Two girlfriends about to strike. Two boyfriends about to watch. |
Tornou-se quase um clichê a frase, pronunciada por uma mulher em direção a algum namorado ou semelhante, "Vai deixar ele/ela me tratar desse jeito/dizer essas coisas sobre mim?!" Muito mais comum que tal clichê é a mulher simplesmente ficar quieta, mas pensar algo muito próximo da mesma frase, não necessariamente em plena expressão linguística, magoando-se com a falta do comportamento masculino "adequado", "defendendo sua honra". Igualmente recorrente é que se atribua tal expectativa de tantas mulheres a resquícios da cultura cavalheiresca, ou seja, de uma imagem mais que ultrapassada de homem e que sempre, mesmo quando foi inventada, nos estertores da Idade Média, nunca condisse com a realidade. Acha-se no comportamento feminino, portanto, uma marca da cultura machista "entranhada na nossa sociedade".
No entanto, se pensarmos na situação inversa, em que um namorado ou marido é insultado na frente de sua parceira, é muito comum que a mulher salte com unhas e dentes para atacar a fonte do insulto ou pelo menos sinta o fortíssimo impulso de fazê-lo, a ponto de mal esconder, se necessário, esse impulso. Se a situação é suficientemente inadequada para tal reação, é muito provável que a mulher sinta tamanha indignação que a pessoa que insultou seu companheiro fique marcada para toda a vida, estigmatizada com a potência antiga do termo.
Comparando-se as duas situações, não é difícil imaginar que, em vez de um comportamento machista das mulheres, a expectativa de que um namorado ou marido defenda a honra de sua companheira pode bem ser uma simples projeção, em que as mulheres esperam que homens se comportem como mulheres naquele determinado contexto. Como não há uma cultura sobre a ética das mulheres nesse sentido, a menos que extrapolemos a expectativa do senso comum a respeito da defesa da cria (acho que um tanto restrita à classe média, hoje em dia, entendida no lato sensu), e a ética dos romances de cavalaria é ainda muito presente, apesar de seu rápido enfraquecimento, a racionalização da expectativa feminina apela para o ideal desses cavaleiros, não para os sentimentos da própria mulher como uma projeção baseada em seu próprio comportamento. A expectativa em relação aos homens é compreendida com base em clichês a respeito do homem, quer ele cumpra o clichê ou não, e a mulher que sente essa expectativa é esquecida pela racionalização.
Ou seja, se essa hipótese estiver correta, não é a mulher que exige defesa masculina quem demonstra um comportamento machista, ela está apenas fazendo uma projeção egocêntrica, digamos. É, de fato, quem a julga machista que o está sendo, ao imaginar que a mulher se baseia nos resquícios de um ideal pratriarcal e não em seu próprio egocentrismo.
É claro que essa hipótese de inversão de machismos se aplica, assim explicitada, apenas à situação que expusemos: não se deve aplicar lógicas semelhantes para se justificar de consciência limpa, por exemplo, que o homem pague a conta... Obrigado.
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