Como, proporcionalmente, os cargos públicos ocupados via eleições são extremamente restritos, um partido que ocupasse o máximo da máquina do Estado, particularmente com o crescente papel das organizações sindicais, seria talvez imune à democracia, pois seria de decisiva importância em todas as decisões relevantes do país sem nunca depender da preferência popular. Diz-que o PT está tentando fazer isso, de modo que nenhuma força política rivalizaria com seu poder em breve, a menos que algo seja feito!
Mas, teoria da conspiração ou não, eu comprovei que outro grupo social está fazendo o mesmo movimento. Seria mais seguro, no entanto, dizer que esse grupo começou antes e, por isso mesmo, que estamos à frente. Falo aqui dos letreiros (termo carinhoso pelo qual me referirei, neste post, aos formados em Letras). O movimento de nosso grupo rumo ao poder foi, na verdade, espontâneo e um tanto inconsciente. Ele nasceu tecnicamente da conjuntura econômica e social atual, e apenas a posteriori cada indivíduo se dá conta do poder que acumula, sem muitas vezes entender que esse mesmo poder depende da sinergia com os demais letreiros. Ou seja, é uma revolução inconsciente e, por isso, inocente.
Tudo começa quando o aluno se aproxima da formatura. Ele gradativamente entende de forma totalmente nova as consequências financeiras e sociais de ter feito Letras. Muitas vezes descobre que seus sonhos com a profissão, seja acadêmica ou pedagógica, eram ilusões de uma mente bitolada (provavelmente escolhendo outro adjetivo para seu próprio cérebro). Mesmo os retardatários enfrentam a verdade quando a formatura efetivamente vem. A resposta da maioria? Cair fora. Com um mercado nada atraente e que em geral não reconhece novos talentos, o futuro se difurca infinitas vezes, sendo que apenas uma combinação específica escondida entre diversas opções atraentes levará o sujeito ao magistério. O resultado de tudo isso é que, além de ocupar a educação (formação das mentes da nação), os formados em Letras terminam cuidando do trânsito, das contas de outrem, de empresas, da prefeitura... enfim, ocupam uma diversidade imensa das profissões para as quais se exige apenas uma formação superior. É claro que gente de muitos cursos vem competir, mas o número de formados em Letras é simplesmente esmagador.
É por isso que o letreiro em exercício passa pelas filas, atravessa a burocracia, ri dos prazos. O letreiro conhece alguém com mínima posição em qualquer instituição pública e em muitas das privadas, ex-colegas que abandonaram o caminho do ensino pelo bem dos demais profissionais do ramo, ou seja, para ocupar um pouco mais do Estado. PT que nada: a Letras é a nova maçonaria brasileira: um aceno de cabeça, e o letreiro avança com segurança onde outros pegam a senha e aguardam.
3 comentários:
pior é que é verdade...
Dizia um músico que "formado em história, foi trabalhar em cartório"... acho que ele não sabia que na verdade, eram os formados em Letras, rsrs.
É q o cartório seria pouco representativo, no caso da Letras, porque não temos critério ou preconceito: nos espalhamos por todos os lados! ;)
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