Um sujeito foi contratado para cuidar que algumas plantas crescessem. Bom, todas as plantas, pelo menos todos os tipos pelos quais ficou responsável, crescem por si, digamos então que ele foi contratado para que as fizesse crescer de determinada forma, a qual estava ao alcance natural delas, mas exigindo um caminho que não é da natureza delas trilhar, não por si. Sua intervenção, além de guiar esse desenvolvimento, talvez forçá-lo um pouco, idealmente as faria se desenvolver também mais rápido.
Os donos das plantas e o resto da população, que contava com sua futura produção de frutos e um pouco de oxigênio, quem sabe, todos contribuíam com a pesquisa... financeiramente. Alguns donos, é verdade, só queriam um lugar para deixar as plantas crescendo sem serem incomodados, mas todos estavam dispostos a subir em seus saltos morais caso qualquer problema no laboratório respigasse em seus respectivos cotidianos supervalorizados.
A pior coisa que poderia acontecer, então, era que uma planta fosse jogada para fora do sistema montado, ou ainda que ficasse trancada em determinado estágio - já que isso indicaria que os gastos ali investidos não teriam retorno, algo que a população em geral não estava disposta a aceitar, ainda que os responsáveis diretos pelas plantas insistissem que estas não eram objetos, como pedras, que eram seres vivos e tinham valor em si, justificando todo investimento possível. Esperava-se que o botânico responsável encontrasse sempre novas maneiras, exigindo menos da planta (para não usar eufemismos), trabalhando diferentemente, procurando novas tecnologias, o que fosse necessário! Tudo, menos uma planta voltar para casa ou crescer por si, conforme quisesse, ou, pior ainda, seguisse o desenvolvimento da vegetação na volta do laboratório.
O pequeno problema era que o botânico logo percebeu que lhe faltavam verbas e pessoal para tanto. Não tinha nem onde trabalhar com as plantas que ficavam defasadas naquele percurso de movimento pré-estabelecido e atribuído, uniformemente, a cada planta, independente de diferenças genéticas e nutricionais, incluindo necessidade de diferentes tipos de solos. Tanto ele esperneou que seus contratantes diretos formaram um grupo de pesquisadores responsáveis por visitá-lo e avaliar caso por caso as plantas que não correspondiam ao desenvolvimento esperado, a fim de avaliar, se afinal ele tinha razão em querer tratar determinada planta de forma diferente, quem segurá-la para certos objetivos por mais um ano.
A mesma tarefa, é claro, minguou no papel. Não havia como fazer essas visitas nem uma análise cuidadosa, mesmo porque havia muitos e muitos laboratórios como aquele, e criá-los para todos os lados era um esporte político associado facilmente com votos, então a cada ano o problema apenas aumentava. A solução foi designar uma só pessoa para avaliar o laboratório. Melhor ainda, para os cofres, uma para vários.
Como a análise dos casos levaria tempo e essa pessoa precisaria visitar muitos, além de cumprir sua própria burocracia, a única forma era que começasse suas visitas avaliativas com certa antecedência, ou seja, antes de se poder dizer, com total certeza, que se tentou de tudo, e que a planta não reagiu conforme o esperado. Ironicamente, ele só precisava ir porque se pretendia garantir que o botânico havia tentado de tudo com cada planta!
Logo, acostumados com esse sistema, e sempre relembrados pelo burocrata de plantão, pesquisadores como o nosso sujeito em questão começaram a acumular provas, prever estratégias, montar dossiês e fiscalizar as plantas de risco, definindo seu destino antes mesmo de ele estar traçado. Era chegar o fim do ano e o trabalho para manter uma planta onde estava começava antes mesmo de esta poder ter cumprido o desenvolvimento desejado.
E assim um sistema que não quer excluir nem gastar o suficiente para incluir torna-se não apenas excludente, mas precipitado, prematuro e, num sentido estranho, preconceituoso: definindo seus conceitos a respeito do que avalia antes mesmo de os conceitos serem fechados.
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