O meio em que falamos é sempre uma prisão para tudo o que queremos expressar; infelizmente a política eleva essas restrições à quinta potência. Tudo está tão atado por todas as leis sociais de praxe MAIS a competição discursiva com todos os outros políticos do mundo que muitas vezes é de se sentir pena daquelas pessoas que resolveram viver de política. É claro que os salários, os horários e os desvios de dinheiro a que têm acesso logo nos fazem esquecer esse sentimento de pena, mas, ainda assim, tem-se facilmente um momento de empatia cristã quando políticos tentam vencer a corda-bamba estendida sempre que abrem a boca.
Na oficialização das candidaturas à presidência, por exemplo, tivemos exemplos vários dos candidatos. Presa entre a posição de seguidora de Lula e a crença solidificada de que toda eleição DEVE ser sobre mudança, Dilma refundou o oxímoro com a seguinte declaração: "O presidente Lula mudou o Brasil, e o Brasil, por essa mudança, quer seguir mudando. A continuidade que o Brasil deseja é a continuidade da mudança." Deve ser por isso que ela mudou pela milionésima vez de cabelo: porque tinha adorado o corte anterior, e o anterior, e aquele antes deste, e assim indefinidamente nos últimos 6 meses. Vaidade tem seu lugar na política, que o digam os senadores que já fizeram mais plásticas que ela, mas qualquer eleitor do PT corre o risco de não reconhecer a foto da candidata quando finalmente chegarmos às urnas. Está na hora de pedir mais ideias e menos cabeleireiros aos assessores de campanha.
Serra, trancado na mesma contradição, apenas sem o peso de unir mudança e a posição de Lula 2, foi mais comedido na oficialização. Tudo foi mais pacífico e light, afinal, o cara que mais precisa fazer barulho tem justamente de evitar esse caminho óbvio e se fazer de gostoso: não fazer barulho na esperança de isso ser um estardalhaço político. O candidato "mais intelectual", "menos guerrilheiro" e "mais carismático e seguro" resolveu pelo oxímoro de ir como se estivesse voltando. Afirmou, por exemplo, que tem vídeos de todos os dirigentes de partidos (mesmo do PT) elogiando suas ações em SP, mas isso "não vai ser usado em campanha".
Hmmm, desculpe, Sr. Candidato, mas dizer isso já é usar os vídeos em campanha, mesmo que por elipse... Ah, o Sr. sabe? E por que não larga essa postura idiota de tentar se passar por imbecil?
Serra aqui lembra aquela pose de carismática insegurança a respeito do significado de "déjà vu" quando fez cena frente ao Padim Ciço. É irritante como a ideia de que Lula e Dilma são atraentes às classes pobres (lidas como "burras e ignorantes") dita que Serra tente parecer ambas as coisas sempre que fala em público. É de se compreender a tática, no entanto. Se os últimos anos realmente firmaram a ditadura da ignorância, não é na hora de caçar votos que alguém vai querer mudar a situação, não? Pelo jeito, para ele continuidade vence mundança. Engraçado, se discurso valesse, teríamos novamente esquerda e direita clássicas no Brasil: Dilma braveja que quer mudar, seja o que for, Serra aceita tacitamente continuar, seja o que for.
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