Quase todos os homens, talvez todos, queriam ou já quiseram ser Dom Juan, porque ele é entendido em primeiro lugar como um homem que conquista todas as mulheres. Muitos e muitos homens tentam fazer crer mesmo que são Dom Juans, o que não é difícil, já que a retórica é uma arma poderosíssima, mas quase nenhum teria o cacife e a coragem de ser mesmo um conquistador insaciável, já que isso implicaria tomar o risco de ser negado, e negado, e negado. O caso da personagem, que escapa aos sonhos infantis da macharada, é justamente que ele não quer ser um conquistador, nem tem propriamente a coragem para tal, sendo mesmo um franco covarde em certas situações, sem nenhum arrependimento ou vergonha. Ele simplesmente precisa conquistar novas mulheres. Dom Juan é muito ruim em se comportar desta ou daquela maneira por decisão consciente, a menos que seja para reforçar o que é, no nosso linguajar freudiano-amador de hoje, sua compulsão. Além disso, vive como um devasso que se torna mais e mais imoral em todos os sentidos conforme sua carreira de conquistas avança, pelo menos em todas as primeiras versões de sua história.
Tomando café ontem com um amigo, encontrei justamente nesse involuntário "low-life" (como ele diz), também conquistador serial (no sentido que já vou explicar), alguém que realmente lembra a figura tão idealizada por homens (e por mulheres). Ele não quer ser um conquistador, mas vê (para colocar delicamente) no sexo o grande sentido da vida e não consegue ficar muito tempo com uma mesma mulher. Por quê? Porque ele precisa viver sua relação em chamas e precisa conquistar. Eu obviamente não comprei esse discurso de cara, mas somos amigos há 11 anos, e preciso admitir que sim, ele é assim (pelo menos é o que se tornou nos últimos 7 ou 8 anos). Ele não vê como problema, mas me convence em parte porque também não vê como virtude. Não considera certo ter essa barreira contra relacionamentos, mas a tem como nenhum outro cara que eu já tenha conhecido ou de quem tenham me falado. Ele até mesmo considera positivo e apoia, por exemplo, a minha tendência, quase no outro extremo do espectro, a de me compromissar com facilidade, como algo extremamente natural e que (digo eu) não deveria aterrorizar as pessoas tanto quanto costuma.
Ele não tem a capacidade mágica de conquistar do Dom Juan, mas está acima da média, pelo que já pude ver e pelos testemunhos de algumas amigas. Leva foras, claro, mas não os teme, porque não está tentando provar nada, está realmente querendo agora aquela mulher, daquele momento. Nessa trajetória, encontra uma felicidade que nenhuma relação lhe oferece já no segundo mês. Além de tudo isso, curte expressar suas filosofias de vida e precisa viver sozinho, ou pelo menos nisso acredita e assim se sente melhor. É um cético e, ainda que viesse lhe visitar um convidado de pedra, também meu amigo não seria levado, por isso, a tomar um caminho mais "virtuoso". Não é um corruptor político-religioso como as versões de Tirso de Molina ou de Molière, mas isso me parece mais uma diferença de contexto histórico. Enfim, é um Dom Juan que não aparenta, não vive para cantar de galo e não tenta imitar o mito, por isso talvez sendo tão próximo ao original e tão diferente da imagem que as pretensões masculinas formam por aí.
5 comentários:
puxa... quem será esse amigo? :P
Q esteja fácil reconhecê-lo nessa descrição comprova minha teoria. rs
acho que a intimidade também ajuda um pouco, né? rs...
ah, e que inveja de vocês indo tomar café juntos... :(
Bom, isso depois de meses sem poder encaixar horários. Só porque mudei de emprego esse café pôde sair. rs
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