Cozinhar pode ser uma arte, mas isso também significa que pode ser rebaixada a artesanato, no sentido mais antigo e chão da palavra. Aquela prática de poucas variáveis com fins abertamente utilitários (ou seja, o artesanato que não se quer arte, como agora se usa muito a palavra).
A cozinha como arte grosseira tem apenas 3 princípios.
- Não deixa colar no fundo
- Põe mais água
- Põe mais sal
Todas as ações não indicadas nesses três princípios são ditadas pelo senso comum, pelo reflexo ou pela capacidade de raciocínio do sujeito que enfrenta o dilema de cozinhar o próprio alimento. O alcance desses três princípios quase me decepciona. O quanto eles podem ajudar em situações de acidente ou erro tira um pouco a mágica que a ignorância me garantia.
Imagino que quem mais sobreviva com base apenas nesses princípios seja um homem, já que a técnica de cozinhar é tradicionalmente passada apenas para as mulheres nas famílias humanas. Nós, brasileiros, fazemos parte deste povo herege em que a técnica não é propriamente secreta, restrita a elas, mas, mesmo assim, são elas que quase infalivelmente recebem algum treinamento.
Deixo a dica então para os outros homens que venham a se aventurar nesse terreno: ajuda ter acumulado algum conhecimento prévio. Saber preparar ovo (cozido e frito), batata frita, arroz, bife e massa - veja bem, estou considerando noções básicas e genéricas dessas preparações - pode ajudar muito a calibrar as três regras fundamentais. Por outro lado, tenho certeza de que alguém que não saiba fazer nenhum destes e não possa pedir comida para ninguém (por dinheiro, sexo ou amizade) comerá a própria gororoba sem grandes problemas. Se não servir para o paladar, servirá ao menos para restringir-se na alimentação e estar morrendo de fome quando alguma mulher e/ou profissional lhe oferecer qualquer tipo de alimento. A gana com que então te atracarás na comida alheia tenderá a valer como elogio, o que sempre poderá te gerar bons frutos.
Saúde e boa sorte.
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