quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Ajuda Política aos Pobres ou Afunilando no ENEM

Lourival, óculos e uma tirinha verde-amarela. Você não confia neste patriota?
Agora a lei vai ser (ou está a ponto de ser) que todas as faculdades federais e estaduais tenham a mesma data para fazer seu vestibular. E isso está sendo feito "para ajudar os pobres"!!!!!

Ahã. Mas, vamos pelo menos ler o argumento do deputado Lourival Mendes, do PTdoB do Maranhão (que trouxe para você, entre outras, a proposta do Maranhão do Sul). Conforme o sujeito, as universidades terem várias datas permite que pessoas com maior renda façam vários vestibulares, tirando as chances dos alunos de menor renda.

Hmmm... Pessoas ricas também conseguem estar em vários lugares ao mesmo tempo? Pelo que me consta, a menos que a pessoa vá MUITO mal numa prova, se quem ganhou dele não pega a vaga, há segunda, terceira ou sabe-se lá quantas chamadas para que o pessoal que ficou abaixo pegue aquelas vagas. Mesmo supondo, portanto, que os mais ricos sempre vão melhor que os mais pobres, como parece indicar Lourival, o fato de que eles não podem ingressar em todas as faculdades do país parece tirar uma base importante de seu argumento: eles fazem vários vestibulares, mas têm o poder mesmo de "tirar a vaga" (visão que xinga o mérito de quem passa) de uma pessoa.

Quer dizer, se o pobre ia competir numa universidade que chama muita gente, o rico que ia "passear pelo país fazendo provas" (convenhamos, não são muitos os que podem e tentam vestibulares em tantas faculdades DISTANTES o suficiente para que outros competidores, mesmo pobres, não possam fazer o mesmo deslocamento, se assim o decidirem) pode até não competir em muitas outras, mas vai se concentrar ainda mais naquela competida, ou atirar apenas naquela em que acha que ia passar - como já seria o caso se tivesse tentado em muitas. Quem faz muitos vestibulares (talvez com raríssimas exceções) concentra-se mesmo numa prova ou duas. Não tem paciência, disciplina e constituição para fazer bem todas elas. Novamente: se for bom aluno, suficiente para passar em várias, seguirá "tirando a vaga" daquela faculdade importante em que, agora, coloca todos os seus esforços e energia.

Mas, vamos um pouco além: alunos mais ricos fazem vestibulares em faculdades particulares, e os mais pobres, em geral, não. Então o pessoal com grana ainda pode tentar atirar para mais lados que os mais pobres, certo? E as faculdades particulares seguem podendo adiantar a data de suas provas, cobrando a primeira parcela dos que passam antes que estes descubram se passaram ou não nas públicas. Assim, todo o mundo sai perdendo mais um pouco, quem tem mais grana continua podendo ser explorado por essa sacanagem, enquanto os mais pobres, dependendo das públicas, poderão tentar um vestibular só e deu! Não passou onde escolheu fazer a prova? Bye, bye, tapinha nas costas... 

Então o efeito que o deputado diz querer causar com a lei é de fato pouco provável, não vai ajudar pobre algum. No entanto, que efeito dessa lei é previsível? O que sobra ao estudante além de tentar UM Vestibular? Depender do ENEM, claro: a única outra probabilidade para quem não pode pagar outro vestiba! Ah, quer dizer então que a proposta de Lourival Mendes afunila todo o mundo no ENEM, em especial o pessoal mais pobre. Que legal! Todos vão agradecer pela ajuda, com certeza. Com amigos como o deputado...

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