Há pouco tempo, dois blogs que leio traziam comentários sobre Brasília (já que seus autores estiveram por lá). No mesmo dia em que li o material, li sobre a cidade num livro em que buscava uma famosa interpretação do Fausto de Goethe!
Bom, o texto que mencionava Brasília era o prefácio à edição de 1988, e o livro talvez não seja muito proveitoso para nenhum desses blogueiros, mas a coincidência foi tamanha que encontrei mesmo um parágrafo que ia de um ponto a outro dos que mais me chamaram a atenção no que lera em seus blogs. Como agora é possível, e estou com paciência para posts pendentes, aqui vai o trecho que achei mais curioso. Quem sabe algumas ideias até sejam úteis para os descobridores de nossa capital, se decidirem ir atrás do texto depois. O trecho que vou citar vem após algumas críticas bem pesadas e algumas respostas de Orcar Niemeyer e seguidores.
"Num ponto Niemeyer estava certo: quando foi concebida e planejada, nos anos 1950 e início dos anos 1960, Brasília de fato representava as esperanças do povo brasileiro, em particular seu desejo de modernidade. O grande hiato entre essas esperanças e sua realização parece dar razão ao homem subterrâneo: para homens modernos, pode ser uma aventura criativa construir um palácio, e no entanto ter de morar nele pode virar um pesadelo.
"Esse problema é particularmente crucial para um modernismo que impede ou hostiliza a mudança - melhor dizendo, um modernismo que busca uma única grande mudança, e depois não aceita mais nenhuma. Niemeyer e Costa, tal como Le Corbusier, acreditavam que o arquiteto moderno deve usar a tecnologia para concretizar certas formas ideais, clássicas, eternas. Se isso pudesse ser feito na escala de uma cidade inteira, ela seria perfeita e completa; suas fronteiras poderiam se estender, mas ela jamais deveria se desenvolver a partir de dentro. Tal como o Palácio de Cristal imaginado por Dostoievski, a Brasília de Costa e Niemeyer não deixava a seus cidadãos - e aos outros brasileiros - 'nada mais a fazer'."
Marshall Berman - Tudo que é Sólido Desmancha no Ar.
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