A profissão do político é fazer promessas e não as cumprir. Mercadante, portanto, começou bem seu exercício como ministro da Educação. Uma de suas primeiras atividades foi fazer promessas impossíveis. Fossem elas possíveis, teríamos motivos para duvidar de sua seriedade de homem público. Ele, de fato, não parou nas promessas inúteis, fez propostas para solucionar os problemas educacionais do país. Vamos nos divertir um pouco:
Começou por se pronunciar a respeito da importância de se formar as crianças "na idade correta", em vez de fazer programas para recuperar os alunos depois. Temo dizer que aqui ele expõe sua situação de recém-chegado. No caso do governo, quem acha que precisa dizer uma coisa dessas nitidamente descobriu ontem que existe Educação. Trata-se apenas do problema mais velho que ainda persiste na educação formal democrática (aquela que diz ser para toda a população). Mercadante começa apenas a engatinhar no problema... de forma alguma algo que queremos num ministro da Educação! Mas, é o que temos. Vamos adiante!
O outro problema da afirmação é que "a idade correta" é uma expressão que serve ao governo ou empresa que controla a escola. De forma alguma ela serve ao aluno, que respeita o corte por idade apenas porque lhe é imposto. Nada na medicina, na filosofia ou na religião parece indicar que as pessoas aprendam as mesmas coisas sempre nas mesmas idades. Por que isso é relevante? Porque o ministro acha que a escola deve ser "interessante" para o aluno, de 4 a 17 anos, que insiste em abandoná-la.
Ora, se ESSE é o problema, tem-se realmente uma tragédia neste país! Para começar, o que cada aluno acha interessante varia muito, mesmo numa mesma faixa de idade. Tornar a escola interessante para todos, em todas as idades, pode contradizer em muito as milhões de bandeiras que lutam por um espaço dentro dela (Igreja, ONGs, Movimentos Étnicos, Feminismo...). E se as crianças acharem interessantes assuntos ou posições que não estão na moda? E se elas não acharem interessantes a bandeira da vez?! Contradiz, com certeza, a organização das escolas seriadas, ainda que os Ciclos não resolvam esse problema também. E agora? Acabar com as séries (em nome do interesse do aluno) atrapalha a ideia do sr. ministro de formar as crianças no prazo de validade estipulado em sua política... "Interessante para o aluno" e "conforme a agenda do ministro"? Complicado.
E por que o corte de idade tão baixo? Não é só que o "interesse" pela escola costuma ser problema significativo depois de os alunos terem uns 10 anos (algo útil para o ministro da Educação saber, devo dizer); antes disso, mesmo que o sujeito não queira ir à aula, não há muito o que ele possa fazer a respeito... Há quanto tempo Mercadante não vê uma criança de 4 anos para não lembrar disso? Será que é seguro alguém tão enclausurado coordenar a Educação do Brasil? É claro que, em famílias extremamente desestruturadas (com 16 crianças dormindo numa salinha, ou uma em que os pais proíbam as crianças de ficar em casa a não ser para dormir, por exemplo), uma criança deixa de ir à escola com qualquer idade. Especialmente se os outros braços do governo, como o (quase extinto) conselho tutelar, não funcionam direito. Mercadante está disposto a cuidar das famílias carentes e fornecer apoio a todos os problemas que as escolas diagnosticam, em vez de deixar que elas sigam sendo ignoradas, tendo de lidar com os males que afetam sua comunidade em completo abandono?
Ops, estou fugindo do assunto!
Afinal, por que Mercadante falava mesmo sobre idade de alfabetização? Qual era a questão? Ah, porque ele quer premiar escolas que alfabetizem todos os alunos até os 8 anos!
Afinal, por que Mercadante falava mesmo sobre idade de alfabetização? Qual era a questão? Ah, porque ele quer premiar escolas que alfabetizem todos os alunos até os 8 anos!
Será que ele sabe que os alunos de uma mesma série nem sempre têm a mesma idade? Será que ele sabe quão atrasados os pais conseguem que certos filhos cheguem ao ensino formal? Será que ele sabe que nenhuma escola pública brasileira atingiria essa cota sem mentir (a menos que haja uma revolução educacional gigantesca no país, uma que Mercadante, claramente, não faz ideia qual é)? Será que ele sabe que algumas mentiriam? Será que ele sabe que isso pode facilmente excluir os alunos com deficiência que conseguem cursar a escola tradicional? Será que ele sabe que é feio nem contar esses alunos, quando o governo mesmo insiste sobre a importância de sua formação em ambientes tradicionais, sem dar verbas, estruturas ou profissionais para que isso seja feito?
São muitas dúvidas, mas elas devem se multiplicar sorrateiramente em nossas mentes, porque nossa atenção deve redobrar quando o ministro afirma como vai conseguir realizar essa façanha falaciosa. Como mesmo? Ah, sim! Ele vai premiar as escolas que conseguirem isso.
Sabem de uma coisa? Eu sempre suspeitei que as escolas estavam mesmo por um fio para alfabetizar todos os seus alunos. Só faltava uma boa desculpa. No momento em que Mercadante promete um bônus para as escolas, com certeza todas pararão de esconder suas fórmulas mágicas e resolverão o problema da alfabetização. Sem distorções, sem mentiras, sem escolha ilegal de alunos, sem exclusão de parte deles para os testes. Nada. Essa ajudinha financeira vai resolver tudo. Como não se pensou nisso antes? Ah, esses alfabetizadores que escondem na manga como salvar a nação...
Como sempre, aliás, a verba vai para o milagreiro, não para o doente. Mercadante não pensa que quem deve precisar de ajuda é o pescador se afogando; o prêmio vai mesmo para o amigo dele que jura caminhar nas águas. Como sempre, o governo confunde sua posição. Ele acha que é cliente da escola, não sabe que o problema também é diretamente seu! Que a responsabilidade é sua. Nosso ministro ainda não entendeu (pobrezinho, como disse, chegou há pouco, entendam...) que está dentro da escola, ou deveria estar. Não é sua posição dar tapinhas nas costas do melhor! Sua posição é descobrir (ou perguntar qual é) o problema e fazer o possível e o impossível para resolver. Se há uma crise, idealmente um ministro da Educação ajuda ou afunda junto. Políticos são tão acostumados a abandonar o barco que nem percebem as responsabilidades que (retoricamente) tomam para si.
Vamos torcer que aprenda rápido qual sua posição e o quanto o MEC está devendo. Coitadinho, tão inexperiente, já chefiando a Educação.
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