Eu não lembro se já as comentei aqui no blog, mas o post anterior me fez retomar duas teorias que tenho sobre clichês.
A primeira delas é o que o cansaço que temos com clichês nos leva a subestimá-los, mas eles na verdade representam, em geral, verdades superconcentradas. Essa concentração se dá com o tempo, exatamente como no processo natural de decantação. Muitas histórias ou muitas versões estão sempre sendo aventuradas sobre tudo. Aquelas muito verdadeiras (coloque aqui seu teor de relativismo cultural, a gosto) sobrevivem por mais tempo e dominam as outras. O clichê do herói e da heroína formarem um casal, por exemplo, tem muito de verdadeiro. São duas pessoas que sobrevivem e vivem melhor juntas (tanto que ganham a aventura por isso) postas numa situação de stress, em que a confiança no outro é fundamental, e tudo isso gera uma série de vínculos e dependências que são uma mão na roda para o Cupido. É claro que muita projeção da plateia favorece tal tipo de relação romântica, mas isso é verdade para tudo, não só para os clichês.
Enfim, acho que eles são histórias ou esquemas que se repetiram e repetem muito, por isso mesmo viram clichês. Quem quer resistir a determinados valores precisa então atacar esses clichês, mas tal status não parece ser o melhor alvo. O argumento "isso é clichê", nesse sentido, reforça-o, pois afirma que aquilo aconteceu e segue acontecendo muito.
A outra questão é que clichês precisam ser concluídos. Como eles resultam de um acúmulo de experiência, a resposta pronta não quer dizer o mesmo que para aqueles que tiveram que chegar a ela batalhando e pensando. Assim, o mau cheiro do clichê em geral é reflexo de que a pessoa não o entendeu direito, está vendo-o de fora, precisa viver e até negar aquele clichê para chegar a ele.
É esse aspecto que me incomodou no post anterior. Exatamente porque estou falando sobre o choque entre minha visão de mundo e a de tanta gente que me cerca, fico pensando quem poderia entender o post anterior no sentido que eu pensava. Estou falando mal de um "sistema", reclamando sobre uma idiotização da vida à Hollywood, tudo coisas que se fala muito, mas em geral num sentido diferente do que eu buscava. Como não tento explicar a minha vida aqui, a leitura do post deve indicar para muita gente o caminho errado. Ele deve ser lido em sentidos opostos aos que eu pensava. Mas, se eu acho justamente que a complicação da Mafalda é de tradução, esses mal entendidos acabam por reforçar meu argumento...
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