No sábado passado eu fui a um casamento em que a comida não valia a pena, mas custava os olhos da cara (convidados pagando porque o casal não poderia aproveitar nenhum presente tradicional). O resto da festa foi legal, particularmente a companhia, mas nada foi tão supreendentemente divertido quanto o discurso do clérigo (não sei como chamam em mais aquela religião protestante). Na verdade, tudo que o sujeito disse foi uma extrapolação do que vim ouvindo em casamentos na última década. Tive mesmo a impressão de um desenvolvimento gradual que culminou na cerimônia de sábado.
Parece que a popularização da separação fez com que os clérigos mais e mais se sentissem na obrigação de prevê-la já no discurso do casamento, atentando os noivos para os perigos e abanando com esperanças e conselhos, mais ou menos como Deus dando instruções para Adão sobre o Apocalipse ainda antes de o homem de barro entender que sua respectiva estava pelada (coitados). No caso desse sábado, o oficiante não se conteve nada, tanto que acabou traçando um caminho de brigas, esforços e final feliz sempre renovado pelos próximos 30 anos de casados dos dois. Era como ver um plano de carreira exposto a noivos e convidados, didaticamente explicado e sempre apoiado por moral, bons costumes, esperanças familiares e vontade divina. Em determinado momento eu realmente passei a me perguntar se estava numa festa. Por sorte eu estava sentado numa mesa de graduados em História, de modo que pudemos rir da coisa toda livres de policiamento religioso in loco.
Pelo jeito, o casamento religioso vira gradativamente o ato culpado de um padre, pastor, ou o que for, que duvida do que está fazendo e do sacramento dado. Ele busca se defender, influenciando a ação dos noivos, de ter permitido que mais esses dois prometessem perante Deus cumprir uma moral fadada ao fracasso (segundo o implícito de seu discurso).
Isso vem apenas se somar à minha incompreensão a respeito dos casamentos que venho presenciando. Por que, hoje em dia, as pessoas casam, se menos se crê no casamento, a ponto de os próprios clérigos se questionarem tanto a respeito? Eu entendo fazer uma festança por motivo de alegria. Entendo que se queira casar na Igreja se se acredita no sacramento eterno, se se crê na Igreja, se cada um acredita que aquilo é a sério. Mas, se tudo está tão incerto, se a postura geral é "qualquer coisa, separa", então para que gastar aquela grana toda (pior ainda quando eu preciso contribuir, verdade, mas realmente não me refiro só ao último). Por que, no caso do clérigo, casar dois jovens morrendo de medo do futuro dos dois? E por que expor isso a um salão de convidados? Ou o casamento é valioso e tem significado, ou ele não vale o custo de emoção, dinheiro e tempo. Ou seja, ou se paga por algo que é, ou se está pagando o que não é, o que deixaria Parmênides enlouquecido atrás das moedas em sua túnica, está bem claro.
Para mim, os cuidados e avisos burocráticos são para momentos de burocracia. A DR é para resolver problemas que existam. No outro lado do espectro está a festa, o pontapé inicial para uma ligação oficial que, convenhamos, já existe e já passou por uma série de DRs até ali. Por que não começar com um estouro, com felicidade, alegria, esperança, e deixar o "casamento" para o casamento em si? Deixar o aconselhamento para os momentos de dificuldade! A festa é uma ilusão? Ora toda festa é uma ilusão! E o maior exemplo é a cerimônia de casamento, ou as noivas não seguem casando de branco? Que mania, que falta de fé, que bisbilhotice, que pequenez de espírito e que dor de cotovelo faz com que as pessoas precisem falar mal sobre o futuro para duas pessoas que comemoram os recentes sucessos e o vento em popa!
3 comentários:
assinei embaixo! acho uma grande hipocrisia e perda de tempo gente que nunca pisa na igreja casar na frente do padre. e acho que com toda a flexibilidade que existe hoje, com lei de união estável e tudo o mais, só deve casar "de papel passado" quem tem certeza que não vai se separar no primeiro tropeço, como uns e outros que a gente mesmo presenciou. o resto é o resto.
Pois então, quando via esse tipo de advertência, sempre pensava, "mas caramba, deixa os caras!" Rsrs, hehe.
De resto, tudo exprime algo que eu já pensava mesmo. Se chegaram até ali, foi por que teve algo que os levou. Nem que seja o desejo de se ver uma vez na vida jurando algo, se enquadrando na sociedade, ou reunindo a família.
Tudo bem que tu não falou da "SCH" que pra mim foi o mais divertido, mas deixa quieto, rsrs.
beijos,
hehehe. SCH - Síndrome do Comportamento de Hospedagem, um dos grandes maus que aflige os casais depois de um tempo. Dá pra aturar?! Pior, pessoal: era um recorta-e-cola de discursos anteriores do clérigo.
Bah, Leo, a gente viu uns brabos, né? Mas pelo menos a festa deles foi tri... rs
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