terça-feira, 31 de agosto de 2010

A Origem das Responsabilidades

Passei por mais uma discussão sobre a importância da escrita para além de se passar no colégio. O aluno parecia não prever o lado social da questão, de modo que argumentei:

- Quer tenham consciência, quer não, as pessoas sempre vão te julgar pela tua escrita.

- Tipo quem?

- Se ninguém mais, pelo menos teu...

- ... A minha mãe!

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Sangrando a profissão

Para mim, quanto mais rápido e definitivo é o fim de um relacionamento, melhor. Assim foi meu pedido de demissão. Ainda que o desligamento legal demore um pouco, o fim estava claro, declarado e admitido em menos de um dia. 

É claro que é mais fácil seguir tais preceitos se temos absoluta certeza de que decidimos pelo caminho certo, mas no caso de meu antigo (eh!) emprego, não pode haver dúvida. Não é apenas porque fui daquela para melhor, mas porque esta (a melhor) põe em perspectiva clara todo o sofrimento passado naquela. E o processo de desligamento legal ainda permite enxergar mais absurdos da minha ex (empresa-contratante).

O exemplo de ridículo de hoje me veio por uma funcionária que segue lá. Imaginem que uma guria é a testa-de-ferro de tal empresa, representando sozinha aqui todas as que eles, lá em outro estado, armam para a gente. Hoje fui assinar a recisão (pelo que ela também fica responsável) e eis que meus antigos empregadores ainda me deviam mais dinheiro. Sabem como é, graças aos deuses (e a Getúlio Vargas), sair de um emprego em geral envolve ganhar ainda um pouquinho de dinheiro. Enfim, as coisas básicas e "pequenas", como me reembolsar o dinheiro gasto com o exame médico demissional, foram, para variar, esquecidas pela empresa, e a tal testa-de-ferro já estava sem dinheiro de cobrir essas faltas ali mesmo, pessoalmente. Entendem isso?! Aquela guria, responsável por todas as facetas da empresa, também precisava cobrir por ela a falta dos caras, ou os prazos não seriam cumpridos e dá-lhe mais dinheiro e atraso. Eu entendo eles quererem que os professores sangrem sua profissão, já que reproduzem sempre o papinho da vocação de educador, mas fazer uma multi-secretária pagar pelos erros deles é atestado cabal de incompetência para além de qualquer ideologia racionalizadora. É óbvio que ela podia simplesmente exigir que o pessoal tomasse vergonha na cara. Mas tanto ela quanto nós sabemos bem que essa vergonha nunca viria, e que a resposta daquela empresa para um empregador que quer fazer tudo direito é a porta da rua. 

Aliás, lá por março eu fiz um post sobre uma colega minha mandada embora por isso mesmo. Naquele texto eu comentei que algumas demissões valiam ser postas no currículo por orgulho. Pois bem, é daquele emprego que eu saio agora, com outra natureza de orgulho: o de encontrar a porta da rua quando foi melhor pra mim e ruim pra eles. Infelizmente, outros ainda ficam a cobrir pessoalmente a incompetência alheia.

domingo, 29 de agosto de 2010

Horário Gratuito

"Se os humoristas chamassem José Serra de 'Zé' e o infiltrassem com aquele sorriso congelado no meio de uma favela cenográfica e tosca, seriam acusados de ridicularizar o tucano. Mas, como a cena insólita aconteceu no programa do PSDB, ninguém processou o marqueteiro. Se o CQC e o Casseta & Planeta exibissem o cão de José Dirceu como melhor amigo de Dilma Rousseff, poderiam ser multados por tentar associá-la ao ex-chefe do mensalão, como se a petista fosse herdeira não só do labrador Nego, mas de um período sinistro do PT.
"Após a estreia dos programas eleitorais, entre eles a abertura do 'Discovery Marina Channel', com a candidata verde estrelando uma peça futurista de efeitos especiais, finalmente deu para entender por que o humor político e sério foi amordaçado nesta eleição. Porque colocaria o dedo na ferida. Os programas dos candidatos são tão fictícios que a realidade sumiu. Tudo ficou de repente bom, reconfortante, para quem acredita nos seriados e nas novelas. (...)
"Não se esqueça, o horário só é gratruito para os candidatos."

Ruth de Aquino - Revista Época, 24 de agosto de 2010

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Nihil

Eu já me arrependi de votar em diferentes sentidos (ou me entristeci com o fato de que não via outro caminho para meu voto que um que me incomodava demais). Sempre vinha, no entanto, fugindo de votar em branco, o que implica certos problemas de postura para mim. Acho que esta é a vez de arriscar esse arrependimento (não que eu acredite que qualquer eleição vá ficar por um voto, é claro).

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Educação pela censura

Um garoto de 5 anos de idade ouve adultos, inclusive seus pais, xingando o que podem, sempre com naturalidade. Os palavrões povoam seu cotidiano, tratados como palavras normais. Por outro lado, seus pais o proíbem veementemente de mandar alguém calar a boca quando está irritado. Portanto, qual sua ofensa máxima?


- Sai daqui seus... seus Cala-Boca!

Confissão de assassinato

- Sora, eu tô preocupado porque ainda não sei ler [garoto de 13 anos de idade na terceira série].

- Como não sabe ler?! Tu sabes ler o mundo, sabes ler as estrelas no céu... só o que não sabes é juntar as letras...

Como uma pessoa testemunha por livre e espontânea vontade que deu uma resposta dessas?

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Não nomearás

As pessoas com deficiência, em geral, passaram a ser chamadas há um tempo de especiais. Como não acredito em palavras mágicas desde pequeno, não me surpreendi que o efeito disso fosse o contrário do que queriam os politicamente corretos: em vez de aliviar o preconceito que sofriam essas pessoas, foi a palavra "especial" que se tornou pejorativa. O que eu não sabia é que "especial" é já o quarto termo na lista dos dejetos da "forma politicamente correta para se referir a deficientes". Atualmente, no caso do ensino, o termo politicamente correto é "alunos de inclusão". Ou talvez isso também agora seja preconceito, tornando-se o novo termo-tabu. Essa dificuldade de nomear, essa neurose de se evitar o tabu é a marca mais clássica de preconceito, aquela que vira a cara, que tapa a boca, que prefere indicar com os olhos ou com um gesto sutil em vez de nomear. É um exemplo de criatividade o quanto a postura politicamente correta consegue reinventar e reproduzir os preconceitos sempre desaprovando quem não compra sua visão mágica sobre a linguagem.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

A Cultura está no Ego que Infla

Porto Alegre é uma cidade cultural, o que é um verdadeiro monumento à máxima "querer é poder" já que, comparada com cidades culturais, Porto Alegre parece antes pretensiosa que outra coisa. E digo que a fórmula funciona porque, convencendo os moradores da metrópole e dos arredores, faz com que todo mundo que queira fazer algo "cultural" tente, se esforce, acredite. Ou seja, nossa parca (em relação a grandes centros mundias) vida cultural seria ínfima ou inexistente não fosse nossa constante pregação do contrário. Em Porto Alegre, para orgulho dos sociólogos, é a crença que funda a realidade.

Eu curto esse sistema, esteticamente falando mesmo, mas ele carrega um "porém" bem irritante: como um meio cultural prevê intelectuais, e esses não nascem tão facilmente quanto um happening, quem se apresenta pega o volante. Não é que não existam intelectuais num sentido clássico, mas eles são muito, muito, muito raros. Raros demais para que brotem suficientes "intelectuais-interessados-em-público" para alimentar um meio que existe literalmente só porque a gente quer.

Quem, então, ocupa o espaço? Os amadores profissionais! Tenho certeza que não nos são exclusivos, mas os conheço apenas por aqui. Talvez sejam a versão moderna do que Machado descrevia em "Teoria do Medalhão"... Enfim, como uma celebridade cultural, o amador profissional tem autoridade porque tem. Sua palavra vale porque é a dele, seus comentários são interessantes porque assim ele e outros amadores profissionais o disseram. E eles falam, claro, sobre tudo. Para se ter uma ideia de como se metem em qualquer assunto, tendem a trabalhar como cronistas. Geralmente vêm da literatura, escrevendo, criticando ou ensinando a respeito, ainda que alguns mantenham outras profissiões paralelamente, seja Contábeis ou Medicina (não, não considero o Scliar um exemplo de amador profissional).

Enfim, um dos traços fundamentais do amador profissional é entender de mercado. Eles confundem ganhar dinheiro em profissões ligadas à cultura com "meu produto é cultura". São, novamente como as celebridades de outras áreas, bons em se vender. Uns melhores que outros, mas mantêm uma média satisfatória. Hoje, por exemplo, foi a repetição de um evento de amadores no Fronteiras da Educação, um puxadinho do Fronteiras do Pensamento, gigantesco grupo de palestras com bambambãs internacionais (alguns não) que vêm na cidade resumir a mensagem geral de seus livros e talvez autografar alguma coisa. As boas palestras e o proveito que alguns possam ter tirado de cada uma delas (nos Fronteiras) não justificam, porém, que os amadores profissionais achassem que, podendo armar a barraca no puxadinho, tivessem algo de relevante a dizer. Preocupados em evitar a disputa com os estrangeiros, que tinham como público em geral professores e acadêmicos, pensaram alto e retoricamente: "Por que não oferecer algo a nossos alunos também, não?"

Achada a retórica, feita a porcaria. Passou-se então a se organizar excursões de pré-adolescentes para ver cada nova apresentação do que seria uma palestra e, de fato, lembra mais começo de formação de empresários, com muitos gestos, muito barulho e quase nada a mais que isso. Um professor, servido com o abacaxi de ter um salão enorme lotado de pré-adolescentes e dois amadores profissionais do lado, tenta passar algo da questão-motivo do acontecimento, "Revolução Cultural e Desafio Ambiental". No meio da baderna, do barateamento (assustador) de maio de 68 e de piadas que só funcionam para pré-adolescentes (ou seja, para quem, sexualmente, nasceu ontem), os intelectuais à Porto Alegre pregraram o desrespeito e a liberação sexual.

Que desconhecimento de público! Quantos alunos têm real compreensão e interesse em saber sobre França, faculdade e História Antiga (para eles, muito antiga)? Quantos deles não tentam efetivamente desrespeitar o maior número de adultos do maior número de formas possível e transar (ou as sublimações a que têm acesso) o tempo todo? E não digo isso para tachá-los de bárbaros, digo para perguntar mesmo há quanto tempo os "palestrantes" não ENCONTRAM um pré-adolescente?!

Bom, a galera aproveitou o passeio: ficaram com quantos conseguiram e picharam os banheiros da universidade que os recebeu. Os alunos não se preocuparam em escutar mesmo o que os amadores mais espalhafatosos estavam realmente dizendo, mas adoraram o evento. Nitidamente essa gente tem algo a dizer aos jovens! Sim, os alunos precisam de uns caras que parecem nem entender (minimamente) de 1968 para lhes pregar baderna e sexo...

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Degelo

Ontem foi a água do tanque que estava refrescante, provocando alívio, não dor.

Hoje foi o ar gelado do corredor do prédio que aliviou do calor da rua.

Terá começado enfim o Aquecimento Regional?

domingo, 22 de agosto de 2010

Dom Juan em Porto Alegre

Quase todos os homens, talvez todos, queriam ou já quiseram ser Dom Juan, porque ele é entendido em primeiro lugar como um homem que conquista todas as mulheres. Muitos e muitos homens tentam fazer crer mesmo que são Dom Juans, o que não é difícil, já que a retórica é uma arma poderosíssima, mas quase nenhum teria o cacife e a coragem de ser mesmo um conquistador insaciável, já que isso implicaria tomar o risco de ser negado, e negado, e negado. O caso da personagem, que escapa aos sonhos infantis da macharada, é justamente que ele não quer ser um conquistador, nem tem propriamente a coragem para tal, sendo mesmo um franco covarde em certas situações, sem nenhum arrependimento ou vergonha. Ele simplesmente precisa conquistar novas mulheres. Dom Juan é muito ruim em se comportar desta ou daquela maneira por decisão consciente, a menos que seja para reforçar o que é, no nosso linguajar freudiano-amador de hoje, sua compulsão. Além disso, vive como um devasso que se torna mais e mais imoral em todos os sentidos conforme sua carreira de conquistas avança, pelo menos em todas as primeiras versões de sua história.

Tomando café ontem com um amigo, encontrei justamente nesse involuntário "low-life" (como ele diz), também conquistador serial (no sentido que já vou explicar), alguém que realmente lembra a figura tão idealizada por homens (e por mulheres). Ele não quer ser um conquistador, mas vê (para colocar delicamente) no sexo o grande sentido da vida e não consegue ficar muito tempo com uma mesma mulher. Por quê? Porque ele precisa viver sua relação em chamas e precisa conquistar. Eu obviamente não comprei esse discurso de cara, mas somos amigos há 11 anos, e preciso admitir que sim, ele é assim (pelo menos é o que se tornou nos últimos 7 ou 8 anos). Ele não vê como problema, mas me convence em parte porque também não vê como virtude. Não considera certo ter essa barreira contra relacionamentos, mas a tem como nenhum outro cara que eu já tenha conhecido ou de quem tenham me falado. Ele até mesmo considera positivo e apoia, por exemplo, a minha tendência, quase no outro extremo do espectro, a de me compromissar com facilidade, como algo extremamente natural e que (digo eu) não deveria aterrorizar as pessoas tanto quanto costuma. 

Ele não tem a capacidade mágica de conquistar do Dom Juan, mas está acima da média, pelo que já pude ver e pelos testemunhos de algumas amigas. Leva foras, claro, mas não os teme, porque não está tentando provar nada, está realmente querendo agora aquela mulher, daquele momento. Nessa trajetória, encontra uma felicidade que nenhuma relação lhe oferece já no segundo mês. Além de tudo isso, curte expressar suas filosofias de vida e precisa viver sozinho, ou pelo menos nisso acredita e assim se sente melhor. É  um cético e, ainda que viesse lhe visitar um convidado de pedra, também meu amigo não seria levado, por isso, a tomar um caminho mais "virtuoso". Não é um corruptor político-religioso como as versões de Tirso de Molina ou de Molière, mas isso me parece mais uma diferença de contexto histórico. Enfim, é um Dom Juan que não aparenta, não vive para cantar de galo e não tenta imitar o mito, por isso talvez sendo tão próximo ao original e tão diferente da imagem que as pretensões masculinas formam por aí.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Resumo de aula

"É, [dando aula no fundamental] tu te sente um peão. É um trabalho físico, não intelectual."

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

A família e o Estado

A revista Época desta semana tem como matéria de capa um tratamento sobre a participação de Dilma na luta armada durante a ditadura. Talvez eu possa comentar mais tarde a matéria em si e algumas coisas relacionadas, mas não pude deixar para depois citar os trechos que estão destacados na própria matéria. Observem que consistência e relevância guiaram a escolha das frases a ficarem em negrito, no meio das páginas:

"Dilma foi denunciada por chefiar greves e assessorar assaltos a banco" (fraseamento dos milicos)

"Com dinheiro fornecido pela VAR Palmares, Dilma comprou um Fusca 66" (!!!)

"A VAR Palmares durou apenas três meses. Rachou por divergências de orientação"

"Dilma e o ex-marido costumavam se encontrar no pátio para 'visitas higiênicas'"

E a última, francamente a minha predileta:

"'Dilma não tinha nenhum talento na cozinha', diz uma colega de presídio"

Que horror! Estou chocado! Como uma mulher que não sabe pilotar fogão poderia governar o país? Tomara que pelo menos o Serra saiba fazer consertos e instalações em casa!

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

O eloquente cotidiano do futebol

"Amai Deus sobre todas as coisas, com exceção do futebol"

Quando Deus viu seu primeiro mandamento rascunhado, sentiu que, se seguisse sendo tão específico, logo escreveria um documento do tamanho da Constituição brasileira. Pensou que a chave era ser sucinto, sucinto foi e viu que era bom. Afinal, Moisés ainda andava bem de saúde, mas não era mais nenhum guri para carregar muita tábua. Aliás, quando o Senhor pensou bem (ou seja, logo em seguida, pois Ele sempre pensa "bem"), viu que a parte depois da vírgula ficava pressuposta por ser ele brasileiro e ter intenções de encarnar no Lula. 

Os porto-alegrenses, fiéis desta vez à identidade nacional, preparam hoje o holocausto de fogos de artifício e gritos desesperados. As escolas, a prefeitura, os postos de saúde, tudo parou em Porto Alegre às 16h para um jogo que começará às 22h e que terá o mérito de enriquecer a equipe vencedora, motivo de alegria e orgulho para incontáveis fãs. A paralisia total em Porto Alegre é mais um grandiloquente exemplo do poder das massas e uma bela manifestação de um povo que ama o futebol acima de tudo!

Tudo!

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Com o perdão da picuinha

Quando ligamos para o serviço de alguém, depois das 14h, e a pessoa ainda está "no almoço", tecnicamente não é que ela tenha "saído para o almoço", é que ela "não voltou ainda", né?

"É chato ser gostosa"

Bom, devo dizer que a frase serve a este post se "gostosa" for entendido em sentido amplo. Digamos, "é chato ser bonitinha". Pelo menos é o que andam expressando as adolescentes que não são nem gordas nem magras demais, que têm suas características marcantes de rosto, mas que claramente não são feias. E não é que seja chato num sentido de tédio. Não, deve ser MUITO chato. Só pode ser, já que andam todas por aí com cara de nojo. Na adolescência, eu devo mesmo só ter olhado para tudo em minhas amigas com exceção do rosto para não ter notado como gurias apenas mais bonitas que a média de suas colegas vivem com cara de nojo, no ônibus, na escola, na rua, na fazenda... 

Não que elas não tenham razão. Elas sentem a marca da superioridade em tudo o que fazem: não são feias (logo, superioras), não são guris (logo, superioras) e não são compreendidas pelas adultos (logo, superioras). Ah, claro, têm paixão por cantoras que fazem clips com muito sucesso em que as heroínas aparecem chamando a atenção dos guris mais velhos e olhando para os adultos com... cara de nojo.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Land of Too Much Information

"Oi. É verdade que tu tá grávida?"

Bem, talvez ela só não quisesse que tu e o resto do ônibus ficassem sabendo da gravidez, não?

domingo, 15 de agosto de 2010

Menos um mistério sociológico

"O cérebro leva aproximadamente 20 anos para amadurecer"

Isso é para justificar os bixos de hoje em dia?

sábado, 14 de agosto de 2010

Tem celebridade que se presta...


Não acredito que quem criou esse cartaz não previu a óbvia debochada: "Pela posição da Aniston, de onde o Gerard buttler tirou as algemas?"

Nota rápida: pobre feminismo, que com tanta luta não conseguiu tornar inaceitável um filme baseado numa narrativa que racionaliza (mas não disfarça) o macho caçando e tomando à força a fêmea, enredo bem representado por um homem sentado sobre uma mulher, caída no chão, mais calma do que se tivesse descoberto que estava despenteada no shopping.

Quando a gente acha que o politicamente correto vai tomar a América...

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

A Revolta dos Letreiros

Como, proporcionalmente, os cargos públicos ocupados via eleições são extremamente restritos, um partido que ocupasse o máximo da máquina do Estado, particularmente com o crescente papel das organizações sindicais, seria talvez imune à democracia, pois seria de decisiva importância em todas as decisões relevantes do país sem nunca depender da preferência popular. Diz-que o PT está tentando fazer isso, de modo que nenhuma força política rivalizaria com seu poder em breve, a menos que algo seja feito!

Mas, teoria da conspiração ou não, eu comprovei que outro grupo social está fazendo o mesmo movimento. Seria mais seguro, no entanto, dizer que esse grupo começou antes e, por isso mesmo, que estamos à frente. Falo aqui dos letreiros (termo carinhoso pelo qual me referirei, neste post, aos formados em Letras). O movimento de nosso grupo rumo ao poder foi, na verdade, espontâneo e um tanto inconsciente. Ele nasceu tecnicamente da conjuntura econômica e social atual, e apenas a posteriori cada indivíduo se dá conta do poder que acumula, sem muitas vezes entender que esse mesmo poder depende da sinergia com os demais letreiros. Ou seja, é uma revolução inconsciente e, por isso, inocente.

Tudo começa quando o aluno se aproxima da formatura. Ele gradativamente entende de forma totalmente nova as consequências financeiras e sociais de ter feito Letras. Muitas vezes descobre que seus sonhos com a profissão, seja acadêmica ou pedagógica, eram ilusões de uma mente bitolada (provavelmente escolhendo outro adjetivo para seu próprio cérebro). Mesmo os retardatários enfrentam a verdade quando a formatura efetivamente vem. A resposta da maioria? Cair fora. Com um mercado nada atraente e que em geral não reconhece novos talentos, o futuro se difurca infinitas vezes, sendo que apenas uma combinação específica escondida entre diversas opções atraentes levará o sujeito ao magistério. O resultado de tudo isso é que, além de ocupar a educação (formação das mentes da nação), os formados em Letras terminam cuidando do trânsito, das contas de outrem, de empresas, da prefeitura... enfim, ocupam uma diversidade imensa das profissões para as quais se exige apenas uma formação superior. É claro que gente de muitos cursos vem competir, mas o número de formados em Letras é simplesmente esmagador. 

É por isso que o letreiro em exercício passa pelas filas, atravessa a burocracia, ri dos prazos. O letreiro conhece alguém com mínima posição em qualquer instituição pública e em muitas das privadas, ex-colegas que abandonaram o caminho do ensino pelo bem dos demais profissionais do ramo, ou seja, para ocupar um pouco mais do Estado. PT que nada: a Letras é a nova maçonaria brasileira: um aceno de cabeça, e o letreiro avança com segurança onde outros pegam a senha e aguardam.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Auto-crítica e sangue

Depois de tirar meu sangue, a técnica derrubou um adesivo, quase derrubou um pote de coleta e completou:

"Ainda bem que eu acertei a veia, né?"

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Saneamento gráfico

Quando um homem entra num banheiro público que está realmente limpo, imediatamente procura um mictório ou volta para reler a placa na porta, pois imagina que se confundiu e entrou no banheiro feminino. Ainda assim, alguns restaurantes tentam descaracterizar o banheiro masculino limpando-o, e almocei hoje num estabelecimento que tentou uma tática curiosa para tal fim: colaram uma enorme cartolina no verso da porta. Bem no alto da folha escreveram algo como "Para que o estabelecimento mantenha-se limpo, pedimos que não escreva nas paredes do banheiro", mas completaram a mensagem no pé da mesma cartolina: "mas, como gostamos muito de você, deixamos aqui esta cartolina para que escreva nela como quiser".

A tática, por enquanto, parece estar funcionando, e os obsessivos pelo pênis já aproveitaram a cartolina para registrar suas mensagens, bem como já está representado o inevitável "Deus é fiel!", com direito a discussão a respeito da fidelidade da divindade bíblica.

Política do café com leite

"Tudo bom? Este aqui é o Fulano. Ele é do PSB, mas estamos trazendo ele pro nosso lado."

Tudo numa cena calma e pacífica, numa cafeteria aconchegante de Porto Alegre...

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Eleições 2010, sem compras e sem liberdade

Não foi por falta de material que eu não publiquei por dois dias. Triste, porque gosto de escrever aqui e porque este blog funciona quase que totalmente à base de críticas e deboches, o que significa que eu não só estava privado de minha palavra escrita internética como continuava esbarrando em baboseiras e idiotices, ou seja, material para o blog. Seguro de que o mundo segue farto de imbecilidades, preciso comentar alguma coisa aqui de início e deixar parte do material para novos posts, caso nada mais chame a atenção logo. As maiores baboseiras que encontrei, claro, foram políticas, então fiquemos com elas e os assuntos mais cotidianos seguem para depois. 

Buemba número 1: a punição de até 8 anos de prisão prevista para quem vender o voto! Apesar de tradicionalmente, no Brasil, adorarmos punir quem aceita a corrupção (situação mais fraca do elo) e deixar tranquilo quem praticou a corrupção (maior potência entre os dois), nesse caso quem compra o voto também estaria à mercê desse julgamento. Nota fundamental e divertida: isso nasceu de gente vendendo o voto até pela internet, por um real, um e cinquenta, até uns 12 reais pelo cartão. Tal exemplo de capitalismo aplicado à política, absolutamente justificável (e justificado) como "crítica social", será considerado crime se for comprovada intenção sincera! Quer dizer, se o cara vendeu o voto, ele precisa votar naquele que comprou. Até a eleição, não cometeu esse crime, mas o de estelionato. No entanto, como saber qual deles foi cometido, se o voto é secreto? Se quem vendeu o voto na internet é obrigado a abrir o voto, voltamos ao problema do post logo abaixo, ou seja, isso seria tratar o cara como culpado sem que se tenha ainda provas! E sem essa prova, quem comprou o voto não pode ser considerado, comprovadamente, criminoso. Talvez seja só um tolo que confiou num brincalhão. Era o caso de os juízes terem se abstido de comentar a coisa toda, ou proibir o simples ato da oferta "pela honra sagrada da eleição", mas não sei de onde tirariam argumento para tanto.

Buemba número 2: Censura prévia! Não se pode fazer humor com as figuras dos candidatos! Habilmente nossos políticos juntaram duas vontades ao mesmo tempo. Queriam proibir quaisquer críticas na Internet aos candidatos durante as eleições. Votaram contra isso, ainda antes das eleições começarem, não apenas por boa vontade, mas, suponho, porque seria impossível monitorar tal coisa sem uma censura à Internet no nível do Irã. Isso se junta, necessariamente, à última vez em que o PT rodou a baiana, quando a Dilma sofreu esta charge.

Na época, Nani debochava da incapacidade do PT em formar seu programa de governo. Pode-se dizer que quiseram usar a associação da candidata com prostitutas como uma ofensa pessoal, mas eu sou mais tentado a pensar que, na verdade, a maioria deles pensou que isso era realmente o assunto da charge. Raras vezes grupos de censores tiveram cérebro, e vivemos uma situação atualmente em que qualquer zé-mané serve de censor, considerando-se que é só dizer que algo é ofensivo para os "politicamente corretos" pegarem os capuzes brancos e pontiagudos. 

Frente à péssima reação que proibir deboches à candidata do Lula causaria, realizou-se um exemplo de democracia digna do jardim de infância: "é, vamos ser igualitários, não se pode debochar de ninguém!" Eu não consegui achar quem teve a ideia, quem propôs a lei ou quem votou nela, não a lista decente dos criminosos, mas não acho que tenha um partido com gente do Tribunal Superior Eleitoral ou em qualquer cargo de Justiça do governo que não mereça ser desrespeitado, demonizado, excluído e alvo de todo preconceito depois dessa. Afinal, não são esses os quatro cavaleiros do Apocalipse em nossa Era? E não é no inferno que esses bostas merecem viver?

PS: Desde Deodoro da Fonseca que o Brasil republicano vive num vai-e-vem de censura. A época de liberdade de imprensa mais consistente foi... nosso Absolutimo. E, sim, o Imperador era alvo constante de charges. Os jornais não eram atacados ou multados por isso e não foi por isso que seu Império caiu!

sábado, 7 de agosto de 2010

Agora, no Brasil, só a camisinha salva!

"Vós até me esquecestes na Cruz, mas, agora que renasci, tereis de me engolir!"

Li sobre uma medida ontem que não me parecia nessariamente nefasta ou boa, mas que tinha algo estranho. Apesar de parecer lógica do PT, a medida anda tocada a DEM e PSDB (basicamente por membros de Ceará e Bahia, se algum entendido tira alguma conclusão daí).

Bom, antes de explicar a medida, digamos por que a estranhei: ninguém é obrigado a contribuir com a própria incriminação, até eu sei disso. É o clássico "Nada a declarar", que sempre pode ser dito sem que isso conte como uma admissão implícita de culpa. Negar-se a declarar qualquer coisa não é se incriminar legalmente, apenas frente ao senso comum. Para a lei, é uma afirmação neutra, não podendo, por isso, ser usada para se julgar a culpa ou inocência de um indivíduo.

É por isso que a Justiça não podia forçar ninguém a fazer o teste de DNA para determinar paternidade? Ou isso, ou era assim que os advogados tentavam proteger seus clientes.

Aí, o pessoal está dando uma volta retórica ótima com uma tal de "admissão tácita": agora, a menos que o Lula vete a lei, qualquer cara que se negar a fazer um teste de paternidade será considerado "pai", desde que, é claro, haja outros indícios. Mas que outros indícios? Bem, tanto faz, pela lei, que obviamente não estipula critérios para se dizer se alguém é pai ou não. Uma guria dizendo que o Fulano de Tal é pai dela serve como prova?

Enfim, eu não sei como andam os problemas de paternidade no Brasil, então vai ver a lei até ajuda, num sentido prático, mas ela me parece mesmo inconstitucional, se os cidadãos não podem ser forçados a se autoincriminar. A lei agora diz (ou está para dizer) que o suspeito precisa aceitar se incriminar ou... será considerado culpado (supondo que ele é mesmo o pai) e, o que é o problema lógico, força o inocente a provar que é inocente, tornando-o "culpado até que se prove o contrário", exatamente o oposto do que nossa Constituição defenderia (meu mundo desmorona com o que me ensinaram no colégio, sniff). Essa coisa toda não se aplica às mães, aparentemente, de modo que elas, pelo menos, estão livres para renegar a prole. Mas o senador Marco Maciel (DEM), um dos que defende tudo isso, diz que a identidade está ligada à imagem e à honra de alguém, portanto o filho seria lesado pela ignorância do próprio pai. Esse direito do sujeito mantém a medida constitucional, ainda que ninguém, supostamente, seja obrigado a produzir prova contra si. Ou seja, o direito do filho supera o de qualquer proto-pai.

Bom, pelo menos a gente descobre que alguém no Brasil ainda acredita em honra. Não sei se isso vai aumentar o "sumiço" de amantes e herdeiros, mas com certeza trata-se de uma medida do governo para aumentar o comércio de camisinhas, já que ultimamente parecemos sempre perder um pouquinho de liberdade numa boa com a justificativa de que "o Brasil está crescendo".

Matrimônio versus Educação, combate desigual

Considerando-se que o casamento não tem mais o mesmo valor que já teve, nem que aparenta ter, e que mesmo assim tantas alunas abandonam os estudos para casar ou porque os maridos não aceitam que estudem, o que isso diz sobre o lugar que ocupa a educação, hein?

Fim do mundo

É, no caso do fim do mundo, eu não tenho solução a apresentar.


Agora, se não for o fim do mundo, só conheço um jeito:

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Frio auto-sustentável

Por indicação da Leo, autora desse blog, eu publico aqui uma crônica do David Coimbra. Em seguida ao texto, comento. Aqui vai:

Aqui não faz frio

Nós aqui da Zero Hora, nós somos um jornal eternamente perplexo com nosso próprio clima. A chuva que se derrama de baldes e flagela as populações ribeirinhas, o vento que arranca árvores pela raiz e as atira sobre Fuscas, a canícula que faz Batistas desfalecerem, qualquer intempérie vale manchete. Muito conveniente. Assim, sempre temos chamada de capa, mesmo que nada aconteça em todo o Rio Grande amado.
Mas, ao contrário do que eventuais críticos possam pensar, essa característica é um predicado do jornal. Demonstra que o veículo está em harmonia com seu público. Pois o gaúcho é um ser eternamente perplexo com o clima do seu próprio Estado. Mais até: o gaúcho orgulha-se dos supostos rigores do tempo no Rio Grande do Sul.
Alguns campeonatos atrás, o Maurício Saraiva, ele com sua alma carioca, foi cobrir um jogo em Caxias. Fazia frio. Em meio à partida, o serviço de som anunciou:
– Neste momento, zero grau!
As arquibancadas tremeram. A torcida comemorou a temperatura como se fosse um gol.
Só que tem o seguinte: não faz tanto frio assim no Rio Grande do Sul. Todos os países da Velha Europa e da América do Norte; o Japão e a China; a Rússia, que até é defendida pelo seu General Inverno; a Argentina; o Uruguai; o Chile; todos esses e mais tantos outros são mais frios do que o Rio Grande do Sul. Nossas temperaturas raro baixam do zero e só de vez em quando se erguem acima dos 40 graus. Dois meses de inverno, dois meses de verão, oito meses de suavidade. Já passei mais calor em Viena, já passei mais frio na África. O clima, aqui, é ameno como um beijo na testa.
E ainda assim o gaúcho estufa o peito para falar das temperaturas baixas que fazem no seu Estado. Agora mesmo a neve rala que se precipitou na Serra fez estremecer o Rio Grande, mas não de frio: de brio. O que diz muito sobre a personalidade do gaúcho: o gaúcho se gosta, e se gosta tanto que se ufana do frio que sente. Ainda que não seja tão frio assim.
É bonito isso. E bom, que é bom gostar de si mesmo.
Vale manchete.
No Rio Grande do Sul não faz frio.
No Rio Grande do Sul SENTE-SE frio.
Como o inverno gaúcho dura poucas semanas, os construtores acham que não vale a pena instalar calefação nas casas, nos prédios, em lugar nenhum. Desta forma, o gaúcho suporta sentir frio por alguns dias em troca de alguns caraminguás. Por economia. Então, chega o inverno, a temperatura cai um tantinho e as pessoas não têm para onde fugir. A saída é vestir-se como um mendigo: camiseta, camisa, blusão, casaco, outro casaco, manta, touca, tudo superposto.
O que é isso?
É a tal “estética do frio”, que dizem que existe por aqui. Estética do frio num lugar em que não faz frio, mas onde as pessoas sofrem com o frio. O Rio Grande amado é diferente de tudo mesmo.


Comentários:
  1. No cerne da questão, como a Leo, concordo, mas sou muito chato para não falar mais umas coisinhas.
  2. Digamos que eu não sou gaúcho, conforme os critérios dele, porque odeio as pessoas comentando o clima, seja para reclamar do presente ou do passado ("Tá bom hoje, mas a semana passada tava horrível!"). Jamais comemoraria fosse quem fosse lendo o termômetro, diga-se de passagem.
  3. Por isso mesmo, eu sou o primeiro a falar mal sobre tempo virar notícia, mas a última neve não foi manchete pelos motivos tradicionais (sejam quais forem, não imagino como um editor os justifica), mas porque representa uma mudança climática mesmo conforme os registros pouco espalhafatosos ou sensacionalistas. Além disso, como nunca "nada acontece" no "Rio Grande amado", acho especialmente irritante usarem clima tanto como notícia de capa, seja Zero Hora ou quem for, como pode atestar qualquer pessoa que leia este blog há um mínimo de tempo.
  4. O clima aqui não é ameno, ao menos não em Porto Alegre. Nosso clima é instável. Sempre variando. O estranho é quando só faz frio, ou só faz calor. Como não está mudando, vamos sentindo mais e mais o frio (ou o calor) e nos impressionando com ele, já que começamos a achar que é tudo o que faz na Terra. Acostumados a mudar da noite para o dia, é-nos estranhos o clima monolítico, daí uma grande sensação de frio, ou de calor. Como o calor caracteriza o Brasil, enfatizamos o frio. 
  5. Claro que a "estética do frio" vem de sofrermos de frio, independentemente do termômetro! Cultura é isso: o que sentimos e achamos, não uma representação fiel dos fatos - especialmente, aliás, se não for fiel aos fatos! E esse "querer ser" é uma das grandes características de nossa cultura. Queremos ser herdeiros de revoltosos, guerreiros honrados e corajosos criados por nossa imaginação contra infinitas provas, tanto que até Porto Alegre comemora os Farrapos, ainda que a cidade tenha sido condecorada por ter resistido a eles; queremos ser culturais ainda que não tenhamos motivos para nos crer mais interessados na cultura que nossos vizinhos (os brasileiros), tirando nossa eterna vontade de ter interesse em cultura (e agir, sempre, para tentar gerar essa tal vida cultural que nos caracterizaria); queremos sentir frio, e sentimos. E se a Europa ou a África têm lugar mais gelado que aqui, azar o deles, as regiões geladas deles, ainda que tenham as temperaturas insuportavelmente baixas, não estão no Rio Grande do Sul. Temos o nosso frio, é o que basta!

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Sociologia do cotidiano


Curiosidade: todos os meus alunos que quiseram se manifestar disseram, nesta semana, que os trabalhadores desse quadro são negros (as turmas têm gente de diferentes cores de pele e não, nenhum dos alunos falou "afro-descendente").

*****

Eu fui assaltado no ano passado por dois caras mais ou menos da minha idade, um deles certamente negro, o outro mulato ou negro, não tive certeza. Essa minha dúvida não vem de uma confusão conceitual, mas do fato de que o assalto foi, em si, uma briga, pois eu reagi assim que colaram em mim, e durante a confusão nós percorremos uns 20 metros, ladeira abaixo, com direto a todos rolar no chão em determinado momento. Além da confusão, era noite. Mas, confusão e noite que fosse, justamente por percorrermos tanto espaço, passamos por postes de luz da famosa iluminação pública, acredito que bastante conhecida dos leitores deste blog. Ou seja, poderia discutir tom de pele, mas não admitir que algum deles fosse quase tão claro quanto eu. Por que a cor deles seria relevante? Porque a descrição que damos de assaltantes vão para... o boletim de ocorrência, exatamente para que a polícia possa fazer seu trabalho, é importante saber por quem estão procurando, certo?

Pois bem, hoje precisei mexer naquele boletim. Na época focado em conferir os itens listados como roubados, não prestei atenção em como exatamente o policial que registrou a ocorrência tinha descrito a cena em si. Agora, com menos familiaridade com o registro, fui procurar as informações que me interessavam e, nisso, li a descrição dos assaltantes. Eles não são referidos como negros, nem como afro-descendentes, nem como pardos. Eles são "morenos"! Morenos!!!

Na minha nomenclatura descuidada, moreno é alguém que tem cabelo escuro. Eu aturo, com má-vontade, a reação de gente que não entende isso e me acha racista ao dizer moreno, porque interpretam que eu estou usando o termo como eufemismo de negro. Não, eu não acho que "negro" seja um termo feio, que exija eufemismo, mas a palavra que eu conheço para dizer "homem de cabelo escuro" (como eu) é "moreno"! Porém, sim, eu sei que "moreno" pode ser usado assim por algumas pessoas, mas por que um policial faria isso? E como um policial pode fazer isso? Ele não teria de usar a nomenclatura oficial e chamar pelo menos de afro-descendente, se tem medo de chamar os caras de negros? Até entendo uma hipercorreção no cotidiano, mas isso já é incompetência, ainda que por insegurança ideológica. Ou, no mínimo, irresponsabilidade. Agora, essa hipercorreção não dá a impressão de que ele é racista na sua prática profissional, quando precisar agir em relação a um preso ou suspeito "moreno"?

Bizarrices do espaço-tempo, ou "esclarecendo post anterior"

Às vezes eu deixo a desejar na clareza, aqui, e realmente devo passar aos leitores coisas contrárias às minhas crenças e valores. Por exemplo, num post de muito tempo atrás, que não vou catar agora, eu convidava linguistas a comentarem determinado fenômeno que eu mostrava causar tilts na gramática normativa. Como pude comprovar, linguistas podiam entender que eu estava os confundindo com gramáticos. Puderam pensar isso porque eu achava totalmente implícito que eu não faria uma confusão dessas, tão implícito que não dei nenhuma indicação no texto de que eu não fazia tal crime. Na verdade o que eu queria era que comentassem o fenônemo do ponto de vista deles, tendo eu discutido a questão do ponto de vista da gramática normativa.

Hoje aconteceu de novo. No post logo abaixo, coloquei o título "Foda-se o mundo, EU tenho um cargo público". O "eu" em questão não sou eu, Tigre, porque não tenho um cargo público. Só que, como meu chefe é do Estado, por uma loucura administrativa, e como refiro no post que recebo ordens do Estado, sem explicar em nenhum momento que isso não me torna funcionário público, causei um mal-entendido tão feio que pensei em deletar o post. Primeiro eu explico a confusão, depois explico por que eu não deleto, nem mudo o título agora mesmo.

O "eu" se refere às pessoas que efetivamente fazem parte do Estado e que são, tecnicamente, meus chefes. Essas pessoas mandam o mundo se fuder (eu e meus colegas), dispondo do poder que detêm sobre nós de forma irresponsável, a meu ver, desrespeitando tudo o que fazemos para ter, com nossas aulas, um resultado construtivo e relevante. Eles não são totalmente incompetentes, nem todos são necessariamente incompetentes, mas eu estava irritado, pô!

Agora, não deleto o post anterior porque, quando o escrevi, na verdade eu já era um funcionário público e não sabia. Acontece que fui chamado em um concurso, mas não me avisaram. Fiquei sabendo no fim da tarde, bem depois de escrever o post. Portanto, não só meu texto poderia dar a entender que eu estava mandando o mundo se fuder por ser funcionário público (que eu acreditava não ser) quanto minha segurança de que essa leitura seria totalmente inválida era infundada, já que alguém poderia, antes de mim, saber que eu tinha sido chamado e associar o fato ao título sem eu nem suspeitar da coisa toda. Enfim, fica o post pelo acidente, para me lembrar de escrever apenas quando estiver concentrado, com a firme consciência de que a falta de contexto dos leitores e minha vontade de expressar algumas opiniões com certa força podem causar grandes manchas no blog...

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Foda-se o mundo, EU tenho cargo público

Imperador Joseph II, seguindo o que lhe assopraram
"Your work is ingenious. It's quality work. And there are simply too many notes, that's all. Just cut a few and it will be perfect."
Mozart, após uma expressão de surpresa e insulto: 
"Which few did you have in mind, Majesty?
Amadeus - 1984

Num desses momentos em que o capitalismo invade a lógica didática, eu criei uma aula mais crítica e ideológica para a semana em que teria menos alunos. Quanto menos gente, maior a porcentagem de alunos interessados presentes, ou seja, melhor a oportunidade para funcionar aquela aula que exige mais do cérebro e é menos voltada para a matéria gramatical como técnica pura e descontextualizada, útil apenas para provas e medições quantitavas do ensino (única coisa que interessa aos alunos menos preocupados em aprender).  Eu sei que o ideal era tentar resgatar estes para a ideologia dos outros, mas não estava sonhando tão alto nesta semana. Queria pelo menos levar quem viesse a um nível mais alto de discussão, torcendo para isso me indicar o caminho de como resolver quem não viesse.

Menos gente viria por uma série de problemas contextuais. Todos eles começavam na realização de uma prova (que promoveria o quórum máximo da semana). As provas do programa em que trabalho são realizadas em datas que me são impostas, raramente avisadas com mais de 24h de antecedência, preenchidas por questões elaboradas por pessoas no Diabo-a-quatro. Como isso me levaria a ter menos alunos no resto da semana, eu preparei uma aula que exigia maior capacidade crítica e envolvimento na sala de aula, deixando a matéria bruta e voltada às avaliações nacionais para a semana seguinte, em que mesmo os menos interessados teriam maior probabilidade de aparecer.

Hoje seria a prova. E hoje fiquei sabendo que não a aplicaremos hoje, nem há previsão de quando ela ocorrerá. 

A diferença relevante entre essa situação e a que citei como epígrafe deste post é que, no caso do filme, o Estado que manda e desmanda num trabalho criativo do qual não entende merda nenhuma tem razão em se portar como se tivesse o rei na barriga. Quando estamos na provinciana metrópole de Porto Alegre, o abuso por descaso é simplesmente uma desconexão injustificada e bufa com a realidade. Bufa, ainda que faça na verdade a mim e a meus colegas de bufões.

Aprender é não se mixar

Ontem de noite (ou seja, agora há pouco), dei uma aula de pragmática para adultos que não completaram o fundamental. Austin, acima de tudo, mas também Searle e Grice. Uma versão curta de uma ou duas aulas que tive na faculdade, lá pelo terceiro semestre, após a minha turma ter lido (ou, alguns, fingido ler) textos teóricos indicados. Tudo posto em uma aula de uma hora e meia, sem leitura prévia, sem texto indicado, sem alunos que querem se formar em Letras. Isso foi, na verdade, 2/3 da aula, discussão prévia para eu finalmente abordar a pintura que estava no capítulo do livro didático de que deveria tratar.

Resultado? Funcionou. Funcionou muito bem. Como talvez fosse de esperar para alguns, justamente os piores alunos em Português, matéria inevitavelmente voltada à gramática e à louca organização de "textos canônicos" no programa de ensino (mesmo formato para todo o país), foram os alunos que mais prestaram atenção e que mais entenderam a profundidade do que eu estava explicando, para além da primeira compreensão racional. Na verdade, o interesse foi inversamente proporcional à nota do aluno em gramática ou produção de redação. Quanto "melhor" o aluno, menos ele queria saber dessa teoria diferente de como as pessoas se comunicam, de como os enunciados têm sentido, com uma exceção: o melhor aluno da turma, que comprovou simplesmente atacar bem em qualquer nível de discussão de linguagem. Eu não entrei em grandes nomenclaturas. Obviamente ISSO seria inútil, por enquanto, já que esqueceriam e serviria apenas para provocar desinteresse. Não, eu preferi atacar o coração da teoria e expor seu funcionamento, suas conclusões amplas, o efeito de se pensar por elas, o que nelas afetaria nossa forma de pensar todos os textos de agora em diante, ou seja, o nível de discussão por que espero, um nível que eles perderam a permissão de puxar para baixo por preguiça intelectual (de aluno).

Houve desinteresse de alguns, claro, mas nenhum aluno deixou de acompanhar o raciocínio, exposto ao longo dos primeiros cinquenta minutos (como condensar tanta matéria teórica sem uma aula expositiva?). Resistiam, mas acabavam se incomodando com minhas perguntas capciosas, o que sempre é bom sinal. É mais do que posso dizer de minha turma de faculdade, naquela cadeira. Nenhum de meus alunos ontem se negou a entender a explanação, nenhum se fechou num mundinho paralelo ou estudando outra matéria. Mesmo resistindo, os mais contrários a Português ouviram, ainda que disfarçadamente, e mais cedo ou mais tarde participavam, respondiam, arriscavam.

Enfim, de onde veio essa ideia de dar uma aula de faculdade para adultos sem fundamental? De um cacoete: eu não consigo falar muito tempo sobre conteúdos rebaixados. Eu na verdade não acho que nenhuma discussão séria sobre linguagem pode ser simples, porque o fenômeno todo é bizarro demais, nem que seja em sua problemática filosófica. Por outro lado, não acredito que nenhuma discussão sobre linguagem esteja além da capacidade racional de qualquer ser humano minimamente inteligente, e sou daqueles professores que acaba sempre achando que meus alunos são inteligentes, mesmo que eu não tenha descoberto ainda como atiçá-los. Afinal, por um lado, o grosso da matéria tem lógica e parte, em muitos pontos, de coisas que fazemos "instintivamente". Se algo não entra na cabeça do aluno, a gente sempre pode encontrar uma outra explicação simples para o fenômeno, ou algo que o satisfaz enquanto preparamos seu raciocínio. Por outro lado, se a matéria está entediante de tão simples, existem sempre uma série de fenômenos bizarros associados àquilo e uma penca de assuntos para problematização crítica de tudo que fazemos com a língua no dia-a-dia. Se tudo só nos é consciente pela linguagem, numa aula de Português, o Cosmos é o limite.

Não bastasse tudo isso, o trabalho com a língua tem importância extrema para o futuro dos alunos; como aceitar o embrutecimento da matéria tal como nos pedem? Os livros dados para meus alunos são emburrecentes. Às vezes é mais grave do que aquilo que vemos nas cadeiras de didática. Eu posso me moldar às necessidades da prova, um pouco. Posso até dar uma aula mais light quando os matei na semana anterior. Mas acabo sempre sendo jogado (por mim mesmo) de volta para o único nível de discussão que me interessa: o viajante, o especulativo, o estranho (que causa estranhamento, portanto curiosidade, investigação). Como é isso que me interessa, eu obviamente acho ultra-importante para os alunos, acho fundamental, acho até básico: "se não percebem tal coisa, como vão interpretar um texto, qualquer texto?!"

Enfim, só adianta viajar tanto, querer tanto, se os alunos estão à altura. E sempre descubro que eles estão. Às vezes vão choramingando e esperneando o tempo todo, às vezes resistem o que podem, apenas para chegarem do outro lado tendo resultados por que nunca esperavam. Então vem a cara de tacho, o "Ah, pois é", mas é inegável, eles são inteligentes, ainda que ninguém, nem eles, suspeitem.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Eu vos declaro problemáticos e inseguros

No sábado passado eu fui a um casamento em que a comida não valia a pena, mas custava os olhos da cara (convidados pagando porque o casal não poderia aproveitar nenhum presente tradicional). O resto da festa foi legal, particularmente a companhia, mas nada foi tão supreendentemente divertido quanto o discurso do clérigo (não sei como chamam em mais aquela religião protestante). Na verdade, tudo que o sujeito disse foi uma extrapolação do que vim ouvindo em casamentos na última década. Tive mesmo a impressão de um desenvolvimento gradual que culminou na cerimônia de sábado.

Parece que a popularização da separação fez com que os clérigos mais e mais se sentissem na obrigação de prevê-la já no discurso do casamento, atentando os noivos para os perigos e abanando com esperanças e conselhos, mais ou menos como Deus dando instruções para Adão sobre o Apocalipse ainda antes de o homem de barro entender que sua respectiva estava pelada (coitados). No caso desse sábado, o oficiante não se conteve nada, tanto que acabou traçando um caminho de brigas, esforços e final feliz sempre renovado pelos próximos 30 anos de casados dos dois. Era como ver um plano de carreira exposto a noivos e convidados, didaticamente explicado e sempre apoiado por moral, bons costumes, esperanças familiares e vontade divina. Em determinado momento eu realmente passei a me perguntar se estava numa festa. Por sorte eu estava sentado numa mesa de graduados em História, de modo que pudemos rir da coisa toda livres de policiamento religioso in loco.

Pelo jeito, o casamento religioso vira gradativamente o ato culpado de um padre, pastor, ou o que for, que duvida do que está fazendo e do sacramento dado. Ele busca se defender, influenciando a ação dos noivos, de ter permitido que mais esses dois prometessem perante Deus cumprir uma moral fadada ao fracasso (segundo o implícito de seu discurso).

Isso vem apenas se somar à minha incompreensão a respeito dos casamentos que venho presenciando. Por que, hoje em dia, as pessoas casam, se menos se crê no casamento, a ponto de os próprios clérigos se questionarem tanto a respeito? Eu entendo fazer uma festança por motivo de alegria. Entendo que se queira casar na Igreja se se acredita no sacramento eterno, se se crê na Igreja, se cada um acredita que aquilo é a sério. Mas, se tudo está tão incerto, se a postura geral é "qualquer coisa, separa", então para que gastar aquela grana toda (pior ainda quando eu preciso contribuir, verdade, mas realmente não me refiro só ao último). Por que, no caso do clérigo, casar dois jovens morrendo de medo do futuro dos dois? E por que expor isso a um salão de convidados? Ou o casamento é valioso e tem significado, ou ele não vale o custo de emoção, dinheiro e tempo. Ou seja, ou se paga por algo que é, ou se está pagando o que não é, o que deixaria Parmênides enlouquecido atrás das moedas em sua túnica, está bem claro.

Para mim, os cuidados e avisos burocráticos são para momentos de burocracia. A DR é para resolver problemas que existam. No outro lado do espectro está a festa, o pontapé inicial para uma ligação oficial que, convenhamos, já existe e já passou por uma série de DRs até ali. Por que não começar com um estouro, com felicidade, alegria, esperança, e deixar o "casamento" para o casamento em si? Deixar o aconselhamento para os momentos de dificuldade! A festa é uma ilusão? Ora toda festa é uma ilusão! E o maior exemplo é a cerimônia de casamento, ou as noivas não seguem casando de branco? Que mania, que falta de fé, que bisbilhotice, que pequenez de espírito e que dor de cotovelo faz com que as pessoas precisem falar mal sobre o futuro para duas pessoas que comemoram os recentes sucessos e o vento em popa!

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Roubando selos

Eu não sei se é algo que realmente blogueiros indicavam para o blog do outro, mas, como estou justamente interessado na opinião dos leitores e o selo indica antes a voz do dono do blog que dos visitantes, roubei a seguinte imagem, duvidando que seja realmente um selo a ser atribuído:


De agora em diante ele fica na lateral, deixando bem claro que eu estou não apenas disposto ao diálogo como interessado nele. Abraço de mais este fora-da-lei do Leopoldina.

Isto É um escândalo vazio

Eu já critiquei o bafafá que tentaram armar em cima da recente história do Felipe Massa deixando o parceiro de equipe ultrapassá-lo, mas a capa da Isto É desta semana merece uma pisada em cima toda especial. Eles colocaram uma foto do Felipe cabisbaixo, um fundo preto "crítico" e um TEXTO dando a prévia: "Ao deixar de ser competitivo, o piloto de Fórmula 1 Felipe Massa abala a autoestima nacional e decepciona milhões de fãs, chocados com a ideia de que a gana pela disputa pode ser derrotada por um contrato milionário".

Milhões de fãs? Autoestima nacional? De que esporte estão falando? De que autoestima? Talvez o centro do país ou a cidade do jornalista que fez a matéria esteja em polvorosa, mas eu não vi UM comentário sobre essa história em lugar nenhum além da imprensa. A Fórmula 1 nunca mais representou o que conseguia na época do Senna, e mesmo então a força simbólica do esporte para o país seria discutível. Mas agora, quando Felipe faz algo que Barrichello (que pretenderam vender, no começo, como a promessa brasileira na Fórmula 1 pós-Ayrton) já fez, há oito anos!

Fãs decepcionados? Com certeza. Mas daí a dizer que nossa autoimagem, nosso valor do brasileiro e nossa crença na competição estão abaladas é demais, ainda mais quando os brasileiros que se importam (muito mais numerosos) sofreram com a perda da Copa neste ano (mais significativo mesmo sem a "dor da tramoia")! É verdade que às vezes a imprensa consegue criar um escândalo aparentemente do nada, mas isso não quer dizer que qualquer coisa que escrevam seja capaz de produzir um fenômeno sociológico do tamanho do Brasil. É, como disse, aparente o "do nada". A "crise" de Massa é tratada na revista como uma tragédia pedagógica. E agora, as criancinhas vão aprender que valores? Ora, mesmo para o público efetivo da Fórmula 1, o caso está longe de ser pedagogicamente nefasto. Observe-se este trecho da matéria:

"Depois de três casos de armação de resultados envolvendo brasileiros, não é mais possível enxergar a F-1 como um esporte que promove o orgulho nacional. 'Por trás de um herói tem de haver uma trajetória de glórias que são divididas com a comunidade de onde ele veio', diz Ronaldo George Helal, doutor em sociologia pela New York ­University."

Não, não é mais possível ver a F-1 como esporte do orgulho nacional, mas que relação tem isso com o ocorrido? Quantos brasileiros estavam assistindo à corrida para torcer por ele? E o doutor de NY podia considerar que é importante ensinar que ninguém é perfeito, que heróis também erram e que, portanto, o público (que, vejam só, erra) pode por sua vez mirar mais alto e buscar ser ele próprio "heroico", superando os próprios erros. A Bíblia aliás usou o mesmo esquema pedagógico com ótimos resultados. Mas não: autocondescendência e desculpa para se seguir sendo anti-ético (o que, depreende-se, é o que temem que o ocorrido ensine ao "futuro do Brasil") são condições sine qua non de baboseira choramingante.

Como viver sem o exemplo ético da Fórmula 1? Bem, exatamente como sempre vivemos, não?

domingo, 1 de agosto de 2010

Quem rouba do ensino...

Eu costumo achar um bom exemplo dos efeitos da falta de educação formal a completa incompetência da maioria dos criminosos para aplicar o simples conceito de público-alvo (adaptado à criminalidade, sim). Qualquer idiota que assalta ou sequestra alguém no meu bairro, por exemplo, tem uma enorme dificuldade em considerar que a vítima terá baixíssima probabilidade de render o lucro que uma pessoa assaltada em determinados bairros de Porto Alegre, considerando-se um assalto que custasse o mesmo esforço. O criminoso não considera nem a enorme probabilidade de não ter lucro nenhum. Na verdade, a própria habilidade de prever resultados está além da capacidade da grande maioria dos ladrões e assaltantes brasileiros, ainda que consideremos alguns dos mais ambiciosos.

Para os que têm a habilidade de julgar o que estão vendo, então há ainda o perigo das aparências, de modo que o mais adequado seria mesmo uma pesquisa a respeito do alvo, já que nunca se sabe quando a vítima será, inadvertidamente, um professor. E aí, meu ineficaz assaltante, às vezes vale menos que assaltar a si próprio. Foi o caso de uma colega minha, que me fez lembrar, aliás, uma crônica de Juremir Machado, publicada aqui, em que ele comentava sobre uma professora que, assaltada em sala de aula por um aluno, tinha apenas R$ 5,00 para entregar. Pois minha colega sofreu um sequestro relâmpago. Foi atacada porque tinha carro, ou seja, isso fez com que os caras achassem que a função renderia lucro. Levaram-na até o banco, onde ela foi intimidada a tirar tudo o que tinha naquela conta. Quanto veio? R$ 6,00. Mas ela tinha outro cartão. Foram até o outro banco. Quanto ali? R$ 30,00. Levaram o carro, mas por desforra, praticamente não tiraram nada que daria lucro, porque o automóvel não era lá um exemplo de luxo ou mesmo de manutenção.

Estudo, rapazes... estudo!

Bússola política

Eu ainda não conhecia, mas tem um site (http://www.politicalcompass.org/index) com um teste um tanto divertido e rápido para "medir a posição política" do internauta. "Divertido", porque não levei totalmente a sério, mas na verdade as perguntas são de alguém que leva claramente o assunto a sério, tocando, em alguns casos, em questões bastante problemáticas nos EUA. Tem uma versão em espanhol do mesmo site (outra medida bem norte-americana... rs). Enfim, eu fiquei no que eles chamaram de esquerda libertária, já que tem dois eixos: o econômico mede esquerda-direita, o social mede libertário-autoritário. Foi engraçado, porque achei que ficaria muito mais no centro, talvez até como um pouco autoritário. Se o teste tem algum fundamento, eu ser considerado tão livre-esquerdista assim indica, para mim, um mundo tão preocupante quanto eu esperava... Ainda bem que não mediram junto pessimismo.