- Oh, meu amor, vocè... é tão diferente dos garotos da escola! |
Eu nunca me atentei muito à literatura vampiresca recente, então talvez eu esteja dizendo aqui algo batido demais, mas, enfim, me ocorreu agora e há séculos procrastino outros posts. Então este vem como está.
Para fazer uma redação nos moldes em que pedi, uma aluna resolveu praticamente escrever sua versão dos atuais dramas adolescentes com vampiros. Ao que me parece, pelo menos, ela não estava copiando nenhuma das séries famosas, mas percorria, claro, todos os clichês adequados. Pois bem, lendo sua história (que se desenvolveu muitas páginas além da narrativa dos colegas, como seria de se esperar em tal empreitada), pareceu-me vislumbrar um motivo curioso a mais para que essas séries tenham feito sucesso.
Não é só que o herói e a heroína são "diferentes" e "incompreendidos", nem só o revival do amor platônico (muito útil para a porcentagem de leitores virgens), nem que sua "nobre" luta por ideais pacifistas possa estourar em manifestações de força absurda, que indicam que sua "diferença" é tanto uma força (ironicamente um valor, então) quanto a chave de uma postura ética (ou seja, que eles são muito, mas muito melhores do que os babacas da escola). Os enredos vampirescos invariavelmente caem em melodramáticas cenas de dúvidas e erros, em que os "demônios internos" (não consigo me referir a quase nada psicológico desses personagens sem colocar aspas, desculpem-me) e as confusões adolescentes fazem com que troquem os pés pelas mãos em proporções épicas. Personagens mais velhos (o vampiro mais experiente, o adulto...) tentam ajudar as heroínas (é algo particular com elas, creio), mas isso não as impede de errar por rebeldia mal direcionada.
Esse traço francamente me parece indicar que um elemento importante do sucesso desses esquemas narrativos é que o leitor-adolescente saiba ou suspeite de alguma forma que está errado em grande parte de suas próprias reclamações. Parte da masturbação mental dessas séries recentes de vampiros (suponho que as de anjos vão por aí também) é ver a adolescente perdida ser revoltada sem causa e, em especial, ingrata - para ser, é claro, relativamente redimida, mas não demais porque tira a graça de ser "culpada", ou seja, "especial". Quanto será que demora para a projeção na literatura provocar consciência na vida real?
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