É interessante quando os jornalistas (a que me incomodou hoje foi da Folha, mas eles não têm monopólio sobre esse estilo) consideram que dizer que determinadas mudanças são naturais basta em si mesmo. Por exemplo, sua matéria fala que a queda de contemplação do ProUni neste ano foi resultado de uma oscilação "natural". E? E ponto. Por que essa oscilação é natural? Acaso alguém estabeleceu que uma coisa "natural" não tem motivo para acontecer? Parece haver algo nessa palavra que faz com que, mesmo que se pense em um objeto de construção humana, as pessoas imaginem que remeter à natureza é remeter à não-razão. Como se não encontrássemos causas lógicas para o comportamento até mesmo do que é de fato da "natureza".
A notícia indica indiretamente a questão de que muitas bolsas oferecidas não são dos interesses daqueles que podem se candidatar, mas isso não necessariamente é uma fonte de grande variação, nem é a única com certeza. A questão de que nem todo mundo que quer consegue atingir o mínimo para garantir uma bolsa, devido ao nosso famosíssimo baixo nível educacional, não entra em questão, por exemplo.
A notícia indica indiretamente a questão de que muitas bolsas oferecidas não são dos interesses daqueles que podem se candidatar, mas isso não necessariamente é uma fonte de grande variação, nem é a única com certeza. A questão de que nem todo mundo que quer consegue atingir o mínimo para garantir uma bolsa, devido ao nosso famosíssimo baixo nível educacional, não entra em questão, por exemplo.
É de praxe do jornalismo manter certos costumes a cada notícia, como sempre indicar no início da matéria o que determinadas siglas significam (é verdade que, com o jornalismo de internet, siglas como STJ ou coisas assim parecem meio naturalizadas, pelo menos na cabeça deles). Até a Caras lembra, a cada "matéria", a idade da pessoa fofocada, caso o leitor tenha esquecido de uma revista para a outra. Pois um cacoete que podiam manter era lembrar de noticiar o porquê dos fatos. Seria interessante se a noção de jornalismo não fosse "relatar acontecimentos como uma linha do tempo em construção", mas "explicar, dentro de um limite funcional, fatos do cotidiano"
O problema é que, assim, a coisa ia parecer muito pior, claro. Porque uma série de notícias seriam conectadas, e ia ficar muito ruim para a política, por exemplo, que se conectasse briga por cargos, pressão por salário mínimo, inflação, custos públicos, congelamento de concursos. Imaginem que páginas manchadas as que noticiassem a realidade do país ou do mundo de forma complexa que pelo menos lembrasse a realidade do dia-a-dia, não a pureza simplificada de cada fato numa notícia-gaveta mágica, uma gaveta que nem tem 3 dimensões, por lhe faltar a profundidade.
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