quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Foda-se o mundo, EU tenho cargo público

Imperador Joseph II, seguindo o que lhe assopraram
"Your work is ingenious. It's quality work. And there are simply too many notes, that's all. Just cut a few and it will be perfect."
Mozart, após uma expressão de surpresa e insulto: 
"Which few did you have in mind, Majesty?
Amadeus - 1984

Num desses momentos em que o capitalismo invade a lógica didática, eu criei uma aula mais crítica e ideológica para a semana em que teria menos alunos. Quanto menos gente, maior a porcentagem de alunos interessados presentes, ou seja, melhor a oportunidade para funcionar aquela aula que exige mais do cérebro e é menos voltada para a matéria gramatical como técnica pura e descontextualizada, útil apenas para provas e medições quantitavas do ensino (única coisa que interessa aos alunos menos preocupados em aprender).  Eu sei que o ideal era tentar resgatar estes para a ideologia dos outros, mas não estava sonhando tão alto nesta semana. Queria pelo menos levar quem viesse a um nível mais alto de discussão, torcendo para isso me indicar o caminho de como resolver quem não viesse.

Menos gente viria por uma série de problemas contextuais. Todos eles começavam na realização de uma prova (que promoveria o quórum máximo da semana). As provas do programa em que trabalho são realizadas em datas que me são impostas, raramente avisadas com mais de 24h de antecedência, preenchidas por questões elaboradas por pessoas no Diabo-a-quatro. Como isso me levaria a ter menos alunos no resto da semana, eu preparei uma aula que exigia maior capacidade crítica e envolvimento na sala de aula, deixando a matéria bruta e voltada às avaliações nacionais para a semana seguinte, em que mesmo os menos interessados teriam maior probabilidade de aparecer.

Hoje seria a prova. E hoje fiquei sabendo que não a aplicaremos hoje, nem há previsão de quando ela ocorrerá. 

A diferença relevante entre essa situação e a que citei como epígrafe deste post é que, no caso do filme, o Estado que manda e desmanda num trabalho criativo do qual não entende merda nenhuma tem razão em se portar como se tivesse o rei na barriga. Quando estamos na provinciana metrópole de Porto Alegre, o abuso por descaso é simplesmente uma desconexão injustificada e bufa com a realidade. Bufa, ainda que faça na verdade a mim e a meus colegas de bufões.

2 comentários:

Carla M. disse...

Esses tem cargo público e acham que exercem autoridade... ops, exercem, só não são responsáveis!

Tigre disse...

rs. Pois é. O exercício está garantido no cargo. A responsabilidade já vem de onde?

Quem não sabe tão bem quanto a Carla de que eu estou falando neste post, por favor, leia o seguinte, logo acima, o http://retoricosincero.blogspot.com/2010/08/bizarrias-do-espaco-tempo-ou.html

Gracias.