Como a maracutaia é solta, político brasileiro nem tenta aprender a mentir. O senador Álvaro Dias (PSDB-PR) - só para dar um exemplo - diz que a nova lei para que pessoas sem pós possam dar aula nas faculdades vem de uma necessidade do mercado, que não encontra profissionais titulados para lecionar.
Em primeiro lugar, o "mercado" precisa de gente qualificada, e não há locus mais importante do que os cargos efetivos. Essa lei, no entanto, está focada no contrato de professores temporários, ou seja, os cargos para os quais NÃO HÁ LEGISLAÇÃO ESPECÍFICA, e rebaixa a qualificação exigida. Market my ass! Esses cargos formam um campo em que as instituições públicas fazem mais ou o menos o que quiserem e em que as privadas fazem absolutamente o querem. Desculpem-me, mas isso me soa pior ainda porque, pela maioria dos casos que conheci, professor substituto é um tapa-buraco atualmente, muitas vezes levando cursos nas costas, os quais mantêm seu "valor" por nomes grandes de gente que não dá as aulas que deveria. É uma forma que políticos e grupos privados encontraram de "cortar gastos" na educação cotidianamente. Sabem como é, porque educação dá muito gasto para eles, enquanto a criação ou manutenção de faculquetas dá voto para os primeiros e isenção de impostos para os segundos.
A galera responsável por contratação em suas respectivas áreas comprova o que pós-graduados em geral parecem saber por observação: há muita gente com pós no mercado. Muita. O que falta é um número significativo de lugares atraentes para se trabalhar. As faculdades competidas são MUITO competidas. Até as menos interessantes conseguem atrair gente suficiente para que Doutorado seja merreca no currículo. No entanto, o salário e o plano de certas particulares, bem como o ambiente de certas cidades ou estados, podem fazer com que os profissionais não se interessem por determinadas faculdades ou por determinadas regiões. Seus problemas acabaram: a politicagem rebaixa a exigência e faz com que se possa contratar gente que, legalmente, não vai receber tanto e que pode aceitar, por estar no início na carreira, mais merda do que pessoal com pós (não estou dizendo que gente com pós atualmente exija muito, o que justamente indica quantos destes estão se estapeando por vaga).
Na verdade, há bastante gente com pós que vai mal no quesito "experiência". Exatamente porque os certificados mais altos são tão necessários para se competir, o pessoal vem entrando verde no Mestrado, sem nenhuma experiência de mercado em muitas áreas. Agora, pelo menos esse pessoal teve mais tempo para desenvolver seus conhecimentos, seu espírito crítico, sua habilidade na área e na vida em geral. Não é que todo o mundo aprenda muito no pós, mas há sim gente que cresce com a experiência. Agora, competente ou não, a enorme maioria deixa mais a desejar antes do que depois do Mestrado; que dirá do Doutorado. Além disso, a importância do pós gera atalhos pouco éticos em alguns lugares, como sempre, mas também provoca que os cursos mais sérios tentem aprimorar suas pós-graduações. A diminuição de sua busca, porque "não precisa tanto", pode também afetar indiretamente o direcionamento desse tipo de preocupação qualitativa.
Só para aterrorizar, vou lembrar que tem gente entrando na faculdade analfabeto, ok? Não é a maioria, desde que ignoremos o analfabetismo funcional. Os políticos ignoram-no; o "mercado" pode fazê-lo também?
Qual a tática, então? Pegar o cargo menos organizado por lei e diminuir as exigências de formação para esse mesmo cargo, deixando o desespero da falta de emprego e as incompetentes faculdades particulares (exceções de qualidade representam quantos porcento delas?) se combinarem numa equação ridícula, com a desculpa de que é a falta de profissionais em algumas áreas, em algumas regiões, que motivou a lei! Ora, que a legislação desses locais lide com as exceções, que a Constituição cobre das faculdades privadas sua competência ou seu fechamento! Agora que conseguiram que Educação Infantil precise de formação adequada e comprovada, vão arregar no Ensino Superior, que estava mais organizado, ao menos na lei.
É uma pena que a natureza não aprenda com nossas falcatruas. Como a vida seria mais simples se, na falta de solo fértil, Senadora Natureza mandasse as plantas exigir menos nutrientes, ou depender menos de luxos como água para gerar frutos...
A educação brasileira vai mal em todo o seu espectro. Como um político ainda acha que rebaixar a exigência na formação de profissionais (basicamente a área em que todas as empresas querem que o país se reforce, há décadas) pode ser justificado pelas áreas e pelas faculdades que estão piores num quadro que já é alarmante? Ah... sendo um político brasileiro, claro.
Um comentário:
é uma vergonha mesmo. E como susbtitutos, não somos respeitados pelos efetivos, servimos apenas, como vc citou, como tapa buracos.
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