Eu colocaria o título deste post num conto cômico à Stanislaw Ponte Preta, mas, como deixo muito a desejar em comparação com ele, fica o título neste texto normal sobre o estranho ocorrido de agora há pouco.
Hoje eu finalmente conheci um futuro escritor. Digo, um completo amador que convincentemente quer escrever e pode fazer algo que preste; mais, ele parece ter domínio suficiente para fazer algo que não preste, se necessário. Note-se: ele tem tanta noção e tanto potencial para efetivamente entrar na vida de escritor, que nem quer fazer algo que preste logo de início, já que precisa de algum dinheiro, mas ele sabe a diferença entre um romance e uma narrativa descartável como ninguém sem formação específica que eu tenha conhecido até o momento. No caso, ele é formado em Contábeis. Mas um dia uma vontade que vinha tomando espaço em sua mente finalmente aflorou com força na consciência: queria ser escritor. Então, ele fez um dos raciocínios mais raros que existem fora do estudo acadêmico da literatura: "Como posso ser um bom escritor se não sou um grande leitor?" E ele começou a... estudar! Ler romances de todos os tipos, com critérios (uau!), conversar com livreiros, vendedores e derivados, enfim, ler e aprender. O sujeito me citou autores, comentou estruturas (!!!), discutiu mercado... Um autodidata no sentido ideal da palavra. Impressionante!
Todo esse encontro muito divertido se deu por pura sorte. Eu aceitei uma troca de horários pela qual estava me arrependendo hoje de manhã mesmo e, por isso, estava numa rua a quilômetros de onde eu "deveria" estar, pegando um ônibus desagradável num horário em que com certeza estaria almoçando em casa, tivesse a semana andado como eu tinha planejado. Mais sorte ainda, resolvi não passar na roleta, o que muito dificilmente não faço, e aquele ônibus em particular tinha o assento logo do lado do cobrador posicionado de costas para a frente do ônibus, o que não é nada comum nos ônibus daqui. Como esse assento era alto, o título do livro que eu lia ficou bem à vista para o cobrador, que puxou conversa comigo. Eu tinha ficado intrigado pelo enorme romance que ele tinha colocado em cima do "caixa" dos cobradores, especialmente porque nossos profissionais de transporte público costumam estar acompanhados por um Diário Gaúcho ou, mais raramente, por um livro bem fino.Mesmo assim, logo que respondi sua pergunta, com disposição, segui lendo meu livro. Ele puxou mais conversa. Como, se a pessoa fala coisa com coisa, eu gosto de conversar, e ele estava querendo saber mais sobre uma questão um tanto teórica, acabei me animando a responder direito, e daí chegamos ao ponto em que ele falou sobre o livro que tinha organizado e estruturado, e que pretendia começar a escrever quando tirasse as férias em agosto.
No fim das contas, essa volta minha totalmente contra-mão e fora de hora me valeu uma ótima conversa, mas serviu também a ele, que, graças à bizarra coincidência de eu pegar aquele ônibus e sentar ali, pôde me fazer umas perguntas que ele guardava justamente para alguém da Letras. Espero que as respostas tenham sido realmente úteis e que encontre o livro que lhe indiquei.
Anotei o título que ele tem em mente para o romance, mas não vou escrever aqui porque o nome cumpre tantos critérios para se eleger um título que acho sacanagem entregar assim, num blog aberto qualquer. Só fica aqui o nome do autor, Sérgio Viana (ou Vianna), para lembrar depois e procurar quando, espero, o livro saia.
Um comentário:
Ah, que bueno! Finalmente uma viagem de ônibus que te rendeu mais que leitura!
E quem sabe contribuiu para alguma coisa diferente na literatura!
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