Falando sobre tudo de linguagem que chamar a minha atenção: placas, conversas, citações... Deem uma chance lendo aí embaixo e vão sacar o foco.
domingo, 31 de janeiro de 2010
Futebol eloquente [11]
"Depois vai-se analisar quem fez certo, o que fez errado. A primeira coisa é ganhar."
Em termos
Plaquinha no meio da rua:
"Sorvete expresso"
"Sorvete expresso"
sábado, 30 de janeiro de 2010
Algumas frases resultantes do aniversário
"Que esta data se realize por muitos anos!"
UNO
PS: Cliquem na tirinha para verem-na em tamanho adequado.
quarta-feira, 27 de janeiro de 2010
Nacionalismo espontâneo
Sinopse do cinema Arteplex para "Lula - o Filho do Brasil": (lá pela metade do texto) "'Lula, o filho do Brasil' é a saga de uma família Silva igual à odisséia de tantas outras famílias Silva deste Brasil. Um filme sobre uma mãe e um filho, um menino, um sobrevivente, um homem que tomou as rédeas da sua vida."
Quem foi o "crítico de cinema" que teve esse momento de inspiração, deuses? Como ironizou meu irmão, "espero que as sinopses cheguem prontas no Arteplex". Não gostei apenas do patriotismo, mas de que Lula evolui de "filho" a "homem" na própria sinopse. Ninguém segura esse brasileiro...
Quem foi o "crítico de cinema" que teve esse momento de inspiração, deuses? Como ironizou meu irmão, "espero que as sinopses cheguem prontas no Arteplex". Não gostei apenas do patriotismo, mas de que Lula evolui de "filho" a "homem" na própria sinopse. Ninguém segura esse brasileiro...
Ensinai Lógica às Crianças
Pichado em sala de aula:
"Vai tomá no da tua mãe"
"Vai tomá no da tua mãe"
Para barrigas de todos os tamanhos
Compre o Diário Gaúcho e ganhe brindes como panelas e talheres, ótimos para preparar aquela comidinha para toda toda a família!
Compre Caras e ganhe brindes como as imitações de talheres e taças de dinastias europeias, ótimas para expor na sala e transformar seu recalque em orgulho!
Compre Caras e ganhe brindes como as imitações de talheres e taças de dinastias europeias, ótimas para expor na sala e transformar seu recalque em orgulho!
terça-feira, 26 de janeiro de 2010
Dali
Porto Alegre, capital de estado no sul do Brasil. Uma sala dos professores quase vazia de móveis e livros. Não há ninguém presente com exceção de um professor de Português, um de História e uma aluna. O primeiro está sentado numa cadeira, disposto a ajudar o outro professor conforme necessário. Este está sentado numa poltrona em pose de pessoa prestativa, escutando atentamente a narrativa dramática da aluna a respeito de parentes relativamente próximos.
Prof. de História - Quando foi a última vez em que tu viu tua tia?
Aluna - Que ano é esse?
P. H. - 2010.
Aluna - 2011.
Prof. de História - Quando foi a última vez em que tu viu tua tia?
Aluna - Que ano é esse?
P. H. - 2010.
Aluna - 2011.
sexta-feira, 22 de janeiro de 2010
Seguindo meu dicionário
Governo é a entidade responsável por profissionalmente atribuir a si o crédito por tudo que a população faça e atribuir a outrem a culpa por tudo de ruim que aconteça, seja ou não culpa do próprio governo.
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quinta-feira, 21 de janeiro de 2010
Tragédia no futebol
Meu amigo desolado na sala dos professores, tirando o fone de ouvido:
"Perdi o gol do Grêmio porque tava dando horário político do PSDC."
PS de corretor de português: Um partido que lembra da liberdade de imprensa antes de defender a vida e erra crase em slogan oficial.
"Perdi o gol do Grêmio porque tava dando horário político do PSDC."
PS de corretor de português: Um partido que lembra da liberdade de imprensa antes de defender a vida e erra crase em slogan oficial.
quarta-feira, 20 de janeiro de 2010
Universal
"Entre o mundo encantado da propaganda e o abismo dos fracassos, o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, tem um abacaxi de R$ 590 milhões sobre a mesa.
(...)
"Por enquanto, o Cartão SUS é apenas um desastre que merece ser estudado por pesquisadores da má administração pública e da esperteza dos fornecedores de equipamentos de informática."
Tirando as especificidades de Ministério e equipamentos de informática, essas são as duas frases mais universais de um texto extremamente valioso de Elio Gaspari. E o valor do texto está justamente no fato de que ele aponta aquilo que é verdade em um número absurdo de programas governamentais, apenas nesse caso se referindo à Saúde. No entanto como é difícil que as pessoas aprendam a lembrar sempre daquele fosso quilométrico entre o mundo encantado da propaganda e os fracassos dos programas públicos! E como a mentira governamental é sempre tão hiperbólica que mesmo o desconto de descrença da população não permite ainda que se vislumbre o fundo do poço, lá onde jaz a realidade.
(...)
"Por enquanto, o Cartão SUS é apenas um desastre que merece ser estudado por pesquisadores da má administração pública e da esperteza dos fornecedores de equipamentos de informática."
Tirando as especificidades de Ministério e equipamentos de informática, essas são as duas frases mais universais de um texto extremamente valioso de Elio Gaspari. E o valor do texto está justamente no fato de que ele aponta aquilo que é verdade em um número absurdo de programas governamentais, apenas nesse caso se referindo à Saúde. No entanto como é difícil que as pessoas aprendam a lembrar sempre daquele fosso quilométrico entre o mundo encantado da propaganda e os fracassos dos programas públicos! E como a mentira governamental é sempre tão hiperbólica que mesmo o desconto de descrença da população não permite ainda que se vislumbre o fundo do poço, lá onde jaz a realidade.
terça-feira, 19 de janeiro de 2010
Roubaram uma introdução do Clark
Vejam se essa introdução não podia começar um post do blog "Em Metrópolis":
"Nunca antes na história deste país um partido se vangloriou tanto de feitos que não realizou. É o caso do PT."- Maílson da Nóbrega
Tirando o fato de que "É o caso do", que poderia indicar a revelação daquilo de que o autor fala, parece antes anunciar um exemplo de um fenômeno geral (o PT é um exemplo de partido que se vangloria do que não faz), contrariando o "Nunca antes" da primeira frase. Enfim, o texto podia ser do Clark num momento desatento ou muito indignado.
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
Fora isso, realmente o que chama a atenção no texto é a mania de ser erudito da linha direitista (não estou igualando "se opor ao PT" com direitista, é claro, mas como classificar Mailsonzinho de outra forma?). Acho difícil não lembrar do populismo e do linguajar chulo (porém eficiente) do Lula em oposição a frases como estas, do mesmo texto:
"Os petistas se jactam de ter mudado o país."
"É um grande tento, que requereu doses elevadas de desfaçatez."
Pô, forma ainda é conteúdo. Tudo bem que se escreva em português castiço, ou que se use um termo mais raro quando é exatamente o que queremos dizer, mas não precisa escrever como faziam políticos recém saindo da ditadura. Se soa como história para boi dormir, não precisa ser o Lula para roncar no primeiro parágrafo.
"Nunca antes na história deste país um partido se vangloriou tanto de feitos que não realizou. É o caso do PT."- Maílson da Nóbrega
Tirando o fato de que "É o caso do", que poderia indicar a revelação daquilo de que o autor fala, parece antes anunciar um exemplo de um fenômeno geral (o PT é um exemplo de partido que se vangloria do que não faz), contrariando o "Nunca antes" da primeira frase. Enfim, o texto podia ser do Clark num momento desatento ou muito indignado.
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Fora isso, realmente o que chama a atenção no texto é a mania de ser erudito da linha direitista (não estou igualando "se opor ao PT" com direitista, é claro, mas como classificar Mailsonzinho de outra forma?). Acho difícil não lembrar do populismo e do linguajar chulo (porém eficiente) do Lula em oposição a frases como estas, do mesmo texto:
"Os petistas se jactam de ter mudado o país."
"É um grande tento, que requereu doses elevadas de desfaçatez."
Pô, forma ainda é conteúdo. Tudo bem que se escreva em português castiço, ou que se use um termo mais raro quando é exatamente o que queremos dizer, mas não precisa escrever como faziam políticos recém saindo da ditadura. Se soa como história para boi dormir, não precisa ser o Lula para roncar no primeiro parágrafo.
segunda-feira, 18 de janeiro de 2010
Que texto bem feito...
Mas, se EU tivesse escrito, já iam criticar minha excessiva ironia:
"Com Diploma de Fama
Um mês depois de reposicionar 5 litros de gordura da frente para trás e inflar o decote com 435 mililitros de silicone, eis que ressurge a dona daquele vestidinho rosa. Na versão 2010, GEISY ARRUDA, 20 anos, ostenta generosos 105 centímetros de seios e iguais dimensões de quadril, cintura afinada, pele recuperada e extensões capilares em constante expansão. 'Tive de investir para ficar bem no Carnaval', teoriza. Geisy vai sair na Gaviões da Fiel, em São Paulo ('Sou corintiana louca doente'), e na Porto da Pedra, no Rio de Janeiro - nesta, de Elizabeth I, 'uma rainha virgem, um negócio bem chique'. A transformação foi bancada por doações em espécie ('Clientes do meu cabeleireiro fizeram até vaquinha') e serviços. 'Sabe não ter dinheiro? Estou assim', informa. 'Quero trabalhar. Só não volto para o mercadinho onde era caixa porque foi assaltado e tenho medo'."
Veja - 20 de janeiro
"Com Diploma de Fama
Um mês depois de reposicionar 5 litros de gordura da frente para trás e inflar o decote com 435 mililitros de silicone, eis que ressurge a dona daquele vestidinho rosa. Na versão 2010, GEISY ARRUDA, 20 anos, ostenta generosos 105 centímetros de seios e iguais dimensões de quadril, cintura afinada, pele recuperada e extensões capilares em constante expansão. 'Tive de investir para ficar bem no Carnaval', teoriza. Geisy vai sair na Gaviões da Fiel, em São Paulo ('Sou corintiana louca doente'), e na Porto da Pedra, no Rio de Janeiro - nesta, de Elizabeth I, 'uma rainha virgem, um negócio bem chique'. A transformação foi bancada por doações em espécie ('Clientes do meu cabeleireiro fizeram até vaquinha') e serviços. 'Sabe não ter dinheiro? Estou assim', informa. 'Quero trabalhar. Só não volto para o mercadinho onde era caixa porque foi assaltado e tenho medo'."
Veja - 20 de janeiro
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domingo, 17 de janeiro de 2010
GloboNews
"O Haiti já teve o seu passado."
Perdeu-o, por acaso? Porque desgraça dá tanto ibope (ou assim querem crer os noticiários), o Haiti passou a ser puro presente?
Perdeu-o, por acaso? Porque desgraça dá tanto ibope (ou assim querem crer os noticiários), o Haiti passou a ser puro presente?
sábado, 16 de janeiro de 2010
Gandalf - at 'The Council of Elrond'
"It is wisdom to recognize necessity, when all other courses have been weighed, though as folly it may appear to those who cling to false hope."
Madagascar 2
Kowalski - Only two passengers unaccounted for, Skipper.
Skipper - That's a number I can live with! Good landing, boys! Who says a penguin can't fly?
King Julien (correndo para realizar um sacrifício) - Hurry up, before we come to our senses!
King Julien - Oh, suddenly throwing a giraffe into a volcano to make water is crazy!
Skipper - There's no sacrifice greater than someone else's.
Skipper - That's a number I can live with! Good landing, boys! Who says a penguin can't fly?
King Julien (correndo para realizar um sacrifício) - Hurry up, before we come to our senses!
King Julien - Oh, suddenly throwing a giraffe into a volcano to make water is crazy!
Skipper - There's no sacrifice greater than someone else's.
Ótimo vs Péssimo
Noticiam que o alargamento da estrada entre Porto Alegre e Pelotas avança. Fala o pessimismo que acha que nenhuma obra no Brasil vai para a frente ou o otimismo que crê o avanço como um sinal de que um dia essa obra estará completa?
quinta-feira, 14 de janeiro de 2010
Começando meu dicionário
Burrice é o enrijecimento da mente.
Ossos do ofício
Quando escrevi o post "Newspeak indeed", no dia 10, fiz a seguinte frase: "Quem não leu '1984' leia, antes que o Programa Nacional de Direitos Humanos o tire das livrarias".
Não coloquei vírgula depois de "1984" porque achei que tudo que vinha até ali era sujeito de "leia". Por outro lado, isso me parecia possível apenas por manias das gramáticas, já que o sentido que eu queria dar para a frase não parecia estar de acordo com essa análise sintática (para mentes estruturantes como a minha, sintaxe e semântica são irmãs siamesas). Lembrei ainda dos gramáticos que querem dizer que o sujeito, se estiver presente, ficaria marcado depois do verbo em caso de imperativo. Aí pioraria tudo, porque a oração inicial, se posta depois do verbo da principal, sem vírgula, ficaria parecendo objeto direto ("Leia quem não leu '1984'")!
Era claro o problema: usei "Quem não leu '1984'" como vocativo, portanto adicionei uma vírgula. Mas ainda parecia haver algo estranho, e lembrei que, pela Gramática Normativa, não exite oração subordinada substantiva vocativa (ao menos conforme todas as minhas). Foi o que bastou para que eu pensasse em várias frases em que usaria orações como vocativos, períodos em que uma oração claramente não poderia ser considerada sujeito da outra.
Na verdade, o tilt me parece estar no fato de que a Gramática não considera o vocativo como algo que tem conexão sintática necessária com o resto da frase (daí estar obrigatoriamente isolado por vírgula). Por isso, ele nunca poderia ser uma oração subordinada, mesmo que esta faça papel de substantivo. Assim, aquela minha oração seria uma coordenada assindética simplesmente, mas isso resolve o problema da explicação coerente gramática-normativamente ignorando absolutamente as consequências semânticas (por exemplo, a oração perderia seu potencial de sujeito da principal, o que todo vocativo guarda no modo imperativo, ao que me parece). Seria bem típico de Gramática Normativa, mas não me convenceu.
Tudo isso por olhar a frase com cacoetes de revisor e achar importante pensar a respeito por neuras de professor. Mas deve ter sido por resquícios de interesses de linguista que eu passei várias vezes, durante os dias seguintes, lembrando da frase nos contextos mais estranhos e simplesmente filosofando a respeito. Enfim, é nisso que dá passar muito tempo em ônibus com sono demais para ler e conforto de menos para dormir...
PS: Linguistas profissionais que queiram dar seus apartes, mesmo que me façam parecer muito idiota, estão convidados a comentar sem restrições.
Não coloquei vírgula depois de "1984" porque achei que tudo que vinha até ali era sujeito de "leia". Por outro lado, isso me parecia possível apenas por manias das gramáticas, já que o sentido que eu queria dar para a frase não parecia estar de acordo com essa análise sintática (para mentes estruturantes como a minha, sintaxe e semântica são irmãs siamesas). Lembrei ainda dos gramáticos que querem dizer que o sujeito, se estiver presente, ficaria marcado depois do verbo em caso de imperativo. Aí pioraria tudo, porque a oração inicial, se posta depois do verbo da principal, sem vírgula, ficaria parecendo objeto direto ("Leia quem não leu '1984'")!
Era claro o problema: usei "Quem não leu '1984'" como vocativo, portanto adicionei uma vírgula. Mas ainda parecia haver algo estranho, e lembrei que, pela Gramática Normativa, não exite oração subordinada substantiva vocativa (ao menos conforme todas as minhas). Foi o que bastou para que eu pensasse em várias frases em que usaria orações como vocativos, períodos em que uma oração claramente não poderia ser considerada sujeito da outra.
Na verdade, o tilt me parece estar no fato de que a Gramática não considera o vocativo como algo que tem conexão sintática necessária com o resto da frase (daí estar obrigatoriamente isolado por vírgula). Por isso, ele nunca poderia ser uma oração subordinada, mesmo que esta faça papel de substantivo. Assim, aquela minha oração seria uma coordenada assindética simplesmente, mas isso resolve o problema da explicação coerente gramática-normativamente ignorando absolutamente as consequências semânticas (por exemplo, a oração perderia seu potencial de sujeito da principal, o que todo vocativo guarda no modo imperativo, ao que me parece). Seria bem típico de Gramática Normativa, mas não me convenceu.
Tudo isso por olhar a frase com cacoetes de revisor e achar importante pensar a respeito por neuras de professor. Mas deve ter sido por resquícios de interesses de linguista que eu passei várias vezes, durante os dias seguintes, lembrando da frase nos contextos mais estranhos e simplesmente filosofando a respeito. Enfim, é nisso que dá passar muito tempo em ônibus com sono demais para ler e conforto de menos para dormir...
PS: Linguistas profissionais que queiram dar seus apartes, mesmo que me façam parecer muito idiota, estão convidados a comentar sem restrições.
quarta-feira, 13 de janeiro de 2010
Alpha
Nada mais zen que tirar xerox em repartição pública, pelas mãos de funcionário público, pago por dinheiro público. Cada folha é uma lenta experiência a ser observada entrando e saindo da máquina, entrando e saindo, entrando e saindo.
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terça-feira, 12 de janeiro de 2010
Princípios de XP
Bati o olho numa página do Diário Gaúcho e vi uma vírgula errada. Como foi mesmo numa piscada, não consegui conter o comentário. O professor do meu lado, interessado em saber pelo menos se defender em português, ficou olhando para a frase buscando entender por que a vírgula não deveria estar ali. Apontei a conexão necessária entre as três partes da frase e disse que, por isso, não podiam ser separadas por vírgula. Ele aceitou a explicação! Indiquei em seguida o que provavelmente quem escreveu tinha em mente, justificando que a vírgula seria necessária ali se houvesse um "a" funcionando como pronome demonstrativo depois (não usei nomenclatura). Ele entendeu! Será que finalmente estou preparado para dar aula?
La Culture
Viajar bastante de ônibus garante, entre outras coisas, a experiência dos mais diversos odores urbanos. Dentre estes, destacam-se, é claro, os fedores humanos, mas mais ainda aqueles que, não sendo propriamente humanos, apegam-se à nossa raça de forma aparentemente tão tenaz e dos quais muitas pessoas não fazem questão de se livrar.
Hoje, por exemplo, sentou ao meu lado (para toda a viagem, já que quase sempre vou de fim-da-linha a fim-da-linha, sempre em ônibus lotados) uma jovem fedendo a ração de cachorro. O cheiro primeiramente intrigou meus sentidos, e foi apenas após um minuto de investigação displiscente que me convenci de que realmente o que sentia vinha dela. O odor de ração não é me realmente desagradável, talvez por ter convivido cedo com cachorros, por outro lado o fato simples de vir de um ser humano, formando aquela aura quente tão comum em toda pessoa que fede, tornava-o desagradável, apenas para em seguida meu olfato contra-argumentar que não, não se trata de um cheiro que me seja desagradável.
Do conflito nasceu a luz (como querem os marxistas). Oposição máxima de conceitos reunida no Um (agradável e desagradável em um só cheiro), ironia romântica (confluência de opostos: cheiro que relembra a infância e fedor humano), finalidades sem fim (no sentido kantiano, o cheiro, o contexto, sua emanação, as memórias, tudo parecia apontar para um significado a respeito do qual minha mente racional não era capaz de decidir), apropriação (cheiro de comida canina num ser humano), inserção no cotidiano: estava eu presenciando uma obra de arte pós-moderna. Considerando a cidade cultural em que vivo, era claro ser aquela guria extremamente desagradável aos sentidos (mas tão rica em significado e prenhe, nitidamente, de crítica social) uma prévia da Bienal B. Mais tranquilo por saber que meu nariz era insultado por uma obra de arte (Vênus de Milo está para a Grécia como essa moça está para o Brasil), baixei a cabeça e li até chegar em casa, recorrentemente interrompido pelo odor da arte pós-moderna.
Hoje, por exemplo, sentou ao meu lado (para toda a viagem, já que quase sempre vou de fim-da-linha a fim-da-linha, sempre em ônibus lotados) uma jovem fedendo a ração de cachorro. O cheiro primeiramente intrigou meus sentidos, e foi apenas após um minuto de investigação displiscente que me convenci de que realmente o que sentia vinha dela. O odor de ração não é me realmente desagradável, talvez por ter convivido cedo com cachorros, por outro lado o fato simples de vir de um ser humano, formando aquela aura quente tão comum em toda pessoa que fede, tornava-o desagradável, apenas para em seguida meu olfato contra-argumentar que não, não se trata de um cheiro que me seja desagradável.
Do conflito nasceu a luz (como querem os marxistas). Oposição máxima de conceitos reunida no Um (agradável e desagradável em um só cheiro), ironia romântica (confluência de opostos: cheiro que relembra a infância e fedor humano), finalidades sem fim (no sentido kantiano, o cheiro, o contexto, sua emanação, as memórias, tudo parecia apontar para um significado a respeito do qual minha mente racional não era capaz de decidir), apropriação (cheiro de comida canina num ser humano), inserção no cotidiano: estava eu presenciando uma obra de arte pós-moderna. Considerando a cidade cultural em que vivo, era claro ser aquela guria extremamente desagradável aos sentidos (mas tão rica em significado e prenhe, nitidamente, de crítica social) uma prévia da Bienal B. Mais tranquilo por saber que meu nariz era insultado por uma obra de arte (Vênus de Milo está para a Grécia como essa moça está para o Brasil), baixei a cabeça e li até chegar em casa, recorrentemente interrompido pelo odor da arte pós-moderna.
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segunda-feira, 11 de janeiro de 2010
Mais dinâmicas matrimoniais
Um aluno chega para se matricular. Ele comenta em determinado momento que a mulher dele já está matriculada; ela não tem podido aparecer, mas vai vir. Pergunto o nome e, com a reposta, comento em que turma ela está. Proponho que fique na mesma, porém ele reage com surpresa e reclama: "Não! Que isso?" Colocá-lo na mesma turma da mulher? Não!
Tudo bem, coloco na segunda melhor opção (era extremamente útil colocá-lo na turma da esposa por diversos motivos administrativos e táticos que não vêm ao caso e não têm a ver com eles).
Finalmente a esposa aparece e assiste a uma noite de aulas. No fim dessa noite, o "casal" vem falar comigo e o esposo pede para mudar de turma. A outra é muito bagunceira, e ele precisa ir para a da esposa (parada logo atrás dele) para poder estudar direito.
Tá bom...
Tudo bem, coloco na segunda melhor opção (era extremamente útil colocá-lo na turma da esposa por diversos motivos administrativos e táticos que não vêm ao caso e não têm a ver com eles).
Finalmente a esposa aparece e assiste a uma noite de aulas. No fim dessa noite, o "casal" vem falar comigo e o esposo pede para mudar de turma. A outra é muito bagunceira, e ele precisa ir para a da esposa (parada logo atrás dele) para poder estudar direito.
Tá bom...
domingo, 10 de janeiro de 2010
Gramática Normativa Aplicada
Em caso de ênclise, o pronome átono vem separado do verbo por um traço, como na seguinte placa encontrada no Leopoldina:
"Vendem/se casas"
"Vendem/se casas"
Newspeak indeed
O desenvolvimento do tal Programa Nacional de Direitos Humanos formará uma Comissão Nacional da Verdade?!?!?! Depois o Ministério do Amor, o da Paz...? Quem não leu "1984", leia, antes que o Programa Nacional de Direitos Humanos o tire das livrarias.
Futebol eloquente [10]
"Roberto Carlos é especialista em copas."
Zero Hora de domingo...
Zero Hora de domingo...
sábado, 9 de janeiro de 2010
Perguntas impróprias
Sempre tem um para fazer pergunta em sala de aula justamente daquilo que não vimos, não sabemos, não lembramos, escolhendo sem querer o obscuro no mar de perguntas pertinentes para as quais estaríamos preparados. Mais curioso é quando o perguntador certeiro vem de fora, não é um aluno. Um técnico da área da saúde, que chegou na escola de repente e foi confundido imediatamente com um pai de santo (da braba) pelos alunos, perguntou para mim, no meio de sua argumentação: "Viu no Diário Gaúcho o sr. aquele de 80 e poucos anos que virou médico?" Pô, eu não sou a pessoa mais informada do mundo, mas perguntar sobre Diário Gaúcho é covardia.
A grande vantagem de um perguntador certeiro desses vir de fora é que a mentira cai bem melhor, especialmente que sua pergunta era quase retórica. Como eu pretendia apoiar a ideia geral do que ele argumentava, foi um "sim". Infelizmente é bem menos tranquilo mentir para alunos.
A grande vantagem de um perguntador certeiro desses vir de fora é que a mentira cai bem melhor, especialmente que sua pergunta era quase retórica. Como eu pretendia apoiar a ideia geral do que ele argumentava, foi um "sim". Infelizmente é bem menos tranquilo mentir para alunos.
quinta-feira, 7 de janeiro de 2010
Dos "elogios" [X+1]
Não é sobre matemática ou lógica este post. Ninguém se assuste. Acontece que eu costumava receber elogios dos quais, em geral, não gostava nada, mas compreendia pelo contexto que a pessoa pretendia me elogiar dizendo seja lá o que fosse. Teriam dedicada a eles uma sessão de meu blog, se este fosse mais velho. Esses "elogios" decididamente entre aspas rarearam com o tempo, mas de vez em quando ainda aparecem, como hoje, por exemplo. Então, X é o número dos "elogios" que recebi antes de começar o blog, e hoje adiciono o primeiro de minha era blogueira, torçamos para que novos sejam raros:
"O Sr. mentiu pra mim. O Sr. não é professor, é diretor. O Sr. vai ser diretor de colégio."
"O Sr. mentiu pra mim. O Sr. não é professor, é diretor. O Sr. vai ser diretor de colégio."
Pedreiros
Levaram até agora para expulsar Arruda da Loja Maçônica. Bah, como a maçonaria vai tentar convencer alguém que são uma organização que quer o BEM, hein? Que feio...
quarta-feira, 6 de janeiro de 2010
Lentos e graduais
Minha atual perspectiva: os alunos adultos de programa de apoio do governo para quem não completou o fundamental levam meses penando para receber o direito de comprar passagens como estudantes, pagando então metade do que precisariam para andar de ônibus. Pagando, diga-se, do próprio bolso antes e depois de receberem o direito à carteira escolar. Seus professores esperam há meses por que lhes paguem os vale-transportes previstos ao serem contratados.
Minha atual leitura: os senadores aprovaram que eles próprios podem usar a verba de passagem aérea que sobrou de 2009, contra decisão de abril passado, que proibia exatamente isso. A justificativa da ação: os senadores ainda não se acostumaram com essa nova regra, não foi previsto período de transição!
Minha atual leitura: os senadores aprovaram que eles próprios podem usar a verba de passagem aérea que sobrou de 2009, contra decisão de abril passado, que proibia exatamente isso. A justificativa da ação: os senadores ainda não se acostumaram com essa nova regra, não foi previsto período de transição!
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Quando o eufemismo só piora
Foi sepultado em São Paulo, no dia 5 de janeiro, o coronel reformado do Exército Antônio Erasmo Dias. A "notícia" que li resume o destaque de sua carreira da seguinte forma: "Sua missão mais POLÊMICA foi o cerco à Pontifícia Universidade Católica (PUC), em 22 de setembro de 1977, quando prendeu 900 estudantes e os levou ao quartel da temida Rota e ao Dops, a Polícia política. A tropa de choque lançou bombas incendiárias contra os manifestantes que pretendiam refundar a União Nacional dos Estudantes."
Isso está tão, tão, TÃO longe de ser uma missão "polêmica" que o uso da palavra na frase beira o neologismo (ou realmente o é). Algo precisa ser discutível para ser polêmico, por favor. Ou esse texto foi escrito DENTRO de um quartel, ou até Houaiss precisa revisar seus conceitos.
Isso está tão, tão, TÃO longe de ser uma missão "polêmica" que o uso da palavra na frase beira o neologismo (ou realmente o é). Algo precisa ser discutível para ser polêmico, por favor. Ou esse texto foi escrito DENTRO de um quartel, ou até Houaiss precisa revisar seus conceitos.
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Sociabilidade moderna
Uma página de recados do orkut cheia de moças sorridentes... Tô bem, tô bem...
Verão: momento de visitar o Interior
As chuvas se tornaram tão importantes para as manchetes do Rio Grande do Sul que o Correio do Povo resolveu fazer primeiras-páginas que só falam disso, como a de hoje. Cada manchete do jornal mostra um aspecto destruidor das águas. Mas o que me deixa tranquilo, feliz no meio da destruição e confiante num Rio Grande melhor é a recorrente fotinho da Yeda in loco fazendo cara de séria. Com certeza ela estar presente para olhar mais um ponte que caiu vai fazer toda a diferença para seu planejamento. De fato, se Bush tivesse ido ao Oriente Médio franzir o cenho na frente de soldados americanos mortos, a guerra "contra o Terror" já teria terminado.
O fato de que estar in loco permite estar apenas em um dos diversos pontos que enfrentam problemas pela chuva não deve nos desanimar. A intenção da governadora com certeza não é ver tudo o que está arrasado ou arruinado, ela sabe não conseguir estar em todos os lugares ao mesmo tempo. O que ela quer é não estar em um lugar muito específico. Qualquer outro vale. Ela tem razão: Porto Alegre está em sua época de cansativo abafamento. O calor da capital e a atração tão popular por mortes e destruição redundam na conclusão de que não é hora de ficar na capital, mas sim de pegar o helicóptero e ir assistir tragédia - nunca se esquecendo da careta de seriedade.
O fato de que estar in loco permite estar apenas em um dos diversos pontos que enfrentam problemas pela chuva não deve nos desanimar. A intenção da governadora com certeza não é ver tudo o que está arrasado ou arruinado, ela sabe não conseguir estar em todos os lugares ao mesmo tempo. O que ela quer é não estar em um lugar muito específico. Qualquer outro vale. Ela tem razão: Porto Alegre está em sua época de cansativo abafamento. O calor da capital e a atração tão popular por mortes e destruição redundam na conclusão de que não é hora de ficar na capital, mas sim de pegar o helicóptero e ir assistir tragédia - nunca se esquecendo da careta de seriedade.
terça-feira, 5 de janeiro de 2010
Voz do povo, voz de Deus, aê!
- E ela viu ele?
- Viu. Quer dizer, (viu) entre parênteses, né? Deu oi, tchau, foi embora.
A mutabilidade da língua não é linda? Já que parênteses viraram marca de conotação, vou logo me adaptar e começar a passar em aula. Tá na boca do povo, é lei!
- Viu. Quer dizer, (viu) entre parênteses, né? Deu oi, tchau, foi embora.
A mutabilidade da língua não é linda? Já que parênteses viraram marca de conotação, vou logo me adaptar e começar a passar em aula. Tá na boca do povo, é lei!
Atendimento ao cliente
- Oi! Este número não existe...
- Oi! Este número não existe...
(Uma amiga comenta comigo que essa mensagem às vezes é ativada só porque o número está ocupado. De fato, como comprovei ligando de novo.)
- Empresa Tal, boa tarde!
- Oi. Eu queria saber sobre a minha inscrição, que não foi homologada.
- Só um minutinho que eu vou te passar para o setor.
Tã rã rã rã rã tã, tã rã tã rã tã rã. Tã dã dã tã tã nã. Tã rã rã rã. Tã nã nã. Tã dã dã tã tã nã...
A MESMA pessoa pega o telefone e diz:
- Empresa Tal, boa tarde!
- Oi. Eu queria saber sobre a minha...
Tã rã rã rã rã tã, tã rã tã rã tã rã. Tã dã dã tã tã nã. Tã rã rã rã. Tã nã nã. Tã dã dã tã tã nã...
A MESMA pessoa pega o telefone e diz:
- Empresa Tal, boa tarde!
- Minha inscrição...
Tã rã rã rã rã tã, tã rã tã rã tã rã. Tã dã dã tã tã nã. Tã rã rã rã. Tã nã nã. Tã dã dã tã tã nã...
OUTRA pessoa atende:
- Empresa Tal, boa tarde!
- Oi. Eu queria...
Tu tu tu tu tu tu tu tu...
- Oi! Este número não existe...
(Uma amiga comenta comigo que essa mensagem às vezes é ativada só porque o número está ocupado. De fato, como comprovei ligando de novo.)
- Empresa Tal, boa tarde!
- Oi. Eu queria saber sobre a minha inscrição, que não foi homologada.
- Só um minutinho que eu vou te passar para o setor.
Tã rã rã rã rã tã, tã rã tã rã tã rã. Tã dã dã tã tã nã. Tã rã rã rã. Tã nã nã. Tã dã dã tã tã nã...
A MESMA pessoa pega o telefone e diz:
- Empresa Tal, boa tarde!
- Oi. Eu queria saber sobre a minha...
Tã rã rã rã rã tã, tã rã tã rã tã rã. Tã dã dã tã tã nã. Tã rã rã rã. Tã nã nã. Tã dã dã tã tã nã...
A MESMA pessoa pega o telefone e diz:
- Empresa Tal, boa tarde!
- Minha inscrição...
Tã rã rã rã rã tã, tã rã tã rã tã rã. Tã dã dã tã tã nã. Tã rã rã rã. Tã nã nã. Tã dã dã tã tã nã...
OUTRA pessoa atende:
- Empresa Tal, boa tarde!
- Oi. Eu queria...
Tu tu tu tu tu tu tu tu...
Alarme light
Quem vai sair de carro em Porto Alegre hoje fique avisado que uma "inspeção pode tirar das ruas veículos poluidores". Ou seja, ela também pode deixar os veículos poluidores exatamente onde estão, portanto o aviso não é tão preocupante.
segunda-feira, 4 de janeiro de 2010
Explicitando pra deixar claro e iluminar a questão de forma didática
Pintura gigante em paredão do Centro:
LOCADORA DE FILMES PORNÔ
LANÇAMENTO DE GRANDE FILME PORNOGRÁFICO
LANÇAMENTO DE GRANDE FILME PORNOGRÁFICO
CENAS DE SEXO EXPLÍCITO
Ok. Que outro tipo de filmes pornôs eles conhecem?
domingo, 3 de janeiro de 2010
Ano da Suécia no Brasil
A aeronáutica quer mesmo é avião sueco. Não tem problema: já é 2010! A gente não deve mais nada para os franceses, certo?
Eufemismo diplomático
Chávez acusa mais uma vez os EUA de estarem fazendo manobras no espaço aéreo venezuelano em preparação para agressão militar contra o país. Os norte-americanos defendem-se dizendo que estão apenas realizando operações contra o tráfico de drogas. Ok, mas isso, no caso do governo de Chávez, não é dizer a mesma coisa?
Acordo Internacional Nacional
Faz tanto sentido ter a palavra "acordo" no "Novo Acordo Ortográfico" quanto ter a palavra "Unidas" no nome da ONU. Essa ideia toda de pessoas concordando, encontrando meio-termos, fazendo concessões e ao mesmo tempo tendo voz é, pelo jeito, demais pra pobre da cachola humana mesmo. Que o diga quem foi a Copenhagen recentemente.
Talvez eu esteja sendo muito condescendente se disser que, no Brasil, umas vinte pessoas eram a favor do Acordo. Classe, etnia ou gênero algum tinha interesse nisso além dos diretamente envolvidos no planejamento e dos vendedores de dicionários e gramáticas (não contados nos 20 acima, claro, já que seu interesse vinha do mercado e não de opinião filosófica a respeito). Quem não fazia ideia do que era o tal negócio, quando lhes era explicado, soltava um pff ridicularizante pelos lábios e torcia a boca criticamente para já em seguida xingar os políticos.
Apesar de ser um bom brasileiro (ou seja, ter memória curta), lembro que os defensores, contra todas as críticas, levantavam uma última bandeira: nós estamos liderando o processo. Retratando o Brasil como um país que sempre vai na onda dos outros, o pessoal achava que levar uma merda adiante era bom porque, pelo menos, nós estávamos encabeçando a ação internacionalmente. Para variar, esse "nós" se refere a uma ínfima reunião de pessoas, mas isso não vem ao caso no momento. O que vem ao caso é que, pelo jeito, todo esse "nós" apostou no cavalo errado: lançamos a bosta, mas ela era de curto alcance. (Nem pra acertar no ventilador, Brasil?)
Enquanto nenhum outro ratifica a coisa de verdade, além do Brasil, Portugal, que ainda guarda o maior peso simbólico, pelo visto, tem fortes movimentos de resistência. Jornais relutam, o sistema de ensino não adota mudanças, intelectuais protestam. Vasco Graça Moura levanta um argumento para seguir lutando contra: se é um "acordo", qualquer país que não aceitar tira a razão de os outros fazerem a reforma; José Mário Costa responde com argumento nenhum: "Não há possibilidade de recuo. O acordo está em vigor."
Note-se que Vasco usa pressupostos democráticos para desmerecer o Acordo. É por isso, claro, que o processo andou apenas no Brasil. Nem damos bola para nossa pobreza como alguns países africanos nem entedemos o que sejam pressupostos democráticos. Tanto que, em Portugal, 57,3% dos cidadãos não aceitar a reforma é referência para discussão. Francamente, quantos porcento dos brasileiros (ainda que contando apenas os alfabetizados) são contra o Acordo? Que valor isso teve? Todos ignorados por uma merda que reaquecerá nosso mercado fazendo com que, sendo otimista, 1% de nossa população total compre dicionários novos, sabe-se lá quando?
Não creio que a bobajada toda vá dar para trás, realmente. Acho que a mudança ainda pega, nem que seja como regras vigentes apenas no Brasil e num que outro desses países, e então nosso pioneirismo ficará gravado na história por um "mas": somos os líderes de uma palhaçada, mas pelo menos somos os líderes.
Talvez eu esteja sendo muito condescendente se disser que, no Brasil, umas vinte pessoas eram a favor do Acordo. Classe, etnia ou gênero algum tinha interesse nisso além dos diretamente envolvidos no planejamento e dos vendedores de dicionários e gramáticas (não contados nos 20 acima, claro, já que seu interesse vinha do mercado e não de opinião filosófica a respeito). Quem não fazia ideia do que era o tal negócio, quando lhes era explicado, soltava um pff ridicularizante pelos lábios e torcia a boca criticamente para já em seguida xingar os políticos.
Apesar de ser um bom brasileiro (ou seja, ter memória curta), lembro que os defensores, contra todas as críticas, levantavam uma última bandeira: nós estamos liderando o processo. Retratando o Brasil como um país que sempre vai na onda dos outros, o pessoal achava que levar uma merda adiante era bom porque, pelo menos, nós estávamos encabeçando a ação internacionalmente. Para variar, esse "nós" se refere a uma ínfima reunião de pessoas, mas isso não vem ao caso no momento. O que vem ao caso é que, pelo jeito, todo esse "nós" apostou no cavalo errado: lançamos a bosta, mas ela era de curto alcance. (Nem pra acertar no ventilador, Brasil?)
Enquanto nenhum outro ratifica a coisa de verdade, além do Brasil, Portugal, que ainda guarda o maior peso simbólico, pelo visto, tem fortes movimentos de resistência. Jornais relutam, o sistema de ensino não adota mudanças, intelectuais protestam. Vasco Graça Moura levanta um argumento para seguir lutando contra: se é um "acordo", qualquer país que não aceitar tira a razão de os outros fazerem a reforma; José Mário Costa responde com argumento nenhum: "Não há possibilidade de recuo. O acordo está em vigor."
Note-se que Vasco usa pressupostos democráticos para desmerecer o Acordo. É por isso, claro, que o processo andou apenas no Brasil. Nem damos bola para nossa pobreza como alguns países africanos nem entedemos o que sejam pressupostos democráticos. Tanto que, em Portugal, 57,3% dos cidadãos não aceitar a reforma é referência para discussão. Francamente, quantos porcento dos brasileiros (ainda que contando apenas os alfabetizados) são contra o Acordo? Que valor isso teve? Todos ignorados por uma merda que reaquecerá nosso mercado fazendo com que, sendo otimista, 1% de nossa população total compre dicionários novos, sabe-se lá quando?
Não creio que a bobajada toda vá dar para trás, realmente. Acho que a mudança ainda pega, nem que seja como regras vigentes apenas no Brasil e num que outro desses países, e então nosso pioneirismo ficará gravado na história por um "mas": somos os líderes de uma palhaçada, mas pelo menos somos os líderes.
sexta-feira, 1 de janeiro de 2010
CDF-cidadão (chamando a atenção...)
O estado das estradas do RS está uma calamidade, um absurdo se lembrarmos que pagamos pedágios! Apesar de ainda ser possível ler durante a viagem, é quase impossível sublinhar as partes importantes. Mesmo onde o asfalto está melhor, fazer anotações é um exercício de paciência. Até estudar em ônibus na cidade é mais fácil. Assim não pode, assim não dá!
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