Pensando sempre na Bienal, façamos duas apropriações (antigamente conhecidas como "plágio" - deuses sejam louvados pelos eufemismos das artes visuais...). O título da sessão (dado a este post) é de Luis Fernando Verissimo, o poema é de Cecília Meireles:
Romance XLI ou Dos Delatores
O que andou preso me disse
que dissera o Carcereiro,
que dissera o Capitão...
(Mas pareceu-lhe parvoíce,
e não delatou primeiro
porque não teve ocasião...)
E mais: porque o Carcereiro
depois passara a Meirinho...
E o Capitão, do Ouvidor
fora sempre companheiro...
E que, por esse caminho,
ia-se ao Governador...
Mas agora, que o Meirinho,
o Capitão mais o preso
são da mesma condição...
Já que não têm mais padrinho,
posso fazer com desprezo
a minha declaração.
Digo o que me disse o preso,
que de outro já o tinha ouvido,
que o ouvira de outro... Não são
máximas de grande peso:
mas tudo bem entendido,
pode envolver sedição.
Eu digo - por ter ouvido -
que os filhos do Reino, em breve,
cativos aqui serão.
Tenha ou não tenha sentido,
quem a dizê-lo se atreve
merece averiguação.
A minha denúncia é breve,
pois nem sei se houve delito,
nem se era conspiração.
Mas, se ninguém os escreve,
aqui deixo, por escrito,
os nomes que adiante vão.
Haja ou não haja delito,
esses nomes assinalo,
e escrevo esta relação.
O que outros dizem repito.
E apenas meu nome calo,
por ser o mais fiel vassalo,
acima de suspeição.
em: Romanceiro da Inconfidência
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