sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Rosto amigo de longa data

Há alguns meses sou colega de trabalho da professora que me deu aulas na quarta série, o que é muito legal porque nossa turma simplesmente adorou essa professora. E vê-la com olhos adultos de forma alguma revelou algum detalhe ou defeito que tivesse nos escapado quando crianças. Ela é competente e legal como parecia na época, dadas as devidas proporções de entendimento desses conceitos, claro.

Mas só hoje fiquei sabendo que ela, quando me deu aula, tinha a idade que eu tenho agora. Lembrei, é claro, da piazada que vejo no colégio e fiquei remoendo minha sorte de não ter de dar aula para eles adicionando a isso a ideia curiosa de que eu sinto quase um alívio por não ter de dar aula para mim mesmo naquela idade, por mais "fofinho" e "querido" que todo mundo diga que eu fosse. Não é tanto a questão estética, é que me imaginar como um daqueles seres que correm pela escola destaca o quanto me assustaria a responsabilidade de dar aula para mim mesmo. Eu não ia querer me traumatizar, nem me cercear (não na hora errada), ou me confundir, muito menos atrasar o meu desenvolvimento de qualquer forma que fosse. Eu posso ter dado muito errado... por outro lado, talvez este meu eu seja o melhor eu possível (com o que Leibniz concordaria, pelo menos), o que significaria que eu teria muita pressão sobre mim se tivesse de cometer o potencial acerto outra vez.

Felizmente eu não posso nem nunca quis dar aulas para a piazada em questão (e igualmente feliz é o fato de que a teoria acima só poderia ser comprovada às custas de perigosas experiências de física quântica, as quais não posso custear), só que não pude deixar de pensar numa coisa: se eu tenho a idade que ela tinha na época, e se eu fosse um daqueles piás de quarta que vejo na escola, em 2012 "eu" chegaria à série mais fundamental das fundamentais em que de fato leciono, a sexta. Em 2012, eu me encontraria como professor com meu eu aluno... Daqui a dois anos, eu chegaria a mim.

O que, pensando bem, não seria problema algum. Sou objetivo como professor como era como aluno. Seria legal chegar em aula e saber imediatamente que não entraria em confrontos ideológicos e metodológicos pelo menos com aquele aluno. Apesar de que eu tinha, com certeza, uma característica da idade que, como professor, devo admitir que é detestável em qualquer aluno: a narcísica e paranoica timidez adolescente, quando a questão é participar de algo que é proposto por adultos - ainda que o adolescente queira participar, no fundo. Será que eu encontraria a linguagem certa para falar (falar de verdade, e como adulto) comigo naquela idade? Seria mesmo este o melhor caminho para aprender a falar com os outros?

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