Eu já critiquei o bafafá que tentaram armar em cima da recente história do Felipe Massa deixando o parceiro de equipe ultrapassá-lo, mas a capa da Isto É desta semana merece uma pisada em cima toda especial. Eles colocaram uma foto do Felipe cabisbaixo, um fundo preto "crítico" e um TEXTO dando a prévia: "Ao deixar de ser competitivo, o piloto de Fórmula 1 Felipe Massa abala a autoestima nacional e decepciona milhões de fãs, chocados com a ideia de que a gana pela disputa pode ser derrotada por um contrato milionário".
Milhões de fãs? Autoestima nacional? De que esporte estão falando? De que autoestima? Talvez o centro do país ou a cidade do jornalista que fez a matéria esteja em polvorosa, mas eu não vi UM comentário sobre essa história em lugar nenhum além da imprensa. A Fórmula 1 nunca mais representou o que conseguia na época do Senna, e mesmo então a força simbólica do esporte para o país seria discutível. Mas agora, quando Felipe faz algo que Barrichello (que pretenderam vender, no começo, como a promessa brasileira na Fórmula 1 pós-Ayrton) já fez, há oito anos!
Fãs decepcionados? Com certeza. Mas daí a dizer que nossa autoimagem, nosso valor do brasileiro e nossa crença na competição estão abaladas é demais, ainda mais quando os brasileiros que se importam (muito mais numerosos) sofreram com a perda da Copa neste ano (mais significativo mesmo sem a "dor da tramoia")! É verdade que às vezes a imprensa consegue criar um escândalo aparentemente do nada, mas isso não quer dizer que qualquer coisa que escrevam seja capaz de produzir um fenômeno sociológico do tamanho do Brasil. É, como disse, aparente o "do nada". A "crise" de Massa é tratada na revista como uma tragédia pedagógica. E agora, as criancinhas vão aprender que valores? Ora, mesmo para o público efetivo da Fórmula 1, o caso está longe de ser pedagogicamente nefasto. Observe-se este trecho da matéria:
"Depois de três casos de armação de resultados envolvendo brasileiros, não é mais possível enxergar a F-1 como um esporte que promove o orgulho nacional. 'Por trás de um herói tem de haver uma trajetória de glórias que são divididas com a comunidade de onde ele veio', diz Ronaldo George Helal, doutor em sociologia pela New York University."
Não, não é mais possível ver a F-1 como esporte do orgulho nacional, mas que relação tem isso com o ocorrido? Quantos brasileiros estavam assistindo à corrida para torcer por ele? E o doutor de NY podia considerar que é importante ensinar que ninguém é perfeito, que heróis também erram e que, portanto, o público (que, vejam só, erra) pode por sua vez mirar mais alto e buscar ser ele próprio "heroico", superando os próprios erros. A Bíblia aliás usou o mesmo esquema pedagógico com ótimos resultados. Mas não: autocondescendência e desculpa para se seguir sendo anti-ético (o que, depreende-se, é o que temem que o ocorrido ensine ao "futuro do Brasil") são condições sine qua non de baboseira choramingante.
Como viver sem o exemplo ético da Fórmula 1? Bem, exatamente como sempre vivemos, não?
Nenhum comentário:
Postar um comentário