Seguindo o que um aluno me respondeu, eu escrevi no quadro "tira o dela da reta", resumindo assim o que dizia um parágrafo sobre a Dilma. Aquela era uma boa média do que a turma queria dizer, mas outro aluno imediatamente chamou minha atenção e insistiu que isso não poderia ser escrito assim. Eu disse que tinha perguntado como eles interpretavam aquele parágrafo e que registrei exatamente isso, ou seja, o que tinham respondido, mas ele insistiu que eu não podia escrever assim naquele caso, que se usa outras palavras, que é preciso usar termos mais raros, mais difíceis, que não lhe ocorriam naquela hora, mas que os termos que eu escrevi eram inadequados. Levamos um tempo até a frase virar "Dilma se esquiva de críticas e revida com acusações".
Bom, essa diferença de registro é muitas vezes estudada não como uma noção do aluno acerca da adequação da linguagem, mas sim como auto-desvalorização da fala do aluno. Quando lemos sobre o ensino do português, geralmente as tentativas do aluno de se adequar ao que ele entende por formal são usadas como marcas de preconceito linguístico que caracterizariam a escola, sempre. Por outro lado, insiste-se ad nauseam que o professor apresente ao aluno conceitos como adequação e norma culta, não necessariamente com esses nomes, mas nitidamente como conceitos alheios ao estudante, que precisam ser trazidos ex nihilo pelo professor. Ignora-se que as pateteadas dos alunos buscando a linguagem formal não são meras causalidades de um pobre coitado que engole o português escolar à força, mas os esforços de alguém que já observa há alguns anos que as pessoas falam diferentemente em situações diversas, e que isso também ocorre na escrita. A variação da grafia de pichação no canto da folha para a letra ensinada na escola, usada para escrever o texto que foi pedido, indica exatamente isso. Se o professor não tenta fazer terapia no aluno quando este busca uma escrita mais "escolar", o conceito de adequação não exige séculos de práticas pedagógicas "inovadoras", uso de tecnologias nem super-atividades fora da escola (não criticando saídas da sala de aula) para ser "ensinado", só dois dedos de prosa na hora certa. Ele está ali caindo de maduro na prática.
A terapia é sim necessária, mas em alguns casos de baixa auto-estima bem mais complicada que "as pessoas dizem que eu falo errado". Afinal, todo mundo acredita que dá mais bola para como fala do que realmente dá. Quem não valoriza o próprio uso da língua não está (simplesmente) traumatizado pela escola. O problema é mais embaixo. Ao mesmo tempo, não é que o sujeito tenha se tornado um tapado e não consiga, numa conversa, entender aquilo de que necessariamente já tem a intuição: as pessoas escrevem e falam de forma diferente em contextos diferentes: dã! Trazer a adequação como novidade é justamente desrespeitar a inteligência do aluno para "respeitar" a "classe social" do mesmo, generalizando a terapia profunda de que poucos realmente necessitam.
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