Há meses tem me incomodado uma categorização que me veio à mente durante uma conversa - tardiamente eu diria.
A meu ver, há dois tipos de grupos humanos, aqueles em que todos se responsabilizam pelo grupo e aqueles em que o grupo serve para desresponsabilizar a todos. O primeiro caso é, negativamente, o que leva ao corporativismo e, idealmente, o que aponta para a fraternidade de "um por todos e todos por um". O ideal, no segundo caso, seria uma unidade democraticamente descentrada, como todos os recentes movimentos baseados no Ocupa Wallstreet pensam ser, mas seu negativo está mais próximo da prática, sendo tipicamente o ajuntamento psicologicamente adolescente que está junto só porque gosta, mas que pensa se unir por uma causa. O caso da polícia acusando Bakunin é engraçado, mas essa galera imitadora também não parece saber nada do Anarquismo que ostentam nas bandeiras.
A primeira consequência do descompasso entre seus motivos reais e sua ilusão é, claro, o típico desfazer desses grupos. Um exemplo ridículo é o que aconteceu com os manifestantes presos no Rio por suas supostas intenções (o que os conservadores preocupados com "polícia do pensamento" acharam natural e certo, nesse caso...).
O caso contado por quem era do movimento lembra a infantilidade do clássico desmantelamento de uma banda de rock. Mas o que estou comentando aqui se aplica a outras esferas, e não tenho a pretensão de dar um golpe de vista psicológico e explicar o que está rolando agora, ignorando a ação da polícia, o poder financeiro da FIFA, as manifestações do ano passado e tudo que contribuiu para a postura policial.
Não, o que me tem chamado a atenção é que o grupo que usa a coletividade para se abster de qualquer responsabilidade acredita que nenhum deles pode ser culpado, porque os motivos lindos (almas irmãs, forças históricas, santos batendo) que os unem justificam suas ações e, praticadas em grupo, quem vai saber quem fez o quê exatamente?
Nenhum deles é a fonte do problema, eles estão bem intencionados, querendo apenas paz e companheirismo, portanto forças externas de autoridade não devem se meter. Ao mesmo tempo, ninguém pode responder pelo grupo, porque cada um ali faria o que acha certo; seria uma quebra da democracia fundamental entre os parceiros se alguém do grupo quiser afetar o comportamento do outro. Se um cobra do outro coerência ou respeito a acordos gerais, essa pessoa está sendo autoritária e abusiva. Ou seja, ninguém responde pelo grupo, mas todos podem se esconder nele.
Nenhum deles é a fonte do problema, eles estão bem intencionados, querendo apenas paz e companheirismo, portanto forças externas de autoridade não devem se meter. Ao mesmo tempo, ninguém pode responder pelo grupo, porque cada um ali faria o que acha certo; seria uma quebra da democracia fundamental entre os parceiros se alguém do grupo quiser afetar o comportamento do outro. Se um cobra do outro coerência ou respeito a acordos gerais, essa pessoa está sendo autoritária e abusiva. Ou seja, ninguém responde pelo grupo, mas todos podem se esconder nele.
O que une esse pessoal é o gosto estético pela tribo, é o curtir estar com os amigos e fazer absolutamente tudo juntos. Nada tem graça se não for compartilhado, e a sociedade perfeita envolveria justamente a troca direta e amigável do que é necessário entre todos. Os ritmos do grupo ditariam os ritmos da vida, e os desejos individuais precisariam ser discretos para não confrontar a maioria. Nesse caso, o grupo é uma compulsão.
Já o grupo em que todos se responsabilizam pelo que os outros fazem (no sentido de reconhecer o erro e tentar ajustá-lo, para poder impedir uma intervenção externa) tende a ser formado por pessoas que não querem estar necessariamente naquele grupo. Como a coletividade é uma necessidade, ela tem de valer a pena, e uma das condições para isso é que ela funcione para a devida finalidade. Por isso, uns cobram dos outros o que deve ser feito, aqueles que pesam demais ou atrapalham são retirados do grupo, e a melhor forma de ter valor para o próprio grupo é ser capaz de defendê-lo, demonstrando a coragem de enfrentar o de fora pelo bem de todos que estão unidos. Isso, por sua vez, motiva o grupo a defender o sujeito, e os apoios mutuamente se fortalecem, parecendo um feio corporativismo para quem está fora, mas representando a pura camaradagem para quem está dentro.
Mais do que isso, esse grupo pode responder a unidades maiores do que eles, como um grêmio estudantil que pode lidar de forma construtiva com uma representação docente ou um sindicato de profissionais de uma área pode com um sindicato de todos os profissionais de uma gerência mais ampla. Obviamente, essas relações não costumam funcionar muito bem, em parte, porque todos os grupos atraem mais os esteticamente gregários.
Ao que me parece, os melhores grupos são formados por pessoas que não gostam particularmente de grupos, mas mantêm clareza de seus objetivos e têm a capacidade de se responsabilizar. O maior diferencial deles é justamente saber o que é responsabilidade, ironicamente por sua estrada mais individualista.