Mais uma notícia que já está fixa em Porto Alegre há um tempo é "As emergências da capital estão lotadas". Não é que existam dias de chuva e frio, ameaças de epidemia ou problemas com os pagamentos de alguns profissionais. Todo dia é dia de arriscar esperar para sempre ou simplesmente ser convencido por atendentes a ir morrer em casa.
Como toda notícia que não é mais notícia, nenhuma ação é exigida do governo, ou de quem for, em resposta ao problema. Simplesmente estamos paralisados. E como essa paralisação está bem naturalizada, parece que não há crise. Parece que somos uma capital de estado que não é incapaz de manter seus cidadãos em estado mínimo de atendimento de saúde, mas somos. Não é preciso reclamar do SUS, ele é "só" o pior de um quadro muito maior, o clímax de uma tragédia sem desenlace.
Falando em tragédia naturalizada, então, a última de saúde que reencontrei num jornal me lembrou outra questão que acho especialmente interessante: sempre se fala que o século XX não viu um dia de paz na Terra, e o XXI vai puxando ao pai; pois bem, há quanto tempo o Brasil não vê um dia sem paralisação ou greve de professores? Estamos num momento particular, em que parece que uma série de estados e cidades viveram (e vivem) greves simultâneas, de diferentes níveis - tivemos até a professora Amanda Gurgel visitando o Faustão (o que não levou a nada, no âmbito nacional) -, no entanto, se recuarmos da recente crise, não sei se seria fácil descobrir quando todos os educadores ainda fingiam em uníssono poder levar a máquina com a barriga. A situação é mais preocupante se se considerar que a enorme maioria dos professores costuma ser contra greves, por reconhecerem seu baixo valor de custo-benefício. Mas, encurralado, o gato ataca o leão. E perde.
Nenhuma das paralisações (hospitais lotados, escolas em greve) é notícia, pelo menos não no sentido verdadeiro, de constantes retomadas e discussões em todas as mídias, como os andamentos da novela ou os sentimentos e cortes de cabelo dos jogadores de futebol. Nunca sabemos realmente os resultados das greves de professores ou dos dias de lotação hospitalar. Uma que outra morte, uma que outra mini-conquista ou desistência, tudo como um detalhe. A reação da população é violenta quando hospitais fazem greve, o governo (qualquer governo) vocifera que oferecerão os serviços mínimos (conceito bizarro na saúde) à população. E quando termina a greve? Tudo bem os doentes estarem estrebuchando pelas janelas, desde que as portas estejam abertas? Tudo bem as escolas pararem, desde que a falta de chamadas não influencie o Bolsa Família?
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