Um aluno particular, que nunca tenta argumentar em suas redações argumentativas, foi meu alvo da incomodação pedagógica de hoje. Fiquei insistentemente problematizando o que ele dizia, sempre na postura de um sereno advogado do diabo, até que ele largou aquelas mesmices de redações adolescentes e atacou com suas opiniões sinceras e apaixonadas. O tema que ele manifestou com mais gana? "Serra é mais preparado que o Lula para governar um país".
Como queria que o rapaz argumentasse, continuei com as irritantes perguntas de "por quê?", "por quê?", "por quê?" seguidas de conclusões lógicas simplistas em cima do que ele dizia. A discussão, é óbvio, degringolou para o "porque não gosto do Lula e ponto"; mas, retomada daí, qual foi a conclusão que tirou de suas próprias ideias sobre presidência? "Nenhum dos dois está preparado, na verdade!" Não só isso, sua conclusão era a de que ambos estavam igualmente despreparados. Ele estava surpreso de concluir algo inesperado apenas seguindo logicamente suas próprias opiniões sem esquecer que falava de algo complexo.
Gostei do resultado, mas ficava quase ridículo pedir uma dissertação de alguém que descobre que pensa coisas diferentes do que acha que pensa.
PS: Na verdade ficava ridículo, mas o condicionamento do colégio ainda nubla sua mente. Felizmente sua frustração por não conseguir argumentar o que queria logo antes (Lula vs. Serra) também deu um baita gás para que refizesse uma dissertação do colégio tentando, dessa vez, defender bem sua opinião.
2 comentários:
Uma vez em aula o aluno me disse:
"Professor, o senhor nunca leu que o Lula matou um monte de gente na época da ditadura? Como que podem votar nele ainda...isso não tem perdão nem explicação"
Nessas horas eu preferia estar de acordo com o aluno; 'isso, REALMENTE, não tem/não merece explicação". Seria tão mais fácil...mas vamos lá, vamos fazer que nem o Marcelo Tás na época que tinha cabelos:
"vamos pensar um pouco..."
Lá pelo fim das contas o aluno ficou com a vaga sensação que tinha que pesquisar um pouquinho melhor, o que nesse caso, já foi um ganho tremendo!!
Ganho tremendo mesmo. A simples conclusão de um aluno que o faça ler antes de falar é uma vitória rara.
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