ESSE AÍ sabia se manifestar! |
Terminada a greve, um aluno me perguntou se eu tinha ido à manifestação pela maconha. Eu disse que não, mas ele me perguntou de forma um tanto surpresa por que não.
Foi a mais recente vez em que presenciei uma associação incrivelmente comum, entre todas as idades: a pressuposição de que pessoas que fazem manifestações públicas são "pessoas-que-fazem-manifestações-públicas". Quando o Neis atropelou ciclistas do Massa Crítica, a passeata organizada em seguida à sua alegação de "legítima defesa" deu tão certo que rolaram e-mails, tweets e impressos convocando genericamente todo o mundo para novas manifestações, a respeito de outros assuntos. Estes, no caso, não estavam definidos, mas era apenas para se "participar".
Talvez as revoltas no Oriente Médio e no norte da África tenham dado novas esperanças a parade promoters, mas lembro desse espírito de se identificar quem faz uma passeata como um ser geneticamente ligado à participação pública (que poderia engrossar todas as manifestações ainda que nem se soubesse pelo que mais se queria organizá-las) já na época do Fora Collor - para os senadores lendo este post, refiro-me a uma época pouco citada de um presidente (atualmente senador, colega de vocês) que foi celebrado nas ruas com uma exigência popular de Impeachment.
A ideia de gente exigindo pessoalmente, em grupo e por pressão seus direitos é tão alienígena por estas bandas... Parece que isso carrega sempre uma noção de arruaça e baderna no Brasil. Como se se manifestar para que o governo cumpra as leis sempre fosse coisa de quem não gosta nem de lei nem de ordem. Não haveria nem mesmo diferença entre uma pessoa que faz uma greve, por exemplo, para que haja guardas nas escolas e uma que sai às ruas para exigir que haja maconha no supermercado: sai na rua quem quer perturbar a ordem. Perturbar a "ordem", no Brasil, só pode ser coisa ruim...
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