- Mas claro: ele é professor de português, não de creche!
Sempre é um bom dia quando os alunos finalmente descobrem que diabos aquela pessoa que acumulou diplomas e caminha pela sala deles está, afinal, fazendo.
Falando sobre tudo de linguagem que chamar a minha atenção: placas, conversas, citações... Deem uma chance lendo aí embaixo e vão sacar o foco.
segunda-feira, 31 de maio de 2010
Interpretando pelo contexto
Discutiam sobre 38 e 44. Se um já tinha experimentado 44, como tinha sido, quem tinha. Eu juro que só quando ouvi "Ah, 44 era minha calça!" é que eu entendi que falavam de roupa, não de calibre. Acontece que eu tinha acabado de entrar num ônibus que vinha para o meu bairro.
Bandeira pós-moderna
Com algo da mensagem coberta pelos casacos, uma guria que passava na minha frente rebolava apenas uma chamativo FROST escrito na calça de forma que cobrisse toda a bunda.
Frígida? Mas com orgulho. Hoje toda diferença é, afinal, motivo identitário.
Frígida? Mas com orgulho. Hoje toda diferença é, afinal, motivo identitário.
quarta-feira, 26 de maio de 2010
Pequeno aniversário
Durante sete meses eu e os demais professores que trabalham comigo sofremos as consequências de trabalhar junto de um profissional (não outro professor) que era extremamente incompetente, anti-ético, hipócrita, mentiroso e autovitimizador. Durante quatro meses tentamos (nós e outros profissionais responsáveis pela instituição e pelas aulas) afastá-lo perpetuamente de todos os alunos e da escola. Finalmente conseguimos na semana passada. Hoje fez uma semana que ele não foi trabalhar com a gente.
Como faz diferença cada semana que se fica longe de alguém incompetente e anti-ético!
Como faz diferença cada semana que se fica longe de alguém incompetente e anti-ético!
Lá vem o biônico Brasil Atômico!
Enéias voltou! Que se dane a criação da vida sintética em laboratórios judaico-cristãos-ocidentais, nós temos o Lázaro brasileiro! Pelo menos esta é uma das conclusões possíveis da notícia que os principais jornal e revista da Alemanha publicaram: Brasil fez acordo com Turquia e Irã porque está construindo secretamente sua própria bomba atômica. "Kkkkkkkkk" se não fosse tão trágico.
Observe-se esse close no desespero político de um país que se quer importante e sente como ameaça a ação diplomática do metalúrgico-prodígio! Corroborando a linguagem que recentemente retirou o Brasil do lado norte-americano do Atlas, o Die Zeit (no caso, a revista importante) disse que o acordo Brasil-Turquia-Irã era "uma aliança contra o Ocidente".
A Alemanha numa tacada indica seu voto pelas sanções em junho, se todo mundo seguir o discurso atual, e libera o Brasil de enfatizar tanto a história da Europa no colégio. Melhor: eu nunca entendi bem a formação da Rússia e a plena relevância do Império Turco-Otomano.
Observe-se esse close no desespero político de um país que se quer importante e sente como ameaça a ação diplomática do metalúrgico-prodígio! Corroborando a linguagem que recentemente retirou o Brasil do lado norte-americano do Atlas, o Die Zeit (no caso, a revista importante) disse que o acordo Brasil-Turquia-Irã era "uma aliança contra o Ocidente".
A Alemanha numa tacada indica seu voto pelas sanções em junho, se todo mundo seguir o discurso atual, e libera o Brasil de enfatizar tanto a história da Europa no colégio. Melhor: eu nunca entendi bem a formação da Rússia e a plena relevância do Império Turco-Otomano.
terça-feira, 25 de maio de 2010
Maternidade Zona Norte
"Por que tu faz isso? Se quer apanhar na rua, diz, que eu te meto o pau de cima abaixo... Eu não tenho medo de Conselho Tutelar."
Sinais
Não me sinto tão seguro em concordar com o otimismo-pessimismo da primeira parte da ideia, mas o marcado em negrito me pareceu um ótimo resumo, e a aplicação da ideia nesse momento, particularmente precisa:
"Naturalmente a pantomima brasileira no Oriente Médio não teria - e não terá - a menor importância para o futuro da região. Mas pode deixar lições importantes. A principal delas: a mitificação é, sempre, véspera do autoritarismo. Forjar líderes maiores do que eles mesmos é caminho inexorável para a prepotência."
Guilherme Fiuza - Época de 24 de maio de 2010
"Naturalmente a pantomima brasileira no Oriente Médio não teria - e não terá - a menor importância para o futuro da região. Mas pode deixar lições importantes. A principal delas: a mitificação é, sempre, véspera do autoritarismo. Forjar líderes maiores do que eles mesmos é caminho inexorável para a prepotência."
Guilherme Fiuza - Época de 24 de maio de 2010
domingo, 23 de maio de 2010
Platonismo e restrições, chaves da propaganda de inclusão social
A grande vantagem de palavras como verdade, ética, respeito, direitos e deveres é que elas servem para defender absolutamente qualquer coisa, do Anarquismo ao Fascismo, do silêncio às passeatas, do pacifismo à guerra. E, como somos seres que mais sonhamos em ser racionais do que realmente somos, tais termos servem a uma guerra retórica infinita, geralmente redundante e, por isso mesmo, paralisante.
Tenho a impressão de que a semana que findou ontem foi particularmente ilustrativa para meus alunos a esse respeito. Alguns professores que trabalham comigo me acompanharam numa reunião com uma série de pessoas hierarquicamente superiores para defendermos, entre outras coisas, que mostrar um documento oficial para alunos adultos nada tem de anti-ético. Aparentemente envergonhados de terem escrito esse documento de forma distorcida, em partes de forma bem violenta, foi a nossa ação de respeito pelo que entendíamos serem direitos dos alunos que resultou na ação taxada de "anti-ética".
Trouxemos aos alunos o resultado da discussão. Parte do resultado foi conseguirmos finalmente afastar um dos funcionários que trabalhava conosco. Nesse caso, ele faltar com muitos de seus deveres e abusar ao longo de meses de direitos ambíguos fez com que a responsabilidade por determinados acidentes caíssem sobre os alunos, sobre o que também discutimos nessa reunião, buscando contestar a "verdade" apresentada no documento citado acima.
Junto de tudo isso, trouxemos a notícia de que perderiam alguns professores (por outros motivos, não por tudo que fora discutido sobre o documento difamatório). Em relação à perda de professores, os alunos estariam praticamente impotentes. Ao contrário do que acreditam os que idealizaram o programa de educação do qual fazem parte, porém, esses alunos não precisam "aprender" a exigir seus direitos. Não ficaram nem um pouco dispostos a aceitar essa "impotência" que lhes foi apresentada como única opção. Estavam decididos a reclamar e pressionar de todo modo para conseguir o que queriam numa grande reunião de todas as escolas que aconteceria na sexta-feira. A forma escolhida foi o abaixo assinado, apesar de que o plano ia para bem além, conforme cada medida não trouxesse o resultado esperado.
A reunião de sexta, clímax da semana, exige certas explicações preliminares. Para fazer o máximo de uma verba mais curta, para fazer um "H" sabe-se lá com quem, para reunir os professores todos num mesmo lugar na noite em que obrigatoriamente nos anunciariam uma série de decisões fundamentais já para o funcionamento das aulas na semana seguinte e para atingir outros objetivos que com certeza me escapam, fomos colocados todos num prédio público em que palestrariam duas estrangeiras, uma de nome que todos entenderam como "Tique Vicioso" (falou sobre crack) e uma descendente do Zapata (que fez Zapata arrancar o bigode no túmulo com as ideias que defendeu).
Basicamente, elas falaram sobre juventude, direitos e deveres. A primeira falou em espanhol claro, o que possibilitou que dispensássemos a péssima tradutora convidada. Suas afirmações sobre as consequências políticas do tráfico até que foram pertinentes. A segunda, em espanhol bem menos acessível, cometeu o clássico erro de supor a total apatia de seu público apenas porque vinham de famílias pobres e sem ensino fundamental completo. Pregou a livre-iniciativa (com outros nomes) e que não se esperasse a ajuda do Estado, isso para pessoas que vivem tão distantes do Estado que reconhecem antes o paralelo que o oficial! Qual deles teria sobrevivido para além dos 18 anos só esperando o governo?
Seja como for, nossos alunos estavam descontentes, mas outros, de outras escolas, tinham ainda mais motivos para se irritar com uma reunião semi-midiática dessas. Alunos que passaram por maus bocados ainda piores aproveitaram o momento de manifestação (perguntas e comentários) e se levantaram com cartazes, narizes de palhaço e críticas ferozes, certeiras, sem nem mesmo apelarem a palavras de ordem. Foi pior que uma manifestação arruaceira, foi um ataque sincero na jugular dos administradores presentes.
A representação do programa se defendeu bem: retórica eficiente e tentativas boas de controle da situação. Como as convidadas reagiram, as convidadas que vieram falar a esses jovens como eles deveriam viver, quais eram os problemas da vida deles, que eles deveriam exercer seus direitos e tomar as rédeas de seus destinos com as próprias mãos? Disseram que aquele não era o momento para se manifestarem. Vieram com o papo (que já quase virou lei em Porto Alegre, há um ano atrás) de que há momentos para as pessoas exigirem aquilo que lhes falta, ainda que todos os meios civilizados e legais tenham sido esgotados. Enquanto aqueles alunos entendiam que tinham cumprido seus deveres e que os responsáveis pelo programa não tinham cumprido os deles, que sofriam com um descaso contra o qual tinham o direito de reclamar (e não há forma de reclamar sem causar incomodação, pelo contrário, a incomodação é a chave do poder da reclamação), as estrangeiras se insultavam com uma manifestação que se baseava nos mesmos princípios que elas evocaram poucos minutos antes. Os mesmos princípios, mas lidos de outra forma (nem tão distante assim), ou seja, conforme a interpretação dos próprios alunos, essas pessoas que são colocadas em programas que priorizam o desenvolvimento de cidadania, criticidade e autonomia interpretativa, mas que institucionalmente lhes negam tudo isso a cada passo, a menos que mediada docemente por alguém "de cima", nem que sejam os professores.
Verdade, ética, respeito, direitos e deveres, tudo isso é muito maleável. O maior problema, na prática, é que quem não costuma ter o microfone para falar também tem a sua interpretação para cada um desses idolatrados termos.
Tenho a impressão de que a semana que findou ontem foi particularmente ilustrativa para meus alunos a esse respeito. Alguns professores que trabalham comigo me acompanharam numa reunião com uma série de pessoas hierarquicamente superiores para defendermos, entre outras coisas, que mostrar um documento oficial para alunos adultos nada tem de anti-ético. Aparentemente envergonhados de terem escrito esse documento de forma distorcida, em partes de forma bem violenta, foi a nossa ação de respeito pelo que entendíamos serem direitos dos alunos que resultou na ação taxada de "anti-ética".
Trouxemos aos alunos o resultado da discussão. Parte do resultado foi conseguirmos finalmente afastar um dos funcionários que trabalhava conosco. Nesse caso, ele faltar com muitos de seus deveres e abusar ao longo de meses de direitos ambíguos fez com que a responsabilidade por determinados acidentes caíssem sobre os alunos, sobre o que também discutimos nessa reunião, buscando contestar a "verdade" apresentada no documento citado acima.
Junto de tudo isso, trouxemos a notícia de que perderiam alguns professores (por outros motivos, não por tudo que fora discutido sobre o documento difamatório). Em relação à perda de professores, os alunos estariam praticamente impotentes. Ao contrário do que acreditam os que idealizaram o programa de educação do qual fazem parte, porém, esses alunos não precisam "aprender" a exigir seus direitos. Não ficaram nem um pouco dispostos a aceitar essa "impotência" que lhes foi apresentada como única opção. Estavam decididos a reclamar e pressionar de todo modo para conseguir o que queriam numa grande reunião de todas as escolas que aconteceria na sexta-feira. A forma escolhida foi o abaixo assinado, apesar de que o plano ia para bem além, conforme cada medida não trouxesse o resultado esperado.
A reunião de sexta, clímax da semana, exige certas explicações preliminares. Para fazer o máximo de uma verba mais curta, para fazer um "H" sabe-se lá com quem, para reunir os professores todos num mesmo lugar na noite em que obrigatoriamente nos anunciariam uma série de decisões fundamentais já para o funcionamento das aulas na semana seguinte e para atingir outros objetivos que com certeza me escapam, fomos colocados todos num prédio público em que palestrariam duas estrangeiras, uma de nome que todos entenderam como "Tique Vicioso" (falou sobre crack) e uma descendente do Zapata (que fez Zapata arrancar o bigode no túmulo com as ideias que defendeu).
Basicamente, elas falaram sobre juventude, direitos e deveres. A primeira falou em espanhol claro, o que possibilitou que dispensássemos a péssima tradutora convidada. Suas afirmações sobre as consequências políticas do tráfico até que foram pertinentes. A segunda, em espanhol bem menos acessível, cometeu o clássico erro de supor a total apatia de seu público apenas porque vinham de famílias pobres e sem ensino fundamental completo. Pregou a livre-iniciativa (com outros nomes) e que não se esperasse a ajuda do Estado, isso para pessoas que vivem tão distantes do Estado que reconhecem antes o paralelo que o oficial! Qual deles teria sobrevivido para além dos 18 anos só esperando o governo?
Seja como for, nossos alunos estavam descontentes, mas outros, de outras escolas, tinham ainda mais motivos para se irritar com uma reunião semi-midiática dessas. Alunos que passaram por maus bocados ainda piores aproveitaram o momento de manifestação (perguntas e comentários) e se levantaram com cartazes, narizes de palhaço e críticas ferozes, certeiras, sem nem mesmo apelarem a palavras de ordem. Foi pior que uma manifestação arruaceira, foi um ataque sincero na jugular dos administradores presentes.
A representação do programa se defendeu bem: retórica eficiente e tentativas boas de controle da situação. Como as convidadas reagiram, as convidadas que vieram falar a esses jovens como eles deveriam viver, quais eram os problemas da vida deles, que eles deveriam exercer seus direitos e tomar as rédeas de seus destinos com as próprias mãos? Disseram que aquele não era o momento para se manifestarem. Vieram com o papo (que já quase virou lei em Porto Alegre, há um ano atrás) de que há momentos para as pessoas exigirem aquilo que lhes falta, ainda que todos os meios civilizados e legais tenham sido esgotados. Enquanto aqueles alunos entendiam que tinham cumprido seus deveres e que os responsáveis pelo programa não tinham cumprido os deles, que sofriam com um descaso contra o qual tinham o direito de reclamar (e não há forma de reclamar sem causar incomodação, pelo contrário, a incomodação é a chave do poder da reclamação), as estrangeiras se insultavam com uma manifestação que se baseava nos mesmos princípios que elas evocaram poucos minutos antes. Os mesmos princípios, mas lidos de outra forma (nem tão distante assim), ou seja, conforme a interpretação dos próprios alunos, essas pessoas que são colocadas em programas que priorizam o desenvolvimento de cidadania, criticidade e autonomia interpretativa, mas que institucionalmente lhes negam tudo isso a cada passo, a menos que mediada docemente por alguém "de cima", nem que sejam os professores.
Verdade, ética, respeito, direitos e deveres, tudo isso é muito maleável. O maior problema, na prática, é que quem não costuma ter o microfone para falar também tem a sua interpretação para cada um desses idolatrados termos.
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Simbologia legal
Entre no site da Assembleia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul. Vá à entrada "Legislação", no menu lateral. Dentre as opções, clique em "Constituição Estadual". Resultado: alerta em vermelho no meio da página com os dizeres "Erro: a página não foi encontrada".
Para o arquivamento do Impeachment da Yeda e além!
Para o arquivamento do Impeachment da Yeda e além!
sábado, 22 de maio de 2010
Se Deus não quiser, um bom advogado nos livra
"Código Penal Celeste: prepare sua defesa diante do Tribunal Supremo"
Não é piada. Não é o último livro do Bussunda nem nada do tipo. Não deixem de ler a sinopse.
Não é piada. Não é o último livro do Bussunda nem nada do tipo. Não deixem de ler a sinopse.
sexta-feira, 21 de maio de 2010
"I want you close enough to smell the blood"
"Para quem está fora do Litoral, ZH faz um mapa dos estragos nas praias"
Afinal, quem não curte se sentir pertinho de tragédias e destruições, não? Ainda mais em detalhes e com mapas didáticos!
Afinal, quem não curte se sentir pertinho de tragédias e destruições, não? Ainda mais em detalhes e com mapas didáticos!
quinta-feira, 20 de maio de 2010
quarta-feira, 19 de maio de 2010
O peso da classe
"Éramos pobres e sempre suspeitos de alguma coisa, mas herdei do meu pai uma coisa que carrego comigo: tenho vergonha na cara." - Caco Barcellos
É, ter vergonha é coisa de pobre, não? Afinal, como ele bem expressou de início, são sempre suspeitos de alguma coisa, aprendem bem a lição.
É, ter vergonha é coisa de pobre, não? Afinal, como ele bem expressou de início, são sempre suspeitos de alguma coisa, aprendem bem a lição.
terça-feira, 18 de maio de 2010
Das reuniões
Eu participei de duas reuniões administrativo-pedagógicas hoje e, obviamente, ouvi uma leva incrível de pérolas. No entanto, no fim da primeira, não quis fazer um post sobre isso e não anotei nada. Porém tantas frases daquela reunião geraram brincadeiras e deboches ao longo do dia que, ao ouvir algumas outras na segunda reunião, resolvi registrar pelo menos as quatro melhores:
"Porque há pessoas e pessoas." E uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa, claro.
"Espera eu terminar de comer" [no MEIO do horário de trabalho, em cima do computador de serviço, para depois me passar um documento que deveria ter sido entregue na minha casa há duas semanas].
"Os professores não têm a capacidade de estar em dois lugares ao mesmo tempo." Que incompetência, não? Mas os elétrons já foram forçados a tal. Logo conseguem com a gente também.
"Mas eu entendi o que está acontecendo. Eu já saquei! Sabe o que é? A Fulana tá tentando derrubar ela. Usaram ela de fachada, porque ela tem um jeitinho doce, e agora que estão por cima não precisam mais da fachada queridinha." É, chefe, tu "sacou" porque eu te contei isso literalmente na sexta-feira!
"Porque há pessoas e pessoas." E uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa, claro.
"Espera eu terminar de comer" [no MEIO do horário de trabalho, em cima do computador de serviço, para depois me passar um documento que deveria ter sido entregue na minha casa há duas semanas].
"Os professores não têm a capacidade de estar em dois lugares ao mesmo tempo." Que incompetência, não? Mas os elétrons já foram forçados a tal. Logo conseguem com a gente também.
"Mas eu entendi o que está acontecendo. Eu já saquei! Sabe o que é? A Fulana tá tentando derrubar ela. Usaram ela de fachada, porque ela tem um jeitinho doce, e agora que estão por cima não precisam mais da fachada queridinha." É, chefe, tu "sacou" porque eu te contei isso literalmente na sexta-feira!
Ainda o Irã
Os discursos contra o Brasil em geral não prezam pela qualidade ou mesmo pela pertinência, seguindo tantos clichês quanto os discursos laudatórios. No caso dessa crise com o Irã, no entanto, os clichês são tão poucos (já que a ação do Brasil é representada como inédita em nossa história diplomática, a falta de arsenal retórico é natural) que Israel preferiu simplesmente ecoar os Estados Unidos letra a letra. Conforme sua declaração oficial, "o Irã manipulou Turquia e Brasil na consolidação deste pacto". Curiosamente, é o exato risco para o qual Hillary Clinton "alertou" Lula quando ela veio ao Brasil, em março. Se os EUA podem tratar toda a diplomacia brasileira como crianças, por que Israel também não, certo?
A alternativa a essa infantilização seria atribuir ao Brasil a capacidade de participar ativamente do jogo de pressões da política internacional e ter, sim, maldade no corpo, no melhor sentido, ainda que seja um sentido contrário aos interesses norte-americanos. Se foi mesmo uma manipulação, dessas que temem tanto que soframos, então foi teatralizada magnificamente, porque envolveu uma encenação de 18 horas (sozinhos, eles podem ter só definido o que o Irã queria que o Brasil endossasse e passado o resto do tempo discutindo a escalação do Dunga, é claro).
Talvez um erro do Brasil estoure no de todo mundo, mas fazer de conta que o Lula e a diplomacia envolvida é um grupo de bobinhos ingênuos ajuda a resolver menos ainda. Se eles erraram, erraram no quê? Onde está o embuste? Por que se acreditaria que ele existe? Argumentos?
PS: Esqueceram do argumento "Porque estão deixando a parte mais difícil do enriquecimento do urânio ser feita às claras por um ditador"?
A alternativa a essa infantilização seria atribuir ao Brasil a capacidade de participar ativamente do jogo de pressões da política internacional e ter, sim, maldade no corpo, no melhor sentido, ainda que seja um sentido contrário aos interesses norte-americanos. Se foi mesmo uma manipulação, dessas que temem tanto que soframos, então foi teatralizada magnificamente, porque envolveu uma encenação de 18 horas (sozinhos, eles podem ter só definido o que o Irã queria que o Brasil endossasse e passado o resto do tempo discutindo a escalação do Dunga, é claro).
Talvez um erro do Brasil estoure no de todo mundo, mas fazer de conta que o Lula e a diplomacia envolvida é um grupo de bobinhos ingênuos ajuda a resolver menos ainda. Se eles erraram, erraram no quê? Onde está o embuste? Por que se acreditaria que ele existe? Argumentos?
PS: Esqueceram do argumento "Porque estão deixando a parte mais difícil do enriquecimento do urânio ser feita às claras por um ditador"?
Lula e Ahmadinejad: matéria ou manchete?
Correio do Povo:
"Fechado acordo nuclear entre Brasil, Irã e Turquia
(...) um acordo foi alcançado entre Irã, Turquia e Brasil sobre os procedimentos para reavivar o paralisado acordo de troca de combustível nuclear defendido pelas Nações Unidas. 'Este acordo foi alcançado após quase 18 horas de negociações' (...). Recep Tayyip Erdogan também confirmou que o acerto sobre o programa nuclear iraniano foi alcançado nas negociações das quais o Brasil participou. O encontro entre os presidentes Luis Inácio Lula da Silva e Mahmoud Ahmadinejad foi cordial, mas na entrevista eles falaram sobre o interesse em incrementar o comércio entre seus países e não tocaram na questão nuclear."
Ou eu entendi muito mal, ou tudo o que Lula conseguiu foi desenvolver ainda mais sua amizade comercial com o Irã. A respeito do problema nuclear propriamente dito, uma reunião de 18 horas resultou no genial "Tá, vamos conversar de novo, depois...". Como chegaram, então, àquela manchete? Jogo infame de palavras?
Vejamos como outro periódico, o Jornal do Comércio, resolveu a questão, em sua manchete de primeira página:
"Lula deixa Teerã sem resolver crise nuclear"
Aaaaaah!
"Fechado acordo nuclear entre Brasil, Irã e Turquia
(...) um acordo foi alcançado entre Irã, Turquia e Brasil sobre os procedimentos para reavivar o paralisado acordo de troca de combustível nuclear defendido pelas Nações Unidas. 'Este acordo foi alcançado após quase 18 horas de negociações' (...). Recep Tayyip Erdogan também confirmou que o acerto sobre o programa nuclear iraniano foi alcançado nas negociações das quais o Brasil participou. O encontro entre os presidentes Luis Inácio Lula da Silva e Mahmoud Ahmadinejad foi cordial, mas na entrevista eles falaram sobre o interesse em incrementar o comércio entre seus países e não tocaram na questão nuclear."
Ou eu entendi muito mal, ou tudo o que Lula conseguiu foi desenvolver ainda mais sua amizade comercial com o Irã. A respeito do problema nuclear propriamente dito, uma reunião de 18 horas resultou no genial "Tá, vamos conversar de novo, depois...". Como chegaram, então, àquela manchete? Jogo infame de palavras?
Vejamos como outro periódico, o Jornal do Comércio, resolveu a questão, em sua manchete de primeira página:
"Lula deixa Teerã sem resolver crise nuclear"
Aaaaaah!
domingo, 16 de maio de 2010
Prática traz a perfeição
"Pratique a desobediência"
Mas pratique muito, todo dia, com muita disciplina!
Mas pratique muito, todo dia, com muita disciplina!
sexta-feira, 14 de maio de 2010
Muito, muito séria!
- X e Y estão te convocando para uma reunião hoje, à tal hora.
- ...
- É uma convocação.
- Hm... Pode ser mais tarde?
- ... Pode.
- ...
- É uma convocação.
- Hm... Pode ser mais tarde?
- ... Pode.
Assembleia de alunos
"The selfish, they’re all standing in line
Faithing and hoping to buy themselves time"
Pearl Jam - "I am Mine"
Faithing and hoping to buy themselves time"
Pearl Jam - "I am Mine"
quinta-feira, 13 de maio de 2010
Cartazes de uma quinta série
"Doe agasalhos"
"Participe da campanha do agasalho"
"Seja caridoso. Doe um agasalho."
"Ajude quem precisa. Doe um agasalho."
"Doe um papelão para o meu barraco."
"Participe da campanha do agasalho"
"Seja caridoso. Doe um agasalho."
"Ajude quem precisa. Doe um agasalho."
"Doe um papelão para o meu barraco."
Anti-industrialismo
Revoltada contra o domínio que tecnocratas exercem em nossa sociedade, cabeleireira pendura na frente de seu estabelecimento palavras de ordem:
"Corte a máquina"
"Corte a máquina"
Oferta e procura
Mercado Público.
Banheiro - 30 centavos.
Xerox na frente desse banheiro - 20 centavos.
Banheiro - 30 centavos.
Xerox na frente desse banheiro - 20 centavos.
quarta-feira, 12 de maio de 2010
Motivação
Uma aluna queria ir embora (matar os dois últimos períodos) porque ia perder o último capítulo da novela. Ontem, terça-feira. Antes de começar a pensar num post chamado "Ensinai Lógica aos Jovens Adultos", meu colega respondeu para ela, atacando o raciocínio torto como estava: o último capítulo dá na sexta e reprisa no sábado, não é preciso matar aula nenhuma. Ela replicou: "Mas como eu vou saber o que aconteceu hoje?"
Entendendo então que toda a última semana da novela era realmente aquilo que a aluna queria discutir, e que ela tinha se expressado mal, outros professores entraram na conversa e se atacou a situação basicamente por três lados: internet, gravação ou leitura dos resumos em jornais e revistas. A aluna rebateu, bem ou mal, os argumentos finais apresentados por quaisquer desses caminhos. Concluiu: "Vou pra casa ver a novela que eu ganho mais".
Perguntou, antes de ir, o que teria na aula, e eu respondi que matéria nova. Ela decidiu ficar e, depois de participar da aula e fazer o trabalho com esforço, pegou um pouco da novela na sala dos professores, enquanto fechávamos a escola.
Entendendo então que toda a última semana da novela era realmente aquilo que a aluna queria discutir, e que ela tinha se expressado mal, outros professores entraram na conversa e se atacou a situação basicamente por três lados: internet, gravação ou leitura dos resumos em jornais e revistas. A aluna rebateu, bem ou mal, os argumentos finais apresentados por quaisquer desses caminhos. Concluiu: "Vou pra casa ver a novela que eu ganho mais".
Perguntou, antes de ir, o que teria na aula, e eu respondi que matéria nova. Ela decidiu ficar e, depois de participar da aula e fazer o trabalho com esforço, pegou um pouco da novela na sala dos professores, enquanto fechávamos a escola.
terça-feira, 11 de maio de 2010
Ligado
- Mas e na quinta vai ter o quê?
- Na quinta tem a Assembleia [dos alunos, para tratar sobre uma série de atitudes problemáticas que estão tendo e que causam confusão com a diretora, pra começar por baixo. Precisamos discutir como as atitudes inadequadas dos alunos causam confusão diretamente para eles próprios e, em consequência, também para nós professores].
- Então não precisa vir?
- Na quinta tem a Assembleia [dos alunos, para tratar sobre uma série de atitudes problemáticas que estão tendo e que causam confusão com a diretora, pra começar por baixo. Precisamos discutir como as atitudes inadequadas dos alunos causam confusão diretamente para eles próprios e, em consequência, também para nós professores].
- Então não precisa vir?
Pedagogia anglo-caxiense
Muitas vezes, jornalistas, editores e outras pessoas ligadas às decisões de um jornal (televisivo ou não) entendem sua função social como a de educar, ou, pelo menos, pensam que isso é muito de sua responsabilidade profissional. Vários facilmente levam isso ao extremo. Como educar é algo fortemente associado a crianças, acreditam que o ato tem de ser feito de forma infantiloide. Certos representantes da categoria, porém, já pensam de forma infantil, de modo que acreditam não apenas que tratar as pessoas como crianças é natural e adequado, mas também que o resto do mundo concorda e faz o mesmo movimento. Para esses, todos os seres bem-intencionados falam com o público como quem se dirige ao sobrinho de 6 anos, o que termina por formar, com a imprensa, o complô da infantilização mundial.
Recentemente, o jornal Pioneiro, de Caxias, pegou para cúmplice os Beatles e "educou" sobre o trânsito usando o atropelamento de uma criança e de sua mãe como mote. Elas não usaram a faixa de segurança, apesar de a banda inglesa ter dado o exemplo na capa de Abbey Road!
"Se a mãe e a filha de 4 meses [a filha tem culpa também?] tivessem feito como Ringo, Paul..." não teriam sido atropeladas; deveríamos "fazer como os moços de Liverpool indicam"! Ou seja, a capa do LP dos Beatles tem por finalidade a educação pública, essa atitude é muito atual e os caxienses deveriam ir buscar, na Inglaterra de 1969, a forma como se deve atravessar ruas. Deixemos para trás a péssima relação que pedestres descuidados necessariamente têm com os violentos e bruscos motoristas da cidade e culpemos pelo acidente a falta de música pop antiga nas rádios regionais.
segunda-feira, 10 de maio de 2010
Chovendo no molhado
Voltam as intempéries invernais e nos lembram daquela antiga verdade: contágio, teu nome é transporte coletivo!
A Serra e a Verdade
Visitei Caxias do Sul depois de muitos e muitos anos, e seria irresponsabilidade de minha parte não checar sua imprensa local, afinal queria material para o blog com diversa cor local. A primeira descoberta que essa visita me valeu foi o significado da maternidade.
O principal jornal da região (sim, com uma cadeia bem óbvia que leva à Rede Globo) anunciava na primeira página uma matéria sobre o fato de nem todas as famílias terem cada vez menos filhos, movimento geral indicado por pesquisas (ou seja, tiveram a criatividade de mostrar que existem exceções para as tendências indicadas por pesquisas, uau). Algumas mães, vejam só, ainda têm vários filhos (o exemplo era de uma família de 5 filhotes, ou seja, "muita gente" só para um mundo que procria, sim, cada vez menos). Agora, como o jornal se referia ao ato de parir várias vezes? "Exercer a maternidade ao extremo".
Ignorando que "extremo" parece uma crítica, intenção contrária à tomada na "notícia", aprendemos que ser mãe, afinal, não é mais que fornicar sem contraceptivos. Jornal, quem diria, também é cultura!
O principal jornal da região (sim, com uma cadeia bem óbvia que leva à Rede Globo) anunciava na primeira página uma matéria sobre o fato de nem todas as famílias terem cada vez menos filhos, movimento geral indicado por pesquisas (ou seja, tiveram a criatividade de mostrar que existem exceções para as tendências indicadas por pesquisas, uau). Algumas mães, vejam só, ainda têm vários filhos (o exemplo era de uma família de 5 filhotes, ou seja, "muita gente" só para um mundo que procria, sim, cada vez menos). Agora, como o jornal se referia ao ato de parir várias vezes? "Exercer a maternidade ao extremo".
Ignorando que "extremo" parece uma crítica, intenção contrária à tomada na "notícia", aprendemos que ser mãe, afinal, não é mais que fornicar sem contraceptivos. Jornal, quem diria, também é cultura!
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domingo, 9 de maio de 2010
Saudosa Babel
- "Arivedérti" é espanhol, né?
- "Arrivederci" é italiano.
- "Arrivederci" é italiano.
sexta-feira, 7 de maio de 2010
Por uma estereotipia ativa
- Aí eu conversei com ele, toda carismática, e consegui os livros. Só que ele precisa de alguém para entregar com ele, daí eu falei de vocês.
- Entregar os nossos livros ou das outras escolas também?!
- Ahn... eu não perguntei.
- ...
- Ah! Eu já fiz o chalalá e consegui os livros. Esse é o papel da mulher! Agora vocês carregam o peso!
- Entregar os nossos livros ou das outras escolas também?!
- Ahn... eu não perguntei.
- ...
- Ah! Eu já fiz o chalalá e consegui os livros. Esse é o papel da mulher! Agora vocês carregam o peso!
Boa notícia...
"É... por sorte tu não virou um psicopata."
Ainda que mal pergunte, sorte pra quem?
Ainda que mal pergunte, sorte pra quem?
Especificando "leitor ideal" com Umberto Eco
"Sei que Finnegans Wake foi escrito para um leitor ideal afetado por uma insônia ideal"
quarta-feira, 5 de maio de 2010
Ataque moral
Uma criança chorava desesperada e ininterruptamente (por birra) num posto de saúde em que estávamos um amigo e eu. Fiz o comentário paralelamente para ele "Crianças, em uma certa idade, gostam de chorar, não?", enfatizando, pelo tom, que o guri berrava por puro prazer auto-condescendente.
A criança parou imediatamente de chorar e ficou me olhando fixamente, com certa distância e cuidado.
Moral da história: com crianças ou adultos, na dúvida, ataque o caráter.
A criança parou imediatamente de chorar e ficou me olhando fixamente, com certa distância e cuidado.
Moral da história: com crianças ou adultos, na dúvida, ataque o caráter.
terça-feira, 4 de maio de 2010
A mudança de assunto patológica como desenvolvimento do prazer e suas nefastas consequências sociais no mundo pós-moderno: um estudo breve
Falamos para o nosso próprio prazer. Sendo a fala um ato masturbatório, a conversa, obviamente, é o sexo. Infelizmente, muitas pessoas transam consigo mesmas, mesmo quando estão acompanhadas na cama, e, naturalmente, isso também é verdade quando o assunto é linguagem.
A retórica, suposta arte de bem falar ou de convencer, facilmente é usada sem seu alvo típico (o interlocutor), a tal ponto que poderíamos parar muita gente no meio de uma conversa e perguntar "Oi! Tu tá tentando convencer quem?", já que a pessoa insiste em apresentar argumentos que convencem apenas a ela mesma e se nega a escutar que nós NÃO estamos aceitando nenhuma ideia apresentada como válida.
Esse problema do "argumentador" que ignora aquele que o contesta (o argumentador masturbatório - nomenclatura de paradoxo intencional) é particularmente presente na raça dos políticos profissionais. Entenda-se claramente que por político profissional eu não penso apenas em quem busca voto ou tenta justificar publicamente suas ações como medidas de interesse social. Incluo nessa categoria todo aquele que trabalha diretamente para esse tipo de político ou todo burocrata, secretário, assistente ou coordenador que não encontra diretamente o público-alvo de sua função. O político profissional da saúde não costuma encontrar um doente, o da educação não costuma encontrar um aluno, o do saneamento só vê a rua quando sai do trabalho. Esporádicas visitas de "acompanhamento" (se forem, na verdade, vistorias dos empregados, não das necessidades sociais relacionadas), festividades e inaugurações não contam.
O político profissional, geralmente mais cara-de-pau que outros tipos de argumentadores masturbatórios, tende a elevar os desvios de assunto à máxima potência. Ele simplesmente usa a primeira frase para desviar o referente. Se falamos em crianças pensando num ser humano de 6 anos de idade, da classe média, já matriculado em uma escola particular, qualquer um desses quesitos é distorcido ou desviado para uma criança a quem necessariamente não se aplica o que dissemos e, melhor ainda, que ÓBVIA, porém implicitamente, não era nosso referente. Alguns minutos então são perdidos com demagogias, platonismos, clichês e, se possível, promessas vazias e incompletas. Nota-se cotidianamente que os políticos profissionais costumam usar essa estrutura "argumentativa" contra outros de sua raça, mas não se trata de mera moeda corrente ou desrespeito com os colegas: a argumentação masturbatória é um sintoma patológico entre eles. É bem provável que a única forma de forçar um indivíduo dessa espécie a manter o assunto discutido envolva total imobilização física e algum tipo de ameaça grave à genitália.
É fundamental ressaltar que o prazer do ato da fala não é o único motivador desse comportamento, ao menos não nos indivíduos aqui tematizados. O político profissional fala não para o interlocutor, mas para a plateia, o que inclui seu próprio ouvido. Na verdade, ele fala para uma plateia mesmo que ninguém mais esteja presente, e o aplauso dela, se houver, é apenas um eco do auto-aplauso de seu ego. Como disse, a "arte de convencer" não se aplica aqui, pois NEM um político que fale diretamente para a plateia apresentará argumentos adequados para ela. Deve-se esquecer o obtuso conceito de "argumentação" e se pensar apenas em resposta emocional. Esteja um público lá ou não, razão e coerência estarão irremediavelmente descartadas.
Se alguém fala assim sozinho, o que afinal o diferencia de um louco, em especial daqueles mendigos, por exemplo, que discutem ou se divertem com companheiros que os demais mortais não enxergam? Timing! O controle do tempo (geralmente inconsciente) marca o limite entre a política e a loucura:
* O político fala sobre referentes errados e, até onde puder, sem coerência alguma, até ter gastado o tempo adequado às manifestações de quem seja, de modo que nada se resolva. O louco entende equivocadamente os arbitrários parâmetros de tempo da sociedade, falando sobre sabe-se lá o que mesmo quando as outras pessoas não lhe reconhecem o direito de tratar (bem ou mal) sobre aquele assunto.
* O político fala sozinho na frente de outra pessoa que fala sozinha virada para ele ou no mesmo momento e contexto em que alguém, geralmente não político profissional, tenta travar um diálogo como o entendiam os otimistas filósofos da Grécia Antiga. Mesmo que esse interlocutor puramente formal não exista, o político fala justamente no momento arbitrariamente estabelecido para que uma plateia alucine que ele está falando com ou para ela. O louco fala sozinho justamente quando as outras pessoas não acham que ele fala com elas (não houve preparação formal adequada para determinar turnos de fala).
Observe-se que a masturbação política em um "debate" é recebida por aplausos, particularmente porque a combinação pornográfica de duas pessoas que fingem transar (quando, na verdade, apenas interpretam um dos dois papéis sexuais clássicos - atividade e passividade) estimula catarticamente o público. A masturbação fora de hora (preconceituosamente motivadora de que se taxe de louco o argumentador masturbatório que teve menos privilégios sociais ou de sensibilidade ao tempo) provoca uma reação de pudor, tipicamente denotada pelo transeunte virando o rosto ou tapando sua visão, mal reprimindo uma íntima sensação de vergonha.
PS: Qualquer alusão às minhas leituras recentes de Freud para se justificar este post são intriga da oposição.
A retórica, suposta arte de bem falar ou de convencer, facilmente é usada sem seu alvo típico (o interlocutor), a tal ponto que poderíamos parar muita gente no meio de uma conversa e perguntar "Oi! Tu tá tentando convencer quem?", já que a pessoa insiste em apresentar argumentos que convencem apenas a ela mesma e se nega a escutar que nós NÃO estamos aceitando nenhuma ideia apresentada como válida.
Esse problema do "argumentador" que ignora aquele que o contesta (o argumentador masturbatório - nomenclatura de paradoxo intencional) é particularmente presente na raça dos políticos profissionais. Entenda-se claramente que por político profissional eu não penso apenas em quem busca voto ou tenta justificar publicamente suas ações como medidas de interesse social. Incluo nessa categoria todo aquele que trabalha diretamente para esse tipo de político ou todo burocrata, secretário, assistente ou coordenador que não encontra diretamente o público-alvo de sua função. O político profissional da saúde não costuma encontrar um doente, o da educação não costuma encontrar um aluno, o do saneamento só vê a rua quando sai do trabalho. Esporádicas visitas de "acompanhamento" (se forem, na verdade, vistorias dos empregados, não das necessidades sociais relacionadas), festividades e inaugurações não contam.
O político profissional, geralmente mais cara-de-pau que outros tipos de argumentadores masturbatórios, tende a elevar os desvios de assunto à máxima potência. Ele simplesmente usa a primeira frase para desviar o referente. Se falamos em crianças pensando num ser humano de 6 anos de idade, da classe média, já matriculado em uma escola particular, qualquer um desses quesitos é distorcido ou desviado para uma criança a quem necessariamente não se aplica o que dissemos e, melhor ainda, que ÓBVIA, porém implicitamente, não era nosso referente. Alguns minutos então são perdidos com demagogias, platonismos, clichês e, se possível, promessas vazias e incompletas. Nota-se cotidianamente que os políticos profissionais costumam usar essa estrutura "argumentativa" contra outros de sua raça, mas não se trata de mera moeda corrente ou desrespeito com os colegas: a argumentação masturbatória é um sintoma patológico entre eles. É bem provável que a única forma de forçar um indivíduo dessa espécie a manter o assunto discutido envolva total imobilização física e algum tipo de ameaça grave à genitália.
É fundamental ressaltar que o prazer do ato da fala não é o único motivador desse comportamento, ao menos não nos indivíduos aqui tematizados. O político profissional fala não para o interlocutor, mas para a plateia, o que inclui seu próprio ouvido. Na verdade, ele fala para uma plateia mesmo que ninguém mais esteja presente, e o aplauso dela, se houver, é apenas um eco do auto-aplauso de seu ego. Como disse, a "arte de convencer" não se aplica aqui, pois NEM um político que fale diretamente para a plateia apresentará argumentos adequados para ela. Deve-se esquecer o obtuso conceito de "argumentação" e se pensar apenas em resposta emocional. Esteja um público lá ou não, razão e coerência estarão irremediavelmente descartadas.
Se alguém fala assim sozinho, o que afinal o diferencia de um louco, em especial daqueles mendigos, por exemplo, que discutem ou se divertem com companheiros que os demais mortais não enxergam? Timing! O controle do tempo (geralmente inconsciente) marca o limite entre a política e a loucura:
* O político fala sobre referentes errados e, até onde puder, sem coerência alguma, até ter gastado o tempo adequado às manifestações de quem seja, de modo que nada se resolva. O louco entende equivocadamente os arbitrários parâmetros de tempo da sociedade, falando sobre sabe-se lá o que mesmo quando as outras pessoas não lhe reconhecem o direito de tratar (bem ou mal) sobre aquele assunto.
* O político fala sozinho na frente de outra pessoa que fala sozinha virada para ele ou no mesmo momento e contexto em que alguém, geralmente não político profissional, tenta travar um diálogo como o entendiam os otimistas filósofos da Grécia Antiga. Mesmo que esse interlocutor puramente formal não exista, o político fala justamente no momento arbitrariamente estabelecido para que uma plateia alucine que ele está falando com ou para ela. O louco fala sozinho justamente quando as outras pessoas não acham que ele fala com elas (não houve preparação formal adequada para determinar turnos de fala).
Observe-se que a masturbação política em um "debate" é recebida por aplausos, particularmente porque a combinação pornográfica de duas pessoas que fingem transar (quando, na verdade, apenas interpretam um dos dois papéis sexuais clássicos - atividade e passividade) estimula catarticamente o público. A masturbação fora de hora (preconceituosamente motivadora de que se taxe de louco o argumentador masturbatório que teve menos privilégios sociais ou de sensibilidade ao tempo) provoca uma reação de pudor, tipicamente denotada pelo transeunte virando o rosto ou tapando sua visão, mal reprimindo uma íntima sensação de vergonha.
PS: Qualquer alusão às minhas leituras recentes de Freud para se justificar este post são intriga da oposição.
segunda-feira, 3 de maio de 2010
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