"A imprensa no Brasil é livre, o que não significa que é boa". Estas são as palavras, conforme a Folha de São Paulo, do ministro Franklin Martins (Secretaria de Comunicação). Eles não esmiúçam, é claro, o contexto, mas imagino que tenham destacado a frase assim para soar o pior possível. De que ele estava falando? Da regulamentação dos meios de comunicação, que segue ainda hoje regras estabelecidas em 1962.
A frase é triste particularmente na associação (falsamente) lógica que implica. Ser livre não significa "boa", mas é importante que se frise, ao se dizer algo do tipo, que "não-livre" significa sempre "muito pior". A frase pode querer dizer "já somos livres, mas vamos regulamentar melhor para aproveitar essa liberdade da melhor forma, não da pior", mas também pode querer indicar alguma relação entre liberdade e qualidade que levaria certas pessoas a pensar que justamente a arrumação dessa qualidade dependeria de uma mudança naquele status "livre" da imprensa. O complicado é saber onde está o problema: em Franklin, querendo implicar que um cerceamento da imprensa poderia vir a ajudar o Brasil, ou na Folha, que conjurou esse fantasma para polemizar as medidas da secretaria ao mesmo tempo em que gerava um frio na espinha nacional, como uma espécie de sensacionalismo intelectualmente direcionado. Minha aposta iria na segunda opção, mas como saber?
6 comentários:
olha, ameaça é ameaça até o dia em que se cumpre. não tem gente que vive jurando que vai se matar até que um dia se mata? ou gente jurando que um dia vai matar Fulano até que um dia mata? pelo sim pelo não, acho mais prudente não dar meu voto pra ninguém que sai por aí abertamente pregando a censura e a "extirpação" dos "inimigos" (ou todo mundo esqueceu que o direito à oposição é um dos bastiões da democracia?). o contexto deixa de importar no momento em que todo dia são repetidas as mesmas palavras de ordem pra quem quiser ouvir. e pra quem tem dúvida de que as intenções são reais, basta baixar o famigerado PNDH3 e ler as 228 páginas. tá tudo lá. ninguém tá colocando palavras na boca de ninguém. me dá engulhos ouvir o Lula falando aberta e raivosamente contra a mídia, defendendo o tal "controle social" que nada mais é do que uma censura com outro nome. pensa que se a Dilma ganhar eles vão ter maioria no senado e vão conseguir aprovar o que quiserem, inclusive o tal "controle social da mídia". e aí vai ser tarde demais.
Eu concordo com tudo isso, mas eu estou particularmente avesso à forma como as coisas são noticiadas ultimamente. Não é que eu tenha aprendido nada que não soubesse antes, mas de alguma forma recentes distorções acabaram por me cansar, então eu estou questionando aqui, realmente, o quanto a gente pode formar opinião sobre qualquer coisa midiados pelas mídias que temos. Mas não estou dizendo que nenhum jornal ou revista é entreguista, a favor de Serra ou de Lula (Dilma). Só estou pondo em questão como esse nosso formato de meios de informação pode funcionar, exatamente, como meios de informação.
Que tenha gente no PT querendo censurar a mídia, eu não duvido. Também não duvido que tenha gente com a mesma opinião em outros partidos nem acredito que seja difícil coletar o testemunho de centenas, digamos, de porto-alegrenses (ou de onde for) defendendo exatamente a mesma coisa. Acho isso tudo preocupante. Mas não acho que isso ser preocupante seja desculpa para os jornais seguirem incompetentes e infantilizadores como andam.
e o que tu sugere? que não noticiem? que noticiem de forma mais "inteligente"? como TU noticiaria?
veja, chega um ponto em que só criticar a retórica dos jornais não adianta. especialmente pessoas como eu e tu, que têm capacidade mais do que suficiente pra abstrair a retórica e ver o que, de fato está sendo noticiado.
retórica, todas as áreas tem uma: política, imprensa, legislação... isso não vai mudar. a pergunta é: por causa de questões retóricas a gente vai se preocupar mais com a forma do que com o conteúdo?
Eu levaria a sério o processo de citar, considerando alterações, mesmo em temas que eu considerasse menores, crimes sérios e (como efetivamente sinto) motivo para que determinado jornalista, pelo menos, perdesse a credibilidade. Eu levaria em questão o contexto, explicitado no meu texto. Isso seria um recorte, totalmente impossível de controlar? É provável, mas eu não disse que sou um expert em mídia nem que tenho uma ideia genial de como resolver o que me incomoda aí, mas que considero abaixo do aceitável, considero. Seria legal se eu tivesse uma solução (que morreria aqui neste blog sem afetar a imprensa, obviamente), mas acho o problema, no mínimo, de ética profissional. Eu não sou nem um professor nem um acadêmico perfeito, mas eu não respeito gente que não tenta melhorar nas duas áreas, ainda que eu saiba mais sobre tentar melhorar do que sobre como seria o profissional perfeito em qualquer um dos casos.
E, sim, tudo tem retórica, e não existe fala sem retórica, é essa mesma a premissa do meu blog, mas eu justamente uso isso para criticar o que problemas bem formais podem indicar do conteúdo, mais ou menos até onde me acho capaz de me aventurar. Só que eu já fiz críticas bem diretas à censura aqui, então eu não captei bem tua crítica nesse comentário.
O cara ganha na megasena e a gente nao le no jornal apenas o nome do cara porque AMIGOS pediram para nao ser publicado.
Mas quase podemos descobrir a cor da cueca que o cara estava usando sem dizem o endereco e onde trabalha.
Se nao tem bom senso e nao consegue entender a consequencia das acoes jornalisticas, acho que tem que impor lei mesmo. Mas dai é censura... Demitir jornalista que "nao condiz com o perfil do jornal" (jornal ou empresa?) não é censura...
Entendo de forma muito ruim o a desobrigação a uma faculdade para ser jornalista. Não acho que o curso de jornalismo (como é hoje em dia, vindo de onde veio) é o mais adequado, mas que a pessoa deveria fazer um curso relacionado com aquilo com que quer trabalhar.
Adoraria que o jornalismo fosse diferente, mas enquanto os proprios jornalistas nao proporem mudancas e nao organizarem a casa os outros vao querer meter a colher e inventar "censuras". Na hora de reclamar do jornalismo atual TODOS os jornalistas que conheco reclamam, mas nao vejo ninguem tentando fazer uma ação a respeito.
Os EUA fizeram uma coisa interessante nesse sentido. Quando a questão da censura no cinema ia se implantar de qualquer jeito, os artistas correram a criar uma instituição deles, tirando a bola do governo e determinando o que era ou não bom, o que deu obviamente muito mais liberdade e artística e sempre tirou a possibilidade de censura propriamente dita, a não ser em momentos fundamentalistas de seus governantes, logo contornáveis por terem tomado a tal medida.
É mais ou menos o que Machado queria fazer no Brasil. Uma de suas ideias embrionárias do que se formou depois com a Academia Brasileira de Letras era justamente desviar a censura da polícia para a classe artística, colocando, com isso, aspas na palavra censura, o que seria o caminho para uma liberdade de expressão na qual o governo não meteria o bedelho, apenas os próprios artistas (sim, tintim por tintim, a proposta do Machado era pouco democrática para os dias de hoje, mas a estrutura com certeza seria aproveitável).
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