sábado, 27 de novembro de 2010

Cultura do estímulo

Estou há uns dias para reescrever o post de quarta sobre as pessoas reagirem só à forma, não ao conteúdo das palavras, inverso do que geralmente se diz. Agora tive um tempinho, então vai.

Resumiria a ideia da seguinte forma: no mítico "antes", as pessoas reagiam à forma, mas também liam o conteúdo. Geralmente paravam por aí, sem chegar a se deter em sutilezas formais, com exceção dos mais sensíveis, mais atentos ou mais especializados.

Atualmente as pessoas não vão além do que é sensível numa comunicação, não passam da pura reação à forma superficial de qualquer uso de linguagem. No momento em que o estímulo sensível da linguagem foi computado, vai-se além, para outra coisa ou para a própria expressão de sua reação, sem que quase ninguém se atenha para ler efetivamente com atenção, para pensar a respeito do que a pessoa que escreveu ou falou podia estar realmente tentanto comunicar. A linguagem, mesmo num texto, interessa como puro estímulo sensível e ponto. Fiz este blog por valorizar a retórica, coisa que me parece muito esquecida, mas sorrateiramente ela reina suprema, e aquele post era apenas a conclusão lógica de que seu domínio hoje em dia é ainda maior (e agora assustador) do que eu supunha de início.

Isso pode vir de costume, cultura ou sei lá, mas merece ser chamado de analfabetismo funcional, porque ainda é uma variação de recitar a letrinha sem entender a frase. Pior: o simples fato de a maioria das pessoas lerem assim faz com que quem escreve ou fala esteja sempre tentado falar ou escrever no mesmo sentido, ou seja, priorizando frases de efeito e termos-chave em vez de raciocínios e problematizações. O domínio da interpretação superficial converte a cada dia gente para se tornar em produtores de superficialidade.

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