Raramente fico sabendo de datas comemorativas antes de o dia efetivamente chegar. Acabei conseguindo treinar uma seletividade de olhar, pelo jeito, que me permite ignorar datas que nada me dizem (feriados), desde que menos comemorados do que o Carnaval, que é tão noticiado que até eu percebo quando ele vem aí. Essa seletividade se baseia em quádruplo desinteresse: desligamento total da TV, falta de inclinação consumista, falta de religião e parca experiência com empregos tradicionais (feriado não significa descanso, portanto).
Esse meu desligamento virou motivo de brincadeiras entre uma amiga minha e eu, sempre que ela presencia seus resultados. Estávamos conversando na noite de sábado, e ela disse: "porque amanhã é Dia dos Pais", a que eu reagi com uma surpresa pinçada por monotonia (reação que não seria muito diferente se se tratasse do Dia das Mães ou do Dia das Crianças, por exemplo). A data iminente inclusive explicava algumas coisas que estavam acontecendo na minha volta, mas as quais já em si não me interessavam muito, a ponto de eu nem estar realmente curioso para buscar explicações.
De qualquer forma, brincamos sobre certa imagem que compartilhamos a respeito de minha família e da minha relação com feriados em geral. Combinamos então que ela aproveitaria o fato de vir aqui perto (visitar seu pai) para passar na minha casa, em seguida. No domingo, marcado por uma chuva ininterrupta que vinha do dia anterior e iria ao seguinte, ela não apareceu. Imaginei que por causa da chuva. Mandei uma mensagem checando a teoria, e a moça me responde com a seguinte frase: "Meu pai esqueceu do dia dos pais rs". Não escolhi essa frase por tragicidade, e sim porque esse esquecimento poderia ser relativamente tranquilo se imaginado, mas ainda assim foi curioso receber tal mensagem no celular, efetivamente "presenciar" na realidade algo que teoricamente não parece nada surpreendente.
A frase, no mínimo, retomou antigas analogias que fizemos entre nossas famílias e, parece surpreendente, revelou a verdade de LM Lights: "Cada um na sua, mas com alguma coisa em comum".
Um comentário:
Conclusão possível: não tenha filhos. Não transmita a nenhuma criatura o legado freudiano de nossa miséria. haushuash
Postar um comentário