste da semana daquele que ali sentasse.
Ora, quem chega a tanto percebe a linguagem, está atento ao caráter formal do texto, pensa a materialidade do que escreve. Para transcender a mera frase de adesivo, presentificar o milagre de Cristo e indicar simbolicamente ao leitor os poderes divinos, o mensageiro escreveu com giz branco no azuleijo branco. A mensagem ficava visível mesmo para mim, que a contemplei de pé, graças ao uso demorado de bastante giz para cada parte da mensagem e ao contraste com a sujeira generalizada e entranhada na parede. Assim o branco no branco se tornou visível, assim temos simbolizado que a mensagem de Cristo supera qualquer barreira para chegar ao espírito aberto (perdão pelo trocadilho inevitável) e que ela aflora lá mesmo onde O críamos ausente. Para terror de um pichador tão cuidadoso, ainda não se trata do melhor contexto, pois este leva seu verdadeiro poema de fé a construir mais uma nova conclusão problemática: Ele está no meio de nós.
Aguardamos novas táticas para se espalhar a Boa Nova. Obrigado.
Marcadores:
Citações,
clichês,
conflito simbólico,
cotidiano,
ironia,
língua,
pichações,
religião,
retórica,
vergonha alheia
MEC por ele mesmo
Segundo MEC (2009), cidadãos - escolhidos a esmo, porém bem produzidos - de países que melhoraram muito nos últimos anos atribuem essas melhorias ao trabalho dos professores. Portanto, a solução para o Brasil deve ser o professor, ainda mais considerando-se que tais cidadãos expressam sua opinião em línguas estrangeiras. Ergo "seja professor".
Não é que eles estejam divulgando uma mudança de política, ou queiram trazer à baila quaisquer aumentos de salários ou de concurso, a propaganda apresenta simplesmente o convite para a profissão como tudo que o que cabe ao governo a esse respeito. Ser professor e efetivamente contribuir é contigo, caro cidadão. A solução, aliás, foi descoberta agora, claro, porque ninguém teria a ideia radicalmente inovadora de pensar em educação, para que um país cresça, sem consultar o Exterior.
Não é que eles estejam divulgando uma mudança de política, ou queiram trazer à baila quaisquer aumentos de salários ou de concurso, a propaganda apresenta simplesmente o convite para a profissão como tudo que o que cabe ao governo a esse respeito. Ser professor e efetivamente contribuir é contigo, caro cidadão. A solução, aliás, foi descoberta agora, claro, porque ninguém teria a ideia radicalmente inovadora de pensar em educação, para que um país cresça, sem consultar o Exterior.
Marcadores:
Brasil,
conflito simbólico,
Educação,
política,
publicidade,
retórica
Antivandalismo chique
"Não deposite papel no vaso sanitário"
quarta-feira, 23 de setembro de 2009
Testemunhando trocas filosóficas
Uma amiga teorizava para outra que se pensar em uma relação e partir-se dessa imaginação para se avaliar um namoro corrente não dá em nada. Teoria baseada em ficção não leva a lugar nenhum e não tem qualquer significado, ainda que, em momentos de crise amorosa, nossa exigência científica fique um tanto em baixa. A argumentação ia por aí, afirmando que a única forma de verdadeira comparação se dá no relacionamento seguinte. Quando se está efetivamente com outra pessoa, só então é possível olhar para trás e dizer se se está ou não numa melhor.
Tudo isso é paráfrase minha. O destaque é para a frase que fechava a argumentação:
"Sempre é póstumo."
Tudo isso é paráfrase minha. O destaque é para a frase que fechava a argumentação:
"Sempre é póstumo."
Enquanto isso, na embaixada brasileira...
Honduras é o fim mesmo! Olha, este país... opa, Sr. Zelaya, não vi o Sr. chegar. :S
Seguidores introvertidos
Já faz mais de um dia que é impossível ver meus comentaristas... Tímidos?
terça-feira, 22 de setembro de 2009
Ah, as definições do século XXI
Já tinha ido dormir, mas precisei voltar e registrar esta grande definição de nerd: "intelectuais fora do padrão"!!! Aposto que nos EUA isso viraria socially challenged intelectuals.
:P
:P
Porque toda cultura será reatulizada
Link lateral na página do "Pé no Chão", do Multishow:
"Me joga na busca e me chama de pesquisa"
uuuuuuuuuuhhhh
"Me joga na busca e me chama de pesquisa"
uuuuuuuuuuhhhh
Heidegger eloquente [por que não?]
Lembram que o Ser é Ele mesmo? Pois o pensamento sobre a Verdade do Ser "não é nem teórico nem prático. (...) Na medida em que ele [o pensamento] é ele mesmo, um tal pensamento não é senão a memória do Ser e nada mais. Pertencendo ao Ser, por ter sido lançado pelo Ser na guarda e proteção de sua Verdade e assim para ela requisitado, pensa ele o Ser. Um tal pensar não dá resultado. Não tem efeito. Ele se basta à sua Essência sendo."
Futebol eloquente [6]
"A partida terminou em empate. Vitória mesmo só para a torcida" (por ter ido assistir tais craques jogar!)
Por que eu duvido que a torcida em questão tenha pensado o mesmo?
Por que eu duvido que a torcida em questão tenha pensado o mesmo?
Marcadores:
Citações,
futebol,
infantilização,
retórica,
vergonha alheia
segunda-feira, 21 de setembro de 2009
Legalismo
Eu posso ter entendido errado, mas a hipótese já é a nossa cara: criar uma lei que preveja que todos devem ter acesso a comida. As coisas mais inacreditáveis viram lei no Brasil, sem nem mesmo muitos políticos saberem, mas a ideia de tornar a fome ilegal precisa de campanha? Alguém precisa apelar para a Constituição para saber que o povo não deve morrer de fome? Que isso é incompetência do Estado, por menos poderoso que ele seja, por mais utópico que seja sonhar com a extinção completa da fome? É aquele tipo de luta que precisa ser lutada contra todas as probabilidades razoáveis, e por isso mesmo fazer campanha de uma lei que proteja o acesso à comida equivale a admitir a própria incompetência: "ah, diz na lei, a gente não deve deixar as pessoas morrerem de fome, então".
Claro que a parte boa é que todos os políticos responsáveis por miséria e fome serão imediatamente julgados e encarcerados assim que a lei entrar em vigor, certo? Certo? Certo?
Claro que a parte boa é que todos os políticos responsáveis por miséria e fome serão imediatamente julgados e encarcerados assim que a lei entrar em vigor, certo? Certo? Certo?
Marcadores:
Brasil,
incompetência,
infantilização,
retórica,
saúde
Organização administrativa
Sempre que chego para dar aula, uma pessoa diferente está sentada na secretaria. E esta sempre me pergunta, quando me dirijo à sala de aula: "Tu que é o professor de português?"
Definições filosóficas
Heidegger: "Mas o Ser - o que é o Ser? É Ele mesmo. O pensamento vindouro terá de aprender a fazer essa experiência e a dizê-la."
Preparados? Todo mundo comigo então:
"O Ser é Ele mesmo."
"O Ser é Ele mesmo."
"O Ser é Ele mesmo."
Preparados? Todo mundo comigo então:
"O Ser é Ele mesmo."
"O Ser é Ele mesmo."
"O Ser é Ele mesmo."
domingo, 20 de setembro de 2009
Sentidos sub-reptícios
"A título de informação, Albert Camus foi morto por um acidente de carro em 1960".
Curiosa construção: "foi morto" implica um agente, "acidente" nulifica absolutamente a existência de um agente. Ao mesmo tempo, "acidentes de carro" só acontecem se alguém os causa. Mais ainda, ele só foi morto (ou morreu) nessas circunstâncias "a título de informação"...
Tilt.
Curiosa construção: "foi morto" implica um agente, "acidente" nulifica absolutamente a existência de um agente. Ao mesmo tempo, "acidentes de carro" só acontecem se alguém os causa. Mais ainda, ele só foi morto (ou morreu) nessas circunstâncias "a título de informação"...
Tilt.
sábado, 19 de setembro de 2009
A mais pura ciência
"O Brasil não tem dados sobre a doença (labirintite), mas os dados dos EUA indicam que mais de 40% da população deles apresenta o principal sintoma: tontura."
Muito bem...
Muito bem...
Associação Livre
O bêbado chega na roleta e começa a berrar para a amiga já sentada no fundo do ônibus:
Bêbado - Eu tô virando um psicólogo urbano! É o que eu sou, um psicólogo urbano. Senta maninho todo dia no bar do meu lado, todo mundo quer falar seus problemas comigo, e é a mesma frase pra todos: 'Faça o que é melhor pra ti'. E me reclamam que ela quer isso, que o cara é assim, e eu só digo 'Faça o que é melhor pra ti'! Eu não dou conselho!
Amiga - Tá, senta, psicólogo urbano.
B - Quer um conselho? Larga o teu moreno e fica comigo.
A - Eu sou casada.
B - Ah, mas aí a gente conversa. A gente dá um jeito. A gente faz tudo pelo amor...
A - Já ouviu que amor não mata fome?
B - Ah, tá com fome? Vem cá que eu mato a tua fome. Hehehehe. Eu mato a tua fome. Caraca que fome que eu tô...
Bêbado - Eu tô virando um psicólogo urbano! É o que eu sou, um psicólogo urbano. Senta maninho todo dia no bar do meu lado, todo mundo quer falar seus problemas comigo, e é a mesma frase pra todos: 'Faça o que é melhor pra ti'. E me reclamam que ela quer isso, que o cara é assim, e eu só digo 'Faça o que é melhor pra ti'! Eu não dou conselho!
Amiga - Tá, senta, psicólogo urbano.
B - Quer um conselho? Larga o teu moreno e fica comigo.
A - Eu sou casada.
B - Ah, mas aí a gente conversa. A gente dá um jeito. A gente faz tudo pelo amor...
A - Já ouviu que amor não mata fome?
B - Ah, tá com fome? Vem cá que eu mato a tua fome. Hehehehe. Eu mato a tua fome. Caraca que fome que eu tô...
quinta-feira, 17 de setembro de 2009
Romancing and the English
"Was it love at first sight?"
"Yes it was. The moment I laid eyes on her I thought 'my God she's suitable!'"
(from The Nanny)
"Yes it was. The moment I laid eyes on her I thought 'my God she's suitable!'"
(from The Nanny)
Reconhecimento formal do metafísico
Um texto teórico metafísico (incluindo os que querem "superar a metafísica") pode ser reconhecido facilmente. Tradicionalmente suas citações estão apenas no original, mesmo que se tratem de frases inteiras em latim. Piadinhas internas de eruditos de línguas mortas possivelmente aparecem, ainda sem tradução. As maiúsculas proliferam-se progressivamente, e o que no início era substantivo nitidamente logo deve ser tratado como Substantivo. Combina-se a esses dois brilhos de genialidade, cultura e profundidade os erros do próprio português. As traduções são comumente feitas também de forma inspirada, de modo que siglas latinas ficam com acento, vírgulas erradas complicam ainda mais o sentido de um texto que quer ao mesmo tempo dizer e desdizer. O mais marcante, é claro, é sentirmos que algo aconteceu com o autor, ou o texto foi digitado errado, pois parece que se esqueceu de como o hífen funciona, ou tal-vez ele não saiba mais se-parar sílabas. Pu-lu/lam separações (bi)zarras das palavras, primeira-mente para indicar sentidos dú-bios, mas logo entrando-se no co-m-ple(to) nonsense. Bom, aí estamos em casa... Assim que alguma afirmação faz sentido direto, uma série de "explicações" em supostas paráfrases apresentam uma sequência incontável de jogos de linguagem para que tudo esteja embaralhado de novo.
Internet, esta nova ferramenta
Nosso governo ficou sabendo ontem da "revolução" digital. Começa a viagem quando até alguns alunos das (nossas!) escolas públicas já têm avatares. Bêbado por seus portentosos poderes, resolveu censurar a internet a respeito dele próprio. Imagine-se que coisa horrível descobrir que esse mundo novo é quase forrado das críticas mais virulentas a respeito de seus recém-chegados. Claro que o problema são os textos de gente significativa. Agora por que o pessoal que está publicando mais à vista, particularmente quem tem mais conhecimento de causa, seria justamente o alvo? Isso não vira mais louvação da babaquice ignorante? Os milhões de sites amadores são incontroláveis, então a censura não poderia dar conta a não ser que impedisse o acesso a internet no país todo, mas fica barrado quem pode ter algo a dizer ou que pode efetivamente ser ouvido por muitos com atenção? Viva a ignorância.
Como instituições muito mais poderosas que o Brasil já tentaram e desistiram de controlar a internet dessa forma, não deixava de haver certa comicidade na proposta. Mesmo assim, censura causa reações ainda que apenas pensada, e a Câmara tentou voltar atrás a esse respeito. Buscaram garantir que haja "liberdade de expressão", desde que com direito de resposta e sem anonimato, que foi "vedado" conforme eles. Hehehe. O que ainda pode ser feito anonimamente? Doações para campanhas...
PS: outdoors foram proibidos, o uso de carros de som segue permitido. Não teremos propagandas das quais escapamos virando o rosto, mas somos obrigados a ser atrapalhados e ensurdecidos por aquelas músicas imbecilizantes e aqueles discursos dos anos 1970, se não anteriores. Trabalho intelectual durante as eleições, nunca mais.
Como instituições muito mais poderosas que o Brasil já tentaram e desistiram de controlar a internet dessa forma, não deixava de haver certa comicidade na proposta. Mesmo assim, censura causa reações ainda que apenas pensada, e a Câmara tentou voltar atrás a esse respeito. Buscaram garantir que haja "liberdade de expressão", desde que com direito de resposta e sem anonimato, que foi "vedado" conforme eles. Hehehe. O que ainda pode ser feito anonimamente? Doações para campanhas...
PS: outdoors foram proibidos, o uso de carros de som segue permitido. Não teremos propagandas das quais escapamos virando o rosto, mas somos obrigados a ser atrapalhados e ensurdecidos por aquelas músicas imbecilizantes e aqueles discursos dos anos 1970, se não anteriores. Trabalho intelectual durante as eleições, nunca mais.
quarta-feira, 16 de setembro de 2009
Descasos dos desavisados
O que falta para considerarem paradas de ônibus como lugares fechados? A gente já fica no barulho, na poluição, amontoado com gente suspeita, mal-educada, barulhenta, fedorenta ou tudo isso ao mesmo tempo, buscando proteção para o sol ou para a chuva, sob o efeito de ventos às vezes nefastos, e ainda precisa fumar passivamente (péssimo termo, aliás) durante todo o tempo! O vento, é claro, colabora. Toda fumaça de cigarro percorre a parada antes de se libertar para empestear o resto do mundo. Fumar em parada é proibido por lei, só não avisaram às autoridades ainda. Problemas de conceito, como tudo.
Mas não se trata apenas de desconforto olfativo nem de danos à nossa saúde. Como seria uma parada de ônibus sem tocos de cigarros? Difícil conceber tal cenário. Que arrojo o de uma mente capaz de imaginar parada tão idílica. Por um tempo, todos os outros males seriam ignorados na felicidade ingênua de um progresso.
Mas não se trata apenas de desconforto olfativo nem de danos à nossa saúde. Como seria uma parada de ônibus sem tocos de cigarros? Difícil conceber tal cenário. Que arrojo o de uma mente capaz de imaginar parada tão idílica. Por um tempo, todos os outros males seriam ignorados na felicidade ingênua de um progresso.
segunda-feira, 14 de setembro de 2009
Obviedade seja dita, por favor!
Enquanto em Brasília se utiliza o velho (e sempre eficaz) "dividir e conquistar" contra o MST gaúcho (em rixa com a organização central dos sem-terras), Francesco Conti, no Ministério Público Estadual, levantou a ideia de que os membros do Ministério Público tivessem acesso direto aos movimentos sociais (MST em cima), que conhecessem os interesses e as pessoas desses movimentos melhor, "não somente pela imprensa".
P-U-T-A Q-U-E P-A-R-I-U!
AGORA tiveram essa ideia?! Décadas de negociações e conflitos com o MST e o pessoal atualmente no Ministério tem a coragem de conhecer os caras só pela mídia?! Aquela nossa mídia que nos envergonha a cada dia?
Aparentando sentir-se bem encurralado, Conti não resistiu ao populismo de apontar que os juízes vêm majoritariamente da elite brasileira, referente que sutilmente o exclui do grupo dos ricos maus como enunciador da obviedade. Esta exige respostas inteligentes, mas não deve demorar a provocar outros populismos, como propostas das mais bizarras cotas. Nem essas propostas, porém, conseguiriam ser tão idiotas quanto o isolamento indicado pelo promotor.
P-U-T-A Q-U-E P-A-R-I-U!
AGORA tiveram essa ideia?! Décadas de negociações e conflitos com o MST e o pessoal atualmente no Ministério tem a coragem de conhecer os caras só pela mídia?! Aquela nossa mídia que nos envergonha a cada dia?
Aparentando sentir-se bem encurralado, Conti não resistiu ao populismo de apontar que os juízes vêm majoritariamente da elite brasileira, referente que sutilmente o exclui do grupo dos ricos maus como enunciador da obviedade. Esta exige respostas inteligentes, mas não deve demorar a provocar outros populismos, como propostas das mais bizarras cotas. Nem essas propostas, porém, conseguiriam ser tão idiotas quanto o isolamento indicado pelo promotor.
Como diria o prolixo Djavan: "se".
Se for espirrar, cubra a boca com o braço.
Se for tossir, contenha-se: não se machuque, mas não force todas as cordas vocais num estridente esforço de infectar todo o ônibus.
Se não se contiver, tente não derrubar a garrafa.
Se derrubar a garrafa, não ria como um imbecil enquanto futilmente tenta pegá-la, subestimando o movimento do ônibus.
Se pegar a garrafa, não arrote feito bêbado, avisando a todos o porquê de tanto estardalhaço.
Se for descer do ônibus bêbado, evite acertar com o cotovelo a cabeça daquela velhinha ali sentada.
Se ratear na escada, não use sua mulher como apoio para não se esborrachar na calçada.
Se nos cruzarmos de novo, por favor diga COMO casou com aquela mulher linda!
Se for tossir, contenha-se: não se machuque, mas não force todas as cordas vocais num estridente esforço de infectar todo o ônibus.
Se não se contiver, tente não derrubar a garrafa.
Se derrubar a garrafa, não ria como um imbecil enquanto futilmente tenta pegá-la, subestimando o movimento do ônibus.
Se pegar a garrafa, não arrote feito bêbado, avisando a todos o porquê de tanto estardalhaço.
Se for descer do ônibus bêbado, evite acertar com o cotovelo a cabeça daquela velhinha ali sentada.
Se ratear na escada, não use sua mulher como apoio para não se esborrachar na calçada.
Se nos cruzarmos de novo, por favor diga COMO casou com aquela mulher linda!
Sinal de Tempos felizmente idos
"Ah, faça-me o favor, né? Nós já tamo no século vinte!"
Se já está indignada agora, imaginem quando ensinarem pra ela sobre anos, eras, séculos e a secreta dos calendários.
Se já está indignada agora, imaginem quando ensinarem pra ela sobre anos, eras, séculos e a secreta dos calendários.
domingo, 13 de setembro de 2009
Some mean ass pants
William Bonner dizendo de forma enfática: "Mas, no dia em que comemoramos os 40 anos do Jornal Nacional, eu apareci de corpo inteiro" - A plateia aplaude...
Eu perdi alguma coisa? Que que eles viram nas calças do cara? (A bonner? - trocadilho irresistível, desculpem).
Eu perdi alguma coisa? Que que eles viram nas calças do cara? (A bonner? - trocadilho irresistível, desculpem).
Yoda pós-colonial
A ideia de centro é o caminho para o Lado Negro*:
A ideia de centro leva à de fronteira;
a de fronteira, à de oposição;
a de oposição... (voz ameaçadora) à de conflito.
*Para os espiões do politicamente correto, "Negro", não "Afro". Darth Sidious, não Mace Windu...
A ideia de centro leva à de fronteira;
a de fronteira, à de oposição;
a de oposição... (voz ameaçadora) à de conflito.
*Para os espiões do politicamente correto, "Negro", não "Afro". Darth Sidious, não Mace Windu...
Futebol eloquente [5]
Segundo Ramon, do Vitória, hoje seu time entrou em campo "para jogar futebol"! Eu sei que não curto muito o esporte bretão, mas me pareceu uma ótima medida. Talvez os outros times devessem adotar essa ideia.
sábado, 12 de setembro de 2009
Santa ambiguidade, Batman
Correio promovendo a maldade e a polissemia; e põe poli nisso tchê: "Lula diz que seu governo será exemplo a partir de 2011".
Enem e os cafundós do mito nacional
Vem lá do ano passado, mas eu só vi essa sandice agora, e não vi comentado em lugar algum, nunca. Como jornal só é de ontem quando a gente já leu, apliquemos o mesmo a notícias. Revisando o Enem do ano passado, esbarrei numa questão que reproduzia matéria do Jornal do Brasil de 1998. Notem bem o que foram buscar no século XX: uma notícia que ligava (sem associar lógica ou necessariamente, apenas pondo em sequência as informações e abstendo-se de comentar) a dança da chuva de dois pajés do Mato Grosso com uma chuva de 3 horas que ocorreu em seguida e com a probabilidade apontada pela meteorologia de que chovesse ainda mais pelo menos até o dia seguinte. A chuva era crucial então para matar um incêndio que assolava a região fazia 63 dias! Detalhe: que essa chuva decidisse mesmo o embate com o fogo era ainda uma esperança quando a matéria foi escrita.
Apesar da coincidência de os pajés terem tentado apagar o incêndio só após mais de dois meses (ou os deuses terem levado tanto tempo para lhes dar ouvidos), o Enem mantinha o suspense mágico, perguntando a função da dança da chuva (portanto mantendo o ponto de vista dos pajés - resposta certa: "intervir no ciclo da água"), o valor dessa dança em determinadas culturas e se estava certa a seguinte reformulação em linguagem científica de uma frase do texto: "a dança da chuva seria efetiva se provocasse a precipitação das gotículas de água das nuvens". Essa paráfrase estava correta formalmente, e a dança deu certo, já que choveu. Conclusão, insatisfeitos em levar adiante a associação "aberta" deixada pelo jornal, a prova ainda reformulava em linguagem científica a magia de nossos índios.
Todo o teor indígena da prova (não existe chuva que não seja na Amazônia) e nossa adoração pela educação americana me deixaram imaginando quanto tempo vai levar para a gente aprender a origem do universo segundo os guaranis em Física? E com todo o blablablá o Estado ainda praticamente sustenta a Igreja Romana por essas bandas...
Melhor eu fazer o sinal da cruz, sair do blog e ir tomar um mate, antes que algum fiscal me ache muito aculturado.
Apesar da coincidência de os pajés terem tentado apagar o incêndio só após mais de dois meses (ou os deuses terem levado tanto tempo para lhes dar ouvidos), o Enem mantinha o suspense mágico, perguntando a função da dança da chuva (portanto mantendo o ponto de vista dos pajés - resposta certa: "intervir no ciclo da água"), o valor dessa dança em determinadas culturas e se estava certa a seguinte reformulação em linguagem científica de uma frase do texto: "a dança da chuva seria efetiva se provocasse a precipitação das gotículas de água das nuvens". Essa paráfrase estava correta formalmente, e a dança deu certo, já que choveu. Conclusão, insatisfeitos em levar adiante a associação "aberta" deixada pelo jornal, a prova ainda reformulava em linguagem científica a magia de nossos índios.
Todo o teor indígena da prova (não existe chuva que não seja na Amazônia) e nossa adoração pela educação americana me deixaram imaginando quanto tempo vai levar para a gente aprender a origem do universo segundo os guaranis em Física? E com todo o blablablá o Estado ainda praticamente sustenta a Igreja Romana por essas bandas...
Melhor eu fazer o sinal da cruz, sair do blog e ir tomar um mate, antes que algum fiscal me ache muito aculturado.
Os nazistas de bombacha
Aprendemos com Yeda e apoiadores que buscar o impeachment de Yeda e apoiadores é feio. Ai ai ai ai ai: será que essa gente não entende que ir contra a governadora é fazer complô, falcatrua, maldade, e apoiá-la é representar o povo gaúcho? É só perguntar para ela, para o Otomar Vivian, para o Medina... Impeachment suja a imagem do Estado. Mesmo?! Puxa, nunca tinha pensado nisso, mas faz sentido: que que o pessoal vai pensar? Que tem algum lugar do Brasil em que roubar é crime?! Não, nunca! Povo bom é povo comportado, né Yeda? Talvez no fundo os jornalistas concordem, porque noticiam o imbecil: que Yeda reagiu à acusação. Ora bolas, o impeachment, simplesmente ele sair, a meu ver, deveria ser o foco da atenção. Que ela reagiu é óbvio, redundante, imbecil de se noticiar. Claro que precisa ser comentado, afinal a gente quer se divertir com o discurso de seus aliados, mas por que a tentativa de dar uma volta nova ou criativa, chamativa talvez digam, acaba tantas vezes dando destaque ao que dá sono quando o raro, o diferente e o importante brilha logo ao lado?
Enfim, voltando à retórica divertida da defesa, diria que só estava faltando um "Deixa a mulher trabalhar" quando criticaram que o anúncio da tramitação ter começado fora feito justo quando ela discutia o orçamento de 2010. A nota do governo é de uma hilariedade ímpar e é facilmente encontrada no google, então não vou colar aqui. Leiam quando estiverem pra baixo. Preciso comentar apenas que o PSDB nacional acusou o PT de golpe nessa briga toda. As palavras de Sérgio Guerra, presidente do partido-vítima, são preciosas, primeiro por trazer o "golpe" à baila e segundo por falar em contra-ataque. É isso mesmo, competição aberta, justiça e julgamento o escambau! É olho por olho e dente por dente. As leis que fiquem bem quietinhas e não ousem sair do papel, se não alguém chama o Collor pra fazer cara feia!
Para completar, Sérgio Guerra afirma ainda sobre Yeda: "Ela é vítima de conspiração". Conclusão: Sarney fez escola (contribuição à educação), afinal, o que vem em seguida? Chamar quem se opõe à Yeda de nazista, é claro.
E o salário ó...
Enfim, voltando à retórica divertida da defesa, diria que só estava faltando um "Deixa a mulher trabalhar" quando criticaram que o anúncio da tramitação ter começado fora feito justo quando ela discutia o orçamento de 2010. A nota do governo é de uma hilariedade ímpar e é facilmente encontrada no google, então não vou colar aqui. Leiam quando estiverem pra baixo. Preciso comentar apenas que o PSDB nacional acusou o PT de golpe nessa briga toda. As palavras de Sérgio Guerra, presidente do partido-vítima, são preciosas, primeiro por trazer o "golpe" à baila e segundo por falar em contra-ataque. É isso mesmo, competição aberta, justiça e julgamento o escambau! É olho por olho e dente por dente. As leis que fiquem bem quietinhas e não ousem sair do papel, se não alguém chama o Collor pra fazer cara feia!
Para completar, Sérgio Guerra afirma ainda sobre Yeda: "Ela é vítima de conspiração". Conclusão: Sarney fez escola (contribuição à educação), afinal, o que vem em seguida? Chamar quem se opõe à Yeda de nazista, é claro.
E o salário ó...
sexta-feira, 11 de setembro de 2009
Os lírios da ingenuidade no Senado
Para vc que tem coração forte, trago (ou relembro) um notícia bombástica: Sarney agiu impropriamente. Se ainda está comigo, é porque o leitor é forte, sobreviveu à novidade estarrecedora e gostaria de saber, apesar do choque, a que me refiro. Pois trato de muitos senadores terem afirmado que a votação da reforma eleitoral não saiu no dia 10 de setembro devido a um boicote do Sarney. Ele estaria preocupado com o julgamento da posse de Roseana. Ou seja, Sarney favoreceu alguém próximo a ele! Vocês acreditam? Um homem tão íntegro! Pois muitos senadores andam afirmando que eles não acreditam!
Tasso Jereissati, aliás, fez um ótimo resumo: "Ficamos todos surpresos com a reação do Sarney (...) ninguém estava pensando em Roseana, estávamos pensando no futuro"(hahahahhahahaha). Renato Casagrande estranhou muito. Álvaro Dias insinuou críticas...
Esses caras dão mesmo uma aula de atuação. É realmente como se o engavetamento de tudo sobre o Sarney significasse, no mundo real, que ele é inocente. Mais: puro, digamos impoluto, já que intocado mesmo no meio da merda. Coitados dos nossos senadores, tão ingênuos... O povo é que é malandro, vê maldade em tudo que é político. tsc tsc tsc
Tasso Jereissati, aliás, fez um ótimo resumo: "Ficamos todos surpresos com a reação do Sarney (...) ninguém estava pensando em Roseana, estávamos pensando no futuro"(hahahahhahahaha). Renato Casagrande estranhou muito. Álvaro Dias insinuou críticas...
Esses caras dão mesmo uma aula de atuação. É realmente como se o engavetamento de tudo sobre o Sarney significasse, no mundo real, que ele é inocente. Mais: puro, digamos impoluto, já que intocado mesmo no meio da merda. Coitados dos nossos senadores, tão ingênuos... O povo é que é malandro, vê maldade em tudo que é político. tsc tsc tsc
Governabilidade
Resumo de cabeça, no calor do momento, feito por José Avancini:
"Getúlio passou as Forças Armadas aos gaúchos, a sinecura aos nordestinos, o cofre aos paulistas e o emprego aos mineiros. Assim acalmou todo mundo e pôde fazer a ditadura dele."
"Getúlio passou as Forças Armadas aos gaúchos, a sinecura aos nordestinos, o cofre aos paulistas e o emprego aos mineiros. Assim acalmou todo mundo e pôde fazer a ditadura dele."
Nem Mastercard justifica
Inscrição no congresso........................................... 30 reais
Livros e xerox...................................................... 200 reais
Indumentária completa de chuva............................ 310 reais
Pesquisar em área que é socialmente valorizada apenas por bom tom... não tem preço, valor, valia, recompensa, prêmio...
Livros e xerox...................................................... 200 reais
Indumentária completa de chuva............................ 310 reais
Pesquisar em área que é socialmente valorizada apenas por bom tom... não tem preço, valor, valia, recompensa, prêmio...
Cabrochinha
Ô, cabrochinha
Venha ver quem chegou
Chegou no bico do sapato,
O seu mulato flozô
Bota um vestido justo
Aquele curto lilás
Que tem um corte do lado
E um decote atrás
Dei sorte na loteca
E uma merreca pintou
Repara só na beca
Que o teu nego comprou
Vou te levar pra jantar,
Cabrochinha, dessa vez
Num restaurante francês
Mas "sivuplê", ô, "messiê" garçon,
Leva o menu que eu não entendo lhufas
Eu vou pedir esse Don Perignon
Um escargot e um filet com trufas
Depois daquela sobremesa que flamba
A gente volta pro samba
A gente encerra o glamour
No fim da noite um bangalô,
Penhoar e um abajur
Pra gente fazer l'amour, l'amour toujours
- Maurício Carrilho e Paulo César Pinheiro
Venha ver quem chegou
Chegou no bico do sapato,
O seu mulato flozô
Bota um vestido justo
Aquele curto lilás
Que tem um corte do lado
E um decote atrás
Dei sorte na loteca
E uma merreca pintou
Repara só na beca
Que o teu nego comprou
Vou te levar pra jantar,
Cabrochinha, dessa vez
Num restaurante francês
Mas "sivuplê", ô, "messiê" garçon,
Leva o menu que eu não entendo lhufas
Eu vou pedir esse Don Perignon
Um escargot e um filet com trufas
Depois daquela sobremesa que flamba
A gente volta pro samba
A gente encerra o glamour
No fim da noite um bangalô,
Penhoar e um abajur
Pra gente fazer l'amour, l'amour toujours
- Maurício Carrilho e Paulo César Pinheiro
quinta-feira, 10 de setembro de 2009
A Boa Resposta
Uma jovem da plateia insistiu dias a fio em fazer uma mesma pergunta a todo mundo que aparecia para falar num congresso. Sua pergunta baseava-se em dois interesses: "Falem do que ME interessa, mesmo que fuja completamente ao tema", "Falem do Rio Grande do Sul, independentemente do que vocês estudam com profundidade".
Num belo momento, ela encontrou a mesa que merecia. A resposta de um professor de História que viera falar de São Paulo, apesar de ser daqui, foi perfeita: "Esse assunto é delicado. Porque temos uma visão muito autoelogiosa. E acho que só estamos ficando pior, não?"
Num belo momento, ela encontrou a mesa que merecia. A resposta de um professor de História que viera falar de São Paulo, apesar de ser daqui, foi perfeita: "Esse assunto é delicado. Porque temos uma visão muito autoelogiosa. E acho que só estamos ficando pior, não?"
Paradoxo de Congresso (colóquio ou qualquer reunião semelhante)
O mais irritante de emocionados de congresso é que caiam tanto na tentação de desperdiçar longos minutos de mesas com "convidados tão brilhantes" elogiando estes monotonamente.
PS: a palavra "brilhante" perdeu o valor de elogio devido ao desgaste. É mister um Pimp my Word para que ela volte a ter significado.
PS: a palavra "brilhante" perdeu o valor de elogio devido ao desgaste. É mister um Pimp my Word para que ela volte a ter significado.
terça-feira, 8 de setembro de 2009
Parem os carros! Humanos passando...
Hoje a Ipiranga contraiu engarrafamento quilométrico. O veículo que chefiava a fila mais próxima à calçada era o ônibus em que estava este que vos escreve. A posição era chave, é claro, para ver claramente o que causava o transtorno, e tratava-se de militares fazendo cooper. Pelo jeito correr no mesmo lugar, esperando sua vez no trânsito, é permitido para joggers civis, mas o exército tem de manter o deslocamento contínuo. É a segurança nacional em jogo.
Quase todos no ônibus, é claro, mais cedo ou mais tarde ficaram irritados com a situação. Não apenas víamos a causa, mas podíamos enxergar cada um que vinha lá de longe, de uma descida que terminava cruzando a Ipiranga bem na nossa frente. Pelo jeito o único sujeito mais de uma hora adiantado para o próximo compromisso era eu. Mesmo assim, por espírito cívico, tentei encontrar saídas para inidicar ao motora, assim como a maioria dos presentes. Não havia, no entanto, realmente o que fazer. Nada lógico ou realista, pelo menos.
A irritação refreada e a procura de uma solução alugam o cérebro, como bem se sabe, e este usa como válvula de escape de um mínimo de sua energia os famosos clichês, que não lhe exigem muito e sempre encontram apoio popular, levando ao prazer e reconforto de um grupo de pessoas dizendo o de sempre e concordando entre si. Os últimos quatro minutos de tranqueira foram, assim, uma competição para ver qual tripulante falava mais vezes por minuto "Imagina se fazem isso em São Paulo" e "É por isso que o Brasil não vai pra frente" - particular injustiça, aliás, pois, mesmo que o trânsito precise parar para isso, o Exército vai! A pé... mas vai!
Quase todos no ônibus, é claro, mais cedo ou mais tarde ficaram irritados com a situação. Não apenas víamos a causa, mas podíamos enxergar cada um que vinha lá de longe, de uma descida que terminava cruzando a Ipiranga bem na nossa frente. Pelo jeito o único sujeito mais de uma hora adiantado para o próximo compromisso era eu. Mesmo assim, por espírito cívico, tentei encontrar saídas para inidicar ao motora, assim como a maioria dos presentes. Não havia, no entanto, realmente o que fazer. Nada lógico ou realista, pelo menos.
A irritação refreada e a procura de uma solução alugam o cérebro, como bem se sabe, e este usa como válvula de escape de um mínimo de sua energia os famosos clichês, que não lhe exigem muito e sempre encontram apoio popular, levando ao prazer e reconforto de um grupo de pessoas dizendo o de sempre e concordando entre si. Os últimos quatro minutos de tranqueira foram, assim, uma competição para ver qual tripulante falava mais vezes por minuto "Imagina se fazem isso em São Paulo" e "É por isso que o Brasil não vai pra frente" - particular injustiça, aliás, pois, mesmo que o trânsito precise parar para isso, o Exército vai! A pé... mas vai!
De pai pra filho
"I tell you something: no matter when I die, It's gonna piss me off" - Mad About You
Bom dia, Brasil
"Eu não quero arriscar uma percentagem, mas com certeza mais de 90% dos passageiros não usa o cinto no banco de trás."
Lembrou-me particularmente a previsão de tempo que escutei numa rádio, infelizmente não lembro qual: "O ouvinte tem que entender que a meteorologia não é uma ciência exata. Pois é. Então, com certeza tem 85% de chances de chover amanhã em Porto Alegre."
Pelo jeito só eu não fui avisado que "com certeza" é modo de dizer e percentagem não vem da matemática.
Lembrou-me particularmente a previsão de tempo que escutei numa rádio, infelizmente não lembro qual: "O ouvinte tem que entender que a meteorologia não é uma ciência exata. Pois é. Então, com certeza tem 85% de chances de chover amanhã em Porto Alegre."
Pelo jeito só eu não fui avisado que "com certeza" é modo de dizer e percentagem não vem da matemática.
domingo, 6 de setembro de 2009
Tu-dum-dum-tshh
Mas este jogo de linguagem valeria à Kristeva uma vaguinha no jornalismo brasileiro: "Édipo quer saber, ainda que isso vá lhe custar, literalmente, os olhos da cara."
Problema identitário
Julia Kristeva aventura, em Estrangeiros para nós mesmos, o seguinte aspecto de sermos humanos: "não somos seres falantes, que nos distinguimos dos outros para lhes comunicar o nosso sentido pessoal, a partir dessa diferença percebida e assumida?" (trad. Maria C. C. Gomes)
Alguém se identifica com isso? Mesmo?
Alguém se identifica com isso? Mesmo?
Regras gramaticais e interpretação
Explicação otimista:
Estamos acostumados a vê-lo junto em respostas, é verdade, como em "Por que ela chorou?" "Porque João chutou sua canela!"
No entanto, existe outro uso. Se usado como substantivo, geralmente ele é antecedido por artigo, e devemos colocar acento.
Solução do aluno: "ô porque".
Estamos acostumados a vê-lo junto em respostas, é verdade, como em "Por que ela chorou?" "Porque João chutou sua canela!"
No entanto, existe outro uso. Se usado como substantivo, geralmente ele é antecedido por artigo, e devemos colocar acento.
Solução do aluno: "ô porque".
Desatualizado
Séculos longe da TV de domingo, só hoje pude observar o nível em que anda o problema: as loiras burras usadas para aumentar ibope são hoje muito mais inteligentes que programação, proposta e apresentadores.
Índice social
Ouvi esses dias a seguinte tese: "Adolescentes são conservadores". Não existe maior prova para a teoria do que redações de vestibular (ou de simulados). Existem duas soluções para o mundo, conforme eles: repressão estatal violentíssima ao crime (o que inclui de corrupção política a desrespeitar o sinal de trânsito) e retorno a uma nebulosa moral social à anos 1950 (que solucionaria totalmente o problema das drogas hoje em dia!). Ah, sim, "a internet é má"!
sábado, 5 de setembro de 2009
O Ininterpretável
Na base de uma ponte que atravessa a av. Ipiranga, estava pintada a seguinte mensagem: "A FAZENDA BRUTAL É NOSSA!" Eu estava um tanto longe da pichação, e esta ficava torta para eu ler, mas ela me chamou a atenção por desrespeitar o Ato Pelo Pretinho Básico das Pichações de Porto Alegre, que comentei há poucos dias. Só depois de pensar isso sobre a cor efetivamente li a mensagem. Fiquei intrigado por seu sentido enigmático.
Graças à matéria insistente e repetida do Correio sobre seus eventos para comemorar novo apresentador da Record, estava com a existência do programa "A Fazenda" ainda fresca na memória, e parecia haver aí uma reclamação quase de orgulho indicando que viver nas ruas de Porto Alegre é que era provação, isso seria a dura reality. Esse pensamento foi veloz, e ainda assim pensei com força "Não pode ser, dã!" No entanto, seria crítica política? Reivindação dos serviços públicos da Fazenda, que devem atender ao povo e não aos políticos? O equivalente sem-teto do Ministério da Fazenda é brutal?! Não tinha jeito, eu ia ter de sair da parada e caminhar até uma posição tática para leitura.
Descobri então que a cor do texto realmente deveria ter me dado a chave para entendê-lo. Não estavam simplesmente evitando o preto. Havia-se escolhido o vermelho! A mensagem era "A FAZENDA SHOUTAL É NOSSA!" (ou seja, a "fazenda Southall", onde um membro do MST foi morto há pouco).
Muito mais sentido: uma pichação que não atinge porcaria nenhuma, pois está escrita onde políticos e derivados em geral (os quais não dariam a mínima para uma pichação, claro) não vão vê-la nenhuma vez na vida, e ao mesmo tempo uma mensagem que tanto afirma uma fantasia quanto contradiz o discurso (de representantes oficiais) do próprio MST. Ou seja, tecnicamente, a pichação faz o desserviço de reproduzir como se fosse do MST um discurso que é projetado nele por quem é contra, complicando ainda mais a situação. Eis uma verdadeira pichação "engajada", que mira sempre na utopia de uma afirmação que pudesse ser puramente performativa sem ter sentido algum, um soco ininterpretável.
Graças à matéria insistente e repetida do Correio sobre seus eventos para comemorar novo apresentador da Record, estava com a existência do programa "A Fazenda" ainda fresca na memória, e parecia haver aí uma reclamação quase de orgulho indicando que viver nas ruas de Porto Alegre é que era provação, isso seria a dura reality. Esse pensamento foi veloz, e ainda assim pensei com força "Não pode ser, dã!" No entanto, seria crítica política? Reivindação dos serviços públicos da Fazenda, que devem atender ao povo e não aos políticos? O equivalente sem-teto do Ministério da Fazenda é brutal?! Não tinha jeito, eu ia ter de sair da parada e caminhar até uma posição tática para leitura.
Descobri então que a cor do texto realmente deveria ter me dado a chave para entendê-lo. Não estavam simplesmente evitando o preto. Havia-se escolhido o vermelho! A mensagem era "A FAZENDA SHOUTAL É NOSSA!" (ou seja, a "fazenda Southall", onde um membro do MST foi morto há pouco).
Muito mais sentido: uma pichação que não atinge porcaria nenhuma, pois está escrita onde políticos e derivados em geral (os quais não dariam a mínima para uma pichação, claro) não vão vê-la nenhuma vez na vida, e ao mesmo tempo uma mensagem que tanto afirma uma fantasia quanto contradiz o discurso (de representantes oficiais) do próprio MST. Ou seja, tecnicamente, a pichação faz o desserviço de reproduzir como se fosse do MST um discurso que é projetado nele por quem é contra, complicando ainda mais a situação. Eis uma verdadeira pichação "engajada", que mira sempre na utopia de uma afirmação que pudesse ser puramente performativa sem ter sentido algum, um soco ininterpretável.
sexta-feira, 4 de setembro de 2009
Poderes presidenciais
Correio do Povo: "Lula decide que o pré-sal exige urgência"
Beleza. Agora é só ele decidir o contrário e pudemo nus deitá nas corda!
Beleza. Agora é só ele decidir o contrário e pudemo nus deitá nas corda!
quinta-feira, 3 de setembro de 2009
Oba, manhê, hoje tem apedrejamento!
Um dos aspectos curiosos de nosso instinto gregário é que, a partir do momento em que determinado contingente de pessoas adere a uma causa, esta ganha tal inércia (de movimento) que é pra atrito nenhum botar defeito. Todo mundo quer participar, todo mundo faz questão de dar sua contribuição, todo mundo dá um jeito de usar as armas que tem em mãos para a surra pública. Pensemos aleatoriamente, assim por experiência, num alvo qualquer: a Yeda, digamos. Ninguém parece estar afim de defender nossa governadora, e qualquer um faz piruetas para aterrissar em cima dela com os dois pés. No Jornal de Comércio de hoje, aliás, os coitados tiveram de dar voltas, partir de um comentário supérfluo para a figura de linguagem, e desta para os trocadilhos infames, mas chegaram lá. Sacrifica-se o estilo, mas por uma boa causa:
"O mau tempo obrigou o uso de guarda-chuvas por ela [Yeda] e pelo empresário Jorge Gerdau Johannpeter. Já o guarda-chuva político terá que ser aberto pelos deputados da situação na Assembleia. Uma coisa é certa: Yeda já está calejada com o mau tempo."
Baterista: Tu-Dum-Dum-Tshhhh
"O mau tempo obrigou o uso de guarda-chuvas por ela [Yeda] e pelo empresário Jorge Gerdau Johannpeter. Já o guarda-chuva político terá que ser aberto pelos deputados da situação na Assembleia. Uma coisa é certa: Yeda já está calejada com o mau tempo."
Baterista: Tu-Dum-Dum-Tshhhh
YEAH!
Michael Jackson vive! Só faltava essa! Obrigado, Sr., por nos fornecer tanta alegria e humor a cada dia.
Homens... (ou: propaganda é tudo)
Definição de um dicionário francês para "macho": 1. Indivíduo pertencente ao sexo que possui o poder da fecundação.
Definição do mesmo dicionário francês para "fêmea": 1. Animal pertencente ao sexo apto a produzir óvulos.
(tradução literal, hehehe)
Definição do mesmo dicionário francês para "fêmea": 1. Animal pertencente ao sexo apto a produzir óvulos.
(tradução literal, hehehe)
quarta-feira, 2 de setembro de 2009
Dentro da lei
Já que os senadores votaram uma lei pra proibir a crítica a políticos na internet, durante campanha eleitoral, e já que não estamos em campanha eleitoral, digamos resumidamente que o Sarney é um salafrário, o Lula é um populista corrupto, a Yeda é feia, maior que o nariz do Fogaça, só os dentes... que mais? O Maluf devia estar no Carandiru, o Garotinho devia voltar pra escola e parar de pregar por voto, a Dilma está precisando de plástica na alma... Enfim, é bom respeitar a lei. Dá uma sensação gostosa.
Texto, difusão e escolhas
O texto que vou citar aqui é de uma conferência de Edward Said e fala de uma realidade de intelectual de língua inglesa que mantém grandes distâncias das humanidades daqui. Mesmo assim, ele fala sobre escolha de linguagem e meios de comunicação atuais de forma que achei interessante e útil também no Brasil. Como já sabia, então, que tinha poucas chances de sobreviver ao câncer, que de fato o matou no ano seguinte, o texto tem um ar de engajamento ostensivo, mas, mesmo aqui, quando ele fala em "combate", quer dizer ação, mas não guerra nem sanguinolência. Sem essa nota, a citação trairia o citado. Para resumir um pouco o trecho, informo já que ele acabara de falar sobre as enormes diferenças da internet comparando-se mesmo os anos 1990 à época em que escrevia o texto, 2002.
Humanismo e Crítica Democrática. 2007. Trad. Rosaura Eichenberg
Isso torna muito difícil que os escritores aceitem como naturais algumas das suposições comuns entre eles e seus públicos, ou assumam que as referências e as alusões vão ser compreendidas imediatamente. Mas, escrever nesse espaço expandido tem estranhamente outra consequência inusitadamente arriscada, que é a facilidade de ser encorajado a dizer coisas que são ou completamente opacas, ou completamente transparentes, e, se temos algum senso da vocação intelectual e política (...), deve ser, é claro, adotar a última opção em vez da primeira. Mas então a prosa transparente, simples e clara apresenta os seus próprios desafios, porque o perigo sempre presente é o de poder cair na neutralidade desorientadoramente simples de um idioma inglês em sua versão mundial e jornalística, indistinguível da prosa da CNN ou do USA Today. (...) O importante a lembrar, não paro de dizer a mim mesmo, é que não há outra linguagem à mão, que a linguagem que eu uso deve ser a mesma usada pelo Departamento de Estado ou pelo presidente quando eles dizem que são a favor dos direitos humanos e a favor de travar uma guerra para "libertar" o Iraque, e eu devo usar essa mesma linguagem para recapturar o tema, reformá-lo e tornar a conectá-lo às realidades tremendamente complicadas que esses meus antagonistas imensamente privilegiados simplificaram, traíram e diminuíram ou dissolveram. A essa altura, deve ser óbvio que para um intelectual que não existe simplesmente com o intuito de promover o interesse de outra pessoa, deve haver oponentes que são considerados responsáveis pelo presente estado das coisas, antagonistas com quem se deve travar o combate direto.
Humanismo e Crítica Democrática. 2007. Trad. Rosaura Eichenberg
Futebol eloquente [3]
Eu não curto, não assisto, mal jogo e jogo mal futebol. No entanto, Deus e eu somos brasileiros (ambos de nascença, claro, porque nosso país é um caso típico de geração espontânea), e o Brasil é o país do futebol. Talvez por isso Ele tenha posto no meu caminho, quase todas as manhãs, críticas e noticiários futebolísticos, particularmente nos primeiros cinco minutos em que estou acordado, quando a disposição de fugir desses informativos ainda não é tanta. Imagino que sejam bastante comuns, antigos clichês, mas me chamou a atenção que estes aqui nunca falham. Toda manhã escuto pelo menos duas das seguintes ideias ou frases (demais para quem não quer saber de futebol):
"No campeonato tal, todos querem ganhar, e ninguém quer perder"
"O time X quer vencer a partida contra o time Y"
"A gente quer ganhar e vai fazer o melhor para isso"
Como nenhum outro esporte (nem futsal, diga-se de passagem) produz comentários tão idiotas?
"No campeonato tal, todos querem ganhar, e ninguém quer perder"
"O time X quer vencer a partida contra o time Y"
"A gente quer ganhar e vai fazer o melhor para isso"
Como nenhum outro esporte (nem futsal, diga-se de passagem) produz comentários tão idiotas?
terça-feira, 1 de setembro de 2009
Pastor também quer carinho
Ontem, a capa do caderno Arte & Agenda, com a enorme foto de um cara enorme (Alexandre Mota, ilustre conhecido, suponho), do jornal (impresso) da Record era que um "apresentador" da Record e um gaúcho que saiu de algum reality da Record estavam num palco da Record, para promover um novo programa da Record com novo apresentador da Record. O diretor-executivo da Record disse ao público da Record que este comprovava a aceitação e o sucesso da Record. Como mesmo isso não enche uma coluna que seja, preencheram a página com a paráfrase de todo o discurso-clichê/marketeiro da tal atração, chegando aos mínimos detalhes de repetir no jornal que o Fulano (do reality) "disse que estava com saudade do RS, 'desta gente bonita'..."
O jornal é deles? Pois bem. Hoje, CAPA do jornal: manchete sobre o pré-sal e... uma ENORME foto desse mesmo evento. Repetindo tudo! Notícia ainda maior no mesmo caderno. Não receberam nenhuma carta de fã? Ninguém comentou como a primeira matéria tinha sido genial, um exercício de jornalismo inigualável que jamais será esquecido, então precisaram reprisar? Espero que dessa vez alguém tenha comentado em algum lugar, para que os pastores vejam que já entendemos e para que o jornal de amanhã não repita mais uma vez que eles são o máximo, lindos e maravilhosos, que o ibope é deles, e com a Record a Globo não pode. Já pegamos a ideia. Porto Alegre pode não ser Paris em vida cultural, mas chega!
O jornal é deles? Pois bem. Hoje, CAPA do jornal: manchete sobre o pré-sal e... uma ENORME foto desse mesmo evento. Repetindo tudo! Notícia ainda maior no mesmo caderno. Não receberam nenhuma carta de fã? Ninguém comentou como a primeira matéria tinha sido genial, um exercício de jornalismo inigualável que jamais será esquecido, então precisaram reprisar? Espero que dessa vez alguém tenha comentado em algum lugar, para que os pastores vejam que já entendemos e para que o jornal de amanhã não repita mais uma vez que eles são o máximo, lindos e maravilhosos, que o ibope é deles, e com a Record a Globo não pode. Já pegamos a ideia. Porto Alegre pode não ser Paris em vida cultural, mas chega!
Estado laico e presidente leigo
O mané vem com o pré-sal ser "uma dádiva de Deus"?! É fazer os lados com a Igreja, já que teve de acompanhar a lei abusivamente católica com a abusivamente populista, que passa uma série de direitos e liberdades que já a católica não merecia a todas as outras religiões, abrindo inclusive grandes brechas para que qualquer chefe de culto (mesmo que seja o da Santa Manteiga da Dona Zulmira, do 43) meta a mão? E, onde há falta de critérios e isenção fiscal, há abuso e maracutaia. Estava mesmo na hora de se fundar uma religião fantasma. Finalmente uma em que tudo, até os fiéis, só existam do lado de lá.
Por outro lado, o presidente afirmou que o pré-sal traz "perigos e desafios", ou seja, tem mais a cara de dádiva de um Deus à Antigo Testamento que da sua versão cristã. Tal governo, tal discurso: a diretriz fundamental da "governabilidade" é agradar a torto e a direito (judeus e cristãos, católicos e evangélicos, macumbeiros e ateus, senadores e ministros, ladrões e sonegadores, americanos e venezuelanos...). A diretriz segunda, claro, é agir sem nem pensar em perguntar para algum dos governados, o tal "povo" que, conforme promete o Lula, será o que mais vai lucrar com o pré-sal. Hmhmmmm...
Por outro lado, o presidente afirmou que o pré-sal traz "perigos e desafios", ou seja, tem mais a cara de dádiva de um Deus à Antigo Testamento que da sua versão cristã. Tal governo, tal discurso: a diretriz fundamental da "governabilidade" é agradar a torto e a direito (judeus e cristãos, católicos e evangélicos, macumbeiros e ateus, senadores e ministros, ladrões e sonegadores, americanos e venezuelanos...). A diretriz segunda, claro, é agir sem nem pensar em perguntar para algum dos governados, o tal "povo" que, conforme promete o Lula, será o que mais vai lucrar com o pré-sal. Hmhmmmm...
Assinar:
Postagens (Atom)