Sei que meu título repete algo que já foi atestado muitas vezes, mas preciso expressar minha última experiência comprovando o poder desse cara.
Por uma série de motivos, o texto ideal para trabalhar minha matéria com duas turmas finais de Ensino Fundamental me parecia ser o discurso de Marco Antônio na cerimônia fúnebre em homenagem a César, texto da peça Júlio César, de Shakespeare. Isso para turmas que não trabalharam teatro com ninguém, não estavam nem conversando sobre literatura comigo, que dirá sobre Shakespeare. Só que era O texto! Eu sabia que maioria deles não sabia nem quem eram Shakespeare e Júlio César (fato que comprovei hoje), mas era O texto. Bom, o jeito era apresentar todo o quadro e torcer para que estivessem abertos.
Quando terminei de apresentar os personagens relevantes para a cena (César, Marco Antônio e Brutus) e de relatar o lendário assassinato do imperador dentro do senado romano, a galera já estava bem disposta a prestar atenção no texto. Mas, sempre tem aquele zunzunzum, especialmente na última das duas turmas, que esteve particularmente agitada hoje. Pois bem, conseguindo que a maioria prestasse atenção (em minha tradução, livre e em prosa! - mas mantendo a cadência do texto, dentro do que consegui), comecei a ler, e a força do texto me deixou mesmo impressionado. Nunca tinha lido isso para gente tão nova (13-16 anos), então achei impressionante como o ritmo e o tom foram tomando conta da sala, um silêncio atento tomou conta da turma. Parecia que nem havia mais barulho fora da sala (nas duas vezes em que li o texto!). Não sou nenhum ator, mas notei que o ritmo do texto e o crescente silêncio fizeram com que minha voz fosse lentamente se levantando e se tornando mais dramática, sem que eu fizesse força para isso ou tentasse afetar emoção.
A leitura do texto foi como uma pequena viagem intimista com a turma e teve um efeito muito inesperado. Aliás, não só eles entenderam o texto, como pegaram imediatamente o implícito, a ironia com que Marco Antônio tenta insurgir o povo contra Brutus e os demais senadores. Alguns inclusive tinham pegado nojo do Brutus, que era um "cara nada a ver".
Uau! Shakespeare definitivamente é o cara!
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