Um sujeito, porque não parei para ouvir sua história, quis comprovar que não queria me assaltar, só conversar! Qual seu método? Levantar a camisa até o pescoço e dizer: "Pô, não é assalto, peraí, ser humano [indicando a si]!"
Realmente, mostrar que não tem nenhuma arma na frente do tronco é um começo para alguém neste nosso caro bairro, tão tarde da noite. Agora, eu poderia confiar em suas intenções se dissesse que era um cachorro, quem sabe um gato, mas afirmando que é um ser humano? Logo um ser humano?!
Falando sobre tudo de linguagem que chamar a minha atenção: placas, conversas, citações... Deem uma chance lendo aí embaixo e vão sacar o foco.
quinta-feira, 29 de abril de 2010
Piada não é gênero pra qualquer um
"Isso que dá. Não estudei, aí vim dar aula [aqui]."
Sabem quando uma coisa é uma brincadeira, tem a intenção de uma brincadeira e é dita como brincadeira, mas foi pronunciada pela pessoa errada, na situação errada? E, sim, ela estudou realmente muito pouco, muito menos que a maioria dos outros professores, colegas dela.
Sabem quando uma coisa é uma brincadeira, tem a intenção de uma brincadeira e é dita como brincadeira, mas foi pronunciada pela pessoa errada, na situação errada? E, sim, ela estudou realmente muito pouco, muito menos que a maioria dos outros professores, colegas dela.
terça-feira, 27 de abril de 2010
Estranhos grupos
Acordei na segunda-feira com a CNN anunciando um programa seu: o debate sobre o ecodesenvolvimento com "leaders, political leaders and Avatar director James Cameron"!
A escolha de profissionais está mais e mais curiosa. Que tal discutirmos a situação do governo Lula com o "political propaganda maker Fábio Barreto", a situação do Brasil pré-Ahmadinejad com "The Man's promoter Barack Obama", ou, quem sabe, conversar sobre a situação da seleção com o "patronizing grandmotherly commentator Galvão Bueno"?
A escolha de profissionais está mais e mais curiosa. Que tal discutirmos a situação do governo Lula com o "political propaganda maker Fábio Barreto", a situação do Brasil pré-Ahmadinejad com "The Man's promoter Barack Obama", ou, quem sabe, conversar sobre a situação da seleção com o "patronizing grandmotherly commentator Galvão Bueno"?
segunda-feira, 26 de abril de 2010
É a idade...
Eu estou recém chegando nos 30, ainda com alguns bons quilômetros pela frente. E se é particularmente mais jovem quando duas senhoras de 70 e muitos anos catam nosso casaco, caído no chão do ônibus, e o colocam delicada e solicitamente de volta sobre a mochila, com sorrisos afáveis no rosto.
domingo, 25 de abril de 2010
Se a Revista Cláudia descobre...
"Com mais frequência, contudo, o adolescente consegue efetuar um certo grau de síntese entre o amor não-sensual e celeste e o amor sensual e terreno, e sua relação com seu objeto sexual se caracteriza pela interação de instintos desinibidos e instintos inibidos em seu objetivo [sexual, objetivo reprimido no fim do Complexo de Édipo em pessoas "saudáveis" - nota deste blogger]. A profundidade em que qualquer um está amando, quando contrastada com seu desejo puramente sensual, pode ser medida pela dimensão da parte assumida pelos instintos de afeição inibidos em seu objetivo." - Freud, 1920.
Ou seja, se considerarmos que os instintos inibidos são vistos como a parte "romântica" (Rm) das relações, podemos considerar o amor "total" de um relacionamento (AT) - ou seja, os instintos desinibidos (InD) + os instintos inibidos - e chegar à fórmula do amor:
AT - InD = Rm
Bonita, não?
Assim, partindo de um Amor Total fixo, quanto menos desejo sexual, mais amor romântico. Essa gente nascida no XIX! E tanta gente, ainda hoje, "nasceu no XIX"...
Ou seja, se considerarmos que os instintos inibidos são vistos como a parte "romântica" (Rm) das relações, podemos considerar o amor "total" de um relacionamento (AT) - ou seja, os instintos desinibidos (InD) + os instintos inibidos - e chegar à fórmula do amor:
AT - InD = Rm
Bonita, não?
Assim, partindo de um Amor Total fixo, quanto menos desejo sexual, mais amor romântico. Essa gente nascida no XIX! E tanta gente, ainda hoje, "nasceu no XIX"...
sábado, 24 de abril de 2010
Falta no empirismo
Voltava do trabalho em horário particularmente inadequado para a segurança pessoal, como me é de costume, quando escutei um cachorro latindo obsessivamente. Levei quase um minuto, aproximando-me de seu latido, para enxergar para o que latia: outro cachorro. Voltei a pensar sobre um tema que me intriga, o reconhecimento especial que os animais dão a outros indivíduos da mesma raça em detrimento de todos os outros seres vivos, indagando sempre como isso se dá mesmo em seres pouco racionais.
Falando em seres pouco racionais, aliás, foi então que um solícito ser humano que passava ao meu lado ressaltou que, por um algum motivo obscuro, eu havia dado destaque para a busca de um cachorro por outro e não para o fato de que isso era feito por um latido. A forma como esse ser humano me chamou a atenção para tal falha não foi me apontando o problema no meio da rua, mas sim ele mesmo procurando outro ser humano, que havia reconhecido de longe, no escuro:
- Tô te vendo, Juliano... Vô te dá-lhe pau!
Falando em seres pouco racionais, aliás, foi então que um solícito ser humano que passava ao meu lado ressaltou que, por um algum motivo obscuro, eu havia dado destaque para a busca de um cachorro por outro e não para o fato de que isso era feito por um latido. A forma como esse ser humano me chamou a atenção para tal falha não foi me apontando o problema no meio da rua, mas sim ele mesmo procurando outro ser humano, que havia reconhecido de longe, no escuro:
- Tô te vendo, Juliano... Vô te dá-lhe pau!
Marcadores:
agressividade,
cotidiano,
humanismo,
violência
sexta-feira, 23 de abril de 2010
Problemas de semântica no cotidiano
- Subindo.
- Tá descendo?
- Não, tá subindo.
- Então desce.
- Tá descendo?
- Não, tá subindo.
- Então desce.
quarta-feira, 21 de abril de 2010
Vivendo a teoria [2]
O nome de um aluno meu é uma palavra paroxítona. Claro, não só de um, mas esse em particular provoca um fenômeno interessante. No caso, uma colega dele, quando está amigavelmente irritada com seu comportamento, numa atitude de pré-namoro, troca a tônica de seu nome, tornando este uma oxítona. Ao fazê-lo, provoca o tal fenômeno que destaco aqui.
Como é bem sabido, a letra "o", quando pronunciada em posição particularmente fraca, em especial no final da palavra, tende a ser dita como "u", se não é tônica. Ou seja, a gente até pronuncia "o" no fim de "capô", mas "u" no fim de "cabo", "junto", "prato", "Dédalo"... Apesar de o nome do colega efetivamente terminar em "us", quando a aluna referida muda a tonicidade do nome dele para a sílaba final, (sem saber) mantém a regularidade da pronúncia brasileira respeitando-a às avessas: ela transforma esse "us" em "os". Já que o "o", se fraco, facilmente vira "u" (denotando a fraqueza), ela instintivamente (ou inconscientemente, se preferirem) transforma um "us" fraco em "os" forte. Provavelmente age como reforço mais que suficiente dessa transformação o fato de a maioria das palavras do português ser paroxítona, ou seja, terminar fraca tendendo a, no caso de final com "o", apresentar a transformação referida. Contando ainda com as proparoxítonas, nem se fala.
Enfim, a típica fraqueza de "u" (e "i") é base tanto das regras de separação de sílabas quanto de acentuação, assim como as mesmas regras de separação contribuem para as de acentuação também, já que é tudo baseado em "oxítona, paroxítona e proparoxítona", ou seja, o assunto que abordei de início (a mudança do nome do colega de paroxítona para oxítona). A incomodação carinhosa de sua colega serviria de mote para uma boa revisão para a prova (o que talvez eu faça mesmo), ao menos para alunos com tendências teóricas. Conclusão: (só) o amor constrói.
Como é bem sabido, a letra "o", quando pronunciada em posição particularmente fraca, em especial no final da palavra, tende a ser dita como "u", se não é tônica. Ou seja, a gente até pronuncia "o" no fim de "capô", mas "u" no fim de "cabo", "junto", "prato", "Dédalo"... Apesar de o nome do colega efetivamente terminar em "us", quando a aluna referida muda a tonicidade do nome dele para a sílaba final, (sem saber) mantém a regularidade da pronúncia brasileira respeitando-a às avessas: ela transforma esse "us" em "os". Já que o "o", se fraco, facilmente vira "u" (denotando a fraqueza), ela instintivamente (ou inconscientemente, se preferirem) transforma um "us" fraco em "os" forte. Provavelmente age como reforço mais que suficiente dessa transformação o fato de a maioria das palavras do português ser paroxítona, ou seja, terminar fraca tendendo a, no caso de final com "o", apresentar a transformação referida. Contando ainda com as proparoxítonas, nem se fala.
Enfim, a típica fraqueza de "u" (e "i") é base tanto das regras de separação de sílabas quanto de acentuação, assim como as mesmas regras de separação contribuem para as de acentuação também, já que é tudo baseado em "oxítona, paroxítona e proparoxítona", ou seja, o assunto que abordei de início (a mudança do nome do colega de paroxítona para oxítona). A incomodação carinhosa de sua colega serviria de mote para uma boa revisão para a prova (o que talvez eu faça mesmo), ao menos para alunos com tendências teóricas. Conclusão: (só) o amor constrói.
terça-feira, 20 de abril de 2010
Vivendo a teoria
Não sei onde deixei meu livro do Freud!
Como será que ele explicaria isso mesmo?
Como será que ele explicaria isso mesmo?
Menos, em mim, dói mais
"Os tremores e as cinzas do vulcão islandês Eyjafjallajokull não dão trégua e continuarão atormentando a vida de milhões de pessoas que querem sair ou ir para a Europa."
Pobrezinhas, mas e aquelas pessoas que moram na Islândia, hein?
Pobrezinhas, mas e aquelas pessoas que moram na Islândia, hein?
Reclamação dúbia
"Vai onde, sor? Tá doido, aqui só tem mulher!"
Justamente, na sala só havia mulheres. A escola estava quase vazia, todos os colegas delas tinham faltado, e eu ia apenas na sala ao lado ver se a turma vizinha tinha debandado, já que estávamos no que parecia ser um blecaute duradouro.
Nenhum colega para atazanar ou se aproveitar no escuro... era esse o problema?
Justamente, na sala só havia mulheres. A escola estava quase vazia, todos os colegas delas tinham faltado, e eu ia apenas na sala ao lado ver se a turma vizinha tinha debandado, já que estávamos no que parecia ser um blecaute duradouro.
Nenhum colega para atazanar ou se aproveitar no escuro... era esse o problema?
domingo, 18 de abril de 2010
sábado, 17 de abril de 2010
Desdenhado
Alguém sabia que eu perdi um seguidor? (Com esse termo traduzido tão literalmente, cabe a pergunta: se ele me seguia, foi ele quem se perdeu?)
Caso grave: não sei quem foi. Era com certeza um sem imagem no perfil, ou saberia quem é. Também sei que não era um conhecido. Recentemente recebi uns comentários de um Anônimo, os quais foram muito criticados por outra seguidora, muito importante. Será que ele se incomodou? Será que era ele? Pelas dúvidas, pela ausência de imagem e nome ou nick gravado em minha mente, estou realmente inclinado a pensar que era um anônimo. Lembro de comentários de outros que os listados na minha área de comentaristas, mas esses, como minha cara cunhada, não são seguidores do blog, ainda que leiam um monte dele...
Las, Ana, Leo, Clark, Carla, Matuto, Vida, Bianca, Lady, Giovani, Márcia e Florzinha, não me creiam insensível com vocês, que me conhecem, que comentam, que eu sigo ou, pelo menos, de quem o nick me chamou muita atenção para não lembrar. Acontece que a anonimidade daquele que me abandona vai muito longe. Será, por exemplo, que me achava de "direita", e se incomodou com um post de "esquerda"? Ou será o contrário? Será que me achava ateu? Cristão? Decepcionou-se quando me achou espírita, agnóstico, animista? Teria ele (ou ela) acreditado que eu, Tigre, falaria mais sobre animais? Esperava de meus posts mais carinho pelos seres humanos?
Enfim, um comentarista, que entrou discretamente, sai sem fazer barulho, respeitoso dos espaços e de quem declara publicamente que lê o que aqui é escrito. Se voltar, poderá me xingar por não ter lembrado quem era, mas torcemos que venha com nick e que traga mais gente, um número par de seguidores fica mais bonito na página.
Caso grave: não sei quem foi. Era com certeza um sem imagem no perfil, ou saberia quem é. Também sei que não era um conhecido. Recentemente recebi uns comentários de um Anônimo, os quais foram muito criticados por outra seguidora, muito importante. Será que ele se incomodou? Será que era ele? Pelas dúvidas, pela ausência de imagem e nome ou nick gravado em minha mente, estou realmente inclinado a pensar que era um anônimo. Lembro de comentários de outros que os listados na minha área de comentaristas, mas esses, como minha cara cunhada, não são seguidores do blog, ainda que leiam um monte dele...
Las, Ana, Leo, Clark, Carla, Matuto, Vida, Bianca, Lady, Giovani, Márcia e Florzinha, não me creiam insensível com vocês, que me conhecem, que comentam, que eu sigo ou, pelo menos, de quem o nick me chamou muita atenção para não lembrar. Acontece que a anonimidade daquele que me abandona vai muito longe. Será, por exemplo, que me achava de "direita", e se incomodou com um post de "esquerda"? Ou será o contrário? Será que me achava ateu? Cristão? Decepcionou-se quando me achou espírita, agnóstico, animista? Teria ele (ou ela) acreditado que eu, Tigre, falaria mais sobre animais? Esperava de meus posts mais carinho pelos seres humanos?
Enfim, um comentarista, que entrou discretamente, sai sem fazer barulho, respeitoso dos espaços e de quem declara publicamente que lê o que aqui é escrito. Se voltar, poderá me xingar por não ter lembrado quem era, mas torcemos que venha com nick e que traga mais gente, um número par de seguidores fica mais bonito na página.
sexta-feira, 16 de abril de 2010
Supernatural
"It's funnier in enochian."
Michael Caine
"I've never had enough of a sort of star personality to rely on, so I had to rely on acting."
quinta-feira, 15 de abril de 2010
Ilegal, não, mas alegal?
O colocador de pronomes, personagem de Monteiro Lobato, morreu tentando corrigir os erros de português de toda placa ou mensagem pública que via pela frente. Tecnicamente, ele morreu de tentar, freneticamente, que todos seguissem a gramática. Policarpo Quaresma, Dom Quixote e quantos mais quiseram são exemplos de personagens ridicularizados por tentar seguir literalmente um código de conduta teórico. Lei e prática nunca engrenam de forma perfeita, e pululam na arte e na tradição heróis como Robin Hood, que são adorados exatamente quando quebram a lei (é óbvio, a forma como a quebram é fundamental).
Por outro lado, tudo tem seus códigos, e muita gente vive em paz, bem ou até muito feliz seguindo esse código. Essas pessoas vão tentar defender o código que as satisfaz sempre que possível. Existe muito interesse em se defender a lei. Regras são reconhecidas mesmo como bases de qualquer civilização, qualquer sociedade. Até mesmo a gramática normativa sobrevive, odiada, até hoje. Mesmo que seja possível escrever bem sem saber (toda a) gramática, é preciso entendê-la bem para se passar em concursos que prometem salários medianos, que fará no Rio Branco. Pior do que isso, não se conhecer uma lei não isenta ninguém de ser cobrado por tê-la quebrado, e certas omissões frente a infrações podem ser duramente cobradas pela polícia.
Não defenderia o rigorismo ridículo nem as faltas que sejam, na verdade, meras desculpas para incompetência, porém o problema é: até onde se deve seguir a lei, afinal?
Por outro lado, tudo tem seus códigos, e muita gente vive em paz, bem ou até muito feliz seguindo esse código. Essas pessoas vão tentar defender o código que as satisfaz sempre que possível. Existe muito interesse em se defender a lei. Regras são reconhecidas mesmo como bases de qualquer civilização, qualquer sociedade. Até mesmo a gramática normativa sobrevive, odiada, até hoje. Mesmo que seja possível escrever bem sem saber (toda a) gramática, é preciso entendê-la bem para se passar em concursos que prometem salários medianos, que fará no Rio Branco. Pior do que isso, não se conhecer uma lei não isenta ninguém de ser cobrado por tê-la quebrado, e certas omissões frente a infrações podem ser duramente cobradas pela polícia.
Não defenderia o rigorismo ridículo nem as faltas que sejam, na verdade, meras desculpas para incompetência, porém o problema é: até onde se deve seguir a lei, afinal?
quarta-feira, 14 de abril de 2010
Sanitarismo
"Quando terminar, puxe a des garga."
Bah! Descarga? Ok. Deskarga? Vá lá! Desquarga? Sei lá! Mas "des garga"?
E, como resposta, escreveram à caneta, na placa mesmo: "Então coloquem sabonete e papel, pô!"
Pelo jeito ainda se tem por pressuposto a ancestral filosofia de "se merda, então merda e meia".
Bah! Descarga? Ok. Deskarga? Vá lá! Desquarga? Sei lá! Mas "des garga"?
E, como resposta, escreveram à caneta, na placa mesmo: "Então coloquem sabonete e papel, pô!"
Pelo jeito ainda se tem por pressuposto a ancestral filosofia de "se merda, então merda e meia".
terça-feira, 13 de abril de 2010
Solto
Arruda ficou dois meses preso (estragando mesmo o carnaval dele...)! Deve ser algum tipo de récorde, não? Mas ainda parece pouco. Não é só que ele aprontou o suficiente para muito mais, eu achava ainda que talvez segurassem ele pelo menos até as campanhas eleitorais terminarem... C'est la vie.
segunda-feira, 12 de abril de 2010
Arauto
"Graças a Deus! ... E a vocês, né?"
Obrigado, obrigado...
Obrigado, obrigado...
Debates e fóruns
Notícias sobre Fórum Social Mundial sempre tratavam como se aqueles que organizassem o evento estivessem propondo ideias melhores para se viver no mundo. Quero dizer, o fórum era noticiado como algo que apresentava de fato respostas, e respostas boas. O caráter um tanto experimental e de puro debate (em que um dos lados necessariamente apresenta os piores argumentos, ou seja, não propõe a solução do problema de forma realista - estou desconsiderando se isso vem à tona no combate retórico) era necessariamente esquecido, já que a ideia era promover e, convenhamos, pegava mal a imprensa falar diretamente mal sobre o Fórum já de entrada. É óbvio que "democracia" era um termo mal entendido por vários participantes, mas também não era tão rara a sensação de que se procurava uma resposta, não que se a tinha. Enfim, o discurso "viemos salvar o mundo da dominação deles", que era a carta de apresentação do evento, influenciava uns jornalistas ou era acatado por outros.
O Fórum da Liberdade, por outro lado, não deixa de ser arrogante, mas é noticiado de forma ainda mais brusca, nesse sentido. O slogan do projeto, "seis temas para entender o mundo", foi adotado como aposto em toda santa matéria sobre o negócio. Não é como se citassem o slogan, simplesmente se inclui no texto a referência, como se as teorias apresentadas no fórum servissem para se entender um mundo que é como os palestrantes defendem. "Sabe-se a verdade", só não se sabe bem quem a explica melhor, o liberal 1 ou o liberal 2. É divertido que jornais também indiquem, sem qualquer suspeita de dúvida, a "pluralidade" do debate. Curiosa pluralidade a de um evento que reúne palestrantes como Carlos Ghosn (presidente mundial da Renault/Nissan), Armínio Fraga, Eduardo Marty, FHC, Stephen Kanitz, David Neeleman e Jorge Gerdau Johannpeter. Afinal, o evento ostensivamente (na chamada de qualquer informativo) reúne o pensamento liberal. É preciso maior diversidade para se ter pluralidade. Eu, pelo menos, não considero dois fãs de um time debatendo qual o melhor técnico como um confronto de ideias capaz de representar as forças em conflito no campeonato.
De qualquer forma, toda matéria indica os palestrantes por "fulanos que vão explicar o mundo", ou o fórum "com participantes que vão ajudar a entender o mundo"... E o que é entender o mundo? Justificar que os países que entendem a liberdade da mesma forma que eles ficaram mais ricos que os vizinhos por causa disso? Sério?! Os debatedores plurais vão vir com a busca da "causa fundamental" ideológica de novo? E não se menciona nas notícias um sorriso de canto de lábios quando se informa isso? Ceder o direito da dúvida para o Fórum Social Mundial era bonitinho, mas não salva do ridículo de se abaixar as calças para o Fórum da Liberdade. Eu sei que pedir espírito crítico de jornalismo é ingenuidade, mas só fiz este post para desabafar que o pé atrás que a esquerda merece não significa que a direita mereça menos. Concordo que Che Guevara estava errado, mas nem por isso Tio Sam tinha razão - e existem mais pontos de vista no mundo.
O Fórum da Liberdade, por outro lado, não deixa de ser arrogante, mas é noticiado de forma ainda mais brusca, nesse sentido. O slogan do projeto, "seis temas para entender o mundo", foi adotado como aposto em toda santa matéria sobre o negócio. Não é como se citassem o slogan, simplesmente se inclui no texto a referência, como se as teorias apresentadas no fórum servissem para se entender um mundo que é como os palestrantes defendem. "Sabe-se a verdade", só não se sabe bem quem a explica melhor, o liberal 1 ou o liberal 2. É divertido que jornais também indiquem, sem qualquer suspeita de dúvida, a "pluralidade" do debate. Curiosa pluralidade a de um evento que reúne palestrantes como Carlos Ghosn (presidente mundial da Renault/Nissan), Armínio Fraga, Eduardo Marty, FHC, Stephen Kanitz, David Neeleman e Jorge Gerdau Johannpeter. Afinal, o evento ostensivamente (na chamada de qualquer informativo) reúne o pensamento liberal. É preciso maior diversidade para se ter pluralidade. Eu, pelo menos, não considero dois fãs de um time debatendo qual o melhor técnico como um confronto de ideias capaz de representar as forças em conflito no campeonato.
De qualquer forma, toda matéria indica os palestrantes por "fulanos que vão explicar o mundo", ou o fórum "com participantes que vão ajudar a entender o mundo"... E o que é entender o mundo? Justificar que os países que entendem a liberdade da mesma forma que eles ficaram mais ricos que os vizinhos por causa disso? Sério?! Os debatedores plurais vão vir com a busca da "causa fundamental" ideológica de novo? E não se menciona nas notícias um sorriso de canto de lábios quando se informa isso? Ceder o direito da dúvida para o Fórum Social Mundial era bonitinho, mas não salva do ridículo de se abaixar as calças para o Fórum da Liberdade. Eu sei que pedir espírito crítico de jornalismo é ingenuidade, mas só fiz este post para desabafar que o pé atrás que a esquerda merece não significa que a direita mereça menos. Concordo que Che Guevara estava errado, mas nem por isso Tio Sam tinha razão - e existem mais pontos de vista no mundo.
Marcadores:
conflito simbólico,
imprensa,
política,
retórica
sexta-feira, 9 de abril de 2010
Eterno Brasil
"Nos termos do registro civil, os escravos são pretos, e os libertos são pardos. (...) Pode-se mesmo afirmar que um escravo preto tornava-se pardo no dia de sua libertação, sem mudar de cor. (...) De fato, um escravo, preto num determinado ato, poderia vir a ser pardo, moreno de pele ou, mesmo, branco, já que nem todos os filhos de escravas pretas e de brancos eram libertos. Nos jornais, um escravo era quase sempre preto, à exceção das mulheres - galanteio inconsciente - que são pardas."
Jean-Michel Massa refere-se, nesse trecho, às primeiras décadas do século XIX, no Brasil. É bom saber que, em 200 anos, termos como "pardo" não ganharam nada em termos de precisão, mas ainda assim os utilizamos para fundamentar leis, estatísticas e assistências governamentais.
Jean-Michel Massa refere-se, nesse trecho, às primeiras décadas do século XIX, no Brasil. É bom saber que, em 200 anos, termos como "pardo" não ganharam nada em termos de precisão, mas ainda assim os utilizamos para fundamentar leis, estatísticas e assistências governamentais.
Marcadores:
Brasil,
Citações,
politicamente correto,
retórica
Not so double standards
Após eu ser referido, minha mãe pergunta se as pessoas olhando o quarto também têm filhos em casa, com eles. A que respondem: "Não, já tão tudo casado, encaminhados." Para que não digam que a pressão por casamento é única e exclusivamente para mulheres.
quinta-feira, 8 de abril de 2010
Profissionalismo
"Eu fui uma vítima... da minha própria inexperiência."
A frase é de Agostinho, de A Grande Família, no episódio de hoje. Imediatamente me lembrou certos profissionais; alguns leitores desse blog devem lembrar deles imediatamente.
Infelizmente este é um post melhor compreendido por quem tem convivido muito comigo ultimamente, mas posso tentar universalizá-lo com o seguinte comentário: pior é ser vítima da inexperiência dos outros, não?
A frase é de Agostinho, de A Grande Família, no episódio de hoje. Imediatamente me lembrou certos profissionais; alguns leitores desse blog devem lembrar deles imediatamente.
Infelizmente este é um post melhor compreendido por quem tem convivido muito comigo ultimamente, mas posso tentar universalizá-lo com o seguinte comentário: pior é ser vítima da inexperiência dos outros, não?
Marcadores:
autocondescendência,
chefes,
cotidiano,
retórica
Mutatis
Depois de um dia de alegrias e sorrisos, na antepenúltima hora do dia, recebi o prêmio "Eu quero reclamar hoje". Nada como fazer trabalho burocrático para mudar o humor.
terça-feira, 6 de abril de 2010
Fortuna?
Tem gente que tem mais sorte que juízo. Mas não é só gente, tem fundação de faculdade e programa do governo que também se fia na sorte. Imaginem que um programa dependa de que alunos façam um certo exame, mas dá a louca no sistema de seleção e chamam apenas aqueles da chamada que nunca foram a aula alguma. E aí surge uma aluna que nunca foi, bem no dia, e faz a tal da prova, evitando que o quórum seja um nefasto zero (com suas consequências desastrosas).
Não é que a sorte seja merecida (nem que não), nem que Deus escreva certo por linhas tortas ou coisa parecida. É mais que certas coisas são tão aleatórias, estão tão jogadas ao Deus-dará, que às vezes acabam dando certo mesmo. E viva a ação governamental!
Não é que a sorte seja merecida (nem que não), nem que Deus escreva certo por linhas tortas ou coisa parecida. É mais que certas coisas são tão aleatórias, estão tão jogadas ao Deus-dará, que às vezes acabam dando certo mesmo. E viva a ação governamental!
segunda-feira, 5 de abril de 2010
Perspectiva
Vem uma mulher de uns 60 e tantos, cabelo cortado curto, arrepiado, pintado de loiro. Usa uma blusa com partes transparentes, cortada para mostrar um dos ombros.
Cruzam logo atrás dela dois guris de uns 20 e poucos. Comentário de um:
- Olha a tia fashion...
Cruzam logo atrás dela dois guris de uns 20 e poucos. Comentário de um:
- Olha a tia fashion...
domingo, 4 de abril de 2010
Criando um egocentrado
Uma família, com irmãos, tios, primos e sabe-se lá quem mais, reuniu-se numa praça. Enquanto uma criança voltava para um dos núcleos de adultos, outra estava parada em pé, de costas para um morro de grama e voltada para uma outra criança, um pouco maior. Essa criança repentinamente veio correndo para cima da menor e a derrubou no chão. Nada violento demais, mas a criança menor começou a chorar, aquele choro típico de violência que superou por pouco sua resistência para aceitar a pancada como brincadeira. Vinha se aproximando um tio desse piá. Perdido em pensamentos, ele só ficou sabendo que a criança na frente dele chorava porque alguém comentou. Ele olhou para a criança como se visse algo muito distante, depois seguiu seu caminho para sentar com outros adultos. Nesse grupo estava a mãe da criança que chorava. Ela estava sentada de costas para a galera, mas nesse momento se virou e, quando viu o filho sentado no chão, já parando de chorar por um certo cansaço (e porque obviamente o ferimento não fora grave), a mulher gritou com toda a severidade:
- Everton, sai do chão!
- Everton, sai do chão!
sexta-feira, 2 de abril de 2010
Coisas para não fazer em Porto Alegre quando se está morto
Ingenuamente, eu descartei que alguém pudesse suspeitar seriamente que Eliseu Santos (assassinado por tiros certeiros, numa situação claramente premeditada) fora morto simplesmente porque queriam roubar seu carro. Não: a Polícia Civil "concluiu" oficialmente que roubo havia sido mesmo o motivo de sua morte. Felizmente o Ministério Público discordou e seguiu uma investigação ligando sua morte a um dos vários motivos por que se poderia imaginar que pessoas estupidamente ricas o queriam mandado para uma melhor.
O Correio do Povo diligentemente noticiou a "virada" no caso, arrolando consequências da morte de Eliseu: o assassinato pode ter intimidado outras pessoas que poderiam contribuir no caso a ficarem quietas e também "impediu, acima de tudo, qualquer depoimento de Eliseu Santos."
Uau! É mesmo! Será que nossos repórteres realmente conseguem tirar conclusões tão geniais, ou será que a promotora de Justiça explicou isso para eles?
O Correio do Povo diligentemente noticiou a "virada" no caso, arrolando consequências da morte de Eliseu: o assassinato pode ter intimidado outras pessoas que poderiam contribuir no caso a ficarem quietas e também "impediu, acima de tudo, qualquer depoimento de Eliseu Santos."
Uau! É mesmo! Será que nossos repórteres realmente conseguem tirar conclusões tão geniais, ou será que a promotora de Justiça explicou isso para eles?
quinta-feira, 1 de abril de 2010
Professando
Eu costumo dizer que a profissão de professor é a de dar lição de moral. De forma muito simples pode-se resumir assim a existência desse cargo, especialmente porque há uma série de normas sociais que são passadas pela escola (às vezes só pela escola) e porque grande parte da população prefere esquecer que os humanos precisam de tanto treino para se portarem como aqueles que passaram no Vestibular consideram que é, simplesmente, natural. Sendo a educação responsabilidade de um grupo social específico, a maioria pode fingir que essa fase (em seu cotidiano duro, cansativo e desagradável) não existe. Alguns daqueles que poderiam contribuir nesse trabalho (responsáveis legais, pedagogos, políticos de baixo escalão...) de fato tiram o corpo fora e não contribuem em nada para "humanizar" (classe-medializar) as crianças.
Os mais fracos de coração, que porventura estejam incomodados com a escolha das palavras acima, devem encontrar um traficante de carreira e apenas depois ler o resto deste post. Aqueles que acham que existe diferença entre educar e dar lição de moral podem testar seus eufemismos: sugiro que falem para uma pessoa (que insiste em desrespeitá-lo) três vezes a frase "Por favor, pode te sentar?" Se o experimento não deixar clara a subjacente lição de moral em toda frase que toma por pressuposto uma noção de civilidade típica de quem se formou no Ensino Médio, também sugiro que o leitor abandone este post.
Para os que continuam lendo, digo que as matérias mesmo implicam uma lição constante. Não vou explicar os trâmites agora, mas, como se sabe, o conhecimento não sai da cabeça do professor e entra na do aluno, de modo que tudo o que o professor faz redunda numa lição de moral: "esta matéria é importante", ou seja, ela vale o esforço. Se o educador acumula carisma para tal ou não, se é um ditador ou um palhaço em sala de aula, tudo isso é irrelevante, ao menos para este post. De uma forma ou de outra ele carrega essa lição de moral em sua postura. Grande parte da pessoa e da prática profissional do professor é justamente definida e exercitada na postura que toma, de modo que o educador é alguém que envelhece dando lições. Qual sua postura, como ele se porta, como ele dá tais lições, define grande parte de quem ele se torna com o passar dos anos.
Acredito que existem formas de se envelhecer saudavelmente como professor (incluo nessa categoria a sublimação da posição, mas não o simples lavar de mãos), assim como creio que a postura errada pode marcar (ao longo dos anos) uma pessoa de forma irreparável. Seja como for, a constância dessa situação cansa, e, em alguns momentos, todos os professores na volta de determinado(s) aluno(s) cansam de dar lição de moral. Nisso, eles deixam passar. Infelizmente (como disse meu colega, professor de História, hoje), isso faz com que o aluno acredite que seu comportamento é aceito, inconscientemente ele naturaliza aquela postura e segue adiante. Ou seja, quanto antes esses professores recuperam a energia (seja por conversas, desabafos, posts ou o encontro com alguma situação inspiradora) para seguir cumprindo sua raison d'être social - dar lições de moral - melhor.
Os mais fracos de coração, que porventura estejam incomodados com a escolha das palavras acima, devem encontrar um traficante de carreira e apenas depois ler o resto deste post. Aqueles que acham que existe diferença entre educar e dar lição de moral podem testar seus eufemismos: sugiro que falem para uma pessoa (que insiste em desrespeitá-lo) três vezes a frase "Por favor, pode te sentar?" Se o experimento não deixar clara a subjacente lição de moral em toda frase que toma por pressuposto uma noção de civilidade típica de quem se formou no Ensino Médio, também sugiro que o leitor abandone este post.
Para os que continuam lendo, digo que as matérias mesmo implicam uma lição constante. Não vou explicar os trâmites agora, mas, como se sabe, o conhecimento não sai da cabeça do professor e entra na do aluno, de modo que tudo o que o professor faz redunda numa lição de moral: "esta matéria é importante", ou seja, ela vale o esforço. Se o educador acumula carisma para tal ou não, se é um ditador ou um palhaço em sala de aula, tudo isso é irrelevante, ao menos para este post. De uma forma ou de outra ele carrega essa lição de moral em sua postura. Grande parte da pessoa e da prática profissional do professor é justamente definida e exercitada na postura que toma, de modo que o educador é alguém que envelhece dando lições. Qual sua postura, como ele se porta, como ele dá tais lições, define grande parte de quem ele se torna com o passar dos anos.
Acredito que existem formas de se envelhecer saudavelmente como professor (incluo nessa categoria a sublimação da posição, mas não o simples lavar de mãos), assim como creio que a postura errada pode marcar (ao longo dos anos) uma pessoa de forma irreparável. Seja como for, a constância dessa situação cansa, e, em alguns momentos, todos os professores na volta de determinado(s) aluno(s) cansam de dar lição de moral. Nisso, eles deixam passar. Infelizmente (como disse meu colega, professor de História, hoje), isso faz com que o aluno acredite que seu comportamento é aceito, inconscientemente ele naturaliza aquela postura e segue adiante. Ou seja, quanto antes esses professores recuperam a energia (seja por conversas, desabafos, posts ou o encontro com alguma situação inspiradora) para seguir cumprindo sua raison d'être social - dar lições de moral - melhor.
Assinar:
Postagens (Atom)