Há uns dias (quando pensei em escrever este post) acordei lá pelas 4h e muito da manhã. Já tinha me levantado umas 3 vezes e podia arcar com certo sono naquele dia, então desisti de dormir e resolvi sair da cama de vez. Afinal, podia curtir outros climas antes de ter de ir trabalhar, e com certeza não me atrasaria...
Quando levantei, estranhei o barulho que o movimento do lençol fez. Acontece que era meramente isso, o barulho do lençol. O que havia de diferente era o extremo silêncio da madrugada. Parecia que James Cameron tinha gravado um som de lençol em altíssima qualidade e colocado num cinema com uma nitidez injustificável por qualquer roteiro. Minha atenção voltou-se direto para a rua, que é movimentada em proporção à maioria das ruas, em qualquer horário. Logo veio um caminhão. Claro, o barulho. Depois o silêncio, e um carro...
Mesmo que minha rua nunca durma (e tenha horários de engarrafamento larguíssimos), era possível curtir um silêncio único, entre um carro e outro. De repente me pareceu muito violento que alguém sempre deva estar acordado. Entendo que se vire a noite, sempre adorei, e entendo que festas cheguem às madrugadas muitas vezes, mas sempre alguém dever estar acordado me pareceu uma violência estranha, como que a todos nós. E nossa raça sempre fazendo barulho!
Será que em alguma época, desde que há homo sapiens, já estivemos todos em silêncio? Não me importa que outras raças sejam ou não barulhentas, afinal eu não posso experimentar o ponto de vista deles, nem nossa empatia por eles chega às raias do que pode a entre humanos. Quero saber de nós.
Uma teoria bastante apoiada afirma que fomos reduzidos a baixíssimo número, quando ainda vivíamos só na África, antes de nossos ancestrais se multiplicarem de novo e conquistarem os continentes dos outros homo qualquer coisa. Talvez, se fôssemos poucos, numa região tão curta que fosse possível todos experimentarem a noite pelo menos por algumas horas em comum, acuados por precaução, com cuidado contra predadores e inimigos em potencial, talvez então tenhamos ficado todos em silêncio, por algumas horas, ou alguns minutos.
Desde então, o barulho! Centenas de milhares de anos de barulho...
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