"The cure for the working man" não passou como slogan vendável, então Will viu que era melhor não escalar nenhum barbudo e estrelar o filme ele mesmo. |
Marx teve grandes efeitos na História, mas o eco mais cotidianamente sentido não se compara a revoluções, mudanças de discursos e paradigmas nem nada do tipo. É apenas a criação do marxista de universidade. Ou seja, aquela pessoa que se torna marxista muito mais por ambiente que por teoria e que, mesmo que saia da universidade um dia, não perde o ranço nem ganha profundidade teórica. Esse tipo de marxismo se organiza muito semelhantemente ao cristianismo cotidiano, ou seja, há uma figura central, Cristo, digamos, que se destacou da média dos mortais pelos motivos que sejam. Esses atos geraram seguidores e continuadores. Alguns destes ficaram tão conhecidos e foram tão relevantes que pareciam a continuação perfeita da teoria do pai fundador. A autoridade sacra do primeiro passou então a infectar os continuadores. Na equação final, o autor mais moderno entra com a atualização da teoria, e o pai fundador entra com o status de verdade para a mesma atualização. Hobsbawn, assim, seria São Paulo.
Acontece que o marxista de universidade, como o cristão cotidiano, não se aprofunda necessariamente em ler textos nem em conhecer teoria. Apenas segue o espírito da coisa, ou o que imagina sê-lo, por ambiente, como dito. O sujeito exposto tempo demais a esse ambiente não se recupera quando sai dele. Pelo contrário, sem o convívio cotidiano com os pares (digamos que o cara tenha inventado de trabalhar), sua imaginação e sua memória tornam-se as únicas referências teóricas à disposição, e a Verdade dita "por Marx" apenas se dilata, dominando o mundo.
Num belo dia, a pobre pessoa é capaz de dizer que a separação amorosa é inescapável, porque o desgaste é inexorável, como demonstra o marxismo (n.b.: a pessoa indica isso com base "na teoria"; não é o desgaste do marxismo que está sendo considerado, pois isso, obviamente, a pessoa acha que nunca aconteceu)! Contemplam? O sujeito não sofre a separação, não é algo que acontece com ele. Muito menos, tem alguma responsabilidade no ocorrido. Não! A separação apenas é. E ela é porque se trata de uma Verdade estabelecida, por Marx! O ex-casal não deve sofrer. Não deve resistir nem se questionar. Não deve fazer diferente nem pensar a respeito. A dialética materialista levou o relacionamento embora, como uma camada do pneu que simplesmente ficou na pista. Adeus, romance; adeus responsabilidade pessoal... "Marx" disse, está dito!
2 comentários:
Pobre Marx, mais revolvido que Freud, que talvez teria algo a dizer, mesmo.
Tanto sobre a separação quanto sobre a idolatria a Marx. rs
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